A Esfera da Herança escrita por FireboltVioleta


Capítulo 4
The New Justice Guardian




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HERMIONE

Esfreguei os olhos inconscientemente, sem acreditar no que via.

– Tio Harold? – guinchei, boquiaberta – o que está fazendo aqui? Como...?

– Achei que ia receber uma tentativa de abraço, e não um questionário – tio Harold sorriu, humorado.

Aquele sorriso carinhoso... meu estômago afundou.

Aproximei-me, ao mesmo tempo encarando Kingsley, pasma.

Ergui a mão, com os olhos ardendo estranhamente, na direção de meu tio.

A mão dele circulou a minha... não tão sólida quanto a de uma pessoa viva, mas também não tão transponível quanto a de um fantasma. Era como segurar uma almofada.

Um soluço bobo se formou em minha garganta.

– Kingsley... – murmurei, sem tirar os olhos de Harold – como?

– Penseiras, Hermione – Kingsley explicou, sorrindo, estendendo o braço na direção de uma bacia em cima da escrivaninha á nossa esquerda. Finalmente focalizei o líquido brilhoso dentro do recipiente, e percebi, surpresa, a fumaça que se estendia dela até os pés imateriais de Harold.

– Lembra-se do que eu disse? Só posso aparecer em lugares de domínio inconsciente... e em alguns meios mais peculiares – meu tio apertou minha mão, o que provocou uma sensação engraçada. Parecia uma massinha de modelar pressionando meus dedos – e as Penseiras são praticamente receptáculos de domínios inconscientes. Enquanto eu estiver conectado á ela, posso ficar temporariamente no mundo consciente... e, francamente, eu precisava vir – ele se virou para Kingsley, aparentando uma satisfação enorme – Juíza, eh?

– Ah, sim – ergui a sobrancelha para o Ministro, que parecia se divertir com meu embaraço.

– Harold fez questão de pedir permissão para vir á essa reunião – Kingsley comentou – então arranjamos meios para que ele estivesse presente.

– Ele pediu?

Harold riu.

– Digamos que eu incomodei o Ministro numa tranquila noite de sono.

Kingsley deu uma risada divertida.

– De certa forma.

Um sorriso relutante começou a surgir em meu rosto. De todas as coisas possíveis e impossíveis... meu tio viera ao mundo consciente só para me ver conseguindo meu primeiro emprego.

Eu estava até sem graça depois dessa.

– Como vão as coisas, querida? – Harold se virou outra vez para mim – seus poderes... o que decidiu sobre a Maldição?

– Decidi continuar sendo Wicca – baixei a cabeça, apreensiva.

Harold suspirou.

– Entendo. Mas eu esperava que tivesse essa decisão... conhecendo você como a conheço, Lontrinha, você nunca teria coragem de transpor isto para outra pessoa. Você é altruísta demais para jogar esse fardo para outro bruxo...

– Não é só isso... – eu disse, tensa – pensei muito no que McGonagall me disse no dia seguinte,depois do senhor me visitar em sonho... até onde ser Wicca pode ser uma maldição? Eu não poderia continuar sendo Wicca e usar meus poderes em prol do bem maior, como Drii?

– Você já fez isso, Hermione – Kingsley me olhou, sério – salvou praticamente uma escola inteira e provavelmente ambos os mundos, trouxa e bruxo, usando a Maldição. O que torna tudo mais irônico é o fato de você descender de Helena, a primeira Wicca Negra, e ser a maior Wicca Branca da História. E Drii, a primeira Wicca Branca, ter produzido escórias como Rodrick Carrow. Não há maior prova de que os elementos nunca corromperam você.

– A segunda maior Wicca,talvez– resmunguei, envergonhada – teve Isabelle.

– Eu não chamaria assim – brincou Harold – pois, afinal, ela é uma das possibilidades dos Carrow terem vindo ao mundo. O que todos achavam era que ela morrera sem filhos.

– E morreu – Kingsley interviu, revirando os olhos de tal modo que segurei uma risadinha – na verdade, finalmente recuperamos alguns registros sobre eles... por mais espantoso que seja, de acordo com Arlie Bagshot, que investigou os documentos da época, tudo leva a pensar que a esposa de Wendall já estava grávida quando ele cometeu suicídio. O que se registra sobre Isabelle é que ela se refugiou num convento trouxa até morrer.

Nossa, disso eu ao sabia. Coitado do Wicca Wendall... acabou morrendo por nada.

E, parando para pensar, eu devia parar de implicar tanto com o péssimo nome da Wicca Helena. Se a megera não tivesse existido, eu nem teria nascido. Fazer o quê...

– Ah, acho que íamos discutir minha futura vaga de emprego – lembrei, vendo que a conversa já ia desviar para toda a ladainha de genealogia Wicca.

– Tem razão, Hermione – Harold parecia estar se divertindo um bocado – Kingsley...

– Sente-se, Hermione.

Ufa, finalmente. Acomodei-me na cadeira, observando meu tio sentar-se na escrivaninha, ficando fantasmagoricamente parecido com uma estátua oscilante.

– Acho que você gostaria que alguns pontos desse cargo fossem esclarecidos. Pois bem... os Juízes da Corte Ministerial cuidam de processos e julgamentos de grandes repercussões e instâncias, desde roubos até assassinatos e crimes diversos. Como você provavelmente também acha, é, realmente, um cargo de responsabilidade ímpar.

"Porém, dada a sua nova situação, e graças aos esclarecimentos de Minerva McGonagall, nós sabemos que, através do quinto elemento, você possivelmente poderia discernir facilmente as afirmações ditas num tribunal, distinguindo verdades de mentiras, testemunhos falsos de verdadeiros... talvez até trazer á tona por si mesma fatos ocultos. Além disso, o seu perfil é perfeito para o cargo, mesmo sem os aspectos envolvidos de seus poderes."

– Mas, Ministro... – pisquei, aturdida – isso ia requerer... que eu me transfigurasse em Wicca! Eu não sei se eu conseguiria invocar o quinto elemento sem estar em forma conjuradora...

– Nós vamos trabalhar isso também, em seu primeiro julgamento. Talvez, em primeira circunstância, nem seja necessário.

Gemi, abobada. Ele ia querer que eu testasse isso durante o processo no tribunal?

– Com todo o respeito, Ministro... – balancei a cabeça, insegura – mas acho que estão confiando demais em mim. Quem garante que eu não vou, sei lá, incendiar a tribuna?

Harold gargalhou.

– Ora, Hermione... se fosse para você ter se descontrolado como Wicca, teria feito isso em Beauxbatons, não acha?

Olhei para meu fantasmagórico tio, franzindo o cenho.

Tio Harold tinha razão. Para quem havia enfrentado, ainda mais na forma Wicca, quase meio milhar de bruxos das Trevas e mais um Wicca Negro, se controlar num tribunal não era nada. Se eu havia mantido meu controle lá, podia muito bem fazer isso no Ministério.

Rony ia pirar com tudo aquilo...

– Eu conheço todos os processos e leis... – esfreguei minhas mãos uma na outra, nervosa – mas não sei muito sobre o cargo em si...

– Não me admira que saiba – Kingsley lançou um sorriso à mim – McGonagall comentou, um dia, que você costumava ler a Constituição Ministerial para passar o tempo durante os intervalos – ele me olhou humorado, como se dissesse “quem faz isso no intervalo?”- deve ter decorado todas as leis.

– Posso recitar todas agora, por ordem de seção – brinquei, me empertigando na cadeira.

– Não tem necessidade – meu tio riu – então, Kingsley...

– Como eu dizia – o Ministro parecia exasperado com as intervenções de tio Harold – depois que se conhece todas as leis, Hermione, não há muito segredo. A principal qualidade de um Juiz... qualquer juiz, aliás... é ser justo, imparcial, porém firme, taxativo e indissolúvel nos ideais de paz e justiça da nossa sociedade. E acho que não só eu, como todos que a conhecem, já vimos essas características em você. Não importando a pressão, o problema ou os riscos e consequências, você sempre lutou pelo que era certo, mesmo quando isso quase lhe tirou a vida. Se você não for uma legisladora ideal para este mundo, Hermione, ninguém nunca será.

Senti-me lisonjeada e completamente envergonhada. Não era todo dia que o Ministro da Magia chegava até você e te dizia que não havia ninguém melhor para julgar o mundo bruxo.

– Enfim, Hermione – tio Harold olhou para mim, com um sorriso de orgulho que me deixou ainda mais sem graça e, ao mesmo tempo, feliz – vai aceitar a oferta?

Eu ainda estava insegura, completamente nervosa, e nem um pouquinho preparada para essa nova e assustadora experiência.

Mas desde quando eu estava pronta para alguma das experiências pelas quais já havia passado?

– Eu aceito – parecia que estava casando com o cargo. Ri mentalmente.

– Excelente – Kingsley se ergueu, com as mãos abertas – á partir de quinta-feira, você vai ter um treinamento rápido com a assistente do último ocupante. Mas devido ao falecimento do último Juiz, há uma série de processos pendentes que precisam ser apurados com urgência, e isso incluiria que seus primeiros julgamentos fossem iniciados ainda neste fim de semana. Poderia já estar começando agora no sábado?

Nossa, mas já?

Suspirei. Claro, fazer o quê, né...

– Tudo bem. Sem problemas.

– Perfeito. Vou notificar todos os setores de Legislação – o Ministro se afastou, indo em direção á saída do gabinete – fiquem á vontade para conversar mais um pouco... já está dispensada, Hermione. Obrigado por ter vindo.

– Eu que agradeço, Ministro.

Kingsley parecia feliz da vida quando fechou a porta atrás de si.

Virei-me para meu tio.

– Nem acredito que o senhor realmente está aqui... bom... em presença etérea.

– Bem delineado – ele disse, sorrindo – é o que eu pude fazer para continuar vigiando você.

Era o mesmo homem da minha infância. Um pouco mais velho, obviamente não vivo.

Mas eram os mesmos sorrisos e o mesmo carinho. Era o mesmo tio que se humilhara para brincar de boneca com a única sobrinha. O mesmo homem que me colocava nos ombros para passear. O mesmo bruxo bondoso que trazia presentes para mim. O mesmo tio inabalável que tentou me proteger esse tempo todo... e que morrera por causa disto.

Tentei em vão ocultar as lágrimas que queriam escorrer.

Abracei a forma inconsistente, desejando que ele também sentisse aquele abraço.

– Eu sinto muito, tio... foi tudo culpa minha... se o senhor não tivesse tentado me proteger...

– Shh... minha menina... – Harold me afastou delicadamente – você não teve culpa de nada. Não se puna por algo que não fez. Estou tão orgulhoso de você, Lontrinha... você se tornou tudo e ainda mais do que eu esperava... não pense assim de você mesma.

– Não quero que vá embora.

– Sabe que tenho de ir – senti um dedo gelado enxugar meus olhos – você tem muito em que pensar... e tem uma vida para recomeçar... – Harold beijou minha testa – cuide-se, querida... e não chore. Isso não é um adeus.

Assenti, chorosa. Soltei a mão que Harold segurava, deixando-o deslizar até a escrivaninha da Penseira.

Acenei, com os olhos ardendo, enquanto meu tio se dissolvia numa nuvem branca, que mergulhou de volta no líquido perolado da bacia.

O vazio que ressurgiu quando me vi sozinha no gabinete pulsou em meu peito, lamurioso.

Mas tio Harold estava certo. Aquela não seria a última vez que nos veríamos.

E, além do mais, eu acobertaria em breve o buraco em meu coração, assim que saísse dali, com a presença irritantemente adorável de meu noivo.


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Notas finais do capítulo

E aí? Posso continuar ou desisto logo?
Ah, e MalfoyFilica, ve se comenta O CAPITULO e não me xinga huashuashuas
Beijos e até o próximo!



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