A Esfera da Herança escrita por FireboltVioleta


Capítulo 39
Bleeding


Notas iniciais do capítulo

Oe, pessoas lindas!
Novo capítulo para vocês!
(Não me responsabilizo por sentimentos destroçados ao fim do capítulo... kkk)
Boa leitura!



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HERMIONE

Naquela noite, mais uma vez naquele ano, foi atormentada por um verdadeiro pesadelo.

Estava correndo, sem rumo, na escuridão, fugindo de algo disforme e indefinido.

De repente, meu corpo afundou em algo líquido, como se eu tivesse caído numa piscina.

Porém, quando me ergui, percebi que não era água.

E que meu corpo inteiro estava empapado de algo viscoso e rubro.

Era um rio de sangue.

Olhei ao redor, e percebi vários corpos que boiavam por perto, inertes e sem vida.

Tateando atordoadamente, me aproximei de um dos cadáveres próximos.

Mal pude gritar quando reconheci os cabelos ruivos e ensangüentados.

Uma dor rascante me envolveu, enquanto algo se atou em minhas pernas, me puxando para o fundo das ondas de sangue.

O rio me engoliu num turbilhão escarlate. Minha visão foi tomada pelo vermelho. Senti minha boca se inundar com o gosto de sal e ferrugem.

Porém, senti algo me guinchar de volta para a superfície. Algo translúcido, que cortou o mar de sangue e me puxou para fora.

De volta para terra seca, me levantei, tossindo e estremecendo, meus olhos arregalados de terror.

Sentia a tênue linha que me separava da consciência, e desejava ter morrido logo dentro daquela lagoa horrenda, para acordar de uma vez daquele pesadelo macabro.

Mas quando ergui o olhar, percebi o que havia me tirado do rio.

Esqueci até onde estava quando guinchei, surpresa.

Ele adentrara em meu sonho.

– Tio Harold! – sacudi os braços, tentando secar o sangue que ainda escorria em minha pele.

Harold sorriu de um jeito triste, segurando minha mão.

Em minha forma inconsciente, podia sentir, levemente. seu aperto carinhoso.

– Está tão perturbada, Lontrinha – ele olhou em direção ao rio vermelho – nunca esperava que fosse ter um pesadelo assim...

– O que é isso? – choraminguei, aflita, olhando outra vez para os corpos no rio.

– Não sou bom em deduzir sonhos... – ele comentou – mas está claro que você se sente ameaçada... e teme pela vida das pessoas que ama.

Sentei em uma das pedras negras que circulavam o pântano sanguinolento, abraçando meus joelhos.

– Parece que sim – funguei, me recusando a olhar outra vez para as águas rubras adiante.

Harold se ajoelhou ao meu lado, me observando, e pôs a mão em meu ombro.

– Me conte o que aconteceu desde a última vez que nos encontramos...

Suspirei, e, aproveitando que a presença de meu tio prolongava minha permanência na inconsciência, contei a ele tudo que ocorrera desde minha nomeação como Juíza. Os julgamentos, o estágio de Rony, o assassinato de Xenofílio, os rumores e ameaças que nos rondavam, o incêndio da London Eye... a profecia de Calíope... e Becky.

Harold pareceu sem fôlego quando terminei. Levou a mão ao peito, os olhos fantasmagóricos brilhando, a expressão enlutada.

– Minha pobre elfa – ele engoliu em seco – céus... como pôde acontecer?

– Contatei-a... com Leopold – vi Harold franzir o cenho, confuso, e acrescentei – com a Pedra da Ressurreição.

– E o que ela disse? – ele perguntou, curioso.

– Que não conseguiu ver quem foi – balancei a cabeça, angustiada – tio, esse Wicca é desconhecido. Ninguém nunca o viu agir em lugar algum. E eu tenho certeza que tudo que esteve acontecendo conosco são obras dele – arfei, engolindo em seco – eu mal sei contra o que vou lutar agora. E ainda tem essa profecia que Calíope, a minha dimon, me fez... que não sei o que quer dizer. Leopold e Becky até ajudaram um pouco... mas ainda não está clara.

Harold suspirou.

– E acho que tampouco eu poderia ajudar você, querida. Ela poderia ter tantas aplicações... o sangue da família. O inimigo que será redimido. Podem ser quaisquer pessoas. Não podemos saber ao certo.

– Foi o que Leopold disse.

– Você tentou usar a Pedra para falar com Lovegood?

Pisquei, aturdida.

É... eu não havia contatado Xenofílio ainda. Ele podia ter informações sobre quem o assassinara. Como não pensara nisso antes?

Porém, eu teria que conversar com Luna. Primeiramente, para pedir sua permissão.

E, depois, ela não podia perder essa chance de rever o pai, mesmo que por poucos minutos. Minha amiga merecia isso.

– Não... mas vou tentar. Não deixa de ser uma boa idéia.

– Espero que o pobre homem tenha ao menos tido a sorte de saber quem o matou – meu tio disse, afagando meu ombro – isso pode ser de grande ajuda para descobrirmos quem é esse Wicca. É obvio que ele está agindo furtivamente para ter um elemento-surpresa quando atacar de verdade – ele me olhou penalizado – e me dói saber que o alvo dele provavelmente é você, minha menina. Mas ainda não está claro o por que... quais são as intenções dele com isso... Rodrick Carrow tinha seus motivos... e este novo Wicca também deve ter.

– O que acha que devo fazer, tio Harold? – passei a mão no sangue que ainda não secara em meus dedos.

– O que eu queria que tivesse acontecido até agora, Lontrinha. Mantenha-se segura. Mantenha sua família e amigos seguros. Não arrisque uma empreitada para descobrir por si mesma quem é que nos ameaça desta vez.

“Tem que se preparar, não só em corpo, não só em poder, mas também em mente. Você tem muito poder, minha menina. Mas lembre-se que será sua mente que regerá e possibilitará que o use como deve ser. E, para isso, tem que manter controle sobre si mesma. Espere até o momento chegar. Se estiver predito, acontecerá.”

– Eu sei, tio... eu sei... mas... me sinto tão fraca... eu estou com tanto medo – olhei-o, entristecida.

Ele me conhecia o suficiente para saber que eu não temia por mim mesma.

– Você já fez isso antes, meu amor. Não uma vez, mas várias. Direta ou indiretamente, usou todas as suas qualidades e habilidades para salvar vidas, durante todos estes anos. Mal poderia contar quantas vidas poupou até hoje. E não vai ser diferente agora – Harold me sorriu – não sabe o como estou orgulhoso da Wicca que está se tornando, Lontrinha. Vai ser maior do que qualquer outro descendente da Tríade que já pisou na face da Terra.

– Tirando o senhor – teimei, séria.

Para minha surpresa, Harold riu.

– Eu? Eu sabia fazer truques de mágica, Hermione. Você é muito melhor. Consegue extrair o melhor e o pior da essência dos elementos.

“Pode achar esse novo Wicca poderoso, mas ele nunca vai se comparar ao poder maior que você possui. Não é ganância, arrogância ou sadismo que rege seu controle. É amor, é coragem, é uma ferocidade que nenhum outro Wicca negro jamais poderia ter. Você tem algo especial, que, conseqüentemente, a torna especial. Será o ouro entre as pratas. E isso a torna diferente de qualquer outro. Nunca houve, em todos estes séculos, uma Wicca regida por tantos sentimentos bons. E isso produzirá uma magia superior á qualquer outra jamais vista.”

– Mas e se eu não conseguir impedi-lo, tio? Você não viu? Não pude salvar Xenofílio... – solucei – ou meus pais... ou Becky...

Harold me encarou, afagando meu rosto.

– Foram fatalidades, Hermione. Não pode se culpar por isso. Você é tão humana quanto é Wicca. Ninguém vai esperar que seja perfeita. E estarei enganado – ele voltou a sorrir – se achar que vai lutar sozinha. Você precisa de seus amigos... e de Rony - Harold acrescentou – tanto quanto eles irão precisar de você. Não se afaste de ninguém, querida. Isolá-la de quem ama, e até mesmo produzir o terror que está provocando ao seu redor... é o plano dele para te enfraquecer.

– Vai ser impossível afastar o Rony agora – dei um sorriso amarelo – ele me espanca, mas não me deixa ficar longe dele.

– Acho bom ele continuar espancando-a, então – brincou meu tio, rindo – aquele garoto ama você de um jeito absurdo, Lontrinha. E isso produz uma mágica que nenhuma varinha ou poção jamais conseguirá imitar.

Olhei para minhas mãos ensangüentadas, pensativa.

Tudo que tio Harold me dissera até agora fazia sentido.

Olhava para ele e, embora pudesse ver sua tristeza e sua raiva, via que ele não enfatizara, em momento algum, que eu devia derrotar o Wicca apenas pro vingança.

Ele tinha razão. Agora estava claro que o Wicca Negro pensava em me destruir aos poucos, provocando tantas desgraças em minha volta, para que, quando finalmente nos confrontássemos, eu ficasse realmente vulnerável ao seu ataque.

Mas eu não deixaria isso acontecer.

Todo o ódio e convicção que eu acumulara desde que tudo começara... agora eu percebia que aquilo poderia ser justamente o que iria me corromper... ou me enfraquecer.

Não podia deixar nenhum daqueles sentimentos continuarem a se arraigar dentro de mim. Por que – agora era obvio – era exatamente isso que o Wicca Negro provavelmente queria. Destroçar meu emocional e meu coração de modo tão irreversível que, quando fosse partir para o golpe final, eu não passasse de um empecilho mínimo em seu caminho.

E o instinto assassino que me atingira há alguns dias tinha de ser extinto. Por que, na posição em que eu me colocara, eu não era muito diferente dos demais Wiccas de minha antiga linhagem, que tiravam vidas insensivelmente, como se abatessem animais.

Claro que o Wicca Negro iria morrer.

Mas eu faria questão de mostrar ao mundo que eu não era – e nunca seria – como um deles. Não era um monstro. E nunca deixaria as Trevas me dominarem.

Em meio aos meus pensamentos subconscientes, senti um aperto na garganta ao pensar em Rony.

Relembrar o que havia acabado de acontecer horas antes... ver sua preocupação com a família que partira para a Romênia, nossa tarde inusitada e divertida, nossa noite tão profunda quanto superficial, seu olhar maravilhado mergulhando em meu corpo...

Meus olhos, mesmo em sonho,s e inundaram de lágrimas.

Eu tinha que salvar todos ao meu redor. Mas, principalmente, tinha que deixar Rony a salvo.

Poderia sobreviver a que baque que fosse. Mas se algo acontecesse á ele, eu ficaria tão destruída que nem me preocuparia em lutar pela minha própria vida.

Afinal, toda a minha vida agora residia naquele garoto.

Levantei-me, voltando á encarar o lago de sangue.

– Tem razão, tio – olhei para Harold – tenho que me manter sob controle.

– E você vai, Hermione. Você tem um potencial maravilhoso – Harold acariciou meus cabelos – vai dar tudo certo, minha Lontrinha. Tudo vai acabar bem.

Eu fitei aquele homem fantasmagórico de rosto tão bondoso. Meu tio herói, que, por trás dos panos, havia orquestrado tudo para que sua amada sobrinha tivesse a chance que ele sabia que nunca poderia desfrutar. Um homem simplesmente fantástico, que tinha dado sua vida por mim e tornado tudo aquilo que eu era agora possível.

Eu não podia acreditar que nunca pudemos nos encontrar outra vez em vida.

A gratidão me inundou, cruel, mas avassaladora.

Solucei, soltando a mão que Harold segurava.

– Você sabe mesmo dizer as coisas certas, não é, tio? – sorri.

– Não tanto quanto seu noivo, Hermione – ele me deu uma piscadela – aquele menino parece saber das coisas melhor do que qualquer outro. Eleé louco por você, Hermione. E amar torna qualquer pessoa apta para fazer o possível e o impossível por quem ama.

Harold se ergueu e, para minha angústia, tremeluziu em meio á neblina de meu sonho.

– Vamos nos ver outra vez? – perguntei, com os olhos marejados.

– Talvez, minha menina – meu tio sorriu, desaparecendo aos poucos, sua voz cada vez mais distante – talvez... boa sorte. E tome cuidado...

Acordei sobressaltada, me erguendo na cama.

Céus... aquilo fora aterrador.

Arfante, mas com medo de acordar Rony, me encolhi lentamente de volta no colchão, absorvendo o escuro do quarto.

Porém, ouvi Rony se mexer na cama, como se estivesse levantando-se. Não querendo incomodá-lo com meu despertar, fingi que ainda estava dormindo, aguardando que ele voltasse.

Ouvi a porta ranger e se abrir.

No entanto, o som da varinha de Rony caindo no chão me pegou de surpresa.

Quando o ouvi engasgar baixinho, decidi me levantar para ver o que estava acontecendo.

Com um meneio da varinha, acendi as luzes.

E, quando finalmente o focalizei, senti meu coração parar.

Por que a imagem era tão irreal, que não podia ser verdadeira.

Só pude, como uma fera ferida, gritar e estuporar o homem encapuzado, cuja mão agarrava o punhal que se fincara no peito de Rony.

– NÃOOO!


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Notas finais do capítulo

Pedradas? Opiniões? Chineladas?
Também estou roída. tenham dó. :(
Beijinhos com lágrimas e até o próximo capítulo.



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