A Esfera da Herança escrita por FireboltVioleta


Capítulo 31
Pain Sea


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoinhas!
Novo capítulo para vocês!
Gente, sem brincadeira. Terminei de escrever esse capítulo chorando. De verdade. Vou até por foto no Facebook se duvidarem. Então, considerem isso antes de tacarem chinelos voadores na minha cabeça. Tá? :P
Boa leitura!



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HERMIONE

Naturalmente, eu não acreditei.

Nem quando fui ao Ministério ver meus pais, que estariam a partir de agora sob custódia do Ministério, morando com Harry e Andrômeda. Ouvir papai narrando sobre a explosão que acometeu nossa casa, mamãe afirmar com todas as forças que viu quando o incêndio começou... nada disso entrou em minha cabeça.

Nem quando Oliviene confirmou que, fosse quem tivesse atacado o imóvel, já havia desaparecido sem deixar pistas.

Tudo pareceu irreal e insano o suficiente para que eu, por dentro, ficasse o tempo todo só imaginando que aquilo era uma brincadeira, em que Becky aparataria do nada, como sempre fazia, e perguntaria de novo: “eu assustei você, menina Granger?”

O pesadelo finalmente virou realidade, quando cheguei à minha rua e vi os destroços do que um dia fora meu lar.

Uma magia ao redor do terreno parecia impedir que trouxas simplesmente percebessem nossa presença. Havia aurores do Ministério em cada canto, parecendo cuidar das memórias de prováveis testemunhas, extraindo-as e colocando outras em seu lugar.

Rony manteve-se ao meu lado o tempo todo, parecendo tão incrédulo quanto eu.

O auror que analisava a casa assentiu quando me viu, erguendo o braço para que o colega novato não me barrasse.

– É a Juíza. Stark a liberou para ver o terreno.

Entrei onde antes era a porta da frente, olhando perdidamente para o primeiro andar que simplesmente desabara no térreo.

Papai dissera que só tivera tempo de salvar nossas fotos, enchendo os braços de porta-retratos enquanto fugia correndo...

E ninguém vira o rosto ou o corpo do criminoso.

O piano jazia destroçado na sala de estar, ao lado da televisão que se despedaçara em vários cacos de vidro e fios elétricos.

Fora nele que eu aprendera a tocar meus primeiros sonetos, quando era menina... vê-lo destruído me fez finalmente arfar.

Meus livros e tudo que despencara do meu quarto estavam ali também, envolvidos por destroços de cimento e tijolos. Puxei minha coleção de contos dos Grimm, completamente chamuscada, de dentro de um buraco, tentando em vão tirar a fuligem de suas páginas.

A perda material só não fora maior por que grande parte das minhas coisas havia ficado sem segurança na Toca, incluindo minha aliança de noivado.

Porém, meu desenho do Jack Russel não tivera a mesma sorte.

Rony abaixou-se para pegar o papel rasgado, onde ainda se distinguia o focinho pontudo e os olhos exageradamente azuis do cachorrinho.

Ele me inclinou a folha, mas eu balancei a cabeça.

– Pode guardar.

Um dos aurores me chamou repentinamente, fazendo gesto para que eu me aproximasse.

– Fizemos uma redoma ali – ele indicou o quintal dos fundos – pode ir lá... vamos deixá-los á sós. Pedirei que não os incomodem.

– O que... – murmurei, confusa.

Rony apertou minha mão quando entendi.

– Não quero ir lá – guinchei, sentindo meus olhos arderem, enquanto Rony me puxava em direção á um domo negro que surgia em meio á grama.

– Mas precisa, não é?

Minhas pernas responderam por mim, me jogando desabalada em direção á redoma que havia sido invocada no quintal.

Adentrei nela como se não houvesse nada ao meu redor, tal como acontecia com a Plataforma Nove Três Quartos.

Rony manteve-se atrás de mim, tenso, enquanto eu voltava á ficar ereta, cruzando os braços ao redor da barriga, já sentindo a dor e a angústia que me assolariam.

Foi quando vi a mesa em forma de altar no centro do domo, fracamente iluminada por uma fresta no teto.

As lágrimas finalmente escorreram por meu rosto quando focalizei o minúsculo corpinho deitado na mesa.

Becky estava tão serena que podia estar simplesmente dormindo. Os bracinhos cruzados no peito magro, os olhos fechados, a cabecinha apoiada delicadamente num travesseiro improvisado com uma capa de auror.

Segurei os dedinhos longos e finos. A frieza que emanou de sua pele pareceu me apunhalar como uma faca rombuda nas costas.

Minha irmãzinha... minha amiga. Dormindo para sempre.

Praticamente salvara minha vida milhares de vezes. E, na única vez que precisara de mim...

Ainda tinha esperança que os olhos enormes se abrissem. Que ela se levantaria e sorriria, pedindo desculpas por ter me assustado com mais uma de suas brincadeirinhas inocentes e travessas.

As orelhinhas de morcego caíam ao lado de sua cabeça, ainda arrepiadas, como sempre haviam sido.

Afaguei a testa de Becky, olhando para o que um via fora um dos seus melhores vestidinhos de elfa, completamente queimado na ponta da saia.

O quinto elemento, já proeminente em minha mão, correu pelo seu corpo.

Oco. Sem vida.

E o coraçãozinho minúsculo, menor que um pêssego... tal como o de Xenofílio.

Ofeguei, recuando.

– Hermione... – Rony se aproximou, segurando meus braços.

– Não... não... – solucei, encurvando-me, tentando me desvencilhar dele.

– Por favor, Hermione...

Deitei a cabeça na mesa, abraçando o pequeno corpo da minha elfa, ouvindo os guinchos patéticos que saíam por minha garganta, sentindo minhas lágrimas banharem o mogno.

– Becky, Becky... Becky...

Rony afagou minhas costas.

– Ah, Hermione...

Os elementos giravam em espiral dentro de mim, querendo explodir meu coração, como uma bomba.

Ergui-me. Precisava sair dali. Precisava fugir. Deixar aquilo para trás, antes que toda aquela dor me consumisse.

Nem me importou que Rony ficasse para trás, quando saí correndo para fora da redoma.

– Hermione!

Não consegui ir muito longe.

A angústia se moldou aos elementos, expandindo-os para fora de meu corpo.

Ali, em meio á centenas de trouxas, sem controle algum sob meu corpo e minha mente, me transfigurei outra vez em dragão.

– Hermione, não! – ouvi Rony se aproximar, apavorado.

Minha consciência, amordaçada por trás do animal completamente irracional, só pôde assistir meu corpo agir descontroladamente, me fazendo rugir e abrir as asas, agoniada.

Rony, parecendo perceber minha falta de controle, reagiu imediatamente, transformando seu próprio corpo e ficando ao meu nível.

Pude ver, por trás do olhar descoordenado do dragão, alguns aurores finalmente perceberem o que estava acontecendo.

“Hermione, pare! Por favor, se controle!”, Rony rugiu, desesperado.

Tentei lhe responder, mas o dragão em que me transformara estava sendo completamente dominado por minha parte Wicca, que apenas estava furiosa e amargurada, completamente insensível á apelos. Animal e cruel como outro dragão qualquer.

Foi com assombro e pavor que senti minha pata golpear Rony num movimento feroz.

Para meu alívio, Rony se esquivou do golpe, imobilizando minha pata com as suas garras.

“Por favor, Hermione! Tem que voltar ao normal!”.

Rugi inconscientemente, ainda investindo contra ele. Os aurores se aproximavam, as varinhas em riste. Mesmo armados, não seriam páreo para o dragão em que eu me transformara.

Rony pareceu perceber a mesma coisa quando percebeu minha garganta inchando, antecipando a primeira lufada de chamas que eu soltaria em minha forma animal. Os aurores não teriam a menor chance.

Só consegui assistir, súplice, o dragão ruivo soltar uma lágrima.

“Sinto muito, Hermione. Me perdoe”.

Quando o senti me golpear com a força de um canhão, o alívio e a gratidão me inundaram, enquanto a inconsciência me acolhia.

_______________________________O______________________

Acordei sobressaltada, sentindo meus olhos se dilatarem com a claridade do teto.

Reconheci na hora onde estava. O quarto de Gina, na Toca.

Levantei-me, sentindo minha cabeça latejar.

– Hermione?

Olhei para o lado, percebendo, aflita, a presença de Oliviene ali.

– Oliviene? – murmurei, arfando, finalmente me recordando do que acontecera – meu Deus... Oliviene, eu... eu...

– Shh... ei, não se aflija – Oliviene me sorriu amarelo, apertando minha mão – Rony me explicou tudo que aconteceu. Kingsley também já foi notificado. Mais ninguém além dos aurores sabe do que ocorreu nos fundos da sua casa.

Abarquei meu rosto nas mãos.

– Eu podia ter matado alguém. Céus...

– Claro que não podia.

– Eu fiquei descontrolada, Oliviene! – arfei, encarando-a – não consegui tomar as rédeas! Se não fosse por Rony...

Senti meu peito ser golpeado por uma pontada. Rony... ah, Rony...

O que devia estar pensando de mim? Estaria bem? Eu teria o machucado antes de desmaiar?

– Estão todos bem, Hermione – Oliviene insistiu, tácita, como se quisesse enfatizar – pare de se preocupar. Você ainda reagiu melhor do que nós esperávamos. Do jeito que as coisas andaram – vi-a engolir sem eco, suspirando – achei que você teria uma reação bem pior que esta. E, sinceramente, você achou mesmo que Rony deixaria você fazer algo do qual se arrependeria depois? Ele te entende muito bem... sabe quando você precisa dele.

Eu nem tinha o que discutir sobre isso. Rony me impedira de cometer as maiores loucuras e concretizar os piores erros. Aquela foi só mais uma vez em que ele se mostrou um verdadeiro anjo ao meu lado.

Levantei um dos braços para o lado, mas senti uma dor incômoda atingir meu antebraço.

– Quem mais soube do que aconteceu... até agora?

– Do ataque? – ela indagou – só seus amigos mais achegados, os Weasleys e os aurores envolvidos no caso. Mais ninguém – ela acrescentou – Yara está fazendo questão de encobrir tudo na mídia. E nosso repórter provisório também. Ele e a família estão mortos de preocupação com vocês.

Suspirei. Ah, Darel. Nyree e Tamahine... sentia tanta falta deles.

Mas era melhor que ficassem fora disso também. Ainda mais a pequena, doce e talentosa Tamahine, que tão pequena, já tinha a vida bastante agitada com suas visões ocasionais.

– Descobriram mais alguma coisa?

– Não – ela respondeu – mas conseguimos alguns testemunhos de trouxas, antes que modificássemos suas memórias. Todos dizem do incêndio e da explosão, mas ninguém viu mais nada. E... – Oliviene baixou a voz – temos as últimas memórias de Becky.

Senti mais lágrimas escorrerem de meus olhos.

– E viram alguma coisa nelas?

– Um vulto. Nada mais – minha amiga baixou o olhar – Becky também não conseguiu identificar o Wicca.

– O que fizeram com ela?

– Está no mausoléu dos Tonks, na casa de Andrômeda. Estávamos esperando suas ordens quanto ao... funeral.

Meu coração latejou, angustiado. Eu ainda me recusava a acreditar que Becky partira.

Nunca mais ouviria sua risadinha estridente, nunca mais abraçaria seu corpinho diminuto, nunca mais ouviria o estralo brincalhão de quando aparecia. Nunca mais veria minha elfa, o último elo vivo entre mim e Harold, o presente de meu tio para mim.

E ela só estava sendo mais uma. Outra pessoa que eu amava tanto, tendo a vida tragada por forças das Trevas. Harold, Leopold, Xenofílio, e, agora, minha pequena irmãzinha.

– Quero o maior funeral que puderem fazer – respondi – uma lápide como a de Tonks e Lupin. Ao lado deles, se Andrômeda permitir.

– Vou comunicá-los agora mesmo – ela se levantou – vai querer ir ao enterro? Posso avisar os aurores...

– Não... – balancei a cabeça – Becky merece um enterro discreto... assim como ela sempre foi comigo. Sei que iria querer isso.

Oliviene me encarou, olhando-me estranhamente.

Para minha surpresa, ela me abraçou, soluçando baixinho em meu ombro.

– Eu sinto muito mesmo, Hermione – ela me soltou – Becky era adorável. Eu acho que gostava dela tanto quanto você a amava.

Assenti, sem graça, enquanto Oliviene deixou o quarto, me olhando penalizada, antes de desaparecer porta afora.

Assim que Oliviene sumiu, vi outra pessoa entrar no quarto.

– Rony! – arfei, me erguendo da cama.

Meu braço voltou a doer, mas não quis preocupá-lo, então refreei a vontade de levar a mão ao ombro.

Rony não sorria. Estava mortalmente sério, o que me assustou.

– Tudo bem? – indaguei, cautelosa.

– Você perdeu sua elfa. Seus pais foram atacados. Você foi atacada – ele murmurou – acho que eu não deveria ser sua preocupação.

Rony disse tudo isso de um jeito quase frio, embora eu percebesse uma nesga de angústia em seu olhar.

– Rony... o que...?

Ele se aproximou, enquanto eu avaliava seu estado. Ele estava bem, sem nenhum arranhão. Isso me deixou aliviada.

Mas eu não podia dizer o mesmo de sua mente - que parecia quase muda, enquanto, curiosamente, Rony desabotoava a manga da blusa que eu vestia.

Olhei para o braço, confusa, até que finalmente soltei uma exclamação de surpresa.

Onde eu sentira a dor momentos atrás, estavam três vergões enormes em minha pele, ainda vermelhos, quase em carne viva. Um deles começara a sangrar levemente na ponta.

– Mas o que...?

– Eu simplesmente me desesperei... o que não justifica isso – ele falou – eu devia te defender, e não piorar as coisas.

Pisquei, abobada. Então, quando Rony me nocauteara no quintal... ah.

– Não foi nada, Rony – arfei, já na defensiva. Ótima hora para as lamúrias dele começarem.

– Eu fiz isso em você, Hermione – a voz dele baixou ainda mais – não entendeu ainda? Eu te machuquei. E, Deus que me perdoe, poderia ter sido muito pior. Não tive motivo algum para fazer isso.

– Pare com isso, Ronald – balancei a cabeça, aflita – você tinha que me impedir. Eu estava sem controle.

– Ma não desse jeito! – Rony exclamou, me fazendo recuar um pouco – mais um pouco e quem sabe eu teria te arrancado um braço, Hermione! Você já tem ameaças demais ao seu redor sem que eu vire uma delas!

– Você não é uma ameaça – balbuciei, espantada.

– Tenho três motivos para dizer que sou – ele desdenhou, indicando os arranhões em meu braço.

– Foi um acidente! – exclamei, agoniada – acidentes acontecem, Rony!

– E já vi muitas pessoas morrerem assim – ele grunhiu – em acidentes. Hermione, acho que finalmente tiramos a prova que eu não consigo nem sequer proteger você sem ter que te machucar. Que eu não sirvo nem mesmo para isso.

– Do que está falando? – minha garganta se apertou enquanto eu gritava, irritada – vai desistir de mim agora?

Rony recuou, o que fez com que eu me arrependesse de ter dito aquilo.

– Não. Só vou sair do caminho para que alguém melhor possa ficar ao seu lado. Alguém com a mínima capacidade de garantir sua segurança. Até lá, sei que estará segura com Kingsley.

Meus braços caíram ao lado do corpo.

Eu não acreditava no que estava ouvindo.

Ele só podia estar tão abalado por ter me machucado que tinha enlouquecido completamente.

– Rony... espera... pense bem...

– Já pensei, Hermione – vi, finalmente, as lágrimas saltarem em seu rosto – e acho que você merece outra chance. Se eu sair do jogo, vai poder encontrar outra pessoa. Nós dois sabíamos muito bem que, um dia, ficaria provado que eu não sou o que você precisa. Nunca fui... mas agora, tiramos a prova.

Assisti, paralisada, ele tirar a aliança do dedo e colocar na escrivaninha o lado da cama.

Abri a boca para falar, mas as palavras pareceram se engasgar em minha garganta.

– O que está fazendo, Rony? – solucei – por favor... não...

Ele se virou.

– Estou libertando você. Só isso. Te dando uma chance de ser feliz de verdade.

– E como vou fazer isso sem você?? – arfei.

Rony pareceu hesitar por um momento.

– Você é inteligente, Hermione. Vai arrumar um jeito. Vai sair dessa, como disse.

– E aquela conversa de ficarmos juntos até o fim da vida? – ergui minha mão, desesperada.

Rony encarou a aliança em riste, parecendo completamente alienado ao que eu dissera.

– Foi eterno enquanto durou – ouvi-o suspirar, antes de se voltar para fora – obrigado, Hermione. Mas acho que é sua vez de ter uma vida agora. Você me fez feliz de verdade, e está na hora de eu retribuir o favor.

Quando Rony saiu pela porta, sem sequer olhar para trás, senti como se tivesse arrancado um naco enorme e ensangüentado de dentro de mim.

Só quando eu ouvi-o desaparatar, consegui desprender meus pés do chão.

Mas quando saí, já era tarde demais.

Ele já se fora.

E também levara consigo o que restara do meu coração.


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Notas finais do capítulo

Sim, a té eu to de coração partido, gentes.
E a desgraceira só começou. :(
Não pensem que o sofrimento acabou ainda, que ele vai lá longe, por uns dois capítulos ainda... ou seja, comprem mais baldes kkkkkk
Não foi fácil fazer esse final. Então tenham dó de mim rsrs
Beijinhos com lágrimas e até o próximo!



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