A Esfera da Herança escrita por FireboltVioleta


Capítulo 23
Abyss


Notas iniciais do capítulo

Hello, gente bonita do meu coração!
Obrigada, leitores e leitoras incríveis! Agradeço à todos, tanto os que comentam quanto os leitores fantasmas. E amo cada um de vocês!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/584885/chapter/23

RONY

Assim que a lebre prateada desapareceu, tive que segurar Hermione, cujos joelhos pareceram fraquejar do nada.

Ainda atordoado e dopado com a mensagem de Luna, não fiquei nem um pouco mais calmo quando vi o quarto vibrar levemente com as ondas que antecipavam a invocação de Hermione.

– Não, Hermione – alertei-a, afagando seus ombros – se acalme... shh...

Os olhos dela, trêmulos e começando a pratearem-se, me encararam com desolamento. Para meu alívio, em seguida, retornaram ao castanho normal.

O guincho de terror e angústia que saiu de sua garganta me partiu o coração.

– Rony... – ela soluçou, enfiando o rosto em meu ombro.

– Eu sei, calma – abracei-a – nós vamos descobrir o que aconteceu. Calma...

– A Luna deve estar arrasada – Hermione choramingou – não acredito... Xenofílio...

Enquanto tentava acalmá-la, meu coração ribombava, alerta e assustado.

Em minha cabeça, rugia uma única pergunta... por quê? Quem teria feito aquilo com o pai de Luna?

E eu tinha a péssima impressão de que não fora algo fortuito.

– Precisamos ir para lá... – sussurrei.

Ela assentiu, soluçante.

O som da voz de Luna pelo Patrono devia ter ribombado no teto, pois, segundos depois, Neville entrou no quarto, a varinha em riste, parecendo vidrado.

– O que aconteceu? Pensei ter ouvido Luna...

Ele pareceu ver, pelos nossos rostos, que não havia nenhuma boa notícia.

– Ela nos mandou uma mensagem... – engoli em seco, ainda abalado – para irmos até a casa dela. Xenofílio foi assassinado.

Neville recuou alguns passos, parecendo horrorizado.

– Vocês têm certeza?

Exasperado, indiquei-o Hermione, que ainda estava agarrada em mim, o rosto deitado em meu braço, trêmula e muda.

– Melhor aparatarmos até lá – ele sugeriu, parecendo perdido. Fechou os olhos, atordoado – ah, Luna...

Hermione pareceu finalmente sair de seu casulo de depressão e ergueu a mão para Neville.

Ele a segurou. Pude vê-lo assentindo para ela, encorajando-a – embora ele mesmo não parecesse nem um pouco encorajado.

Com um estalinho, desaparatamos em direção à casa dos Lovegood.

_______________O_______________

O local onde reaparecemos parecia um cenário de guerra.

Havia uma fita enorme circulando a área, onde já havia alguns bruxos peritos do Ministério, andando pelo que restara da casa de Luna.

A parte de cima da construção fora completamente detonada, tal como acontecera quando havíamos fugido de lá dois anos atrás, quando os Comensais da Morte haviam invadido a casa para capturar Harry, eu e Hermione.

Mas a explosão não podia ter sido de dentro para fora, como da última vez, já que várias árvores ao redor, incluindo a ameixeira-dirigível e o pomar, estavam completamente destruídas.

Um dos funcionários me reconheceu e chamou os outros.

– Eles chegaram – ele fez sinal para que nos aproximássemos.

Neville ficou atrás de nós, parecendo inseguro, provavelmente agoniado para encontrar Luna.

– Meritíssima – outro funcionário cumprimentou Hermione – Sr.Weasley. Sr. Longbottom.

– Só Hermione, por favor – engrolou Hermione, tensa.

– Acho que já foram notificados do que ocorreu aqui – o mais velho dos dois disse.

– Sim... Luna nos mandou uma mensagem - respondi – mas não imaginávamos... uma destruição dessas – afaguei o braço de Hermione, que não se afastara de mim um segundo sequer – já tem alguma ideia do que... – não consegui completar a frase.

– Nenhuma... ou até temos, mas a teoria irá desagradar em muito a Juíza – ele olhou assustado para Hermione, que finalmente pareceu despertar com o que o homem dissera.

Ela olhou ao redor, parecendo reconhecer o que eu deduzira com a fala do perito.

– Estão sugerindo – a voz dela era quase um sussurro, que assustava muito mais do que se Hermione gritasse – que isso foi obra de um conjurador dos elementos?

– Faz sentido – Neville não parecia nada contente em botar mais lenha na fogueira, mas comentou mesmo assim – olhe as árvores arremessadas. Há reentrâncias em quase toda a terra ao redor. Não vejo mais nenhuma pessoa que conseguisse fazer isso, sem ser com o elemento terra.

– Parem tudo – falei, alarmado – não estão insinuando que foi... sabem... – encarei Hermione, incrédulo – obra de um Wicca, certo?

– É bem provável – o perito estava definitivamente evitando olhar para a expressão espantada de Hermione – o que nos intriga é que, pelo menos até onde sabemos, só existe uma Wicca viva em todo o mundo – ele acrescentou, tenso – e eu tenho convicção de que ela com certeza não foi a responsável por isto.

– Claro que não! – rosnei – ela nunca mataria o pai da melhor amiga dela!

– Rony – ela apertou minha mão. Quem diria... quem precisava se controlar agora era eu.

– Bom, isso é o pior de tudo, no fim das contas – o outro funcionário, de cabelos grisalhos, suspirou – ainda não removemos o corpo o local onde foi encontrado. Achamos que iriam querer ver por si mesmos e tirarem alguma conclusão... deduzimos que tudo aconteceu hoje de manhã...

Ele nos levou até onde, meses atrás, existia uma pequena plantação de cactos que Luna havia feito antes de irmos para o sétimo ano em Hogwarts, pouco tempo depois de a casa ter sido reformada.

Ver todas as plantas espinhosas despedaçadas chegava a provocar uma dor no peito. Ela havia passado quase o verão todo para plantá-los, um por um...

Mas nada foi mais horrível do que reconhecer o corpo encolhido entre os espinhos.

Xenofílio estava sereno, como se estivesse dormindo em meio ás folhas esmagadas por alguma força desconhecida. Porém, era impossível não perceber que ele não fora simplesmente amaldiçoado, tendo uma morte tranqüila e sem dor. Havia sangue em seu peito e no canto da boca. Seus braços, estirados, ainda estavam na posição contorcida que deveria ter tomado quando o assassino terminou seu serviço.

Pobre homem. Eu havia sentido tanta raiva por ele ter nos denunciado aos Comensais...

Mas sabia que fora por força do desespero de um pai. Até admirava sua sagacidade, sua determinação, as coisas que fizera para criar a filha órfã de mãe.

E agora, até isso fora arrancado de nossa amiga.

Hermione ergueu a mão, nos surpreendendo. Fechou os olhos, respirando fundo.

E, quando terminou, todo o ar que inalara pareceu lhe escapar.

– O coração... – ela arfou, os olhos brilhando.

Senti meu estômago despencar quando entendi o que ela quisera dizer.

Devia estar destroçado... como só o quinto elemento poderia fazer.

Minha nuca se eriçou.

Então havia sido mesmo um Wicca.

Como era possível??

Não era... não podia ser. A última sobrevivente da linhagem era Hermione. Não poderia haver outro...

Mas tudo parecia provar o contrário.

Quem seria??

– Tem que ter outra explicação – Neville arfou

– Luna – Hermione murmurou.

– Está no que sobrou da escada dos fundos – surpresos, vimos Oliviene surgir detrás dos funcionários ao nosso lado - as curandeiras tentaram sedá-la, mas não conseguiram. Está abalada.

Fomos até onde Oliviene indicou, tentando focalizar nossa amiga.

– Já estamos investigando tudo – ela continuou, seguindo ao lado de mim e Hermione – se houver explicações, nós descobriremos – ela franziu o cenho, séria, quase furiosa – e se houver um culpado, ele será punido.

Ela devia saber tanto quanto eu que Hermione talvez fosse querer punir o monstro que assassinara Xenofílio Lovegood com as próprias mãos.

Sentia o que vibrava no corpo dela. Raiva. Temor. Tristeza.

Teríamos tempo para conversar depois. Suspirei.

Finalmente vi Luna, acocorada no que um dia fora a porta dos fundos de sua casa, a cabeça enfiada nos joelhos, os braços circulando o rosto provavelmente inchado de tanto chorar.

– Luna! – Neville chamou-a.

Ela ergueu a cabeça, e meu coração parou quando o vi.

Nunca foi possível pensar no rosto de Luna Lovegood sem associar imediatamente olhos sonhadores, rosto luminoso e um sorriso etereamente agradável. E agora eu me via chocado ao ver seus olhos vermelhos, sua garganta soluçante, a pele marcada em tantos lugares com o que – para minha aflição – pareciam ter sido arranhões de suas próprias unhas, e a boca franzida como se segurasse gritos de tristeza.

Ela se ergueu, correndo e desabando nos braços de Neville.

Senti-me um intruso ali, enquanto via Luna se derramar no ombro do namorado, sem dizer uma só palavra. Simplesmente guinchando e chorando desoladamente.

Quando ela finalmente soltou-o, não foi preciso que se virasse para nós. Hermione se soltou de mim, indo abraçá-la.

Mas eu sabia que nem todos os abraços do mundo poderiam confortá-la agora.

– Sinto muito, Luna – consegui dizer, meio embargado.

Ela piscou para mim, como se agradecesse.

A nossa simples presença ali – mesmo que não fosse adiantar nada – já parecia ser para Luna algo que ela nunca conseguiria retribuir. Isso me deixou sem graça.

E com um ódio mortal de quem havia arrancado Xenofílio da vida dela.

Ela ficou cabisbaixa quando Hermione a soltou. Chorava sem parar, lágrimas e mais lágrimas escorrendo pelo rosto de porcelana.

– Eu prometo á você, Luna – Hermione segurou as mãos dela – quem fez isso não vai escapar – a voz dela transparecia a dor e o perigo que só a Hermione Wicca normalmente conseguia fazer – eu garanto que, seja quem for, vai desejar nunca ter existido.

Luna negou vigorosamente com a cabeça. Um lampejo de vida finalmente passou por seus olhos.

– Não, não – ela soluçou – não quero minha melhor amiga virar uma assassina por vingança de novo. Por favor.

Hermione enrijeceu, arfando com a súplica dela.

Seus olhos brilharam, relembrando momentos angustiantes que haviam se iniciado á dois anos atrás.

Meu coração parecia pesar mil quilos. Aquilo ainda assombrava Hermione... e, mesmo assim, ela estava se sujeitando á ter mais pesadelos em sua vida, apenas para reconfortar Luna.

Minha garganta se fechou. Minha noiva maravilhosa... o coração sempre maior que o mundo.

Precisávamos de um tempo. Todos nós.

Segurei a mão de Hermione, tentando desviá-las daquela interação angustiada.

Luna meneou a cabeça, enquanto Neville a abraçava de novo.

– Obrigada – ela sussurrou, deitando a cabeça no peito de Neville. Não ia terminar de chorar tão cedo.

– Vou ficar com ela – Neville disse, sem graça – voltem para a Toca e avisem os outros.

Hermione assentiu, e me puxou para o norte, ainda olhando para o nosso casal de amigos.

Oliviene se aproximou. Hermione se virou para ela, séria.

– Retirem o corpo daqui. Não importa o custo... quero que ele tenha um funeral decente, como ele merece. Garantam que Luna fique bem – a voz dela baixou, impassível – e descubram quem foi o desgraçado que fez isso.

Oliviene suspirou.

– Sim. Pode ter certeza que faremos de tudo, Hermione – ela se virou para mim – quase me esqueci de lhe agradecer, Rony.

– Pelo quê? – perguntei, confuso.

– Salvou a equipe de estagiários das náiades. E terminou a missão. Se não tivesse pensado rápido, provavelmente todos... incluindo meu pai... – ela fungou – você salvou meu pai. Então estou em dívida também.

– Nem pensar – pisquei – não foi nada, Oliviene. Seu pai é um excelente mentor.

Oliviene sorriu tristemente.

– Vou cuidar de tudo aqui – ela se despediu de nós – acho que vocês também precisam de um descanso. Podem ficar tranqüilos...

Agradeci-a com a cabeça, enquanto voltava com Hermione para a Toca.

Eu não queria pensar naquilo. Outro Wicca... não era possível.

Ia me preocupar agora apenas com tirar aquilo de nossas cabeças. Não havia nada que pudéssemos fazer por Luna por enquanto. Também precisávamos de nossa cota de consolo.

Eu não queria imaginar que horrores poderiam acontecer, agora que sabíamos que sabíamos que mais alguém finalmente estava aterrorizando a nossa vida e a de nossos amigos outra vez.

______________________O_____________________

Hermione ficou completamente perturbada durante o resto do dia.

E minha família não ficou muito atrás, ao saber do assassinato de Xenofílio.

Ninguém se atreveu a discutir a possibilidade do autor ter sido um Wicca. A simples suposição iria assustar a todos. E arrasar Hermione, que já lutava os últimos dias para esquecer toda aquela merda que acontecera quando acordara de sua invocação como dragão.

Eu tinha que desviá-la destes pensamentos, ou ela iria acabar enlouquecendo de angústia e paranóia.

Por mais que isso também me fizesse temer por ela, a última coisa que precisávamos agora, de novo, era parar de viver por medos que talvez nem fossem se concretizar.

Ela estava tão abalada que nem fomos para o enterro que Oliviene organizou para o pai de Luna. Mas a própria Luna pedira para que nós não fôssemos. Não queria chorar ainda mais na frente dos amigos, segundo Oliviene.

Neville, naturalmente, iria ficar com Luna até a poeira baixar. Mamãe foi taxativa em dizer que acolheria os dois na Toca até que tudo se resolvesse. O quarto de Gina, desocupado, iria ser o refúgio deles durante este tempo.

Então, eu e Hermione ficamos deitados na cama o resto da tarde, conversando. Tentei desviar o máximo do assunto que com certeza ecoava em sua mente.

– Então... – falei – antes de vir para cá, o que estava fazendo na sua casa? Alguma coisa nova?

– Sim – ela pareceu finalmente um pouco animada, embora seu sorriso estivesse inseguro – um cara famoso que trabalhou em uns objetos desenvolvidos pelo serviço de inteligência trouxa dos Estados Unidos andou me contatando. Ele quer que eu o ajude á criar uns... “programas”, para umas coisas chamadas computadores. Estou ajudando-o a terminar o Microsoft deste ano. Um nome esquisito... Windows 98.

– Sério?

– Sim... essas coisas vão poder conectar várias pessoas dentro de uma coisa chamada Internet. É bem interessante – ela deu de ombros – Bill quer que eu escolha os nomes das próximas versões. Já temos uma para o começo de dois mil.

Eu não estava entendendo nada, mas sorri, encorajando-a.

– Legal... é aquela coisa de “tecnologia”, não é?

– Sim – Hermione deu uma risadinha fraca, o que já era uma coisa, quando ela tinha passado o dia todo como uma zumbi – também estou dando uma mão para uma empresa de videogames. Ubisoft, eu acho... tive a idéia de usar o Feitiço de Imitação e o Feitiço de Brilho juntos, e fiz um tipo de “jogo de dança”. Os representantes da empresa também são bruxos, mas tentam desenvolver tecnologias trouxas. Disseram que vai levar uns dez anos para imitarem o que eu fiz – ela deu outra risadinha.

– E você vai ganhar com isso?

– Ganhar, vou sim – ela franziu o nariz – mas pedi para não atribuírem nada á mim. Acho que já terrorizo demais o mundo bruxo sem ser a coordenadora da Microsoft e ser perseguida por fotógrafos trouxas.

Ela com certeza estava se referindo ao que estava acontecendo.

Afaguei o rosto vincado de preocupação, que pareceu se desmanchar como pó ao meu toque, relaxando imediatamente.

Sempre achava graça no como Hermione parecia frágil e meiga quando eu estava nestes momentos com ela. Não combinava em nada com a garota cabeça-dura, inteligente e durona que eu vira por sete anos na escola.

E eu adorava cada personalidade dela. Até mesmo a Wicca – que, para mim, representava tudo que Hermione era por dentro: fantástica, letal, porém inabalável e admirável.

– Por que está me olhando assim? – ela guinchou, sem graça.

– Por que você é ridiculamente linda – falei, sorrindo.

O delicado e leve rubor que subiu em suas bochechas conseguiu deixá-la ainda mais fofa do que já era. Parecia absurdamente com uma garotinha adolescente.

– Está me deixando envergonhada, Ronald.

Aproximei-me, abraçando-a. Ela aceitou, enroscando-se em meu corpo como um gatinho.

– Você me assustou com esse sumiço – Hermione suspirou, me olhando com algo entre a mágoa e a chateação.

– Não quis te assustar – beijei sua testa – aliás, tem muitas coisas que eu não queria ter feito - arrepiei-me, lembrando de Calíope e de seu beijo metido a besta.

– Sei que não... – ela mexeu distraída no colarinho da minha blusa, e fechou os olhos – é tanta... coisa acontecendo... – a voz dela quebrou no fim da frase.

– E vamos continuar juntos – enfatizei – enfrentar juntos, lembra? E continuar vivendo.

Ela sorriu.

– Acho que por ora está bom assim.

Aquele dia fora cheio de surpresas. E Hermione realmente devia estar precisando ir para um lugar onde tudo isso não passasse de um pesadelo que assombrava nossa realidade.

Observei-a adormecer lentamente, ainda soluçando, eco do choro que a consumira de manhã.

Abraçado á ela, com o calor de seu corpo como cobertor, não demorei a cair no sono também, torcendo para que o dia seguinte fosse um tanto melhor do que o assustador dia de hoje.

E eu não sabia, mas aquilo fora só o estopim.

Coisas muito piores iriam acontecer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então? Comentários? Teorias da conspiração? Pedradas do tamanho de bunyips na autora? rsrs
Kissus e até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Esfera da Herança" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.