À Prova de Balas escrita por Bella Black


Capítulo 4
E a propósito, somos recém-casados, Bella.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, de verdade, eu sou muito enrolada, mas aqui está um capítulo fresquinho. Espero que gostem.



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Depois de um longo silêncio desconfortável enquanto Eduardo lia a carta e depois enquanto ponderava a respeito, ele abriu a boca:

— Guilherme Frias... – Resmungou, mais para si mesmo do quê pra mim.

— O que tem? – Questionei, balançando a cabeça pra trás desconfiada.

— Meu pai. – Confessou apático, entregando–me a carta.

Respirei fundo engolindo minha confusão mental. Uma coisa de cada vez.

— E onde ele está? – Desviei para o chão, tentando não parecer estupefata.

— Morto. – Respondeu, abaixando a cabeça e passando os dedos entre os cabelos.

Estamos fodidos, pensei.

— Hm... Ele também era desse tal sistema?

— Era. E sua mãe também. – Neste ponto meus pensamentos estavam um caos inorganizável. Nos encaramos por alguns eternos segundos até ele arrancar-me do meu transe. — Fome? – Levantou seguindo para a cozinha outra vez e mudando de assunto drasticamente.

— Muita. – Senti meu estômago roncar ao pensar em comida, eu não tinha percebido até o momento, mas estava faminta.

Acredito que, tacitamente, fizemos esse acordo de ignorar o que estava acontecendo até, pelo menos, o fim do almoço. Fingir que não estávamos sendo caçados até a morte e que essa era apenas uma sexta-feira comum nas nossas vidas.

— Tá quase pronta!

— E o que é?

— Lasanha. – Sorriu, como se tivesse acabado de dar um unicórnio para a filha do presidente.

— Não como carne. – Desafiei, destruindo seu sonho americano.

— Que tipo de pessoa não come carne? – Inquiriu boquiaberto.

— Eu.

— Ótimo, porque é apenas macarrão com molho pré-fabricado de tomate. – Rebateu convencido.

— E afinal, desculpe pelo seu nariz, ficou tudo bem? – Lembrei-me do incidente quando Eduardo salvou minha vida na cafeteria, jogando-nos atrás do balcão e eu lhe retribuí dando um soco no meio da cara. 

— Você tem mãos fortes. – Reclamou, massageando o nariz. — Mas não foi nada. – Sorriu, piscando um dos olhos, silenciosamente falando "apenas deixe para lá". — Bebe?

— Bebo. – Pausei antes da ênfase: — Água.

Ele fitou-me por um tempo.

— Hm... Quer algo alcoólico?

— Não, obrigada. – Respondi seca.

— Que bom, porque eu também não. – Um riso quase me escapou pelo canto da boca.

— Quem diria, o bad boy caçador de recompensas e criminosos é um imaculado. – Caçoei mordendo o lábio, a sobrancelha erguida.

Ele encarou-me por um instante inclinando o rosto suavemente para o lado antes de rir, virando-se para o fogão, como se tivesse controlando os lábios para não dizer algo que não devesse.

— Ei! Não me vire as costas, bebezinho! – gritei da sala.

Atirei–lhe uma almofada que acertou suas costas.

Por um momento algo parecia normal, ali, no meio do caos ainda havia um pouco de mim.

— Qual é o seu problema? – Eduardo perguntou rindo. Veio até onde eu estava no sofá, apoiando uma das mãos no recosto e outra no acento, meu corpo logo abaixo do seu. — Você também não bebe, criança. – Admito, fiquei meio nervosa, podia escutar o som das nossas respirações se misturarem e notar seu olhar ir dos meus olhos para minha boca. Até que ele levantou-se e retornou a cozinha; sem camisa, eu podia ver o desenho das suas costas, músculos marcados e nenhuma tatuagem.

— Tá pronto, Gabriela. – Chamou, colocando a panela sobre a mesa que já tinha um prato de cada lado. Seu tom de voz parecia mais sério e ele chamara-me pelo meu nome, o que, até então, só fizera em duas ocasiões (ambas bem sérias).

Senti o cheiro delicioso da lasanha invadir meus pulmões e permiti isso apossar-me, ignorando todo o resto, definitivamente eu estava faminta!

Após almoçarmos, espreguicei–me na cadeira e recolhi a louça para lavar.

— O que a gente faz agora? – Indaguei da cozinha.

— Em primeiro lugar, não podemos ficar aqui para sempre. – Respondeu, enfiando os dedos nos fios loiros que caíam sobre a testa, jogando-os para trás. Uma voz na minha cabeça dizia que eu não devia me meter em mais encrenca. — Gabriela? – Chamou impaciente.

— Estou ouvindo. – Respondi no mesmo tom, enxugando as mãos.

— Nós vamos embora daqui a pouco. – No momento não soube se sentia-me surpresa ou aliviada. Ali, evidentemente, não era o lugar mais seguro do mundo para dois procurados por um monte de máfias e serviços secretos. E isso soa ainda mais absurdo quando ponho dessa forma.

— Certo. Pra onde? – Questionei interessada e até um pouco receosa.

— Vamos para capital, tenho uma cobertura lá. – Se tivesse dito isso em outro momento, acharia que ele estava se gabando, no entanto, seu tom estava sério demais para isso.

— Não seria o primeiro lugar a nos procurarem? – Parecia algo meio óbvio.

— Precisam de nós, precisam que encontremos os anéis, no fim das contas. Ademais, ninguém sabe do meu apartamento, está em um nome falso e eu sei me esconder bem. Não sou nenhum amador. – Dessa vez, sim, ele estava se gabando.

— Ok então, senhor espião. – Rendi-me erguendo as palmas das mãos e balançando a cabeça em deboche.

— Você é tão folgada. – Ele revirou os olhos.

— Falou o maduro do pedaço. – Retruquei escondendo o dedo do meio erguido atrás das costas.

— Não vou discutir com você. – Rebateu por fim, caminhando até o quarto e concluí que devia segui-lo.

— A capital é longe para caralho. – Pontuei, mancando atrás dele.

— Meu Deus, como você reclama. São só algumas horas, relaxa aí.

— Acordou de TPM, Eduardo? Porque, meu Deus, como você está insuportável. – Sentei na cama irritada.

Inacreditavelmente, ele sentou-se ao meu lado e respirou fundo, olhando para o nada, assim como eu.

— Sinto muito. – Respirou novamente. – Por tudo isso.

Antes que eu pudesse reagir coerentemente, girei, abracei–lhe forte e lágrimas teimosas molharam sua blusa. Eduardo retribuiu o abraço carinhosamente, alisando meu cabelo, confundindo-me ainda mais, no entanto, decidi não pensar em mais nada, apenas seguir em frente. Após o que pareceram alguns minutos, ele se afastou. Enxuguei o rosto rapidamente e Edu levantou meu queixo contemplando–me nos olhos e enrubesci.

— Você até que é bonita chorando. – Dei-lhe um soco leve no ombro e ri em seguida, seu riso acompanhando o meu. Vi seu rosto se aproximar-se e fechei os olhos respirando ofegante. Senti sua boca úmida e quente encostar na minha testa, em seguida na minha bochecha, tão próximo da minha boca que eu pudi sentir seu hálito de menta.

Pigarreei e levantei do sofá ajeitando a roupa evitando encará–lo.

— Hmm... Arruma as suas coisas, partimos no fim da tarde. – Ele disse.

Ia responder algo, mas apenas concordei.

Fui para as gavetas catar as poucas coisas que ele tinha trazido da minha antiga casa, parei, contudo, ao escutar um click e virei-me para trás. Em cima da cama, uma grande mala com armas que pensei só existir em filmes. Ele pegou um revólver preto e me entregou. Arregalei os olhos e examinei a arma.

— UAL! – Exclamei apontando pra algum lugar ao acaso e desviando de balas invisíveis.

Edu abaixou minha mão um pouco assustado.

— Ei, ei, ei! Calma aí, chorona, ta carregada! – E riu.

— Tá falando sério? – Duvidei boquiaberta. Era de verdade, ele tinha me dado uma bendita arma de verdade! Estava nervosa e ao mesmo tempo excitada. Meu pai era atirador e eu pensava, claro, ser apenas um hobby, todavia, agora eu entendo. Sempre admirei isso nele. Engoli o nó na garganta que me deu ao lembra-lo. — O que eu faço com ela? – Perguntei afastando os pensamentos.

— Mata pessoas. – Meu coração precipitou-se, eu não queria matar ninguém. — É brincadeira. – Apressou-se em corrigir, antes que eu soltasse o objeto no chão. — Apenas para emergências, apenas autodefesa, gatinha. – Sorriu, tocando meu queixo com o indicador. Estava demorando...

— Eu sabia que o Eduardo ainda estava aí em algum lugar. – Revirei os olhos com um mini sorriso de canto. É a relação mais estranha que já tive com alguém, eu quase o odeio e quase gosto dele; é ridículo como ele é tão idiota e tão interessante ao mesmo tempo.

— E eu sabia que você estava sentindo falta dele. – Provocou passando o indicador, dessa vez, no meu lábio inferior, fazendo uma onda de calor passar pelo meu corpo. Virei o rosto e respirei fundo, então mordi o próprio lábio quando ele virou de costas.

— Temos um pequeno problema, eu não sei usar. – Anunciei frustrada. Eduardo posicionou-se atrás de mim, estendeu e segurou minhas mãos com a arma mirada para frente.

— Apenas mire, destrave aqui e puxe o gatilho. – Sussurrou ao meu ouvido. Ele estava passando dos limites. Que diabos era aquilo? Senti os pelos da minha nuca arrepiarem.

Edu me deu uma mala para guardar minhas coisas, esvaziei as gavetas que o mesmo abarrotou com minhas roupas. Ele precisou apenas de uma mochila para suas coisas e a mala–arsenal. Por fim peguei a carta e guardei comigo.

O sol estava se pondo e o céu escurecendo, dava para ver através de uma pequena vidraça na sala, que era a única abertura para fora do local além da porta. Ao menos, era o que eu pensava. Eduardo me conduziu pela cozinha à um grande quadro e com um truque estranho, ele o abriu.

— Estamos em Hogwarts ou algo assim? – Questionei atônita.

— Ah, claro, pegou sua varinha? – Zombou. Edu puxou duas lanternas das calças, me entregou uma delas e continuamos andando.

Depois do retrato o lugar parecia um labirinto de becos e descidas e fedia a morfo.

— Assim vamos parar na Ásia a qualquer momento. – Funguei depois de uns quinze minutos caminhando.

— Você é a rainha das reclamonas, sabia? – senti seu olhar encarando–me sob o escuro.

— É, acho que você já me disse isso. Tipo, umas quinhentas vezes! – mostrei a língua, mesmo sabendo que ele não podia ver.

Depois de mais alguns minutos sem que nenhum dos dois se pronunciassem, falei que me sentia num filme americano de perseguição, mas que estava começando a cansar.

— Chegamos! – Escutei ele anunciar animado e senti o alívio preencher meu corpo. Ele sorriu abrindo uma porta que eu nem reparei que existia.

— Onde estamos? – Perguntei atravessando a passagem. Quando ele acendeu a luz e a claridade quase me cegou, tapei os olhos instintivamente, esfregando as pálpebras.

— TCHARAN!

— Puta que pariu! Isso por acaso é o batmóvel? – Deslumbrei-me, completamente admirada com o carro a nossa frente.

— Quase... – Riu, pulando sobre o banco de motorista do conversível preto.

— Eu casaria com você agora mesmo! – Joguei–me no banco de couro ao seu lado alisando o carro, encantada.

— O que estamos esperando? Vamos agora mesmo à igreja!

— Eu estava falando com o carro. 

Eduardo deu partida e saímos da garagem para a estrada deserta e verde.

— Bom, agora vamos que a viagem será longa. – Concluiu, colocado um chapéu de viajante e óculos escuros, então abriu o porta–luvas.

— Nossos novos documentos. – Apontou para a pasta que caiu no meu colo. – E a propósito, somos recém–casados, Bella.

— Você tá brincando, né? – Inquiri incrédula.

— Claro que não, mi amor. – Piscou para mim e voltou ao volante.

— Vai à merda, Eduardo. – Fiz uma expressão de reprovação. — Vê se não provoca.

— Que Eduardo? Eu sou Bond, – abaixou um pouco os óculos e acelerou o carro, — James Bond!


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?



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