Lost in Paradise escrita por Drylaine


Capítulo 24
P.S. Eu te amo




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Bonnie

Para organizar as minhas idéias e tentar dar um rumo real a minha vida, decidi sair do dormitório que dividia com Elena e Carol e tranquei definitivamente a faculdade de Direito. Obviamente, que eu estava fazendo tudo meio que as escondidas, porque não queria questionamentos de meus queridos amigos. Sei que eles não iriam gostar nada dessas mudanças. Mas, e daí! Eles nem conseguiam resolver seus próprios problemas, como poderiam me ajudar? Eles foram incapazes de conseguir me tirar daquele lugar.

Assim, sorrateiramente fui arrumando tudo. Aproveitei que todos estavam focados no drama de Caroline. Fiquei sabendo que a loira religou sua humanidade e depois sumiu, provavelmente, porque não conseguia lidar com o peso de seus últimos atos.

Confesso que quando soube que Caroline religou sua humanidade e que estava sofrendo demais, eu me senti triste por ela. Sei que a loirinha não era assim uma assassina fria, invejosa ou cheia de crueldade. Carol é uma pessoa bacana que sempre teve o domínio sobre seus instintos vampíricos e se saia bem em torno de humanos, não oferendo nenhuma ameaça. Desde o começo ela conseguiu manter certo controle sobre si. Mas, com a morte de Liz, tudo mudou. E eu até entendo. As pessoas no geral tem modos diferentes de lidar com a dor. Embora vampiros me pareçam um pouco covardes por sempre escolherem a mesma forma destrutiva de lidar com suas perdas.

"Olá. Parece que alguém está saindo sorrateiro, como um fugitivo!" Meus devaneios foram interrompidos por Elena que apareceu me observando da porta do quarto.

"Por quanto tempo você estava aí me espionando?" Ela se aproximou da cama e olhou na direção da minha bolsa que estava entreaberta, desesperada eu tratei de fecha-la rapidamente, torcendo pra que Elena não tivesse visto as passagens de avião.

"Eu não estava te espionando. Só cheguei aqui e por acaso te encontrei fazendo suas malas, pronta pra ir embora." Ela arqueou as sobrancelhas mostrando um olhar irônico. "Então, vai mesmo sair de Withmore? Vai desistir dos seus sonhos?!"

"Você nem sabe quais são os meus reais sonhos." Falei ríspida sem paciência para atura-la.

"Bem costumávamos ser amigas e dividir tudo, até os nossos sonhos. O que mudou?" Ela possuía um olhar ressentido.

"Eu morri, voltei e tudo mudou. As minhas decisões são outras." Pronunciei cada coisa em tom sarcástico e frio, ouvindo o seu grunhido frustrado ecoar perto de mim. "Meus sonhos parecem distantes de mim. E tudo o que importa é que eu quero seguir os meus próprios passos. Sem viver na sua sombra."

"Você me odeia agora também? Isso mudou." Ela soltou um suspiro parecendo cansada. Seu olhar era vidrado em mim e isso me deixou um pouco intimidada. Tive que desviar o olhar. "E você também não se importa mais com a Caroline e com ninguém? Isso é tão estranho e triste!" Ali começamos a nossa pequena discussão.

Elena começou a dizer que eu estava me isolando de novo como se ainda estivesse presa sozinha em 94. Praticamente ela achava que para mim superar os meus traumas eu tinha que continuar por perto, sendo a amiguinha leal de todos e, principalmente, de Elena. Claro que minha querida amiga também começou a me questionar sobre minha relação com Damon. Ela disse que não era cega, mas fingia não ver pra doer menos.

"Sei que não é apenas platônico." Seu nariz se enrugou de desgosto, enquanto falava entre dentes. "Aconteceu alguma coisa naquele maldito mundo retrô! E vocês tem mantindo isso em segredo." Dei as costas pra ela e comecei a pegar as minhas coisas pra sair dali. "Provavelmente, você até já sabia que a Sarah é uma Salvatore, não é." Eu pisquei um pouco chocada e frustrada. "A Bonnie Bennett que eu costumava conhecer era alguém leal e verdadeiro. Nunca mentiria pra mim. E nunca me magoaria." Ela decidiu parar na minha frente me impedindo de seguir meu caminho. Seu olhar ressentido estava mexendo comigo.

"Tudo bem." Respirei fundo tentando me controlar, pois eu já estava me sentindo sobrecarregada por sentimentos que não me fariam bem e que também poderiam se tornar perigosos pra quem estivesse por perto. "E daí?! Sarah era um segredo do Damon e não meu." Eu larguei as minhas coisas no chão e cruzei os meus braços esperando ela falar, embora eu já sabia de toda aquela história.

Então, uma Elena muito furiosa comigo e parece que com seu próprio namorado, derramou toda a sua decepção após descobrir mais uma parte monstruosa do passado do Damon. Era um tanto irritante vê-la parecer tão chocada por seu namorado ser capaz de atacar uma mulher grávida. Isso parecia ser a coisa mais horrível que ela já presenciou, como se Damon Salvatore já não tivesse um histórico de momentos sombrios e brutais que ela mesma já presenciou antes e, no fim, isso não pareceu importar no passado, já que ela o perdoou tantas vezes e passou por cima disso pra ficar com ele.

"Juro que não entendo porque de todo esse drama!" Sibilei dando de ombros. Então, minha amiga, que não parecia ter uma atitude nada amigável, soltou um riso afetado.

"Eu só estava curiosa, Bonnie." Até que percebi que ela estava me testando pra saber qual seria a minha reação diante da revelação sobre o segredo de Damon. "Queria entender porque você esconderia isso de mim. A antiga Bonnie iria repudiar isso e se afastaria de Damon. Mas, você..."

"Por que não falamos da nova Elena ou da antiga Elena?" A interrompi decidida a confronta-la da forma mais agressiva possível. E na minha fúria eu falei tudo que estava há tempos preso na garganta.

Eu a chamei de egoísta. De uma garota que no fundo sempre gostou de ser o centro das atenções. Que ela era incapaz de enfrentar sozinha seus próprios problemas, pois sempre arrastava todo mundo junto com ela, como se fosse um furacão. Eu falei que a minha vida havia se tornado um inferno quando passei a se tornar a sua guardiã, tendo que salvar todo mundo, mas sobretudo, ela. Que por causa dela eu perdi a minha família, pois a minha amizade era tão grande que eu colocava ela como prioridade na minha vida. Como se a minha própria vida valesse menos.

"Eu me sacrifiquei pra trazer Damon de volta e te entreguei de bandeja: Seguro, bonito e ainda apaixonado por você. E o que você fez?!" Agora eu sentia aquelas emoções obscuros começaram a tomar conta de mim. Eu queria machuca-la tanto.

"Bonnie, eu sinto muito!" Nós duas estávamos chorando cheias de desespero e muito magoa. "Você não entende. Eu..."

"Ah, tudo o que tenho feito é sempre entender você. Só que eu cansei! Eu cansei no momento em que voltei e descobri que você apagou as memórias do Damon e toda a sua história de amor. E eu me achei tão estúpida porque me sacrifiquei mais uma vez pra fazer você feliz. Mas, por quê?!" Ela desviou o olhar e mordeu os lábios parecendo nervosa. "Você provavelmente nem deve ter sofrido a minha falta. A minha morte era pequena, como se eu fosse descartável."

"Não é verdade! Eu sofri por você. Todos nós sofremos por você!"

"E o que você fez pra me trazer de volta, hein?! E quando o Damon voltou... o que você fez pra me salvar? Aliás, quantas vezes você me salvou mesmo?!" Eu comecei a me aproximar dela de uma forma ameaçadora fazendo Elena começar a recuar. "Você está com medo de mim?"

"Você é tão diferente agora. É tão vingativa e fria." Ah, sim! Ela tinha razão. Eu religuei o meu lado vingativo, um pouco cínica. Isso me fez lembrar de uma cena de uma série que eu costumava assistir, em que o vilão dizia que a vingança poderia ser muito viciante. Talvez, eu já tivesse me tornado uma viciada.

"Você gostaria de lembrar as coisas que você esqueceu? Eu posso te ajudar com isso." Eu andei até ela, parando em sua frente a encurralando.

"Bonnie, para! Você está me assustando." Ela até tentou fugir usando sua velocidade sobre-humana. "Eu não quero te machucar." Elena já estava em seu modo vampírico, com sua expressão demoníaca, só que minhas habilidades agora eram bem mais eficaz que as suas. "Bonnie o que você está fazendo? Eu não consigo me mexer!" Então, eu me aproximei de volta dela, vendo seus olhos se arregalarem.

"Prometo que vai ser rápido e, talvez, nem vá doer tanto." Assim, coloquei minhas mãos sobre cada lado de sua cabeça, olhando no fundo de seus castanhos assustados e comecei a mostrar flashes com suas lembranças misturadas com as minhas próprias, se tornando um só!

Eu passei a recriar as suas memórias que ela havia deletado:

Eu mostrei desde a chegada dos Salvatores em nossas vidas. Mostrei momentos entre ela e os dois irmãos. Katherine também estava presente nas lembranças e era nítido que elas não eram só parecidas fisicamente. Elena foi com passar do tempo se tornando alguém semelhante a sua duplicata Petrova. Ambas foram egoístas e, em algum momento, passaram a manipular os irmãos Savatores, mesmo que Elena não percebesse. A única diferença entre elas, é que Elena também podia ser bastante manipulável e a sua relação com Damon era a prova disso.

Falando em Damon, eu tive que mostrar como o amor deles foi se tornando algo tão forte, avassalador, ao passo que ambos viviam numa bolha e ninguém mais importava. Damon faria qualquer coisa por sua amada, até mesmo matar... Ou até trair o seu próprio irmão. Elena por sua vez, passaria por cima de Jeremy e de seus amigos pra ficar com o vampiro de olhos azuis. E, juntos, ligavam o foda-se para o resto do mundo!

Não importava que por meses, todos lutaram para conseguir a cura contra o vampirísmo. De um lado Stefan e Damon lutaram entre si para conquistar o seu coração, enquanto tentavam pegar a cura pra ela. Do outro lado, eu e Jeremy chegamos a morrer pra conseguir pegar a cura, pra que ela pudesse voltar a ser humana. Voltar a ser aquela garota tão cheia de vida e que se importava com a sua família e com seus amigos. Entretanto, Elena egoisticamente descartou a cura como se fosse um lixo.

Também lhe mostrei o período dos quatro meses em que Stefan passou sua temporada de férias, preso dentro de um cofre no fundo do rio, enquanto ela vivia sua lua de mel com Damon na maior felicidade. Nesse mesmo tempo, eu estava vivendo como fantasma e Elena também foi incapaz de perceber que eu na verdade estava morta há meses e nem pude estar no enterro do meu próprio pai, que aliás, havia sido morto por Silas.

Onde estava minha amiga Elena, quando eu mais precisei?! Aliás, onde estava a verdadeira Elena?! Ou será que a verdadeira Elena, sempre foi egoísta e covarde?!

"Bonnie por favor, isso tá me machucando!"

Mas, aquelas memórias cruéis ainda não pararam por ali. Eu fui mais afundo e acabei lhe mostrando memórias minhas com Damon no mundo prisão. Nosso tempo de exilamento, cheio de altos e baixos, das panquecas com carinhas felizes e presas de vampiro. Mostrei o motivo pelo qual ele fazia essas panquecas todos os dias, o significado desse simples ato cotidiano. Algo tão profundo que Damon nunca teria coragem de dividir nem com a sua própria namorada. Eu também decidi dividir com a minha querida amiga, o momento crucial onde mudou tudo... Aquela cena do beijo, onde aquele vampiro de lindos olhos azuis, abalou completamente meu coração. E parei com as lembranças, ao chegar no momento, onde me sacrifiquei deixando Damon voltar pra casa... Direto para os braços dela.

"Paraaaaa! Por favor, Bonnie. Para!" Ouvi os gritos dela agoniados me fazendo parar. Sai da sua mente, também me sentindo esgotada. Eu me afastei dela observando sua expressão em branco, seu nariz sangrava e seus olhos ficaram vidrados. Em seguida ela caiu ajoelhada no chão na minha frente parecendo muito fraca.

"Elena!" Tentei toca-la, mas ela parecia em estado de choque, o que me deixou assustada. Sei que havia esse sentimento incontrolável de vingança, porém as sensações que isso me dava era tão poderosa quanto assustadora e perigosa.

De repente percebi que, cada vez mais, eu estava ficando como Kai. Alguém sombrio, ressentido e sedento por vingança. Eu estava me tornando alguém totalmente fora de controle.

"Eu sinto muito!" Me ajoelhei na sua frente tentando faze-la despertar daquele torpor.

"Bonnie, eu me lembrei de tudo. Eu me lembro..." Ela ficava repetindo. "É tudo tão horrível..." Agora ela piscou várias vezes, como se tivesse com os olhos irritados por uma luz forte. "Eu sinto muito, Bon. Muito mesmo!" E Elena começou a chorar. Suas emoções começaram a me afetar. "Eu sinto tanto!" Todas essas memórias, talvez, eram demais pra ela. Eu joguei tantas lembranças impactantes sobre Elena de um jeito furioso. Queria tanto machuca-la que ao fazer isso, acabei me machucando no processo. Eu agora estava me sentindo culpada e triste. Toda essa vingança pouco a pouco estava me destruindo.

"Está tudo bem, Elena. Eu também sinto muito." Suspirei sentindo um nó se formar na garganta e, ao invés de lhe abraçar, eu decidi me afastar dela.

Eu me levantei e segui para pegar as minhas coisas. Nesse instante, ouvi o toque de um celular. Vi que não era o meu, então, olhei para Elena. Ela segurava o celular desanimada e, hesitante, soltou outro suspiro.

"Você deveria falar com ele. Agora você tem a chance de recomeçar essa história entre vocês dois do jeito certo." Ela me olhou surpresa e confusa. Talvez, fosse pura intuição, mas sabia que era Damon do outro lado da linha. "Faça valer a pena tudo o que passamos pra chegar até aqui. Todas as lágrimas, as dores, os confrontos, as perdas... no final tem tem que ter valido a pena. Damon te ama! Então, se agarre a isso e seja feliz." Eu senti uma vontade de chorar, mas eu me segurei firme. Não queria mostrar mais tanta vulnerabilidade. "Você me deve isso!"

Eu tinha que sair logo, antes que eu perdesse a coragem. Elena ainda tentou me questionar mais uma vez, mas eu puxei seu celular e atendi, ouvindo a voz dele chamando por ela, lhe entreguei novamente o seu celular, assim forçando minha amiga a se distrair falando com Damon, enquanto eu seguia o meu rumo em silêncio.

Passei rapidamente pelos corredores de Withmore, sem falar com mais ninguém. E quando cheguei em meu carro, acabei desabando a chorar. Ouvir a voz dele tão rápido chamando por Elena, mesmo que por aquele aparelho bobo, foi o suficiente pra mexer com o meu coração. Eu iria ir embora sabendo que a última vez que nos vimos eu o machuquei. Mas, ao menos eu estava lhe dando a chance de recomeçar do jeito certo com Elena. Sem mentiras, sem mágoas e com suas lembranças restauradas.

Acho que isso seria um bom recomeço pra eles.

 

 

 

 

Damon

Meus últimos dias, tem sido um desastre atrás do outro, o que me tornou meio que anti-sociável. Eu até tentei me reaproximar de Ric. Infelizmente, meu amigo fiel, Alaric Saltzman, ainda estava irado comigo e continuou ignorando as minhas chamadas. Agora me tornei solteiro, boêmio da noite, tendo como única companhia meu Bourbon e o Barman do Grill. Aliás, tenho frequentado o Grill diariamente, como há tempos não fazia. Preferia me manter o mais distante da mansão, assim, me mantendo longe de confrontos constantes com Stefan. E até evitava vagar muito pela cidade, só pra não cruzar com Elena ou com Sarah.

Parecia que o garanhão Damon Salvatore estava na sua pior fase com as mulheres. Porém, entre todas elas, a que mais me perturbava era a Bennett.

A Bruxa continuava pairando teimosamente em minha mente e isso era irritante, parecia uma obsessão. Eu até tentei afogar as minhas mágoas em alguma outra beleza feminina, mas a verdade é que eu não podia esquecer dela. Daquela bruxa que já estava tão impregnada em mim. Meus pensamentos constantemente, sempre se voltavam a bruxinha. Às vezes, eu ficava pensando se nós tivéssemos ficado no mundo prisão (sem a presença de Kai), como teria sido a nossa relação.

 

Será que ainda estaríamos em pé de guerra? Será que teríamos em algum momento, atravessado os limites dessa estranha relação e nos entregando a luxúria, tentando procurar algum conforto nos braços um do outro. Será que tudo seria mais fácil entre nós lá, do que aqui?

 

Todos esses questionamentos, eram resumidos numa única resposta: — Sim! — E esse sim era tão certeiro, porque lá naquele pequeno mundinho... (O Nosso Mundinho) apenas meu e de Bonnie, era um lugar onde me sentia confortável, presos à uma rotina tranquila, divertida e fácil de se adaptar.

Eu fechei os olhos e comecei a recriar essas cenas na minha cabeça. Eu poderia até sentir o cheiro de café fresco e das minhas panquecas. Nós estaríamos discutindo e como sempre discordando de tudo. Bonnie tentaria se distrair com a droga das palavras cruzadas. Depois de organizarmos a cozinha, eu timidamente iria convidar Bonnie pra assistir algum filme e, pela milionésima vez, assistiríamos "O Guarda-Costas," deitados lado a lado no carpente da sala. Eventualmente, iríamos brigar pela tigela de pipoca, ou eu iria começar a repetir exageramente alguns diálogos do filme só pra irritar Bonnie. Até que a bruxinha se entregasse ao sono e sem perceber acabaria adormecendo com sua cabeça deitada sobre meu peito e seu corpo tão próximo ao meu. Eu me deixaria aproveitar a sensação do seu calor humano, sentindo seu cheiro de morangos e jasmim me inebriar. Eu me deixaria me levar ouvindo o fluxo de seu sangue apetitoso passear por todo o seu corpo e acabaria deixando meus dedos tocar a sua pele macia delicamente cuidando pra não acorda-la. E me entregaria aquela calmaria, ouvindo o ressoar da sua respiração e o pulsar sereno do seu coração.

 

Ah, como era tão frustrante abrir os olhos e despertar para uma realidade, onde não havia a presença de Bonnie constante em minha vida!

 

 

Frustrado e infeliz, peço mais uma garrafa de Bourbon, pago minha conta e saio do lugar, rumo novamente a minha mansão tão solitária. Durante meu caminho de volta, vou cantarolando uma música idiota e bebendo sem parar, sabendo que nunca ficarei bêbado.

Ao chegar em casa me deparo com meu irmão de frente para a lareira parecendo perdido. Ele demorou pra perceber a minha presença.

"Parece que alguém está bem fora de órbita." Ele virou o rosto na minha direção e estreitou seus verdes que agora pareciam sombrios.

"Eu passei o dia com Sarah." Ele disse nervoso, esperando ver a minha reação.

"E..." Sussurrei com tédio.

"Falamos sobre você." Fiz um sinal com a cabeça pra que ele prosseguisse. "Também falamos sobre outras coisas e..." Ele desviou o olhar parecendo com vergonha. "Você tinha razão..."

"Sobre o quê?!" Dei de ombros, embora já imaginasse a resposta.

"Sobre os sentimentos dela... Sarah me beijou." Eu abri a boca em um perfeito Ó, mas depois fechei rapidamente, enquanto apertava as mãos tentando controlar o meu próprio temperamento. "Eu acabei retornando o beijo e não sei... as coisas quase saíram do controle." Sua expressão era estritamente culpada.

"Que bela merda hein, irmãozinho. E agora?" Cruzei os braços fingindo indiferença.

"É só isso que você vai dizer? Eu tô praticamente me humilhando aqui... Implorando algum conselho ou sei lá..." Isso me fez rir e revirar os olhos.

"Você deixou bem claro que me queria longe... Bem longe de Sarah!" Me aproximei de Stefan segurando firme em um de seus ombros. "Então, eu decidi que ela não é problema meu." Olhei profundamente eu seus verdes conflituosos, tentando fingir que não me importava, mas a verdade que por dentro eu estava me corroendo de preocupação com os dois irresponsáveis, embora Sarah era a inocente da história.

"Droga, Damon! Eu sei, talvez, você tenha a razão e agora eu sou uma ameaça pra Sarah. E eu tô perdido aqui." Nos olhamos silenciosamente. Eu também podia dizer que havia um brilho diferente naqueles seus verdes que reconheci como o olhar que Stefan costumava ter quando estava apaixonado.

"Você está gostando dela!" Não era uma pergunta, era uma afirmação.

"Eu sou um cara nojento, querendo manter uma relação incestuosa com uma garota que desconhece as suas origens..." Eu podia sentir a sua aflição se refletindo em toda a sua postura entristecida. "Você sabe... levou tanto tempo para deixar meu coração se curar depois de Elena." Agora eu me senti mal pela situação de Stefan. "Com tantas garotas por aí, meu coração estúpido tinha que se envolver logo por Sarah? A garota que eu vi nascer. Que eu até carreguei no colo!" Mais uma vez, ele estava se punindo, como se fosse o pior homem do mundo.

Na real, eu é que era o pior homem do mundo. O cara que por egoísmo, vaidades e impulsividade, foi capaz de passar por cima do próprio irmão e ficou com a sua garota. Mas, pra quê?! No fim, todos estamos infelizes. E agora me pergunto: Se eu não tivesse ficado entre os dois, Stefan e Elena poderiam estar até agora juntos e tudo seria diferente. Talvez, muita coisa ruim não teria acontecido e não haveriam tantos corações partidos.

 

"Não sei porque o coração tem que querer aquilo que não pode ter!" Mas, não era só a situação de Stefan a qual me referia. Parando pra pensar, meu coração era tão estúpido quanto a de meu irmão. "Droga, Stefan! Seu sentimentalismo, tá afetando meu cérebro." Eu disse provocando um riso meio tímido nele. "Vamos beber!" Segui até a mesinha das bebidas a procura de mais Bourbon.

"Damon, você e Elena terminaram?"

"Sim!" Dei de ombros e lhe servi uma dose da bebida. De repente percebi que em baixo de uma das garrafas havia uma carta escrita meu nome.

"A culpa é minha. Eu criei essa situação entre você e a Elena."

"Na verdade, nossa relação já estava pra terminar faz tempo. Mas..." Parei de falar quando abri a carta e encontrei uma chave e depois aquelas letras que me pareciam muito familiares:

 

 

"Olá, Damon.

Talvez, você ainda esteja me odiando, ou sei lá, não importa! Bem, vamos direto ao assunto.

Decidi deixar essa carta pra você, porque nos últimos tempos, você passou a ser a pessoa que eu mais confio. E, também, porque lhe devo um pedido de desculpas. Então, aqui vai..."

 

 

De repente eu esqueci de tudo ao meu redor e palisei lendo cada pequena palavra dela:

 

 

"Damon perdoe-me por não ter coragem de ficar e lhe falar isso cara a cara. Sei que estraguei tudo entre nós, sei que falei coisas que te machucaram e queria tanto que soubesse o quanto me arrependo. Por que apesar do nosso passado obscuro, eu também vejo que somos duas almas que venceram suas diferenças e formaram uma aliança tão forte. Nós dois somos sobreviventes e, ao mesmo tempo, dois teimosos. E por causa dessa teimosia, eu relutei muito em admitir o quanto você passou a significar pra mim.

Eu acho que sem você eu nunca teria sobrevivido ao mundo prisão. Foi por isso que segurei a sua mão quando tudo estava desmoronando. Naquele momento, eu estava com tanto medo.

Quando eu precisava de um alicerce pra me manter firme e forte, você estava lá e não me deixou sozinha.

Mesmo quando você parecia tão pessimista, você me desafiou a continuar e eu continuei por nós dois. Eu tive esperança por nós dois e nunca irei me arrepender disso. Assim, como nunca me arrependerei de ter segurado a sua mão e ter morrido ao seu lado. Assim, como jamais me arrependerei, de ter passado quatro meses presa com você. Quatro meses que mudaram, não apenas a minha vida, como também os meus sentimentos por você."

 

 

A cada palavra, eu sentia que iria me afogar em sentimentos conflituosos. Sentimentos que estavam me abalando tanto, confundindo minha mente. Deixando-me em completa desordem:

 

 

"Meu coração insensato passou a desejar ter aquilo que não me pertencia. Tudo por causa daquele beijo. O beijo que você me deu em 94 e que mexeu comigo de uma forma tão inesperada e intensa que me fez fazer coisas, tomar decisões ruins e sentir sentimentos que não estava acostumada a sentir, como inveja, raiva, ciúme e uma paixão tão incontrolável. Uma paixão que eu tentei lutar com todas as minhas forças, até que eu cometi o meu maior erro ao confiar na pessoa errada, ferrei com todos nós e acabei sem saída. Que dizer, havia uma saída. Foi, então, que decidi parar de fazer tantas merdas e percebi que estava na hora de parar com as mentiras. Parar com todo o desejo de vingança."

 

 

Eu podia ouvir a voz de Stefan ecoando distante, mas eu não conseguia parar de olhar para aquele pedaço de papel. Remoendo suas palavras tão genuínas, intensas e até cruéis, que Bonnie Bennett decidiu deixar expostas apenas naquela simples folha. Sem direito de me confrontar cara-cara. Sem uma despedida descente:

 

 

"Damon, eu decidi sair de Mystic Falls, ir pra longe e recomeçar, sem a presença constante do sobrenatural em minha vida. Sem Carol, Elena e os outros. Sobretudo, decidi seguir em frente sem você.

Estou indo embora, pra algum lugar, onde eu verdadeiramente pertença..."

 

 

"Droga, Bonnie! O lugar aonde você pertence é aqui. Comigo!" Mumurei completamente furioso e desesperado.

 

 

"Vou deixar a casa pra você. Sei que vai cuidar bem dela. E muito obrigado por tudo.

Eventualmente, a gente vai se encontrar. Então, até algum dia, Damon.

P.S. Eu te amo!"

 

 

"Damon o que está acontecendo?!" Stefan decidiu puxar a carta das minhas mãos, lendo tudo numa só velocidade. "Caramba! Bonnie foi embora?"

"É o que está escrito aí!" Eu grunhido em resposta passando as mãos nervosamente por meu cabelo, me sentindo agitado, sem saber o que fazer. Então, me lembrei que quando liguei pra dar um recado pra Elena mais cedo, eu ouvi a voz daquela bruxa tão nítido e real ao fundo... Como ela poderia ir embora assim, de uma hora pra outra?!

Olhei para a chave que eu ainda segurava em minhas mãos. Eu tinha que ir atrás dela e impedi-la, de uma forma ou de outra.

 

 

***/ /***

Quando cheguei à casa Bennett, encontrei uma caixa grande de presente na entrada da porta, mas eu ignorei o objeto e entrei dentro da casa. Aparentemente, o lugar parecia o mesmo. A presença da bruxa era muito forte em cada canto, os móveis, objetos e até roupas pareciam quase intocadas. Era óbvio que a bruxinha não queria chamar atenção, então, levou apenas poucas coisas mais pessoais e necessárias, pois certamente, a ideia era fazer todos acreditarem que ela havia ido viajar por pouco tempo. Isso seria o álibi perfeito, se não fosse pela carta.

Até aquele ponto da história, eu só estava frustrado e nervoso, desejando apenas encontra-la e falar com ela cara-a-cara. Eu estava tão cheio de esperança que nós poderíamos se entender e até nos dar uma chance de definir nossa relação. Ainda mais agora que Elena já não é um obstáculo entre a gente. Entretanto, havia um obstáculo bem pior e cruel que estava prestes a destruir com cada pedaço de otimismo meu... Eu acabei decidindo abrir a tal caixa de presente e olhar atentamente dentro dela. E dentro daquela caixa estúpida, continha o real motivo do porquê Bonnie estava fugindo.

Foi como abrir a caixa de Pandora e trazer o caos na Terra!

Sentido-me derrotado, retornei pra mansão, encontrando um Stefan aflito e tenso.

"E, então, descobriu alguma coisa?"

"Sim. Ela vai casar." Mumurei apático.

"O quê?!"

"Você me ouviu... Bonnie vai se tornar a senhora Parker. O mais novo membro do Clã Gemini."

"Isso é alguma brincadeira bizarra?" Stefan questionou cético.

Eu me dirigi até as bebidas, peguei a primeira garrafa de Bourbon e virei toda a bebida em minha boca, desejando que álcool pudesse anestesiar a minha dor. Infelizmente, o álcool não poderia me afetar e, naquele instante, odiei ser a droga de um vampiro estúpido. Furioso joguei a garrafa de Bourbon quase dentro da lareira, mas meu irmão conseguiu pegá-la antes de se chocar contra o fogo.

"Damon se acalma!"

"Eu não posso, Stefan!" Eu parei olhando tão desolado para meu irmão. "Ela foi embora sem se despedir. Ela foi embora decidida a não voltar. Eu sinto que perdi a melhor coisa que eu poderia ter tido em minha vida. Eu preciso dela. Mas, agora a perdi!"

 

 

{Continua...}

 

 

 


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Notas finais do capítulo


O capítulo foi tenso pra escrever, mas gostei do resultado. Já tinha planejado um confronto entre Elena e Bonnie e acho que o resultado foi legal. E, então, o que acharam sobre a carta que Bonnie escreveu para Damon? E agora essa caixa de presente que Damon encontrou ainda vai dar muita dor de cabeça. Enquanto isso... Onde Bonnie foi parar?

#Spoiler: Teremos um crossover especial que talvez vcs vão gostar. Agora Por Favor deixem seus reviews pra gente trocar umas ideias. Não sejam tímidos. Bjus!



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