Lost in Paradise escrita por Drylaine


Capítulo 20
Entre a luz e a escuridão




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Bonnie

Eu estava tentando me conectar a natureza, mas senti uma energia sombria pairar sobre mim, como se fossem grandes mãos invisíveis me puxando ferozmente para um lugar onde eu não ousava ir. Não sei explicar o porquê estava com tanto medo de seguir em frente, talvez, medo do desconhecido, ou talvez precaução contra algo ruim que sabia que ia acontecer. Fui sendo arrastada descontroladamente pra dentro daquele lugar sombrio. E, de repente eu estava presa entre dois caminhos... um me levaria para a luz e o outro para a escuridão e, no final de cada caminho, estava Damon e Kai. Um estava lá pra me salvar e outro estava tentando me arrastar para o abismo. Eu escolhi ser salvar por Damon, mas antes que pudesse chegar até ele, senti mãos ásperas me segurarem me impedindo de tocá-lo.

"Por favor Kai, liberte-me!" Eu estava suplicando pra ele, enquanto olhava para os azuis tristes de Damon que tentava lutar pra chegar até mim. "Liberte-nos!" Minha voz estava embargada e eu podia sentir o gosto salgado das lágrimas que caiam eu minha face.

"É tarde demais. Você já fez a sua escolha." Kai continuava impetuoso me mantendo sob seu controle.

"Não. Você não pode me manter aqui. Eu não pertenço a esse lugar tão frio e solitário." Eu era como um passarinho enjaulado tentando me libertar. "Eu o amo!" Eu gritei em plena força de meus pulmões vendo o vampiro de olhos azuis também lutando contra alguma força invisível pra chegar até mim.

"Você não entendeu ainda?" Kai perversamente zombava de mim me sufocando em seus braços. "O amor não é real. É apenas um modo de controlar você e me tornar fraco." Sua voz tenebrosa continuou ecoando por todo o lugar, dominando tudo. "E, tudo que me faz fraco, eu vou destruir." E, nesse instante, Damon conseguiu chegar até mim, entretanto, quando suas mãos tocaram a minha, sua imagem real e majestosa se desfez diante de meus olhos, como se fosse uma miragem, deixando em seu lugar uma dor agoniante.

"Não, não, não... Damon não me deixe!" Eu dizia sentindo-me como uma conxa vazia, presa eternamente à escuridão...

"Bonnie, Bonnie... Bonnie acorda!" A voz desesperada de Lucy me despertou. Em seguida, senti quando meu corpo caiu, repentinamente, sobre o colchão da cama fazendo-a tremer e ranger sob meu corpo.

"O que foi isso?" Questionei assustada e desorientada vendo meu quarto bagunçado como se um furacão tivesse passado por ali.

"Você fez isso Bonnie. Enquanto você dormia o quarto começou a tremer como se tivesse um terremoto e você também começou a flutuar sobre a cama. Foi bizarro!" Eu estava perplexa. "Você também ficou chamando o nome de Damon várias vezes." Eu fiquei ali boquiaberta olhando pra uma Lucy atordoada que também parecia ter acabado de acordar, pois ainda estava vestida de pijama. "O que aconteceu de tão ruim nesse sonho, pra você causar uma bagunça assim?" Engoli em seco tentando me lembrar de alguma coisa, mas minha mente estava em branco.

Nesse instante, senti um vento me arrepiar e, como um borrão, inesperadamente ele apareceu ali na porta do quarto nos olhando com seus azuis esverdeados tão cheio de preocupação e algo a mais...

"Você está bem?" Damon perguntou cauteloso. Eu não esperava encontra-lo ali.

"Damon, passou a noite aqui. Ele estava preocupado com você..." E, logo, me lembrei dos acontecimentos de ontem, quando tudo saiu do controle.

"Eu sinto muito se te assustei." O vampiro disse ainda me olhando hesitante. Novamente, eu senti aquela barreira invisível se colocar entre a gente. Ambos estávamos exalando medo e dúvida. Dúvida do que realmente iria acontecer daqui pra frente.

"Ah, tudo bem. O importante é que sobrevivemos." Lucy disse espirituosa tentando derrubar qualquer clima pesado sobre nós.

"Uau, parece que passou um furacão por aqui." Damon arqueou as sobrancelhas olhando curioso todo o meu quarto.

"Foi só um pesadelo!" Eu disse tomando coragem pra falar.

Mesmo desconfiados, ninguém decidiu me pressionar mais, apenas decidimos arrumar rapidamente o quarto bagunçado. Embora algumas coisas quebradas não poderiam ser consertadas.

***/ /***

Quase quinze minutos depois, já estávamos na cozinha conversando civilizadamente e preparando o café da manhã. Por um instante, vendo o vampiro e minha prima interagirem, havia me feito esquecer um pouco dos problemas e dos meus maiores medos. Damon e Lucy até eram divertidos e eu também senti na presença deles, uma sensação tão boa de familiaridade. A casa que já foi da vovó parecia quase um lugar que eu poderia transformar genuinamente em meu lar. Entretanto, aquele gostinho de normalidade que eu tanto sentia falta, não iria durar muito.

"Eu acho que esse café da manhã foi ótimo, mas eu tenho que ir." Lucy disse saindo da mesa pronta pra me deixar sozinha e ter que enfrentar Damon. E eu nem sei se estou pronta pra isso.

"Lucy, você sempre tem que sair assim apressada. Aonde você vai?" Eu perguntei vendo de soslaio o vampiro do outro lado da mesa nos olhar com uma expressão desconfiada.

"Eu tenho um encontro muito importante. E já tô atrasada."

"Um encontro com um certo professor de ocultismo?" Damon perguntou com sarcasmo, fazendo Lucy olhar meio chocada pra ele.

"Nossa, você é tão curioso." Fiquei olhando para os dois me sentindo confusa com a facilidade com que eles já se provocavam. "Isso não te interessa, senhor Salvatore."

"Uhhhh, ela é durona! Sabe Ric tá solteirão..." Ele se debruçou na mesa falando presunçoso. "Você seria perfeita pra tirar ele da fossa." Confesso que achei no mínimo hilário Damon tentando jogar Lucy pra cima de Ric. "Sério! Ele precisa de uma mulher com personalidade forte."

"Hmmm. Interessante! Obrigado pela dica. Agora tenho que ir." Ela me deu um olhar encorajador, como se tivesse dizendo que tudo ia ficar bem. "E, por favor, não se matem!" Eu estava quase implorando pra ela ficar, mas eu não tive muita escolha, a não ser deixa-la ir.

Agora estávamos nós dois nessa mesma cozinha onde já tivemos uma conversa muito franca. Onde eu já havia implorado pra ele praticamente ficar comigo, porém ele preferiu fugir e voltar para a sua namorada. Essa mesma cozinha, onde ele fez a sua escolha e fez a escolha errada. Se bem que agora, Elena já não era o nosso único problema. Agora já não penso que Damon seja o único a fazer a escolha errada. Ultimamente, eu tenho feito todas as escolhas ruins, pois estou completamente perdida num caminho tão perigoso. E qualquer um que chegar perto demais, pode acabar sendo arrastado comigo para o mesmo abismo que me encontro.

"O que foi aquilo sobre Ric e Lucy?" Eu perguntei tentando puxar algum assunto, ou tentando me livrar de ir direto ao ponto.

"Ah, ontem Lucy chegou de carona com Ric. Quando os vi juntos, achei bem inusitado." Ele bebeu seu café enrugando o nariz em sinal de desgosto.

"O café dela é horrível né." Eu disse o fazendo rir.

"É. Parece que cozinhar não é o forte das Bennetts." O vampiro sorriu torto só pra me provocar, o que me fez revirar os olhos.

"Falou o cara que só sabe fazer Panquecas!" Murmurei ainda com um pedaço de massa na boca. Confesso que suas panquecas de mirtilo estavam até que bem apetitosas.

"Na verdade é que na mistura do café faltou um pouco de sangue."

"ECA!" Agora era eu que estava com uma expressão de desgosto.

Aquele momento quase parecia normal, mas não durou muito, pois acabou caindo num silêncio desconfortável. Até que meu celular tocou, voltando a trazer o caos entre nós. Era Kai me ligando incessantemente, até que fui forçada a desligar a droga do celular. Eu paralisei me sentindo apreensiva demais. Eu nem queria falar com ele, nem agora, nem nunca.

Meus pensamentos retornam para o vampiro que continuava com seus olhos sobre mim.

"Por que não atendeu?" Havia um tom ameaçador na voz do vampiro que me deixou nervosa. "Era aquele bruxo não era? O seu novo namoradinho." Eu fiquei perplexa com a atitude do vampiro, me senti ofendida por suas insinuações.

"O que importa. Eu só não quero atender." Olhei para aqueles olhos azuis e apertei a xícara de café me sentindo enervada.

"Não precisa fingir pra mim, Bonnie. Por que não atendeu? Será que Kai ao menos deixou uma mensagem pedindo perdão por quase ter matado você?" Cada palavra, cada insinuação, ou cada olhar cheio de sarcasmo e rispidez, só me deixavam mais desconfortável e irritada. "Mas, você sabe que Kai nunca lhe pediria perdão, porque como você mesmo um dia disse: Kai não tem remorso!" Ele bateu com os punhos fechados sobre a mesa, me deixando assustada.

"Para com isso! Afinal, o que você está fazendo aqui?" Confrontei seu olhar tão impetuoso.

"Sabe quando você caiu nos meus braços sangrando e agonizando ontem..." Damon se levantou e me deu as costas. "Eu estava tão desesperado que eu cheguei a implorar pra Kai te salvar." Aquilo me pegou de surpresa, pois era o tipo de coisa que não esperava ouvir. "E ele apenas disse um: — Sinto Muito! — E me deixou lá com você nos meus braços, sem saber o que fazer." Ele se virou pra mim parecendo tão perturbado.

Então, me lembrei dos acontecimentos de ontem, de todo o caos que causamos. De todo o medo que senti quando os vi lá brigando como dois animais ferozes. De toda a dor que senti quando meus ossos doíam e depois eu sangrava e agonizava nos braços de Damon. E de toda a falta de controle que eu vi quando fiquei entre Damon e Kai percebendo o quanto estava ficando entre dois caminhos tortuosos, até que no fim eu acabaria sozinha.

"Sabe eu já estou acostumado a lidar com tantos segredos e mentiras. Mas, nunca imaginei que uma bruxa Bennett poderia esconder tantos segredos obscuros e ainda continuar mentindo com tanta naturalidade."

"Sinto muito se te decepcionei, mas eu sou humana. E os humanos costumam a ter muitos segredos. E também mentem. Eu odeio mentir. Mas, as vezes..."

"As vezes é inevitável." Damon decidiu me confrontar usando de uma postura impenetrável e de um tom irônico. "Eu só não entendo onde foi parar a Bonnie Bennett que costumava ser a Juíza que me julgava o tempo todo. A cada atitude egoísta minha, a cada mentira que eu contei. A cada pecado que eu cometi. Enfim, cada mínima falha minha, Bonnie Bennett sempre estava lá para me julgar. Para jogar na minha cara os meus erros." Ele aproximou seu rosto do meu me intimidando. Eu continuei sentada na cadeira e apenas cruzei os braços numa atitude petulante o desafiando a continuar. "Agora olha pra você... Dormindo até com o inimigo." Havia um olhar tão desdenhoso sobre mim. Era como se ele tivesse me despindo com aquele simples olhar. "E a juíza se transformou numa criatura tão egoísta e manipuladora." Nos olhamos fixamente e o único som naquele instante era as batidas aceleradas do meu coração. "Agora eu me pergunto..." Eu estava com raiva antes mesmo dele terminar a sua sentença. "Aonde foi parar a verdadeira Bonnie Bennett?"

"Ela morreu no mundo prisão." Falei com tanta frieza vendo ele arregalar os olhos surpreso com a minha resposta. "Ela morreu lá esperando você voltar pra resgata-la." Minhas palavras causaram um efeito tão grande nele, que Damon se afastou abruptamente de mim, como se eu tivesse lhe dado um tapa forte. Eu criei coragem e me levantei. Agora era eu que estava o confrontando com tanta fúria. "Você queria saber o que aconteceu com a Bonnie Bennett?" Parei na sua frente, segurando as lágrimas. "Eu cansei de seguir as regras. Cansei de me sacrificar e só experimentar tanta dor, pra no fim receber em troca, apenas solidão." O ambiente ao nosso redor começou a se tornar pesado, minha magia começou a vibrar com uma fúria incontrolável, querendo se libertar e até o tempo lá fora parecia fechar. "Você vem aqui me julgar. Por quê?"

"Por que eu esperava que você fosse sincera e leal comigo." Damon murmurou sem hesitar, mantendo suas órbitas azuis firmes em mim.

"Isso é patético." Eu ri ironicamente, fazendo o vampiro franzir a testa perplexo.

Ele vem na minha casa me julgar pelos meus erros, como se eu não tivesse o direito de cometer erros. Ele vem me criticar por ter transado com Kai. Ele veio reclamar por guardar segredos dele ou por ser mais egoísta agora, como se a Bonnie Bennett fosse proibida de agir assim.

"Você é um hipócrita." Senti novamente o lugar tremer e uma energia forte e obscura começar a dominar tudo, mas naquele momento eu nem me importava. "Todos vocês são tão egoístas e até já transaram com a pessoa errada, mas eu não posso?!" Então, eu fiz ele se lembrar de quando Elena ainda era namorada de Stefan e ele não se importou em dar em cima dela, em tentar conquista-la até que eles acabaram transando. Ou seja, Damon fez de tudo pra ficar com a namorada do irmão, mesmo sabendo que Stefan ainda amava Elena. A parte pior é que Damon nem se importava com isso.

"Stefan terminou com a Elena e, dois dias depois, ela já estava na sua cama. Mas, isso não foi um problema para Damon Salvatore, não é." Ele ficou lá me olhando com raiva abrindo e fechando a boca, travando e destravando as mãos, sem saber o que dizer. Mas, a parte pior ainda estava por vir. Eu joguei na cara dele que a sua querida namorada decidiu deletar ele da vida dela, como se Damon não tivesse significado nada. Eu até já estava me sentindo vitoriosa sobre cada palavra. Havia até um desejo sádico por ver Damon tão impotente diante de mim, porém isso só durou até suas próximas palavras me deixaram com um gosto amargo na boca.

"Você tem razão, eu trai meu irmão e isso foi horrível. Mas, eu sei que a minha primeira vez com Elena, não foi só sobre sexo, também houve muito amor e afeto. Eu estava apaixonado." A forma como ele falava, tão franco e transparente era um grande desconforto pra mim. "Você pode dizer o mesmo sobre Kai? Existe algo genuíno... afetuoso entre vocês?" Era óbvio que não existia nada. Nem amizade e muito menos amor. "Você o ama?!" Ele fechou os olhos apertado e todo seu corpo grande parecia tenso. Era como se o vampiro estivesse sofrendo.

Se eu dissesse sim, que eu amava Kai... Qual seria a reação de Damon? Mas, eu hesitei, repensei naquela situação tão pesada entre nós e decidi parar de continuar com os joguinhos e enfrentar essa realidade cruel.

Kai não acreditava em nenhum vínculo afetivo. Para ele o que importava era ter o poder e controle sobre mim e minha magia. E constatar isso assim, diante de Damon era ainda mais apavorante e humilhante. Eu não precisava desse lembrete terrível que tudo o que eu tinha com Kai era uma ligação de sangue que só me aprisionava a ele, sem uma rota de fuga.

Furiosa e cheia de amargura decidi descontar tudo sobre Damon, afinal, tudo de ruim que estava acontecendo comigo era de alguma forma culpa dele. Culpa exclusivamente de Damon Salvatore.

"Vá embora e me deixe em paz!" Nesse instante ouvi o barulho de vidros se partindo e os objetos que flutuavam ali caírem bruscamente no chão me despertando daquele torpor. "Eu não quero você aqui." Assustada e sem controle acabei me rendendo aquele poder sombrio que já estava impregnado em minha alma.

"O que aconteceu com você?" Meus olhos se voltaram ao vampiro caído no chão me olhando assustado e tentando recuperar o ar. "O que ele fez com você Bonnie?!" Sua voz agora soava enfurecida. "O que Kai fez com você?!" Estava com a minha vida cruelmente presa a Kai e não havia como ser livre disso.

"Diga a ele pra não tocar em você nunca mais com aquelas mãos nojentas." De repente eu podia ouvir a voz de Kai sussurrando na minha mente. "Diga a ele o quanto você o odeio. Que Damon Salvatore sempre será o monstro que destruiu a sua vida." Eu tentava afastar esse pensamento pra longe tentando lutar novamente contra essa força sombria que sempre me dominava.

"Me diz a verdade Bonnie. Como você saiu do mundo prisão?" Ele tentou mais uma vez se aproximar de mim, mas eu desviei do seu toque, me sentindo muito tensa e desnorteada. "Foi Kai não é. Ele te tirou de lá." Abruptamente, como um borrão ele sumiu da minha frente e reapareceu trazendo consigo Miss Afagos. "Então, você mentiu pra mim e pra todo mundo?" Ele pôs o urso sobre mesa ao meu lado e continuou lá me pressionando.

"A culpa é sua!" Rosnei frustrada. "Você fez isso com a gente."

"O quê?! Do que você está falando?" Seus olhos azuis transmitiam um desespero indescritível.

"Eu... eu confiei em você. Eu arrisquei a minha liberdade pra que você voltasse pra casa. Pra que você retornasse pra sua garota."

"Bonnie, acha que foi fácil voltar aqui sem você?! Eu nunca quis deixar você e..."

"Mas, você me deixou. E a parte pior é que eu esperava que você voltasse por mim. Todos os dias eu esperei por você."

"E você acha que eu não lutei por você?! Quando eu soube que você estava viva, eu lutei arduamente tentando achar uma brecha pra te tirar daquele lugar. E não houve um dia em que você não estivesse em meus pensamentos." Ele tentou se aproximar de mim meio hesitante, mas parou no meio do caminho incerto do que fazer a não ser continuar falando. "E caso você tenha esquecido, eu voltei mais uma vez pra te buscar e..."

"E, mais uma vez, você falhou miseravelmente." Fui direta e fria, ele desviou os olhos parecendo derrotado. "Como se não fosse o suficiente você entregou a minha magia a Kai." Ele travou a mandíbula frustrado sem conseguir me olhar.

"Eu não tinha escolha." Nossos olhos se encontraram e foi uma confusão perturbadora.

"Sempre há uma escolha, mas sempre que você faz... um outro alguém sempre sofre." Eu disse usando as mesmas palavras que um dia proferi pra ele, numa situação similar a essa. Em resposta ele me deu uma expressão magoada.

"Eu sinto muito." E isso era tudo o que ele tinha pra dizer e isso só aguçou a minha ira.

"Isso não muda o fato de que você desistiu de mim. E que você me deixou sem saída."

"Por que você está falando isso?" Damon parecia tão transtornado, mas eu continuei cega, presa naquela escuridão gélida.

"Se eu pudesse voltar no tempo, eu nunca teria segurado a sua mão enquanto o outro lado desmoronava." Falei sem hesitar me deparando com seu olhar ferido.

"Isso Bonnie, você pode feri-lo de tantas formas possíveis!" Eu queria parar, mas não conseguia, poisa voz perversa de Kai ecoava na minha mente, como uma doce tentação.

"Você não foi o único a fazer escolhas erradas. Eu também fiz e agora estou pagando por elas." E enquanto falava eu senti as lágrimas começarem a molhar meu rosto e nublar minha visão. "Você não sabe o preço que paguei pra estar aqui. Você não sabe o preço que paguei pra estar livre." Eu fui me aproximando dele friamente. "Eu confiei demais nas pessoas erradas. Me sacrifiquei por alguém que não valia a pena. E esse tem sido o meu maior erro."

"Para! Eu não quero ouvir isso. Eu não sei o que tá acontecendo entre a gente, mas eu sei que a Bonnie Bennett que conheço, não é assim." Ele se afastou de mim parecendo transtornado e começou a passar a mão ansiosamente bagunçando o seu cabelo. "Você me olha com tanto rancor, como se me odiasse. E isso é horrível."

É difícil não pensar que, apenas talvez, ter me sacrificado por Damon no mundo Prisão tenha sido o meu maior erro. E esse pensamento sempre me corroía por dentro e me destruía.

"Você queria se vingar de todos eles, agora você tem a sua chance. Você tem a arma certa pra machuca-los da mesma forma que eles te machucaram." A voz de Kai novamente se fez presente me lembrando do caminho tortuoso que estava seguindo.

Meus pensamentos vão e vêm e no fim voltam ao mesmo lugar... Damon não voltou por mim, assim como Elena e os outros, ele iria seguir em frente e me esquecer naquele lugar horrível. E pensar nisso só reacendia o meu desejo de vingança.

"Por que você está fazendo isso comigo. Por que Bonnie?" Ele me suplicava tão dolorosamente me fazendo quase fraquejar. Havia uma tristeza vinda das profundezas daqueles belos olhos azuis.

"Por que você tirou a única coisa que era o meu alicerce." Eu continuei sem vacilar confrontando seus azuis tristes. "Você me tirou a minha esperança a única coisa que ainda me fazia continuar. E agora não sobrou nada. Eu não tenho nada." E tudo que me resta é essa imensa escuridão que crescia cada fez mais dentro de mim, deixando um rastro de dor, fúria e tristeza que só me afastaria cada vez mais de Damon.

Quando retornei para Mystic Falls decidi focar em algumas mudanças em minha vida, como por exemplo, quebrar a minha ligação com Kai Parker, enquanto tentava me vingar dos meus amigos. Só que no meio do caminho, existia uma pedra chamada... Damon Salvatore, o cara que tinha dominado diariamente meus pensamentos e até os meus sonhos. E, principalmente, o cara que tinha domado meu coração, sem que eu percebesse.

Agora nós estávamos aqui nos confrontando e eu estava o distanciando cada vez mais. Talvez, fosse melhor assim. Era hora de Damon e Bonnie seguirem caminhos separados. Era hora de encarar a realidade e perceber que tudo havia mudado. Tudo já havia mudado desde o momento em que ele me beijou no mundo prisão. Aquele beijo foi o que mudou tudo entre nós. Foi o que nos colocou nessa situação.

"Vá embora! Volte para a sua namorada e aquela bolha de egoismo que vocês construiram. E me esquece." Mas, a verdade era que por dentro eu estava gritando pra que ele ficasse por mim. Pra que ele me puxasse em seus braços e me dissesse que toda aquela discussão era bobagem, porque o que realmente existia entre a gente era algo muito mais forte, bonito e puro. E que acima de tudo ele não iria desistir de mim.

Talvez, no fundo eu fosse como qualquer garota e, por mais que eu negasse pra mim mesma, dizendo que não precisava de heróis, ou que não precisava ser salva. No fundo, eu queria sim que Damon pudesse me tirar daqui, dessa escuridão na qual Kai me colocou e eu sozinha não conseguia sair.

Eu era como a Rachel de O Guarda Costas, que por mais orgulhosa que fosse, necessitava ter um Frank na vida, pra se sentir realmente segura.

"Eu sinto muito." Foi tudo o que ouvi, enquanto ele se afastava de mim com uma expressão em branco. "Eu não deveria ter vindo aqui. Eu estraguei tudo. Esse é o meu dom, sempre destruir tudo. Principalmente as coisas boas da minha vida. Eu sinto muito por isso." Um silêncio angustiante cresceu entre nós, Damon não disse mais nada, apenas saiu da casa, batendo a porta e me deixando sozinha.

Talvez, fosse isso que eu merecia, ficar sozinha, enfrentando meus próprios demônios.

 

 

 

Damon

"Aonde foi parar a verdadeira Bonnie Bennett?"

"Ela morreu no mundo prisão. Ela morreu lá esperando você voltar pra resgata-la." Quando ouvi isso eu fiquei completamente desnorteado, diante dela que possuía uma postura feroz. "Você queria saber o que aconteceu com a Bonnie Bennett?" Engoli em seco enquanto confrontava seu olhar gélido. "Eu cansei de seguir as regras. Cansei de me sacrificar e só experimentar tanta dor, pra no fim receber em troca, apenas solidão." Nesse instante, eu senti uma energia forte e pesada pairar sobre nós. Era algo sombrio que estava impregnando o lugar.

Essa energia sombria só poderia ser algo relacionado a essa estranha ligação com Kai. A Bonnie diante de mim era diferente. Era assustadora, possuía uma postura poderosa, mas também perigosa. Como se a bruxa se tornasse uma bomba relógio, que a qualquer passo iria explodir. Eu estava já desesperado pra trazer a verdadeira Bonnie Bennett de volta e leva-la pra bem longe daquele sociopata. No entanto, suas palavras tão cheias de verdades cruéis, foram destruindo qualquer esperança de reconstruir nossa relação. Kai já estava tão impregnado nela que eu mesmo já me sentia tão dominado por aquele momento de desesperança e obscuridades.

"Eu... eu confiei em você. Eu arrisquei a minha liberdade pra que você voltasse pra casa. Pra que você retornasse pra sua garota."

"Bonnie, acha que foi fácil voltar aqui sem você?! Eu nunca quis deixar você e..."

"Mas, você me deixou. E a parte pior é que eu esperava que você voltasse por mim. Todos os dias eu esperei por você."

"E você acha que eu não lutei por você?! Quando eu soube que você estava viva, eu lutei arduamente tentando achar uma brecha pra te tirar daquele lugar. E não houve um dia em que você não estivesse em meus pensamentos." Isso era a mais pura verdade, eu nunca quis voltar pra casa sem ela e eu sofri por cada segundo que passei longe de Bonnie. E mesmo longe eu continuei pensando nela. Mesmo quando estava com Elena, eu ainda continuei com Bonnie constantemente em minha mente. "E caso você tenha esquecido, eu voltei mais uma vez pra te buscar e..."

"E, mais uma vez, você falhou miseravelmente." Ela tinha razão eu falhei e eu me odiei por isso.

E agora descobri que continuo me odiando. Eu me odeio por ter voltado sem ela. Eu me odeio por ter ficado tanto tempo preso a esse amor cego e egoista por Elena que agora já não tinha o mesmo significado. Eu me odeio por ter deixado Kai ter levado a magia de Bonnie. Mas, não apenas aquela magia que estava no ursinho, havia uma magia especial que só Bonnie tinha e que Kai tirou dela. Aquela magia feroz, alegre, cheio de calor, de um brilho irradiante que a tornava tão incrível e apaixonante, só que agora aquele brilho parece ter se apagado. Eu me odeio, sobretudo, por ver o mesmo ódio irradiar daqueles verdes que eu aprendi a amar.

"Se eu pudesse voltar no tempo, eu nunca teria segurado a sua mão enquanto o outro lado desmoronava." E sua voz tão cheia de ódio, continuava me quebrando. "Eu confiei demais nas pessoas erradas. Me sacrifiquei por alguém que não valia a pena. E esse tem sido o meu maior erro." E nada poderia me destruir mais do que as palavras dela. Nada poderia me destruir mais do que aquele velho sentimento de rejeição.

"Para! Eu não quero ouvir isso. Eu não sei o que tá acontecendo entre a gente, mas eu sei que a Bonnie Bennett que conheço, não é assim." Eu me afastei sentindo todo peso do mundo sobre os meus ombros. Dói e eu sabia que iria continuar a doer... "Você me olha com tanto rancor, como se me odiasse. E isso é horrível." Eu lutei contra a vontade de chorar e fazia tanto tempo que eu não chorava. Aquela dor era tão imensa que eu já não conseguia mais me manter firme. "Por que você está fazendo isso comigo. Por que Bonnie?"

"Por que você tirou a única coisa que era o meu alicerce. Você me tirou a minha esperança a única coisa que ainda me fazia continuar. E agora não sobrou nada. Eu não tenho nada." Cada palavra era tão afiada, tão doída de se ouvir. E era difícil enfrentar aqueles olhos verdes tão cheios de amargura e ódio.

"Eu sinto muito. Eu não deveria ter vindo aqui. Eu estraguei tudo." Eu murmurava insanamente pra mim mesmo, me sentindo derrotado. "E esse é o meu dom. Sempre destruir tudo. Principalmente, as coisas boas da minha vida. Eu sinto muito por isso." Eu fechei os olhos, tentei controlar as minhas emoções, mas eu não tinha mais força pra isso. Até meus músculos tão tensos doíam, como se eu fosse humano e estivesse tão cansado fisicamente.

As cartas foram colocadas na mesa e tudo o que tínhamos naquele momento era um passado negro que ainda nos atormentava e sentimentos ruíns como rancor, ódio, amargura e entre tantos outros. Nos machucamos demais, era hora de parar com isso.

Eu decidi ir embora dali, sem imaginar que eu iria me arrepender amargamente, por ter lhe dado as costas, enquanto ela chorava. Eu fugi daquela casa, entrei no meu Camaro e sai correndo pelas ruas como um louco. Eu estava sobrecarregado emocionalmente. Suas palavras continuaram fritando meu cérebro, seus olhos verdes cheios de fúria continuavam a me perturbar e suas emoções recaíram sobre mim com tal força que eu me sentia prestes a sucumbir.

Bonnie Bennett conseguiu fazer o que ninguém fez comigo até agora. Bonnie conseguiu, não apenas partir meu coração, ela também quebrou o meu espírito.

Como consequência, um vampiro sobrecarregado emocionalmente poderia sair do controle. Portanto, eu só tinha dois caminhos: parar de sentir qualquer emoção e, assim, desligar a minha humanidade, ou apenas matar a minha fome, bebendo muito sangue direto da fonte sem precisar fugir dessas emoções.

Desligar a humanidade seria um caminho tão fácil, mas talvez, eu não queria me livrar de nenhum sentimento. Eu não queria fugir do que sinto. Eu só precisava de um tempo pra enfrentar aquilo que ainda pesava sobre mim.

Eu saí decidido a ultrapassar os limites de Mystic Falls e sumir.

Continua...

 


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Notas finais do capítulo

Eu acho que foi muito bom esse confronto. Foi bom a Bonnie explodir de uma vez e abrir o jogo sobre suas próprias mágoas que ela guardou por tanto tempo. E, ao mesmo tempo, acho importante, que Damon começasse a sentir o peso das suas escolhas egoístas do passado, algo que a série passou longe de fazer. Agora eu queria explicar algumas coisas sobre a fanfic. O Damon por exemplo, ele só não se jogou numa relação com a Bonnie, porque até então, ele não se achava um merecedor de ficar com ela. Tem a questão dele não querer que tanto Elena quanto Bonnie se virassem uma contra outra por causa dele. Afinal, existe ou existiu uma amizade entre elas e eu acho esse motivo muito coerente para o vampiro ter medo de admitir seus próprios sentimentos pela melhor amiga da sua namorada. O Damon que voltou do mundo prisão já não é mais o mesmo egoísta de antes ou um cara q age impulsivamente sem medir as consequências. Eu queria mostrar um Damon diferente daquele da série que passava por cima de todo mundo pra ficar com Elena. Claro que o nosso Damon tem os seus defeitos ainda, mas ele mudou e ele se importa demais com Bonnie. Ao contrário do Kai que por exemplo, tem seus próprios objetivos sombrios e tem sido uma influência forte e negativa sobre a Bruxinha. E qual será a consequência disso nos próximos capítulos?! Na Minha fic cada atitude dos respectivos personagens terá consequências, sejam elas boas ou ruins. E nossa bruxinha vai tomar novamente as rédeas da sua própria vida. Enfim, só queria q as pessoas conseguissem perceber isso na trama e ficar atentas a essas pequenas sutilezas da história. Então, até a próxima!!!



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