Lost in Paradise escrita por Drylaine


Capítulo 19
Furiosos e Mortais




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Bonnie

Deixei a água quente cair sobre meu corpo nu me aquecendo do frio e relaxando cada músculo tenso e dolorido, desejando que a água do chuveiro também pudesse limpar de alguma forma meus próprios medos, dores e pecados. Mas, infelizmente, isso seria impossível. Eu estava tão ferrada, querendo tanto me libertar das minhas escolhas erradas e sumir. Mas, eu já estava completamente presa a uma escolha que não tinha volta. Em nenhum momento me atrevi a chorar, eu tive que agir como uma adulta decidida a não ficar me lamentando.

Terminei o banho, desliguei o chuveiro, depois enxuguei rapidamente meu corpo, decidi vestir apenas meu roupão e parei na frente do espelho vendo meu reflexo completamente doente. Eu estava com uma dor de cabeça terrível e ainda me sentia enjoada. Pelo meu reflexo também vi a porta do banheiro se entreabrir e um rosto familiar se fazer presente.

"E aí como está se sentindo?" Perguntou Lucy com um semblante tranquilo.

"Estou me sentindo horrível." Eu disse, enquanto tentava secar os meus cabelos, mas qualquer movimento brusco parecia que só piorava a dor de cabeça.

"Eu fiz um café forte pra curar você da resseca. E eu tenho um comprimido especial que também pode te ajudar." A animação dela era frustante.

Lucy foi gentil e preparou uma bandeja simples com alguns donuts coberto de chocolate e fez torradas com manteiga. Seguindo seu conselho, tomei o comprimido com o café forte, mas estava tão ansiosa que não consegui comer nada. Não conseguia parar de pensar na noite anterior e em todos os seus acontecimentos. Alguns acontecimentos apareciam como um borrão na minha mente, que mais pareciam alucinações.

"Então, vai me contar como foi a festa ontem?" Nós estávamos sentadas de frente uma pra outra em cima da minha cama, enquanto tomávamos aquele café horrível.

"Bem, a festa tava super animada. Eu bebi um pouco de tequila e, em algum momento, as coisas saíram do controle. Sarah beijou Stefan. Stefan ligou seu modo vampiro maligno e Enzo resolveu revelar tudo sobre Sarah Salvatore. O que deixou Damon completamente ressentido e com muito ódio de Stefan e de mim. E, por fim, Carol foi capturado e Enzo foi morto." Falei tudo quase num fôlego só. "Ah, e eu decidi convidar Kai pra ser meu par."

"Uau, fala devagar... Espera! Você levou Kai com você, pra fazer ciúme em Damon?!" Ela estreitou seus olhos parecendo surpresa com a minha atitude.

"Ah, de tudo que falei foi a única coisa que você ouviu?" Eu cai na cama e cobri a cabeça com o travesseiro.

"Foi muita informação pra minha cabeça. Essa última parte foi mais fácil de absorver." Lucy disse com a boca cheia de donuts. "Bonnie olhe pra mim..." Relutantemente eu tirei o travesseiro da cara e olhei pra ela. "Agora fala direito. Primeiro: quem é Sarah? Porque o irmão bonzinho do Damon iria virar o vampiro mau? Quem morreu e quem sobreviveu nessa noite maluca?" Ela arqueou as sobrancelhas cheia de uma curiosidade quase divertida.

Então, pra resumir eu contei tudo sobre a história de Sarah e a ligação dela com os Salvatores. Falei que descobri esse segredo por acaso, quando toquei em Enzo. Contei que Stefan é um vampiro vegetariano que só bebe sangue de animais, porque quando bebe sangue humano ele perde o controle e vira o Stefan estripador. Falei de quanto perturbada me senti vendo o olhar acusador de Damon, por ter escondido um segredo tão grande dele. E também desabafei sobre Kai e essa ligação entre nós que agora estava me deixando apavorada.

"Então, Sarah é prima deles?"

"É. Acho que são parentes distantes." Eu disse fechando os olhos e relembrando novamente aqueles acontecimentos. "Mas, teve muitas coisas que me deixaram muito confusa sobre ontem. Sei lá..."

"Eu imagino..." Lucy me olhou séria, sua expressão antes animada, agora parecia muito tensa. "E o que aconteceu nessa sala ontem, entre você, Kai e Damon?" Eu me sentei olhando nervosamente pra ela.

Então, alguns flashbacks começaram a aparecer em minha mente. Eu me lembrei da conversa com Kai e de ter bebido Bourbon, havia algum borrão que nublava as lembranças, talvez, porque estava com medo de lembrar. Fechei os meus olhos, sentindo o meu coração acelerar quando me veio mais uma lembrança conturbada.

"Isso foi maravilhoso! Devemos foder assim mais vezes."

"Isso não vai se repetir."

"Isso não é uma opção. Essa magia que corre em suas veias vai te atrair de novo pra mim. Você não vai ter escolha."

Aquilo tinha sido apenas sexo, sem afeto, amor ou cumplicidade. Era apenas algo puramente carnal, mas me sentia tão infeliz e -me enojada comigo mesma, por perceber que essa ligação com Kai me tornava fraca, submissa e sem poder real de lutar contra ele.

"Será que o vampiro vai pirar quando souber o que fizemos, Bon Bon?! Acho que estamos prestes a descobrir." Então, de repente eu ouvi uma voz que não esperava estar ali...

"Eu odeio você!" Eu ergui os meus olhos e me afastei de Kai, a procura dele, mesmo com a fraca luz na sala eu jurei que o vi parado lá na porta me olhando, com aqueles azuis me condenando. Tentei proteger meu corpo, pois naquele instante me sentia tão impura e envergonhada.

"Damon por favor, não vá!"

As lembranças pareciam apenas bagunçar toda a minha mente me deixando completamente perdida.

"Ei, Bonnie... Bonnieeee!" Despertei dos meus devaneios, ouvindo estalar de dedos e a voz de Lucy, tentando chamar minha atenção. "Você está bem?!" Não! Eu não estava bem. Eu estou desesperada e temendo ter que encarar a realidade.

"Lucy, quando você chegou aqui?" Eu me levantei da cama e comecei a andar de um lado para o outro.

"Cheguei ontem e encontrei com Damon saindo daqui, carregando uma postura muito ameaçadora. E sumiu como um borrão."

Então, Damon esteve aqui? Ele não foi uma alucinação?

"Depois eu encontrei a sala bagunçada e Kai segurando você. Você estava inconsciente caída no chão e eu pedi que ele te levasse para o quarto. Nós meio que discutimos. E eu tive que implorar pra ele ir embora."

"Não!" Gritei interrompendo Lucy. "Damon não esteve aqui, ontem. Ele não podia estar aqui!" Continuei insanamente repetindo pra mim mesma.

"Como você pode saber? Você estava bêbada!" Lucy se levantou parecendo irritada comigo. "Deixe me falar o que houve, já que você está tão confusa..."

"Não preciso que você me fale nada!" Esbravejei dando as costas pra ela e parando de frente para a janela. Senti o quarto tremer sob meus pés.

"Será que dá pra você se acalmar! Ou vai destruir o quarto, como quase fez com a sala."

"Eu sei que bebi demais e acabei transando com Kai." Decidi falar logo, eu precisava desabafar. "Eu não tinha muita escolha."

"Ele forçou você?" Paralisei com a sua perguntei. Até senti vontade de vomitar de novo, a náusea já estava me matando.

"Não exatamente. É só que essa ligação de sangue me fez ceder aos desejos dele." Criei coragem e me virei para lhe encarar de novo. Lucy parecia muito preocupada. "Foi apenas sexo, mas parecia que ele tinha total controle sobre mim." E, provavelmente foi por isso que a sala estava bagunçada, porque a união de nossas magias tem um efeito muito forte ao nosso redor.

"Esse é provavelmente uma das consequências dessa ligação. E essa ligação só tende a piorar." Lucy se aproximou de mim tentando me dar algum apoio. "Pelo menos foi bom pra você? Kai é um cara muito sexy." Lucy tentou aliviar o clima com suas ironias.

"Para! Não é divertido. Ele é bonito, mas também é perigoso." Olhei desesperada para minha prima, quase implorando alguma ajuda. "Eu estraguei tudo."

"Você está assim, pelo sexo casual com Kai... Sem camisinha. Ao menos você toma anticoncepcional?" Olhei chocada para ela que deu de ombros e continuou a tagarelar. "Isso me faria pirada agora." Sim isso realmente seria um grande problema.

"Eu toma pílulas!" Rosnei revirando os olhos frustrada.

"Ótimo, então, não tem porque pirar." Havia uma leveza bem humorada na voz dela, tentando provar que eu estava pirando à toa. "Mas, você está assim por causa de um certo vampiro, não é?" Ficamos em silêncio por um momento, até que meus pensamentos voltaram a me perturbar.

Logo, me lembrei novamente daqueles azuis impetuosos e de suas palavras tão cheia de ódio e rancor: "Você está longe de ser a Bonnie Bennett que eu costumava conhecer. Eu pensei que você fosse diferente, mas eu me iludi amargamente."

"Droga! Então, ele me viu com Kai? Eu achei que ele fosse uma alucinação..." Eu disse me sentindo tão desolada por toda essa situação. Uma situação que eu mesma criei pra mim.

"Ei, não fica assim menina." Lucy me abrigou num abraço tentando me consolar e eu precisava tanto de um ombro amigo agora.

"Lucy, eu vi os olhos dele. Foi tão forte. Damon estava aqui, ele me viu com Kai. E ele me olhou com tanto ódio."

"Ah, Bonnie! Quanto tempo mais, você vai continuar nesse jogo perigoso. Essa vingança toda só vai te fazer mal."

"Eu tô presa nessa situação e nem sei mais como sair disso." No fim toda a minha raiva contra Damon e os outros parecia só alimentar o poder que Kai tinha sobre mim e me fazer seguir por um caminho cheio de sentimentos sombrios.

"Bom, nem tudo está perdido." Ela parou e olhou para seu celular vibrando no bolsa de seu casaco. "Olha vou ter que dar uma saída." Antes de sair ela ainda me deixou refletindo sobre suas últimas palavras. "Você tinha um objetivo, queria empurrar Damon até ele sair da bolha que ele criou pra estar com Elena. Depois, dessa noite, tenho certeza que essa bolha começou a se partir." Fiquei pensando nisso, mas ainda continuei me sentindo tão mau.

 

 

 

Damon

Passamos por uma semana cansativa, tendo que aguentar a voz esganiçada daquela vampira vadia sem humanidade. Ela era irritante, agressiva, perversa, maliciosa, manipuladora e muito, muito vadia. Não era fácil lidar com ela assim, mas Stefan e Elena eram persistente, usavam todas as armas possíveis para motivar suas emoções. Desde lembranças familiares e alegres da infância até memórias terríveis como a morte de Liz e o fato de Caroline não ter conseguido se despedir da mãe, antes dela morrer, mas isso só acabou deixando ela ainda mais agressiva.

"Você é nojenta, Caroline. Sua mãe deve estar se retorcendo na cova de vergonha." Eu disse e a loira vadia parecia ser afetada, mas isso só causou mais confusão.

"Vergonha eu? Damon para de ser hipócrita." Caroline como um borrão voou me prendendo contra a parede tentando me enforcar, mas ela não tinha força alguma, pois há dias seu organismo estava apenas com doses limitadas de sangue. Sem sangue em seu corpo, logo, ela passaria a dessecar pouco a pouco. E a fome também já estava começando a afetar seu humor, mesmo assim, a Barbie não queria se render.

A ideia era empurrar a loira até seus limites. E pra isso acontecer, decidi que tinha que radicalizar, usando o seu lado pior contra ela mesma. Na verdade esse confronto com ela era uma forma de extravasar as minhas próprias frustrações.

"Você sempre foi a garota perfeccionista. Que gosta de controlar tudo e todos ao seu redor. Mas, não consegue controlar a sua própria vida." Ela se afastou de mim, cruzou seus braços e ficou ali na minha frente me olhando como se estivesse esperando eu terminar o meu diálogo improvisado. "Você não conseguiu cumprir com as expectativas de seu pai, que preferiu morrer a ter que virar um vampiro como sua querida filha. Você nunca conseguiu segurar seus relacionamentos amorosos por muito tempo. Matt e Tyler, logo, superaram você e seguiram em frente. E Enzo apenas usou você para conseguir o que queria." Me aproximei dela vendo, por um instante, seu olhar vacilar. "Ah, sem falar no Klaus, nosso inimigo. Você teve um rolo com ele que acabou tão rápido como começou. Só que no fundo você não queria Matt, Tyler, Enzo ou Klaus... Você sempre quis Stefan..."

"Damon, por favor. Isso só vai piorar." Elena disse me interrompendo.

"Deixa ele, Elena. Deixe Damon fazer a sua jogada." A loira deu um sorrisinho doentio. "Continue Damon... Eu quis Stefan e o que aconteceu?"

"Você o perdeu porque não importe o que faça, o herói aqui..." Fiz sinal na direção de Stefan que me olhou com uma expressão carrancuda e um olhar que refletia raiva, não sei se de mim ou dele mesmo. "Ele nunca irá querer alguém como você. Não importe o quanto se humilhe aos pés dele."

"Cala a boca!" A loira falou entre dentes olhando com escárnio para Stefan.

"Ainda mais agora que você tem sangue nas mãos de todas aquelas pessoas inocentes..."

Então, agora era a hora da parte pior: Criar a ilusão perfeita e terrível, capaz de causar um grande efeito sobre ela.

"Imagine sua mãe agora, vendo você, ao lado de todas as suas vítimas." Eu recriei uma cena na mente dela, onde Liz estava ali, viva, real e a única distância que as separavam, era os corpos das vítimas que sua falta de humanidade deixou pelo caminho.

"Não, isso não é real." Ela olhava para mãe que carregava uma expressão aterrorizada.

"Caroline, filha... O que você fez?" Deixei que a voz de Liz ecoasse incessantemente sobre nós. "Você é uma assassina. Você virou um monstro. Por quê?" Eu estava quase lá, a empurrando cada vez mais tentando trazer a real Caroline de volta.

"Por que essa sou eu sem você mamãe!" Caroline disse se aproximando de Liz e assustadoramente atacando a própria imagem da sua mãe. "Saía da minha cabeça!"

Só não imaginava que aquilo acabaria se voltando contra mim...

"Eu pensei que você estava lutando pra trazer a Bonnie e Damon de volta, mas você desistiu deles. Você desistiu do seu próprio irmão! Você desistiu de mim!"

"Eles morreram Caroline. Está na hora de você aceitar isso e seguir em frente. Eu decidi reconstruir a minha vida sem Damon." Então, Stefan tinha ido embora por quatro meses sem se despedir de ninguém, decidido a nunca mais voltar a Mystic Falls.

O cenário havia sido recriado por Caroline, eram memórias dela que ela resolveu mostrar pra mim. Suas memórias que agora ela estava usando pra me ferir.

"Carol eu já fiz a minha escolha."

"Você vai apagar Damon das suas memórias? O cara que você dizia amar?"

"Eu não posso continuar assim. Dói demais. As lembranças de Damon estão me fazendo doente. Eu preciso esquece-lo. Preciso voltar a viver sem Damon em minha vida. Eu preciso esquecer que um dia eu o amei."

Caroline estava brincando com as minhas emoções, jogando com a minha mente. Mas, aquela cena ainda não era o suficiente. Ela decidiu me mostrar mais...

"Uau, o sociopata e a Bruxa... Essa é nova pra mim." A voz de Enzo e Caroline se misturavam entre si, enquanto a imagem de Kai e Bonnie se beijando se repetia dolorosamente em minha mente. Ou nos momentos em que eles se divertiam na festa, dançando, se tocando ou sorrindo. Eu não suportava ver aquelas cenas. Eu não suportava ver Bonnie nos braços dele... Eu precisava sair daqui. Fugir dessas memórias. Até que consegui ser puxado de volta a realidade e sair da mente conturbada daquela maldita vampira.

"O que aconteceu?" Elena se aproximou de mim, tentando me acalmar.

"Não me toque!" Eu me afastei rispidamente de Elena, como se sua mera presença me ferisse.

"Ah, não se preocupem." Olhei para a outra vampira que tinha uma postura arrogante se sentindo vitoriosa. "Eu e Damon estávamos tendo um coração pra coração aqui." A Barbie vampira dizia me fuzilando com os olhos.

Eu decidi sair dali, precisava ficar o mais longe de todos eles. Longe de meu irmão, de minha namorada e de Caroline Forbes. Decidi passar um tempo fora, deixando Stefan e Elena pra lidar com aquela loira sem controle.

"Eu não consigo controlar a minha própria vida. Mas, e quanto a você, Damon Salvatore?" Entretanto, antes de sair eu ainda pude ouvir a voz dela cheia de veneno... "Você vive só de mentiras. O que realmente é real e verdadeiro em sua vida?" Saí enfurecido pela noite ainda remoendo aquelas malditas palavras e acabei no Grill, sedento por uma vontade louca de beber sangue direto da fonte.

Passei alguns minutos, bebendo uísque, conversando com o barman e observando lindas mulheres que poderiam servir como uma deliciosa presa. Eu flertei com algumas delas até que consegui encontrar a presa ideal.

Ela era jovem, baixinha, tinha um corpo curvilíneo, cabelos negros e compridos, um rosto angelical, uma pele negra macia e seus olhos... Seus olhos não tinham a cor ideal que eu necessitava ver. Não eram verdes indomáveis, como os dela. Frustrado e irritado decidi desistir desse jantar e hipnotizei a garota para ir embora.

Voltei ao balcão do bar pedi mais uma dose de uísque e bebi de uma vez só e sai de novo para a noite fria. Entrei no meu Camaro e dirigi por horas e horas sem rumo até que distraidamente, acabei passando pela rua onde ficava a casa Bennett, onde era a residência dela. Daquela bruxa que não saia da minha cabeça.

Saí do carro e parei na frente de sua casa, observando que naquele quarteirão todas as casas já estavam com as luzes apagadas e em silêncio. Mas, a casa Bennett ainda possuía uma luz brilhando vindo da sala e um único barulho vindo da televisão.

"Ela nunca perde essa mania." Murmurei pra mim mesmo, fechando os olhos e me concentrando em ouvir a sua respiração e o pulsar calmo de seu coração. Ela estava dormindo pesadamente no sofá, enquanto assistia a TV.

Caminhei num ritmo humanamente rápido, parando em sua varando de frente para a janela que dava uma visão da sala. Mas, fechei os meus olhos quando flashbacks daquela noite voltaram a me atormentar. E, de repente, eu estava vendo novamente aquela cena horrível dos dois transando na sala, ela sentadas em seu colo se esfregando nele, enquanto aquele psicopata a tocava sem pudor, sem nenhum limite. Minha mente conturbada continuou recriando a cena, sem pausa, me causando uma dor incontrolável. Eu cambalei pra trás e abri os olhos, porém não tive coragem de me aproximar da janela.

"O que você faz aqui?" Abruptamente ouvi a voz sinistra daquele sociopata ecoar no meio da noite e me virei na sua direção.

"Faço a mesma pergunta pra você." Retornei o mesmo questionamento sentindo uma fúria enorme começar a querer explodir. Kai estava há uma distância segura de mim, me olhando com puro desdém.

"Eu não preciso dizer o porquê estou aqui. Você sabe muito bem." Ele esbanjava um ar prepotente. "Saía daqui!" Ele estava tentando me expulsar dali como se fosse dono do lugar. Eu soltei uma gargalhada e aquilo pareceu destruiu sua pose de triunfo.

"E se eu não quiser sair. O que você vai fazer?" Como um borrão parei na sua frente, bloqueando seu caminho para a porta da casa.

"Não queira me desafiar, porque você é só um vampiro estúpido e fraco." Ele ergueu as mãos e, logo, senti aquela dor terrível como se as veias do meu cérebro fossem explodir. "Você não pode medir forças comigo." Eu quase cai de ajoelhos na frente dele, mas usando um pouco de teimosinha e resistência eu continuei lutando contra aquela magia que literalmente tentava me derrubar.

"Acha que tenho medo disso? Eu já resisti a dores piores." Olhei para aqueles olhos doentios e fiquei me perguntando o que a bruxa viu neles. Kai ainda possuía o mesmo brilho sádico e sombrio de um assassino.

"Eu pensei que aquela noite passada, ficou claro que a Bonnie já me pertence." Quando ouvi aquilo era como se uma força vinda das profundezas da minha alma, me desse o impulso que eu precisava para confronta-lo de igual pra igual. "Nós temos uma ligação que você nunca..." Antes que ele terminasse eu saltei sobre ele o jogando pra fora da varanda. Seu corpo caiu brutalmente sobre a grama seca, enquanto eu continuei em cima dele, esmurrando sua cara e extravasando todo aquele ódio que há dias, eu vinha guardando dentro de mim.

"Eu vou matar você!" Eu queria mata-lo agora. Eu queria destrui-lo e deletar ele das nossas vidas. Bonnie não precisava dele por perto.

Eu estava tão dominado por fúria e um desejo de vingança que não percebi a luz de fora ser acessa, ou a porta se abrir e ela aparecer ali há uma pequena distância dos dois homens sem controles, que se confrontavam como animais. Só percebi que ela estava ali, quando Kai de repente soltou um riso tenebroso e sussurrou aquelas palavras cheias de veneno.

"Você ainda não entendeu?" Ele cuspiu sangue e continuou proferindo aqueles absurdos. "Você não pode me machucar sem machucá-la. Você não pode me matar sem mata-la." Eu paralisei sobre suas palavras. "Nós temos uma ligação. E nem você e nem ninguém pode quebra-la."

"Damon, por favor. Para!" A voz dela frágil me fez vacilar. Bonnie estava parada ali tão perto, com o rosto sangrando e inchado como se tivessem batido nela várias vezes. Aquilo me quebrou por dentro, olhei para meus punhos fechados me sentindo confuso por um instante. Desnorteado me afastei do corpo de Kai e tentei me aproximar dela. Seu coração batia freneticamente e seus verdes refletiam medo. E eu sabia que aquele olhar era direcionado a mim.

Depois de tantos anos de inimizades, brigas, alianças e uma amizade improvável, eu novamente estava diante de uma Bonnie que me olhava com tanto medo. Ela estava chorando e aquilo era doloroso demais. Tentei dar mais um passo na sua direção, mas senti uma força invisível me puxar pra longe dela e meu corpo furiosamente ser jogado contra o capô do meu próprio Camaro.

"Fica longe dela!" Então, Kai rosnou e em seguida me manteve preso sob seu poder. Meu corpo ficou paralisado, sentindo como se meu sangue tivesse se tornado verbena e cada parte minha queimasse.

Kai já estava de pé me olhando triunfante e com um olhar insano. Eu vi quando lascas de madeiras se soltaram do portão lateral do jardim vizinho e flutuavam na minha direção formando uma única estaca. Nós dois estávamos tão concentrados um no outro, que esquecemos da presença da outra bruxa. E quando percebi que Bonnie estava ali, parada na minha frente... já era tarde demais.

Imediatamente, meus olhos a encontraram nos olhando com um olhar congelado e uma expressão em branco, como se tivesse entrado em transe. De forma sinistra e brusca, vislumbrei seu corpo fraquejar e seus olhos se revirarem mostrando seu branco ocular. Em seguida, Bonnie caiu sangrando em meus braços.

Eu arranquei a estaca de madeira encravada em seu peito e, desesperado, rasquei meu pulso e coloquei sobre seus lábios, tentando curá-la, mas ela continuou sem me responder. Seu coração batia tão fraco, ela estava mole e fria em meus braços, me fazendo prestes a entrar em pânico.

"Bonnie, por favor, vamos lá... Acorda!" Eu já estava chorando sentindo o gosto das minhas próprias lágrimas. Senti um medo enorme de perde-la. "Bon Bon, por favor, só volta pra mim." Meu desespero era tão grande que olhei pra Kai pronto pra suplicar pra ele salva-la.

"Kai faz alguma coisa!" Mas, inesperadamente, me deparei com seu corpo caído à poucos metros de distância, então, percebi que ele também estava respirando fraco.

"Eu não consigo. Eu sinto muito." Ele murmurou baixo e me olhou com os olhos lacrimejados antes de cair na inconsciência me deixando sozinho para lidar com a sua própria bagunça.

Era como se todo esse cenário de terror, fosse um déjà vu. E Bonnie estava aqui nos meus braços sangrando e morrendo e eu não sabia como impedir isso. Foi assim, como naquele dia, em que ela me enviou sozinho de volta pra casa. E, assim, como naquele dia, Kai havia a machucada com uma flecha quase certeira.

"Desgraçado!" Rosnei sentindo cada fibra de meu corpo queimar de tanto ódio. Olhei novamente para o corpo dela, pronto pra leva-la para o hospital mais próximo, quando um carro muito familiar parou atrás do meu Camaro e de dentro do passageiro saiu uma Lucy Bennett desesperada, seguida pelo dono do carro, meu companheiro de copo Alaric Saltzman.

"Droga! O que vocês fizeram com ela?" Não tínhamos muito tempo pra falar, mas Lucy praticamente me obrigou a levar sua prima debilitada para dentro da casa, enquanto ela usava sua magia para avaliar os danos no corpo de Bonnie. "São lascas com veneno que impregnaram o sistema sanguíneo dela impedindo que o seu sangue de vampiro a curasse." Assim que Lucy conseguiu retirar a tal lasca envenenada, ouvi o coração da minha pequena bruxa voltar a bater normalmente.

"Como assim lasca envenenada?" Ric perguntou confuso.

"Vamos dizer que Kai magicamente criou sua própria estaca. E a estaca quase acertou o coração da Bonnie."

"A estaca era pra me matar, porém Bon Bon entrou na frente pra me salvar. E ela me salvou mais uma vez." Mumurei pra mim mesmo, olhando para a jovem que agora estava dormindo serenamente em sua cama.

"Que dizer que ele pode envenenar qualquer objeto?" Ric inquiriu impaciente. "O que vamos fazer com ele?" Kai agora se encontrava ainda desmaiado no sofá da sala. Lucy tratou de manter ele inconsciente pra impedir que ele fizesse mais alguma merda.

"Eu queria mata-lo agora." Grunhi frustrado.

"Mas, você não pode." Lucy retornou para o quarto de Bonnie nos olhando cheio de apreensão. "Se você se importa com minha prima, fique longe de Kai. Só assim você vai conseguir proteje-la."

De repente me lembrei das palavras tenebrosas daquele bruxo desequilibrado.

"Você ainda não entendeu? Você não pode me machucar sem machucá-la. Você não pode me matar sem mata-la. Nós temos uma ligação. E nem você e nem ninguém pode quebra-la."

Logo, meus olhos pousaram no ursinho de pelúcia de Bonnie, que estava ao seu lado da cama. A Miss Afagos que eu dei para Kai, em troca de salvar Elena. De repente, tudo começou a se encaixar em minha mente.

Nunca a verdade poderia ser tão assustadora e cruel como agora.

 

Continua...

 


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Notas finais do capítulo

Espero que as cenas de ação tenham ficado bem escritas. Era um tipo de cena necessaria. O próximo capítulo teremos uma discussão Bamon, onde algumas verdades serão ditas. Então, até a próxima!



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