Lost in Paradise escrita por Drylaine


Capítulo 11
Chegadas e Partidas


Notas iniciais do capítulo

Como prometido aqui vai mais um capitulo fresquinho que foi um desafio pra escrever, mas no fim foi muito divertido. Vamus lá!!!



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"Hoje não será o pior dia da sua vida. Hoje e amanhã será fácil. Haverá gente com você o tempo todo, com medo de deixa-la sozinha. O pior dia? Será na semana que vem. Quando haverá o silêncio."

(Damon Salvatore – 6x15 Let Her Go)

**** ****

 

Damon

Eu vi novamente mais um ente querido partir para uma viagem sem volta, mas provavelmente Liz deveria encontrar a sua paz, pois ela era um alguém incrível, que eu ao longo da minha imortalidade, tive o privilégio de conhecer e admirar.

Uma melancolia se instalou sobre nós. Mais uma vez a gangue de Mystic Falls sentiu mais uma perda se esvair entre nós sem chance de ser salvo. Uma perda injusta.

O amanhecer chegou tristonho, frio e nublado trazendo consigo a despedida dura e agoniante.

Pobre Caroline, não teve muito tempo pra se despedir da mãe e novamente era como se eu pudesse me ver naquela jovem vampira que chorava como uma criança nos braços de Stefan.

Parecia que Damon Salvatore estava confrontando novamente seus fantasmas do passado. Fantasmas que eu achei que pudesse enterrar, mas que parecem viver apenas adormecidos dentre de mim.

"E agora como vai ser?" Vejo o reflexo de Stefan no espelho enquanto eu me preparo para o enterro de Liz Forbes. Stefan parecia com o semblante tenso.

"Bom, vamos continuar como sempre fazemos. Vamos continuar sobrevivendo." Eu disse tentando ser ao máximo indiferente.

"Você diz como se fosse fácil seguir em frente."

"Nunca é Stefan. Mas a vida é assim cheia de incertezas, caminhos tortuosos e muita crueldade!"

"Estou preocupado com Caroline, ela... Eu não sei ela parece estar dentro de uma concha tentando se esconder. Eu acho isso muito perigoso."

"É o jeito dela de enfrentar a morte da mãe. É uma forma de se proteger de tudo que possa torna-la fraca."

"Torna-la fraca? Você diz como se isso fosse um pecado." Stefan estava dando volta ao invés de ir direto ao ponto, mas lá no fundo eu senti que sua preocupação não era focada totalmente em Caroline. "Não é uma fraqueza sentir dor, chorar ou até sentir muito ódio." Após terminar de ajeitar a gravata decido fixar minha atenção diretamente ao olhar de Stefan que naquele momento mostrava uma fragilidade me fazendo lembrar-se de um pequeno menino que sempre questionava tudo e que às vezes parecia se comportar com uma maturidade anormal pra sua idade naquela época.

O pequeno Stefan, às vezes, agia como Giuseppe. Nosso pai que havia se tornado um homem frio, apático apenas focado em seus próprios interesses e em fazer de Stefan uma copia de si, sem demonstrar sentimento as quais ele dizia ser apenas para os fracos e covardes de coração.

"Aqui nesse mesmo quarto eu encontrei um menino de 10 anos tentando arrumar a sua gravata, tentando se mostrar muito forte e independente, quando na verdade ele ainda era apenas um menino mimado e bobo com a ilusão que seu pai era seu herói." Eu disse petulante achando graça quando meu irmão franziu sua testa em sinal de desgosto. "E parece que as coisas nunca vão mudar." Eu digo me aproximando e dando uma ajeitada em sua gravata torta.

"Você sabe eu sempre odiei gravatas. E isso é tudo culpa de Giuseppe." Nós dois rimos cúmplices até que seu semblante ficou serio de novo. "Sonhei com a mamãe essa noite. Eu não pude ver seu rosto, mas ouvia a sua voz aveludada ela disse que eu deveria chorar com você que a dor ia passar. Isso é tão engraçado porque eu nem a conhecia, mas ela era tão real." Sua voz ficou embargada e seu olhar lacrimejado, mas ele não chorou apenas fechou seus olhos tentando se conte e depois sua face suavizou.

"Bom eu diria que é sempre uma sorte sonhar com ela. É como se ela ainda permanecesse viva dentro de nós." Eu disse com um olhar perdido, hoje eu precisava deixar o lado Damon vampiro assumir antes que eu perdesse o controle.

As emoções humanas podem ser bastante perigosas dentro de um vampiro, uma bomba relógio prestes a explodir a qualquer momento.

"Foco em Caroline! Ela precisa de você." Falei tomando uma postura sombria.

Então, chegou a hora das despedidas, foi um momento onde realmente pudemos reunir toda a cidade e, também, a gangue que mais uma vez estava completa, mas ao mesmo tempo abalados a mais uma perda.

"Liz Forbes era minha amiga. Em seus últimos momentos, ela me pediu para passar adiante uma mensagem para sua filha. Sua mãe queria que você soubesse o quão orgulhosa que ela era, e ela deveria ser. Você é uma mulher bonita, forte, generosa, amiga e uma luz brilhante no mar de escuridão. Ela disse que você é a maior dádiva que Deus poderia ter lhe dado." Disse cada palavra olhando diretamente para Caroline que mantinha um semblante impenetrável. "Liz era uma heroína para esta cidade, ela era uma heroína para todos vocês, e ela era um heroína para mim. Adeus xerife, você vai fazer falta." Eu terminei o meu discurso tentando ser o mais ponderado possível.

O enterro havia sido muito bem organizado, os policiais parceiros de tantos anos se reunirão para prestar uma última homenagem a xerife de Mystic Falls. A última despedia tão simbólica, triste e bonita. E entre todos ali eu vi Bonnie que conseguiu chegar a tempo ao enterro, mas parecia muito distante de nós quase como se ela não se sentisse confortável com a gente.

Ela e Caroline se abraçaram timidamente eu senti que a bruxinha queria dizer algo a mais do que apenas um: "Sinto muito." Porém, ela parecia tão perdida dentro de si mesma. Eu não estava gostando dessa distância entre a gente. Eu necessitava descobrir o que estava acontecendo, necessitava fazer com que tudo voltasse ao normal, ou ao menos que ela estivesse aqui por Elena, Caroline... Por mim!

Por várias vezes, nossos olhos se encontraram, mas ela sempre iria desviar parecendo querer fugir de mim o tempo todo. Aquilo estava ficando irritante.

E lá estava ela conversando com Matt e Jeremy. Jeremy que havia chegado mais cedo e agora não desgrudava dela. Eu sei que havia muitas coisas pra eles conversarem, no entanto, eu sentia que ele não deveria ter nenhum direito de estar com Bonnie. Jeremy que havia desistido dela muito antes de chegar a lutar por ela. Um nó se formou em minha garganta ao vê-los tão próximos e por um segundo eu vislumbrei um sorriso. Um sorriso direcionado a ele.

"Damon tudo bem?" Ouvi Elena me chamar.

"Eu estou bem." Eu tentei ser indiferente.

"Olha só pra eles. Será que haverá uma segunda chance?" Elena se referia a seu irmão e Bonnie. Vi o bebe Gilbert a abraça-la demoradamente e alguma coisa estava me queimando por dentro ao ver a cena dos dois juntos, ao vê-la nos braços dele.

"É tarde demais pra eles." Eu disse friamente. "Não há um futuro entre os dois. Jeremy é muito jovem e já escolheu seu caminho quando saiu da cidade. Ambos não estão na mesma sintonia." Ignorei o aperto de mão de Elena sobre meu braço e seu olhar tenso.

Bonnie precisa de alguém que possa cuidar dela. O bebe Gilbert nunca será esse alguém.

"Damon... Jeremy e Bonnie tem uma relação mal resolvida. Eles viveram muitas coisas juntos. Ambos são muito jovens, mas também amadureceram bastante. E se amavam tanto quanto nós." Meus olhos viajaram para Bonnie que agora me olhava indecifrável.

"Como você sabe o quando nós nos amávamos Elena?" Eu disse asperamente me referindo a Elena e sua memória deletada sobre nós. Elena ficou tensa e me olhou com arrependimento.

"Damon, eu não preciso dessas memórias pra saber o quando nos amamos. Basta estar com você em seus braços e eu sei que o nosso amor sempre esteve aqui, forte e intocável." Nesse mesmo instante Elena me beijou com paixão.

Nosso beijo foi rompido bruscamente por Ric que estava novamente bêbado e havia acabado de derramar seu uísque sobre nós.

"Merda, Ric! Olha o que você fez?" Eu disse irado.

"Damon, está tudo bem." Elena disse tentando segurar Ric que nem conseguia parar em pé.

"Esse lugar é amaldiçoado. Eu odeio Mystic Falls. Mystic é assassinaaaa." Ric dizia grogue se debatendo sob os braços de Elena.

"Melhor voltarmos pra casa." Ignorei as palavras de Elena enquanto meus olhos vagaram por ali, tentando encontrar Bonnie que já não se encontrava mais ao lado de Jeremy.

Nesse instante eu senti um vento forte e incessante se iniciar sobre Mystic Falls, o tempo fechou dando sinais de uma tempestade severa chegando, mas havia também algo mais pairando sobre nós. Algo que parecia carregado em escuridão.

"Damon, Stefan acabou de ligar." Ouço Elena me chamar desesperada. "Caroline desapareceu. Ela desligou sua humanidade."

 

Bonnie

Meu retorno pra Mystic Falls foi rápido, cheguei sob um dia frio, nublado e dominado por melancolia, angustia e saudade. Muita saudade que Xerife Forbes irá deixar. Houve uma cerimônia fúnebre muito bonita em nome de Liz, um discurso sincero e genuíno de Damon que olhava com carinho para Caroline, um olhar que eu nunca pensei ver em Damon Salvatore dirigido para a jovem loira, que achei tão tocante.

"Sinto muito, Caroline." Foi tudo que eu podia dizer naquele momento para a jovem diante de mim, nos abraçamos timidamente meio desajeitado. Caroline carregava em sua face uma mascara impenetrável, mas que eu podia ver muito além, por trás daquela máscara estava uma jovem obscurecida por tristeza e medo. Algo que refletia também em mim. Eu desejava poder ser aquela Bonnie por inteiro amiga e forte que poderia ser um grande apoio pra ela, porém estava perdida com os meus próprios sentimentos e pensamentos complicados e, também, pela culpa das palavras que trocamos naquele dormitório. Palavras que eu não poderia tomar de volta e fazer daquele dia como se nunca tivesse acontecido.

Ainda havia essa magia obscura de Kai queimando dentro de mim, me fazendo sempre recuar e cautelosa diante de todos os meus amigos ali. E como se isso não fosse suficiente ainda havia aquele sonho estranho sobre Caroline e Stefan que não saia da minha mente. Falando neles, senti que havia algo entre eles ali, a cada troca de olhar e até sorrisos tímidos e inseguros de Stefan direcionados a Carol. Entretanto, Caroline parecia distante, apenas fingindo estar bem, apenas mantendo tudo em seu controle e isso era até enervante, ao passo que isso também poderia ser um mau sinal. Um sinal de alerta de Caroline poderia estar guardando tudo dentro de si até o momento em que ela iria explodir.

E no meio de toda aquela situação acabei encurralada pelo olhar penetrante de Damon. Damon que agora se tornou o motivo das minhas insônias. Damon que me confundia e me fazia tão irritada. Damon que sorrateiramente foi entrando em minha vida e transformando tudo como um furacão. Agora eu me sentia presa naquelas orbitas azuis dominantes que eu tanto queria odiar e minha única escapatória era me manter ao máximo distante dele e até mesmo de Elena.

Vê-los juntos era tão enervante me causando um reboliço por dentro que chegava a fazer minha própria magia fluir mais intensamente.

No meio das pessoas ali acabei me cruzando com Matt e um outro alguém, que eu nem sabia se estava pronta pra encontra-lo.

"Então fujona você voltou." Matt disse brincalhão me dando um abraço de urso me fazendo rir e por um instante esquecer dos meus próprios temores. Eu sorri genuinamente pra ele que sempre se manteve muito sincero a nossa amizade. Logo meus olhos se voltaram a Jeremy que me recebeu com um abraço demorado e deixou um beijo terno em minha testa.

Depois de quase um ano sem se ver depois de nossa despedida tão dolorosa e abrupta, Jeremy estava aqui diante de mim com um sorriso caloroso. Quando consegui retornar pra casa, Jer já havia partido pronto pra seguir em frente, pronto pra me esquecer. Não que eu realmente quisesse Jer pra viver me esperando, ou quisesse vê-lo sofrendo por mim. Mas, a questão era ele parecia ter decidido ir embora, praticamente desistindo de lutar por mim, algo que eu não faria. Não enquanto eu o amasse de verdade, não enquanto ele fosse alguém importante e essencial em minha vida. Só que Jeremy ainda era um garoto, e se os outros seguiram em frente, se os meus amigos haviam me esquecido naquele mundo prisão, o que eu poderia esperar de um simples garoto como Jer?

"Ei, como você está BonBon?"

BonBon, esse apelido que agora me irritava a tal ponto que sentia minha magia se agitar dentro de mim.

"Eu estou triste por tudo isso. Triste por Liz, por Carol..." Eu parei pensando em dizer... Triste por nós! Mas deixei isso pra trás, não queria ficar remoendo uma relação que estava fadada ao fracasso. E era isso que minha historia com Jer foi, um relacionamento destinado a dar errado desde o começo.

"Quem poderia imaginar uma morte assim, quando tudo o que nos envolve é o sobrenatural." Matt disse num tom sombrio e cabisbaixo.

"É foi triste e injusto perder Liz. Mas, pelo menos foi uma morte natural. E eu sei que ela vai estar em paz." Me permiti sorrir com as palavras de Jer. Eu também desejava que Liz tivesse encontrado sua paz, assim como Sheila.

Nos três trocamos alguns papos bobos. Até que fui deixada sozinha com Jeremy.

"Caramba eu nem acredito que você está aqui. Tão linda e inteira do mesmo jeito que eu me lembrava."

Ah, pobre Jer! Não, eu não estava mais inteira porque por dentro existia um alguém muito danificado, e eu não era mais a mesma Bonnie que ele um dia conheceu.

"Bom eu to tentando recomeçar. E você? Fico feliz de saber que seguiu em frente e foi atrás dos seus sonhos. Estou muito orgulhosa." Eu disse com certa inveja dele por Jeremy ter conseguido fugir desse lugar, algo que eu queria desesperadamente, mas que não conseguia por ressentimentos ou por pura teimosia mesmo.

"Posso dizer que eu tentei, mas foi difícil não ter você aqui. Foi difícil e eu achei que não iria conseguir." Ele disse pegando em minha mão. Eu olhei em seus olhos e vi que havia sinceridade. Percebi que ele havia mudado um pouco, estava mais bonito, mas maduro e parecia irradiar uma certa serenidade. Provavelmente isso era reflexo da distância de Mystic Falls e da sua irmã que sempre trazia com ela um rastro de peso sobre Jeremy que ele não deveria ter. Afinal, era Elena a irmã mais velha, quem deveria cuidar dele. Como uma boa irmã mais velha, mas Elena estava muito presa aos Salvatores, sobrecarregando todos nós com seus próprios dilemas.

Meus olhos vagaram novamente até Damon que estava com Elena, curtindo o momento triste ali nos braços um do outro, se beijando apaixonadamente e isso me causava uma dor por dentro. Senti minha magia ferver dentro de mim fazendo perceber o quanto o próprio ar em torno dali ficara mais denso e obscuro. Uma obscuridade que eu sabia irradiar de mim e quando senti atingir o ápice, repentinamente, a garrafa de uísque da mão de Ric explodiu sobre o casalzinho apaixonado interrompendo o momento deles.

Culpa minha? Talvez... mas eu não me importava. Eu precisava sair dali antes que as coisas tomassem um caminho mais perigoso.

Eu decidi sair dali, apenas me despedi apressadamente de Jer. Eu precisava respirar ar puro na tentativa de acalmar meus próprios sentimentos que também influenciavam a magia correndo em minhas veias deixando tudo muito nebuloso. Ignorei a tempestade que se aproximava e acabei na frente da lápide de Sheila e ali eu desabafei todos os meus medos e incertezas, mesmo que eu soubesse que ela não poderia estar aqui comigo.

"Olá, vovó. Espero que você esteja em paz. Talvez, eu tenha te decepcionado, mas eu to tentando. Eu queria poder seguir em frente sem olhar pra trás."

Eu queria partir daqui pra nunca mais voltar, só que esse lugar ainda me mantêm prisioneira de alguma forma. Mystic Falls já foi o meu lar, mas agora se tornou o lugar que me marcou de uma forma dolorosa, onde eu perdi tantas coisas.

"Eu sei que alguma coisa dentro de mim mudou. Quando eu olho pra trás para as escolhas que eu fiz, eu sinto arrependimento, raiva, magoa e... Eu me sinto tão perdida sem você."

Eu me sentia completamente desorientada sem Sheila aqui. Eu só queria saber exatamente que caminho seguir.

"Eu só preciso de um sinal, vovó. Me ajuda!" O sopro forte do vento ao meu redor trouxe consigo o meu nome solto no ar.

"Olá BonBon." Ouvir aquela voz inesperada me fez sentir um arrepio terrível percorrer meu corpo.

E ali parado me olhando com aqueles olhos elétricos e um sorriso petulante estampado em sua face angelical, estava Malachai Parker irradiando uma energia sombria. Fazendo minha magia queimar em fúria.

"BonBon, sentiu a minha falta?

Isso só podia ser uma piada de muito mau gosto. Uma piada do destino zombando de mim, ou talvez, Sheila estava me punindo por ter saído da linha e como castigo o sinal que ela resolveu me dar veio em forma de um bruxo sociopata que eu odiava com todo o meu ser.

"Não adianta negar, você precisa urgentemente de mim." Seu sorriso arrogante me deixava enojada.

"Eu sinto ódio. Ódio por ter feito um pacto com o diabo." Eu disse enfurecida enquanto ele soltava uma gargalhada.

"Uhh, assim você me magoa. Mas tudo bem eu te perdoo." Ele falou ironizando, com um seu sorriso meio infantil e sádico.

Senti as gotas de chuva começar a cair incessantes, seguidos de um vento gelado me fazendo me arrepiar de frio, mas minha raiva era tanta que o frio se tornava sem importância.

"Você está tão linda e indomável. Isso é tão sexy e ao mesmo tempo tão assustador." Ele disse me olhando malicioso e debochado se aproximando de mim como um felino feroz se aproxima da sua presa.

"Você acha divertido isso? Eu queria acabar com você. Acabar com essa maldita ligação." Seus olhos se estreitaram, nós estávamos cara a cara sentindo nossas magias se misturarem.

Havia algo sobre Kai que me fazia perder o controle, ao passo que me deixava sem saída, me sentindo encurralada pela própria magia que nos unia.

"Você me disse que estava me libertando daquele lugar. Quando na verdade você me jogou numa nova prisão!" Eu disse irada sentindo meu corpo vibrar em puro ódio.

"Eu? Eu te libertei, Bonnie. Caso contrário você ainda estaria solitária e louca. Se iludindo que Damon iria lhe salvar." Ele disse destilando veneno. "Nem pense nisso, BonBon." Kai segurou meus pulsos antes que eu tivesse a chance de usar minha magia contra ele.

Eu necessitava gastar todo esse poder que me corroía ou eu ia enlouquecer e eu queria direcionar toda minha raiva a ele, o principal culpado disso.

"Pare!" Ele disse tentando me segurar, comecei a me debater em seus braços tentando me libertar. "Você não entendi... Se me ferir, você também sai machucada Bonnie. Nos dois agora somos como se fôssemos um." Ele dizia com certo ar de orgulho.

"Não somos um e nunca vamos ser." Eu praticamente rosnei. Nossas magias estavam agitadas pronta pra se confrontarem. Eu comecei a empurra-lo usando toda a força que eu tinha sem usar magia apenas minha força física e ira.

Era óbvio que eu era muito mais fraca e pequena perto dele pra conseguir afeta-lo fisicamente, mas então, eu tinha as minhas palavras afiadas pra destruir com a sua postura prepotente e sarcástica.

"Eu não sou uma aberração como você." Eu disse com escárnio, vi seu semblante se fechar e seus olhos ganhar um tom tenebroso. Senti o ar em torno de nós ficar mais pesado, obscuro e frio.

"Bonnie, pare!" Ele disse agressivo me segurando asperamente me deixando sem saída a não ser confrontar seu olhar feroz.

De repente, todos os flashes daquele Mundo Prisão começaram a piscar repetidamente em minha mente. Como se pudesse reviver tudo de novo desde a minha esperança surgindo sob a forma de Malachai só pra no momento seguinte vê-la se desvanecer diante de mim, vendo Damon partir me deixando sozinha esperando uma morte que nunca chegou me abandonando a mercê de Kai e sua insanidade sem limites.

A cada lembrança, mais eu me motivava a enfrentar Kai, com toda a força que eu pudesse ter naquele momento.

"Eu te odeio!" Continuei me debatendo tentando me libertar de seu aperto. Kai não revidava apenas mantinha um olhar impetuoso e um sorriso insano como se aquilo fosse divertido pra ele. Então, era como se eu tivesse revivendo toda aquela dor causada por ele, seja a dor ardente de uma seta atravessando meu estômago, um aperto em torno de minha garganta, uma faca fincada deixando uma cicatriz profunda muito além da superfície, deixando traumas em minha mente e marcas na minha alma. Sejam as semanas solitárias falando sozinha só para ouvir algum ruído. Só pra me manter lúcida, enquanto esperava que Damon voltasse por mim. Voltasse pra me tirar daquele inferno.

"Mas, ele não voltou não é?" Kai disse como se pudesse ler a minha mente. "Eu sei Bonnie sobre seu segredinho. Eu sei Bonnie que você esperava demais de Damon quando ele só estava lá sobrevivendo pensando o tempo todo em estar com Elena." Eu estremecia a cada palavra sua. "Eu observei sorrateiro você aqui diante dos seus amigos, mas eles realmente parecem muito presos em seus mundinhos egoístas. Eu não menti quando te avisei que eles esqueceram você. E agora aonde você se encaixa na vida deles?"

Eu consegui me desvencilhar das suas mãos ríspidas. Fechei meus olhos tentando me controlar, minhas lágrimas começaram a se misturar com as pequenas gotas da chuva. Eu dei as costas a Kai tentando esconder a minha vulnerabilidade. Eu não queria que ele me visse tão quebrada.

A chuva continuou caindo sobre nós, junto com os relâmpagos e trovões que retumbavam sobre um céu nebuloso.

"Eu posso sentir as suas emoções Bonnie. Você está triste e, ao mesmo tempo, cheia de sentimentos conflituosos e incontroláveis. Eu sei porque parte desses sentimentos pertencem a mim." Kai teimosamente decidiu invadir meu espaço pessoal. Parecia que ele estava me desafiando a perder o controle.

Quando dei por mim estava de novo frente a frente confrontando Kai. Inconscientemente me vi observando as pequenas gotas escorrerem de seus cabelos molhados para o seu rosto de traços angelicais enquanto seus profundos olhos azuis acinzentados me fitavam de um jeito diferente, ele tocou minha face como se estivesse enxugando minhas lágrimas, um toque muito intimo me deixando tensa e nervosa. Havia um clima indecifrável sobre nós me atraindo a ele tão intensamente e eu me vi tão pequena e frágil diante de Kai.

"Eu nunca vou confiar em você, gostar ou desfrutar da sua companhia. Então, pare de tentar. Eu odeio você!" Nesse instante minha magia explodiu ao mesmo tempo em que um raio fulminante riscou o céu fazendo os dois corpos molhados serem repelidos com violência, caindo sobre o chão lado a lado.

"Merda!" Gritei me contorcendo de dor sobre a lama. Eu sentia como se cada fibra do meu corpo tivesse latejando e tremendo. Todos os meus músculos estavam doloridos e minha cabeça parecia que ia explodir. De repente comecei a rir descontroladamente, se misturando aos risos de Kai que estava caído a alguns passos de mim. Ficamos assim, rindo insanamente sob aquela chuva fria até que já exaustos deixamos os sons da tempestade nos dominar.

No momento seguinte, meus olhos se voltaram a ele que me olhava serio e pensativo. Ambos ainda se encontravam caídos no chão com seus corpos molhados, frios e sujos de lama. Foi Kai quem decidiu quebrar aquele silencio dominado apenas pelo som da chuva.

"Isso foi divertido. Devemos fazer mais vezes." Kai disse sarcástico.

"Pra um cara sádico como você, pode ter sido. Mas, pra mim foi horrível e doloroso." Eu disse tentando controlar a minha vontade de rir.

"A culpa não foi minha. Quem estava pirando sem controle não era eu. Eu te avisei, mas você é teimosa." Kai disse dando de ombros.

"Cala a boca!" Eu disse irritada com o seu jeito debochado enquanto ele ria como uma hiena. "Mas seria um jeito novo de morrer." Eu disse secamente.

"Ah sim, morrer como um para-raios humano seria super original. Pena que morrer não esta nos meus planos." Ele disse entre suas risadas divertidas. "Então, eu não vou facilitar pra você, Bonnie. Mesmo porque Sheila não iria se orgulhar disso." Eu fiquei tensa ao ouvir ele falar de Sheila. "Agora eu sei de quem você herdou tanta teimosia, coragem e lealdade." Kai me deixou sem palavras. "Sheila era uma das poucas pessoas que eu poderia admirar." Suas palavras me pegaram desprevenida, me deixando surpresa com seu tom sincero.

"Malachai Parker é capaz de admirar alguém que não seja a si mesmo? Ainda mais alguém que te condenou aquela prisão?" Meus olhos piscavam sensíveis as gostas da chuva que agora caiam mais calmas sobre minha face, nesse instante vi um vulto cobrir minha visão. Kai estava ali em pé todo molhado me olhando curioso.

"Vamos dizer que sua avó apenas fez o que tinha que fazer. Ela não me devia nada. Não tenho nenhuma magoa, ou ódio dela. Mas tenho muita culpa e arrependimento me corroendo por dentro. Parte dessa culpa pelo o que eu fiz a você." Kai me estendeu sua mão esperando que eu aceitasse sua ajuda. "Eu sinto muito Bonnie." Seus olhos azuis acinzentados guardavam certa insegurança e sinceridade que eu nunca pensei ver em Kai.

Eu relutantemente peguei em sua mão, enquanto ele me puxava pra si fazendo meu corpo se chocar contra seu peito. Sob nosso toque senti como se uma pequena descarga elétrica percorresse meu corpo me aquecendo.

"Bonnie você só viu um lado meu. O meu lado mais obscuro. Mas, você não me conhecesse de verdade. Muito além daquele Kai sociopata do mundo prisão existe um cara sensível." Eu senti seu tom irônico enquanto ele me olhava com muita intensidade me fazendo desconcertada. "Agora eu estou aprisionado com uma parte de Jo dentro de mim e eu me sinto vulnerável, assim como você. Você que agora está tendo que lidar com os meus sentimentos mais obscuros. É como se nós tivéssemos invertido os papeis. Nós precisamos um do outro se quisermos manter o controle."

Então, me lembrei do que Lucy havia me dito.

"Suas emoções são o que move a sua magia. Você vai acabar precisando de Kai por causa do vínculo inquebrável que os une. Quer um conselho? Da mesma forma que ele pode te manipular, você também tem a mesma habilidade... Pelo menos sua energia gasta com Kai é melhor do que ficar cultivando um amor não correspondido."

Talvez, Lucy tinha razão. Eu deveria manter Kai por perto, jogando o mesmo jogo dele. Assim, eu poderia manter um olho sobre todos os passos dele, ao mesmo tempo, que eu poderia usufruir de uma forma benéfica dessa magia que corria por minhas veias, mas sobretudo, eu poderia me desprender dos sentimentos que eu nutria por Damon.

"Bonnie!" Ouvi meu nome ao longe.

"Bom, acho que já nos divertimos por hoje." Eu disse me preparando pra voltar pra casa. Embora uma pequena parte minha queria se manter bem longe dos outros e do dono que me chamava ao longe.

"Você não tem que ir com ele. Nós nem curtimos o nosso momento juntos." Kai disse cheio de insinuações.

"Eu acho que já nos divertimos por hoje. Mas, se você for um bom menino..." Eu disse maliciosa.

"Bonnie!" A voz de Damon continuou persistente quase me tirando dos meus planos.

"Te vejo por aí Malachai." Eu disse lhe dando as costas e me voltando em direção aquela voz que parecia extremamente enfurecida.

"Cuidado com ele. Damon pensa que é seu dono." Eu ainda ouvi Kai dizer antes dele fugir sorrateiramente me deixando sozinha diante dos olhos azuis dominadores de Damon Salvatore.

Entretanto, agora eu me sentia mais sob controle sabendo exatamente o que eu queria.


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Notas finais do capítulo

Espero que vcs tenham gostado. Deixem suas reviews e me façam uma autora feliz. Se tiverem sugestões ou criticas sintam-se a vontade.Bjus!!!



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