Cachecol Azul e Cabelo Vermelho escrita por Lirah Avicus


Capítulo 30
Capítulo 30




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Gregory Lestrade colocou as mãos no bolso de seu casaco. Fechou os olhos, respirando fundo e sentindo o vento ameno brincar com os fios de seu cabelo curto. Ele ficou assim algum tempo, escutando o balançar das árvores, até que alguém o interrompeu.

—Ei. — diz Anderson, postando-se ao lado dele, e vestido da mesma paleta de cores escuras.

—Ei. — Lestrade responde. — Está atrasado.

—Engarrafamento. — Anderson explicou. — Virei um presunto metido entre dezenas de pães. — ele ergue a mão esquerda, que segurava um buquê de rosas. — Mas eu trouxe isso.

Ele dá alguns passos, colocando o buquê sobre a grama, ao lado de várias outras flores, formando uma cerca florida ao redor de uma lápide de mármore negro. Anderson se afasta, o cenho tristonho.

—Ele era um bom policial. — murmura Lestrade. — Eu... Eu realmente gostava dele.

—Eu não gostava muito. — Lestrade o encara, e Anderson logo se emenda. — Mas não era nada pessoal. Enfim... O que descobriram?

—Encontramos o assassino, ou melhor, o rastro de morte que ele deixou antes de ele mesmo morrer. Todos os envolvidos, todos eles foram mortos. E por último, Nathan Ward, estirado numa sala do mesmo prédio em que atacou Violet Hunter.

—Tiro?

—Plural. E foi precedido de tortura.

—Quem fez isso?

—Algum desafeto? — Lestrade dá de ombros, observando a lápide. — Não dou a mínima. Ele teve o que merecia.

—E Sherlock?

—Ele achou o corpo... E resolveu o caso. Como sempre. Pena que às vezes também temos baixas.

—Estou orgulhoso dele... — Anderson aponta para a lápide negra. — Dimmock. Ele morreu fazendo seu trabalho.

—Sim. — Lestrade concorda, baixando a cabeça.

—Você está bem?

—Estou sim... É só que... — o rosto de Lestrade se desmancha. Ele cobre o rosto com uma das mãos, começando a soluçar.

Anderson o abraça. O vento continua soprando.

***

—John virá aqui hoje?

—Não, depois de tudo que aconteceu Mary o colocou de castigo. — Sherlock para em frente à Sra. Hudson. — Acho que não o verei durante algumas semanas.

Estavam no apartamento 221b. Sherlock vestia seu roupão usual e a Sra. Hudson limpava a mesinha de centro.

—Ele se feriu bastante. — a Sra. Hudson balança a cabeça, repreensiva. — Vocês deviam ser mais cuidadosos, não há necessidade de se arriscar dessa maneira.

—Ferido? — Sherlock soltou uma risadinha. — Depois que os policiais desceram John do terraço ele ainda teve ânimo para tentar me bater... Ele é um vaso ruim, não quebrará tão fácil.

—Isso pode até ser verdade. — a Sra Hudson se endireita. — Mas não há necessidade de ficar atirando o vaso no chão. E aquela moça bonita? Quando ela vai voltar?

—Ela não vai voltar, Sra. Hudson.

—Oh, que pena... Eu gostei muito dela. Espero que esteja bem, ou pelo menos em melhor estado do que quando esteve aqui.

Sherlock cerrou os olhos, esboçando um sorriso. A Sra. Hudson saiu do apartamento, descendo as escadas, e deixando-o sozinho. Ele caminhou até a janela, puxando a cortina e observando a rua. Viu carros, bicicletas, pessoas. Sorriu para si mesmo. A vida não era tão malfeita assim...

Deu as costas para a janela, indo até seu notebook. Pegou um envelope de cima dele, já aberto, e retirou seu conteúdo. O conteúdo era uma folha de sulfite, impressa em alguma biblioteca pública, e sem assinatura.

"Olá, amigo. As férias estão ótimas.

Não tente matar mais ninguém, espere eu voltar para poder impedi-lo. Encontrei um novo amigo para seguir, e talvez você possa me ajudar. Logo entrarei em contato.

A propósito, já ouviu falar em um detetive chamado Will Graham?"

Sherlock leu e releu aquele telegrama. Ergueu os olhos, pensativo. Daí amassou o papel, foi até a lareira, que estava acesa, e lançou-o no fogo.

***

"Assim terminou nossa aventura, bem onde havia começado, e minha recompensa foi um braço imobilizado e uma esposa furiosa. Por outro lado, descobrimos todo o mistério que cercava a sigla J. R., e agora podemos ficar tranquilos de que novos ataques não ocorrerão.

Minha única tristeza é que o interesse de Sherlock Holmes por Violet Hunter encerrou-se junto com o caso, e tornou-se mais uma pasta arquivada na mente incomparável de meu amigo.

Quanto a mim, estou em cárcere privado, condenação aplicada por minha amada esposa, da qual espero sair, muito em breve, em virtude de muita bajulação e caixas de chocolate."

—Se está achando que pode me comprar com comida. — diz Mary, lendo por cima dos ombros de John. — Saiba que adoro Diamante Negro.

John vira-se para ela, sorrindo largamente.

—Já estava pensando nisso.

—Vai publicar em seu blog?

—Não. — John salva a história, fechando em seguida seu notebook. Levanta-se, abraçando Mary. — É uma história íntima demais, para todos nós.

—Especialmente para o Sherlock.

—Eu matei um homem, isso é bem íntimo para mim.

—Tem razão. — Mary junta as sobrancelhas. — Sinto muito que seus planos não tenham dado certo.

John suspira, resignado.

—Sherlock é um lobo solitário. Ele... Deve ficar melhor assim.

—Duvido muito. — Mary solta o marido, começando a andar. — Nós estamos com fome, você vem?

—Claro. Não posso deixar a Sarah com fome.

—Sarah?

—É um ótimo nome.

—Não é um ótimo nome.

—Sherlock disse que era um ótimo nome.

—Desde quando Sherlock é uma autoridade no assunto?

—Eu te contei que instalei uma programa chamado Cortana em nosso notebook? Você vai adorar...

Os dois saem andando, dirigindo-se até a cozinha. A luzinha do notebook, agora fechado, pisca algumas vezes. Por fim, apaga.

***

Sherlock Holmes estacionou o carro que alugara ao lado de uma guia cimentada. Desceu do veículo, olhando ao redor, e tranca-o. Começou a caminhar, atravessando um caminho cercado por árvores frondosas, que dançavam ao sabor do vento. Após caminhar algum tempo deparou-se com uma escadaria, que levava até o que parecia ser uma mansão antiga, mas em excelente estado. Sherlock subiu as escadas cruzando com alguns enfermeiros no caminho, e entrou na mansão.

Lá dentro, idosos de todos os tipos passeavam pelos corredores. Os enfermeiros os acompanhavam, e uma música agradável enchia o ar. Ele entrou numa das salas, onde vários idosos faziam trabalhos manuais. uma enfermeira se aproximou.

—Posso ajudá-lo, senhor?

—Sim, eu...

—Sherlock?

Ele e a enfermeira se voltam para a mulher ruiva parada diante deles.

Era chocante como Violet Hunter estava. Parecia uma flor que havia desabrochado. Usava um vestido quadriculado, sapatilhas baixas, e seus cabelos vermelhos estavam encaracolados num belo corte channel. Não havia mais marca nenhuma sobre sua pele. Ela sorria, e parecia feliz em vê-lo.

—Como vai, Violet? - ele disse.

A enfermeira sorriu, assentiu com a cabeça e se afastou, indo ter com um idoso que pintava o nariz ao invés da tela. Sherlock se aproxima de Violet, sem conter o sorriso.

—Há quanto tempo. — ela disse. — Achei que não te veria mais.

—Decidi te dar um tempo.

—Eu usei bem esse tempo. — ela abre os braços. — Como estou?

—Reluzente.

Violet fica corada, daí posta-se ao lado dele, segurando sua mão.

—Estou feliz que esteja aqui.

—Estou feliz por estar aqui.

Ela o olha por breves instantes, daí o puxa pela mão.

—Venha... Venha conhecer meu pai.


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