Cachecol Azul e Cabelo Vermelho escrita por Lirah Avicus


Capítulo 25
Capítulo 25




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Benjamin Knight cruzou as pernas sobre a cama. Estava num quarto de hotel, nem muito simples nem muito ostentoso, mas o suficiente para que se sentisse confortável. Abrira todas as janelas, e sorrira, ao notar que não havia grades. Viu avenidas, prédios, pessoas caminhando na calçada, luzes acesas. Londres. Chovia, e por isso a temperatura caíra, mas ele não se importou. Usava uma calça e camisa preta de manga comprida, ambas de tecido fino, mas o fato é que ele adorava a sensação do ar rarefeito entrando por seus poros e fazendo-o estremecer. Ele respirou fundo o ar frio ao seu redor, daí voltou para dentro. Jogou-se na cama, enrolando-se em todos os edredons que o hotel oferecera, e ficara assim por horas. Não dormira, mas a sensação almofadada e quente lhe fazia sentir bem. Levantara, comera algo na geladeira, fora ao banheiro. Ao ver-se no espelho, parou. Ficou assim algum tempo, encarando aquela figura fantasmagórica que o encarava de volta. Ergueu os braços à altura da cabeça, retirando a peruca loira que usava, libertando os cabelos curtos e escuros que estavam por debaixo daquele tufo amarelado. Abriu a boca, retirando também a prótese dentária, passando a língua por seus dentes reais, aliviado. Aproximou o rosto do espelho, abrindo bem o olho esquerdo com os dedos e retirando a lente. Era uma lente azul, que o fez combinar com o olho direito. Agora ele retornara ao verde esmeralda, contrastando com o azul safira de seu companheiro. Benjamin olhou-se no espelho, calado. Daí saiu, pegou um lençol, voltou ao banheiro e cobriu o espelho com ele. Abriu a torneira, limpando o sangue seco de seu nariz com a ajuda de lenços umedecidos, e checou o corte na testa com os dedos. Não fora fundo. Encontrou esparadrapos, limpou o ferimento, fez o curativo. Retornou ao quarto, respirando profundamente.

Como era bom ser livre.

Sentou-se na cama, pernas cruzadas, puxou sua mochila para mais perto, abrindo-a e tirando dela um canivete. Abriu-o, puxando a manga da camisa preta que usava, expondo seu braço esquerdo, onde oito cicatrizes pequenas dispunham-se enfileiradas logo após o pulso. Ele abriu o canivete, fazendo cuidadosamente mais dois cortes, e limpando o sangue que saíra com um lenço. Fez o curativo, higienizou o canivete, olhou em volta. Viu um quadro pequeno da Rainha ao lado do guarda-roupa, e ao lado deste, outro quadro, este do Almirante Nelson. Ele segurou o canivete com a mão esquerda, mirando e lançando-o, acertando no meio da testa da soberana. Abriu um sorriso matreiro, indo até o quadro e observando-o sem pressa.

—Bem melhor... — falou consigo.

Ele voltou para a cama, enrolando-se novamente em todos aqueles edredons. Sorria infantilmente. Ao fazer isso, descobriu sem querer o braço direito, onde duas cicatrizes se encontravam, logo abaixo do pulso. Benjamin parou por um instante, olhando aquelas marcas. Puxou a manga da blusa, cobrindo o braço, virando para o outro lado, enfiando a cabeça no travesseiro e adormecendo.

***

O Centro Médico Queen Anne permanecia em funcionamento 24 horas, todos os dias. Isso era necessário, afinal não havia horário marcado para alguém necessitar de cuidados médicos. Mas com respeito a ala de tratamento intensivo, esta sim fechava, após as 9 horas da noite, permitindo assim que os internados ali tivessem um pouco de sono e paz. Apenas poucos enfermeiros ficavam de prontidão, a maioria das luzes era apagada e o silêncio reinava, único e soberano.

Sherlock Holmes girava em sua cadeira incessantemente. Como o hospital permitia um acompanhante para cada internado, ele se prontificara para ficar com Violet, e não encontrou resistência. Lestrade preferiu ir embora logo, afinal, como ele dissera, aquele não era seu caso. John ficara por perto até o horário de fechamento, daí fora para casa. Sherlock não o culpou. Aquele havia sido um dia difícil...

Thomas Fries sumira. Ninguém sabia para onde ele fora. Foram feitas buscas na casa, local de trabalho, e nenhuma pista. Isso o colocou no topo da lista de suspeitos de Dimmock, mas o fez permanecer em terceiro na lista de Sherlock. Thadeus Lieberman fora solto sob fiança, e ninguém conseguiu explicar como um mendigo conseguira dinheiro para pagar tal coisa. Dimmock tampouco questionou. Os dois discutiram, obviamente, e Dimmock acabou por incorporar uma criança e dizer que o caso era dele e ele mandava.

—Então todos vamos morrer. — disse Sherlock, antes de sair.

No fim das contas, no entanto, Dimmock não era tão estúpido, e decidiu colocar policiais vigiando Jet Williams e Nathan Ward, discretamente, claro, e sem contar a Sherlock para não parecer fraco ou indeciso, coisas que ele era, de fato.

Sherlock sorriu. Era óbvio que ele já sabia. Ele sorria e girava em sua cadeira. A cadeira não era dele, na verdade, pertencia ao hospital. Naquela penumbra da ala de tratamento intensivo, não havia quase humanos, e por isso havia muitas cadeiras, incluindo algumas de rodinhas. Numa destas Sherlock se encontrava, remoendo deduções, relembrando informações, digerindo pensamentos, e se sentindo muito bem com o número escasso de humanos ao seu redor. Quanto menos humanos, menos estupidez para ser suportada. Cerrou os olhos azulados. Humanos. A pior e mais insuportável espécie mamífera bípede a surgir neste planeta. Ele não tinha tempo para ela. E nem paciência. Estava perto de sua presa, podia quase respirar em seu pescoço, e faltava pouco para o ataque final. Ele já sabia quem era o assassino.

Sabia, mas preferiu não dizer a ninguém. Poderia estragar tudo.

Ele deu impulso com o pé, fazendo a cadeira girar.

Violet acordara naquela tarde, e fizera isso sem escândalos ou gritos. Ela parecia exausta, extremamente abatida, com razão, e perguntou mais de uma vez se o assassino havia sido pego. Demorou para compreender que eles só encontraram a ela naquele lugar escuro, e que o resto eram apenas pistas a serem estudadas. E ratos. Ela aquiesceu, fechando os olhos num suspiro. Daí ela percebeu algo mais. Levou a mão à cabeça, soltando um gemido de horror.

—Ele... — ela ofegou. — Cortou o meu cabelo...

Era verdade. Ele cortara. De forma mal feita e desleixada. E deixara para trás o suficiente para fazê-la parecer um menino. Um menino ruivo. Ela curvou-se na cama, chorando audivelmente. Por sorte Mary estava lá, e pôde sentar-se ao seu lado e segurar sua mão. Ela não quis conversar, ou falar. Apenas chorar. Todos os outros esperaram do lado de fora, quietos, esperando o luto pelo cabelo cortado passar. Só depois de meia hora sua mente clareou novamente, e ela pôde responder às perguntas que Dimmock queria fazer a ela.

—Ela precisa descansar. — dissera Sherlock, olhando feio para Dimmock.

—São só algumas perguntas.

—Deixe-a em paz.

—Pode fazer as perguntas. — ela disse. Daí olhou firme para Sherlock. —Você pode sair.

Sherlock fechou a mão ao redor do braço da cadeira em que estava, lembrando-se daquilo. Apertou com tanta força que deixou marcas de seus dedos no metal frágil. Seus olhos encaravam o chão, fundos e brilhantes, como que em meditação profunda.

Os enfermeiros sedaram Violet novamente após a sessão de perguntas. E sempre que ela ameaçava acordar, a sedavam de novo. Ele chegou a ouvir ela pedir a enfermeira que não a fizesse dormir de novo, mas só para cair no sono novamente. Sherlock não fez nada quanto a isso. Era quase uma mini-vingança.

O celular em seu bolso apitou. Ele olhou-o, lendo a mensagem. Abriu novo sorriso, este muito mais vitorioso que o anterior. Era quase malévolo. Por muito tempo seu adversário se divertira sem ninguém para atrapalhá-lo. Por muito tempo ele agira como se fosse intocável. Julgara-se tão invencível que chegou a sequestrar Violet e não fazer nada a ela, apenas deixou uma lembrança, um recado, querendo deixar claro que podia fazer o que quisesse. Sherlock alargou o sorriso. Criatura tola. O assassino brincara o suficiente. Isso tinha de terminar. Ele podia ter vários brinquedos, mas Sherlock era o dono do playground. E ele decidira que a brincadeira acabou.

Ruídos vindos do quarto de Violet. Sherlock se levanta indo até lá.

Violet estava deitada, contorcendo-se debaixo do lençol. Lutava contra o sono.

—Que está fazendo? — ele perguntou, sem emoção.

—Não posso dormir... — ela gemeu. — Não quero dormir... Não vou dormir...

—Shhh, vai acordar os outros decrépitos.

—Vá se ferrar, Sherlock. — ela rosnou, virando-se para o lado e tentando arrancar a agulha do soro em sua mão. Mordeu o lábio inferior. Aquilo doía terrivelmente.

—Eu vou chamar a enfermeira. — ele disse, sem se mexer.

—Faça isso, você já se tornou um expert em danar a minha vida mesmo... — os olhos dela ficam cheios de água. — Eu não vou voltar a dormir... — ela volta a puxar a agulha, começando a soluçar. — Eu não vou voltar para aquele lugar...

Ela ainda puxava, tremendo por causa da dor, quando Sherlock surge ao seu lado e passa outra camada de esparadrapo sobre o tubo, firmando-o ainda mais e tornando impossível para alguém semi-sedado tirar aquilo da mão. Violet soltou um gemido desesperado.

—Não vai arrancar essa coisa. — ele informou.

—Por favor... — ela ergue os olhos, suplicante. — Eu não posso dormir... Tenho pesadelos, eu volto para aquele lugar, eu posso ouvir os sons... Os ratos... — a voz dela falhou. — Não faça isso, você não é tão cruel... Não me faça ver ele de novo.

Ela tentava engolir o choro, mas as lágrimas escorriam assim mesmo, molhando seu rosto. Sherlock permaneceu ali, imóvel, observando-a sem reação, daí deu as costas para ela e saiu do quarto.

Violet não acreditou naquilo. Olhou sua mão, vendo o líquido transparente entrar por suas veias novamente. Encostou a testa no travesseiro, chorando como um bebê, e ainda mais, quando sentiu seu corpo amolecer. Iria dormir, e iria voltar para debaixo da igreja... Para a escuridão... Para o riso calmo... Para os guinchados finos...

Algo a empurrou para o lado. Ela ergueu a cabeça num resfôlego, cada vez mais mole, e viu que Sherlock não estava mais de casaco, e sim apenas com a camisa. Ele a levantou da cama facilmente, sentando-se nela e em seguida deitando-se, pousando Violet ao seu lado, abraçando-a e deitando a cabeça dela sobre seu peito. Ela queria dizer algo, mas o sono já estava a engolfa-la por completo.

—Sherlock... — ela balbuciou.

—Cale a boca e durma. — foi a resposta.

***

Eram 1:15 da madrugada. A cidade estava em silêncio.

Benjamin abriu os olhos, segurando a respiração. Ficou assim algum tempo, ouvindo o sangue bater em seu ouvido, e sentindo o coração disparado. Levantou-se, coberto de suor, e viu que se esquecera de fechar a janela. O quarto estava congelando.

Ele se levantou, trêmulo, colocando os pés no chão e pegando uma garrafa d' água no criado-mudo ao lado da cama, bebendo metade de seu conteúdo. Encheu o peito de ar algumas vezes, esfregando o rosto com as mãos. Tinha de se acalmar.

Caminhou pelo quarto, sem acender a luz. Esfregava as têmporas com os dedos, esperando a adrenalina parar de inundar suas veias. Pegou seu casaco, vestindo-o e calçando seus sapatos. Saiu do quarto, trancando a porta atrás de si. Desceu as escadas, ignorando o elevador, e saiu para a rua. Caminhou pela calçada, chegando a uma estação e descendo, pegando a linha Bakerloo. Sentou-se num dos bancos, levantando a gola de seu casaco, um sobretudo marrom de tweed, e cruzando os braços sobre o peito. O trem andava, e ele tirou aquele tempo para observar os outros passageiros.

Um velho mendigo. Uma prostituta. Um trabalhador voltando para casa. Um possível trombadinha.

Benjamin observou o possível gatuno, um jovem de uns 16 anos, novo demais para ter juízo, mas velho o suficiente para merecer punição. Ele enfiou a mão no bolso, fingindo olhar algo num celular, e chamando a atenção do rapaz. O trem parou, Benjamin desceu, e o rapaz o seguiu. Os dois caminharam para fora da estação, o rapaz alguns metros atrás, e Benjamin virou num beco. O rapaz foi atrás, e não teve tempo de reagir ao tapa certeiro que levou no lado da cabeça, deixando-o desacordado. Benjamin arrastou-o para detrás de uma caçamba, certo de que alguém não seria roubado naquela noite. Ele prosseguiu com sua caminhada, chegando a rua de seu destino.

Baker Street.

Ele parou em frente ao número 221, estudando a porta e notando uma luz acesa lá dentro. Ele observou a rua, daí foi até a cerca de metal, agarrando-se na borda da janela e colocando o pé sobre a cerca, içando-se para cima. Escalou pela parede até o segundo andar, onde se deparou com uma janela fechada. Ele tirou um canivete do bolso, abrindo-o e inserindo-o na divisão da janela, puxando-o para cima e levantando o trinco. A janela se abriu, e ele entrou.

Assim que seus pés pousaram no carpete, o olhos dele foram direto para o mural de colagens na parede acima do sofá. Ele foi até o mural, estudando-o com atenção, e mordeu o lábio inferior. Foi até a cozinha, olhou dentro da geladeira, soltou uma risota e fechou-a. Voltou para a sala, sentando-se numa poltrona de couro. Neste momento ele ouviu um estalido. Uma arma havia sido engatilhada.

—Quem é você?

Benjamin ergueu as mãos calmamente, cerrando os olhos e divisando na escuridão do apartamento a silhueta de uma senhora idosa e armada.

—Sou amigo do Sherlock.

Silêncio. Daí a resposta.

—Muitos se dizem amigos dele, mas na verdade querem matá-lo e me usar como isca.

—Não tenho nenhum plano desta natureza, senhora, por favor, não atire.

—Você não me parece boa pessoa.

Ele levanta uma sobrancelha, visivelmente decepcionado.

—Bem isso é bem frustrante... Não poderíamos conversar?

—Por que eu faria isso? Sabe que horas são?

—A senhora estava acordada.

—Isto não é motivo para eu atender uma visita a uma hora destas. Diga, o que você quer?

Benjamin baixa a cabeça, então volta a falar.

—Eu tive um pesadelo... Eu gostaria de conversar com uma pessoa boa.

Silêncio novamente.

Barulho de interruptor.

A luz se acende.

Benjamin fecha os olhos, acostumando-se com a claridade,  e depara-se com uma senhora magra de semblante grave, que o olhava de modo cuidadoso. Ela guarda a arma no bolso.

—É bom que você não seja um assassino cruel.

—Na verdade eu sou sim, senhora. Mas não lhe farei mal. Quero só conversar.

—Qual o seu nome?

—Benjamin, senhora.

—Siga-me, Benjamin... — ela caminhou até sua cozinha. Apontou uma cadeira para Benjamin, que se sentou. — Aceita um chá?

—Obrigado, senhora.

Ela pega um bule, enche-o de água, coloca-o para ferver e se senta também. Tira a franja do rosto, soltando um suspiro.

—Devo estar ficando louca... Como deixo um estranho entrar aqui, e a essa hora? Sherlock não aprovaria, não mesmo, ainda mais eu estando sozinha, é muito perigoso.

—Não está mais sozinha, senhora. — Benjamin sorriu. Ela levantou as sobrancelhas.

—Bem, considerando-se que o possível perigo é você, não me sinto muito melhor.

—Não sou um perigo, não para a senhora, garanto.

Ela o observou algum tempo, daí deu de ombros.

—Bem, você deve ser de longe o assassino mais educado que já vi... Sou a Sra. Hudson. Sou dona deste lugar.

—Sherlock é seu inquilino?

—Sim, — ela aponta para o teto.— alugo o andar de cima para ele.

—É um prazer conhecê-la. Sua cozinha é adorável.

—Obrigado. — ela se levanta, tirando o bule do fogo e derramando a água quente nas xícaras já com essências de chá. Ela coloca as xícaras sobre a mesa. — Aceita biscoitos?

—Está ótimo assim, obrigada.

Ela se senta novamente, o olhar curioso.

—Que tipo de pessoa sai às 1 da madrugada procurando alguém para conversar?

—O tipo que não conversa com alguém há muito tempo.

A Sra. Hudson toma um gole de chá.

—Você tem olhos peculiares. É algum tipo de doença?

—Bondade sua usar um termo tão delicado... Se chama heterocromia. Não me faz mal de forma alguma, é só... Algo que faz os outros me olharem com mais desconfiança.

—Você parece triste. O que te fez tão solitário?

—Eu mesmo. Eu não sou... — ele brincava com a asa de sua xícara. — Exatamente, o tipo de pessoa que outras pessoas querem conhecer.

—Que tipo de pessoa você é?

—Sou uma pessoa má. — ele baixa a cabeça, fitando seu chá.— Fiz coisas muito ruins.

—Por que fez essas coisas?

—Por que é o que eu sou. Eu faço o que os outros não tem coragem de fazer. Coisas terríveis... Maldosas... Eu não terei perdão.

—Eu não acredito que alguém esteja além do perdão, tudo depende se a pessoa está arrependida.

—Eu não me arrependo. Fiz o que tinha de fazer.

—Se você tinha de fazer por que não seria perdoado?

Benjamin dá de ombros.

—Provavelmente por que Deus não aprova quem tira a vida de seu próximo.

A Sra. Hudson olhou seu chá e, discretamente, observou sua estranha visita.

—Você é estranho.

—Tem razão.

—Você realmente mata pessoas? — ela sussurra.

—Apenas as tão más quanto eu. — ele diz, também sussurrando. — Eu as procuro e sumo com elas.

—Matou muita gente?

—Dez. E estou em busca do décimo primeiro.

—Vai matá-lo?

—Sim, senhora.

Ela leva algum tempo para responder. Quando finalmente o faz, fala com voz em altura normal.

—Não sei se isso é de todo certo.

—Por que não?

—Se você quer perdão, você deve perdoar os outros.

—A senhora perdoaria um assassino?

—Poderia mandá-lo para a prisão.

—Faria isso se soubesse que isso o pararia.

—Não vai?

—Não, senhora.

Ela morde o lábio superior, pensando no que dizer. Benjamin cerra os olhos.

—A senhora acredita em Deus?

—É claro, você não?

—Não sei... Quer dizer, será que existe um Deus, levando-se em conta toda a maldade no mundo?

Ela sorri bondosamente.

—Oh Ele é amor. Ele consertará tudo, não importa o dano. Eu acredito que Ele nos deixa fazer o que queremos, pois nos deu liberdade, mas que não nos livra das consequências. Pagamos pelo que fazemos. Todo sofrimento é nossa culpa. É muito fácil aprontar e depois jogar a culpa no Ser Supremo.

—A senhora tem um bom argumento.

—Pense nisso, Ele é amor. Pode te perdoar.

—Não acharia justo se Ele me perdoasse. Não mereço isso.

A Sra. Hudson toma novo gole. Benjamin nenhuma vez degustara o líquido em sua xícara.

—Eu era dançarina exótica quando mais nova.

Benjamin a encara, incrédulo.

—Sério?

—E destruí a vida do meu ex-marido... De todas as formas possíveis. É claro que Sherlock me ajudou nisto... Não nas danças exóticas, é claro, apesar de que ele é um excepcional dançarino.

—Não me diga...

—Um bom menino... Um bom homem. Fiquei inconsolável quando disseram que ele havia morrido, graças a Deus ele estava fingindo. Menino esperto, limpou seu nome e está de volta. Se bem que, para mim, o nome dele nunca esteve sujo, sempre acreditei em sua inocência. Sempre resolvendo casos, salvando vidas... A maior parte delas. Uma pena que John se casou, eles eram tão felizes juntos.

Benjamin juntou as sobrancelhas, pensativo.

—Mas ele não é gay.

Ela suspira.

—Eu não julgo ninguém. — ela abre um sorriso, animando-se. — Você está com Sherlock agora?

—Eu também não sou gay...  Até onde sei.

—Não seja tímido, querido, como eu disse, eu não julgo.

Ele franze o nariz, batendo os dedos na mesa.

—A senhora deveria acreditar quando um homem diz que não é homossexual. É extremamente frustrante quando você diz algo e não acreditam.

Ela se levanta, levando sua xícara até a pia. Falou tristemente:

—De qualquer forma tudo se foi, e Sherlock está sozinho novamente.

—Só ficará assim se quiser.

—Ele tem essa coisa de que a solidão é uma proteção. — ela encosta as costas no balcão. — Que bobagem, não acha?

—Às vezes funciona.

—Que tipo de pessoa quer passar a vida sozinho? É tão triste.

—Talvez alguém que sofreu demais por estar acompanhado. Quando estamos sós pelo menos ninguém nos decepciona.

—E vale a pena? Tão triste... Tão triste...

Ela balançava a cabeça enquanto falava, e Benjamin esboçou um sorriso. Levantou-se, levando sua xícara até a pia e bebendo seu conteúdo de uma vez.

—Obrigada pela excelente conversa, Sra. Hudson.

—Já vai? Por que não dorme aqui?

—Eu não durmo. Nas poucas vezes que tento, acordo sempre neste mesmo horário, só para me arrepender de ter dormido.

A Sra. Hudson pensa.

—Você disse que teve um pesadelo. Quer me falar dele?

Ele fica calado alguns instantes.

—Eu sonhei com o dia que meus pais morreram.

—Oh, pobre homem... — ela coloca a mão em seu ombro. — Foi recente?

—Eu tinha 7 anos.

—Tão novo...

—Eles morreram na minha frente. E sempre eu acordo na hora em que morreram. — Benjamin olha para o relógio na parede. — 1:15 da manhã. Eu... Gosto de encontrar alguém bom para conversar nessas horas. Raramente eu encontro.

—Por que procura por isso?

—Isso me dá um pouco de paz.

—Por que você não reza?

Ele baixa a voz.

—Eu não sei rezar.

—Eu poderia te ensinar. — ela coloca a mão em seu ombro. — Não é difícil, juro. Não falo aquelas palavras repetidas, elas me irritam, eu gosto de conversar com Deus. E posso te mostrar como, é muito fácil. Você poderia aproveitar e pedir perdão.

—Sra. Hudson... — Benjamin sorri tristemente. — Eu não quero perdão.

—E por que não?

Ele ouve um estalido vindo do andar de cima. Passos. Seus olhos imediatamente escurecem, e seus músculos se retesam. Ele fala, calmo e sereno, ainda encarando o teto.

—Por que cometerei este pecado mais uma vez.

***

"Eu li que ruivos roubam a alma de quem chega muito perto."

"Você é tão branca que deveria ser empacotada e vendida nos laticínios."

"Você é uma bruxa! Devia ser queimada!"

Violet gemeu baixinho. Seu sonho não era dos melhores. Sonhava que estava na escola, na hora do recreio, cercada de crianças sem rosto, todas falando coisas horríveis e maldosas. Uma delas se aproximou com uma tesoura imensa.

"Vou cortar seu cabelo para fazer uma fogueira!"

—Não... —ela murmurou.

"Cabelo de vassoura!"

"Violet, você consegue adivinhar quem eu sou?"

"Cara suja!"

"Cegueta!"

"Você não deveria estar na Terra Média?"

Ela tentou se mover. Queria sair daquele pátio, talvez saindo à procura de um monitor ou do professor, alguém que a ajudasse. Queria se afastar daquelas crianças cruéis de rostos borrados. Mas não conseguiu. Seu corpo não se mexia, nem braços, ou pernas, nada. Ao olhar para baixo, ela se viu sentada, e ao olhar para cima, viu uma pilastra de cimento gigante. Ela olhou para si, e viu as cordas.

Estava amarrada. Neste momento, as crianças começaram a criar pêlos, perder as roupas e a crescer os dentes frontais. Violet assistia aquilo, horrorizada. Estavam se metamorfoseando em ratos. Ela começou a se debater, desesperada. Sua boca secou, ela não conseguia falar. Viu aquelas criaturas se aproximando, famintas e más, ainda soltando impropérios.

"Sua estúpida! Aberração!"

Violet gemia, era tudo o que podia fazer, e tentava se soltar daquelas cordas, que pareciam cada vez mais apertadas. Iria sufocar. Daí ela sentiu. Foi uma certeza absoluta. E aterradora. Ele estava lá. Ela sentiu o seu sorriso, observando-a. Assim como os ratos, estava cada vez mais perto. Ela ofegava, ainda lutando para se libertar, quando ouviu a voz dele, dizendo mais uma vez o que dizia todas as vezes que vinha atormentá-la.

"Que horas são?"

—Pare! — ela conseguiu gritar, sentindo um calor tão grande que parecia estar numa fogueira. Ela abriu os olhos, ainda sentia aquela voz ao seu redor, rindo de seu pânico, e quis se levantar e fugir. Algo a segurou, mantendo-a deitada. — Não!

—Fique calma. — ela ouviu, reconhecendo a voz imediatamente. Ela olhou para si, vendo que o que a segurava não eram cordas, e sim braços fortes encobertos por uma camisa branca. Ela recordou-se vagamente do que ocorrera, sua mente não cooperava, mas ela sabia quem estava ao seu lado naquela cama de hospital. Uma mão subiu por sua nuca, afagando seu couro cabeludo, e ela soltou um gemido de alívio. Esticou os braços, abraçando seu protetor como um macaquinho abraça uma árvore. Fechara os olhos, não querendo rever aquele quarto de hospital. Odiava hospitais. Odiava-os com todas as forças. — O que você viu?

Era a voz de novo. Agora ela se engolfava ao sono que Violet sentia novamente. Parecia fazer parte de seu sonho agora. Ela ainda sentia o corpo dele, seu abraço, a cama, a mão atrás de sua cabeça, mas ao mesmo tempo sonhava. Sentia-se na casa do pai, deitada no sofá.

—Eu vi crianças... — ela respondeu de modo sonolento. — Meus colegas... Eles eram maus comigo. Odiavam-me por que eu era diferente. Eles me levaram de volta para aquele lugar ruim.

Ela ouviu barulhos vindos da cozinha. Provavelmente era o pai fazendo uma deliciosa omelete, como sempre fazia.

—Que lugar ruim?

—Aquele... Porão... — ela se agitou. Sentia que estava perdendo a casa do pai. — Ele sempre ia lá.

—Ele quem?

—Ele. — ela começou a tremer. Não ouvia mais os barulhos da cozinha. O ruído dos ovos no óleo quente começou a ser substituído por ruídos muito mais finos e irritantes. Eram guinchados. — Eu não quero falar dele.

—O que ele fez?

—Ele... — ela começou a ofegar novamente. Sentia-se suar frio. — Ele perguntava que horas eram... Eu nunca sabia, ele sabia disso, eu estava perdida... — ela sentiu a presença dele novamente. — Podiam ter se passado décadas... Meu Deus... — ela choramingou. — Ele está aqui de novo...

—Não, ele não está.

—Me ajude...

—Violet.

—Eu não sei que horas são...

Ela sentiu um aperto maior. Os braços a envolveram por completo, e lábios roçaram em seu ouvido. Ela estremeceu, ainda envolta naquele sonho.

—Escute apenas a minha voz. — a voz era rouca e baixa. Tinha um tom grave, e parecia vibrar por onde passava. — Você não está lá. Está comigo. Não está em perigo. Está segura. Você não é dele... É minha.

Ela ouviu isso, e seu corpo relaxou. Remexeu-se naquele abraço, afundando o rosto no pescoço de seu protetor e sentindo cachinhos de cabelo fazerem cócegas em seu rosto. Ela sentiu a garganta dele vibrar com uma risadinha.

—Não abuse. — ele avisou. Mas não afrouxou seus braços ao redor dela. E assim Violet adormeceu como antes.

Ela dormiu, desta vez profundamente. Talvez Sherlock tenha lhe dado outra dose de sedativo, talvez não, mas o fato é que ela praticamente desmaiou. Sem sonhos. E isso foi muito bom.

Dormir é algo paradoxal. Especialmente para quem dorme só. A solidão é muito mais sentida na hora do sono. A cama é menor, o frio é maior, o espaço é grande, o colchão é pequeno. Braços se esticam sem alcançar ninguém. Ocorre o mesmo com o chuveiro. Estudos indicam que pessoas solitárias gastam mais tempo no banho, pois o calor da água substitui o calor de outra pessoa, cobrindo assim o buraco emocional. Violet demorava muito no chuveiro. E dormia só. Nunca quis admitir que era solitária, mas essa era a verdade. Ela se identificava com aquela canção dos Beatles, aquela que, sem ela saber, salvara-lhe a vida. Pessoas solitárias. Violet era uma delas. E sonhava com, um dia, encontrar alguém tão solitário quanto ela, e um poder cobrir o vazio do outro. Ela temia encontrar alguém que não fosse assim, pois ela seria tão carente enquanto o outro seria normal. Foi o que acontecera com Quentin. Por isso não dera certo. Não, tinha de ser alguém que conhecesse a solidão de perto. Que demorasse horas no chuveiro. E que a colasse a si na hora de dormir, pois não conhecia a sensação de dormir acompanhado, mas gostara dela. Violet queria muito isso. Não queria o fim de Eleanor Rigby.

Sherlock se mexe, fazendo-a retornar levemente à consciência. Ele fizera isso de modo brusco, e apertara o braço dela entre os dedos ossudos. Chegou a doer. Ela não entendeu aquilo, quis voltar a dormir naquele abraço confortável, quando sem aviso ele se levantou, deixando-a sozinha na cama. Ela se encolheu, flutuando no estado de semi-consciência, e querendo que ele voltasse. Ela tentou abrir os olhos, mas só viu o vulto da porta e uma luz esverdeada passando por ela. Tentou se virar na cama, mas não obteve sucesso. Ouviu estalos, seu coração apertou. Seja lá quem estivesse ali a encontraria num estado absurdamente vulnerável. Violet gemeu. Estava só. De novo.

Alguém passou o braço pelas costas dela, erguendo-a à posição sentada, e mantendo-a colada a seu peito. Ela reconheceu a respiração, ouviu-a por horas, mas notou-a acelerada. Ele estava nervoso. O que acontecera?

Daí sua mão começou a queimar. Era como se alguém tivesse acendido um isqueiro e encostado em sua pele. E estava piorando. Então algo começou a ser puxado de sua garganta, bloqueando sua respiração enquanto subia. Quando passou pelo nariz, também queimou. Ela não suportou e soltou um gemido alto.

—Por favor...

—Aguente firme... — ele sussurrou, plantando um beijo em sua testa. A mão dela ainda queimava, mas agora a dor diminuía gradativamente. — Preciso que seja forte... E que fique quieta.

Violet não teve tempo de pensar em nada, quando outro braço passou por debaixo da dobra de seus joelhos e ergueu-a no ar. Em seu estado sedado, ela pensou estar voando, tendo pássaros ao seu redor. Voava nos braços dele. Ele passou um dos braços dela ao redor de seu pescoço, e ela percebeu que ele andava agora, e fazia isso a passos largos e rápidos. Tinha pressa. Daí ele parou.

Violet pegou no sono novamente. Viu-se balançando no quintal de sua casa, quando de repente uma das cordas do balanço se rompeu e ela desabou no chão. Ela caiu, abriu os olhos, e viu-se no corredor do hospital, sentada no chão, apoiada na parede. Enxergou também o pai, na sacada de casa, olhando e acenando para ela. Ela escorregou pela parede até deitar-se no chão frio, esticando a mão na direção dele, uma lágrima brotando de seus olhos.

—Papai...

Ela viu-o desaparecer, sendo substituído pelo corredor esverdeado. Mais à frente, um homem de casaco azul escuro, segurando algo na mão. Violet não divisou o que era. E a mão que ela estendera, estava molhada de sangue. O homem veio em sua direção, e ela tentou se levantar, arrastando-se para trás. Ele a segurou, segurando seu pulso. Checava o coração dela.

—Violet... — ele sussurrou. — Violet, aguente só mais um pouco.

Ela pendeu com a cabeça para trás, os olhos semi-abertos, e viu um vulto caído no chão, tendo um borrão vermelho ao seu redor. Ela ficou sem ar, lágrimas escorrendo de seus olhos.

—Deus...

Ele puxou o corpo dela para si, erguendo-a do chão novamente, voltando a caminhar, mantendo seus movimentos inaudíveis. Violet reabriu os olhos, finalmente vendo que aquilo nas mãos dele era um revólver. Havia algo muito errado, havia uma pessoa morta no corredor. E ela estava tão drogada que, se fosse deixada sozinha, seria presa fácil.

Ele parou novamente, colocando-a no chão, dessa vez com cuidado. Colocou dois dedos sobre a carótida dela, daí se levantou, arma em punho. Violet perdeu a consciência mais uma vez, e quando a recuperou parcialmente, viu-o caminhar por um bosque cheio de pedras grandes com limo vermelho. Ela tentava se mexer, queria segui-lo por aquele bosque tão bonito. Mas aí uma das pedras se mexeu.

Sherlock ajoelhou-se ao lado daquela enfermeira, tentando estancar o sangramento. Seu celular por algum motivo estava sem área, assim não conseguiu pedir ajuda. Tentara vários telefones, mas estavam desligados. Ele olhava ao redor, atento a qualquer movimento ou som suspeito. E a enfermeira morreu em seus braços.

Ele soltou um rosnado de ódio, voltando os olhos para Violet. Ela estava encostada na parede, completamente sedada. Mas guerreira como era, forcejava para acordar. Pessoalmente, Sherlock preferia que ela não acordasse...

Violet viu Sherlock sentar-se numa das pedras, e ficar assim algum tempo. Ele a encarava agora, e ela sentiu que dormiria de novo. Daí ele a pegou novamente, voltando a andar. Após algum tempo, Violet sentiu frio. E gotas. Chovia sobre ela. Ele a envolveu em seu casaco, voltando a caminhar. Ela sentiu-se segurada apenas por um braço, daí foi colocada num lugar quente e acolchoado. Um carro. Ela pôde escutar as portas fechando, e o barulho da chuva tornou-se baixo e abafado.

—Violet, — ela escutou numa voz ofegante. — fique comigo... Vou levá-la a um lugar bom.

***

Roxanne!

—Pelo amor de Tesla, cale a boca!

—You don’t have to put on the red light!

—Graham!

Roxanne!

—Estou tentando compreender a críptica da elíptica, mas não obterei sucesso se vocês continuarem brigando feito gatos.

O Prof. Abner Graham abaixara o livro de diante de si, olhando repreensivo para os dois senhores idosos à sua frente. Um deles tinha um prato com käsespätzle fumegante e um garfo nas mãos. O outro postava-se ao lado de um aparelho de som mp3, e tinha a pose de um cantor de ópera. O que tinha o prato nas mãos, Prof. Karl Hombach, sacode a cabeça negativamente.

—Não posso degustar prazerosamente meu jantar com este velho a cantar uma canção dedicada a uma prostituta!

—Verdadeiro amor! — exclama o Prof. Nathan Godel, dançando valsa pela sala. — Não importa o que a pessoa amada seja, você irá amá-la incondicionalmente.

—Vou fincar-lhe este garfo incondicionalmente, espere um pouco.

—Calados, estão me fazendo ter indigestão.

Hombach vai até o aparelho e o desliga. Godel bufa de raiva.

—Seu paquiderme estúpido!

—Ouça suas porcarias em outro lugar!

—Eu estava me imaginando a cantar para Satine!

—Quem diabos é Satine?

—Parem com isso, em nome dos patronos da Ciência! — Graham se levanta, fechando o livro audivelmente. — Não consigo me concentrar, vocês não conseguem passar um nano segundo sem brigar! Continuem assim, e vou colocá-los para dormir no mesmo quarto!

—É você que tem problemas para se concentrar!

—Aonde vai?

—Pensei ter visto um carro parar em frente ao portão. — ele caminha até a janela, cerrando os olhos. — Não consigo ver nada com essa chuva. Godel, me empreste seus óculos... — Godel para ao seu lado, e lhe dá os óculos. — Seus óculos não me servem mais, que maldição...

—Você devia comprar os seus próprios.

—Saiam da frente. — Hombach passa pelo meio dos dois segurando um binóculo. — Sim, há um carro. — ele joga o binóculo sobre a mesa, e sai andando.

—Aonde você vai?

—Vou ver o que é.

—Pode ser só alguém chegando tarde de algum lugar...

—Mas não é. — Hombach veste seu casaco e chapéu. — Alguém veio nos visitar.

—Mas como você viu isso a esta distância?

—Não vê que está chovendo, homem?

—E por acaso minha mãe me esculpiu em açúcar? — ele abre a porta, tirando um guarda-chuva do guarda-pó. — Esperem aqui.

Hombach desce as escadas silenciosamente, procurando não acordar ninguém, especialmente as enfermeiras, e chega ao hall principal. Abre a porta, abrindo o guarda-chuva, e cruza o caminho de pedras sobre a grama, indo até o portão. Ao chegar lá, tem um sobressalto.

Mein Schatz!

—Prof. Hombach... — Sherlock disse, encolhido no meio da chuva. A porta do carro estava aberta e amassada, e o professor pôde ver uma moça desacordada ali dentro. Mais que isso, viu uma mancha de sangue na camisa de seu antigo aluno. — Me ajude.


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