Cachecol Azul e Cabelo Vermelho escrita por Lirah Avicus


Capítulo 15
Capítulo 15




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Sally Donovan cruzou os braços. Ela tinha o costume de fazer isso. Fazia-o sempre que estava espantada, nervosa, ou ambos. Encontrava-se na sede da Scotland, lugar que, para ela, era quase como sua casa. Talvez não como sua casa. A Scotland era mais importante. No entanto, parada ao lado da mesa de interrogatório, tendo um mendigo maltrapilho algemado e sentado à sua frente, ela estava nervosa. Talvez não espantada. Mas com certeza nervosa.

Ela cruzara os braços. O mendigo fez o mesmo.

—Então você foi pago?

—Sim.

—Por quem?

—Já disse que eu não sei.

—Isso é muito conveniente.

—Quem me contratou também pensou assim.

—Te contratou? — Sally soltou uma risadinha zombeteira. — Você costuma oferecer esse tipo de serviços?

O mendigo se aprumou na cadeira.

—Eu sou um empresário, faço o que quer que me dê dinheiro.

A sargento observou bem o mendigo. Era mal vestido e imundo como qualquer outro, e cópias quase idênticas a ele poderiam ser encontradas em qualquer esquina ou beco sujo. Cópias tão vis e dispostas a fazer qualquer coisa quanto ele. Sally franziu o nariz. Seu desprezo pelo mendigo apenas aumentou. Olhou de soslaio para o vidro refletor atrás de si, vendo a si mesma com perfeição, daí prosseguiu com o interrogatório.

—Estou impressionada. — Sally havia sorrido, mas desfez o sorriso rapidamente. — Pena que não tem muitas formas de se conseguir dinheiro na cadeia... Não sem arriar as calças.

—Já fiz coisas piores, dona.

Dimmock segurou uma risota. Detrás do vidro, ao lado de Sherlock, observava o interrogatório conduzido pela Sgt. Donovan.

—O que será que esse homem já fez?

Sherlock não o olhou.

—Quando você tiver de fazer o mesmo tenho certeza de que não achará tanta graça.

Dimmock fechou a cara, cruzando os braços e emburrando. Voltou a observar o interrogatório.

Donovan apoiou-se na mesa, baixando a cabeça até pode olhar o mendigo no mesmo nível.

—Escute aqui, boca de fosso... Melhor começar a cooperar de verdade, a falar tudo o que quisermos saber, ou vamos te mandar...

—Para a prisão? — o mendigo solta uma gargalhada. — Eu moro na rua, dona! Uma prisão é um hotel cinco estrelas! Terei um teto sobre minha cabeça, comida na hora certa e um colchão fofinho! Não terei muito espaço para trafegar, mas para quê eu vou querer espaço para caminhar, já caminhei por estas malditas ruas o suficiente por uma vida inteira, quero mesmo é descansar. Na prisão terei conforto, calor e alimento. O que mais posso pedir para minha vida?

—A moça que você atacou estava protegida por oficiais armados com permissão para atirar. Você poderia ter morrido.

—Um perigo real, mas no final valeu a pena.

—Fala por seus amigos cujos corpos mandamos para o legista?

—Não somos amigos, é cada um por si, são as regras da rua.

—Quem te contratou entrou em contato com cada um de vocês ou contatou apenas um e este chamou o resto do bando?

—A primeira opção. — o mendigo limpou a garganta. — Estávamos juntos certa noite, nós cinco, estava muito frio então acendemos um foguinho num latão e formamos um círculo ao redor para esquentar. Foi então que ele apareceu.

—O que ele disse?

—Ele nos cumprimentou, sempre escondendo o rosto. Usava um casaco bonito com touca, parecia caro. Achamos que era só mais um idiota, pensamos em assaltá-lo, mas antes que fizéssemos alguma coisa ele disse: “Quem der o primeiro passo eu penduro pelas tripas na Ponte Blackfriars.” Nós obedecemos.

—Mesmo?

—Preferimos não testar se o sujeito tinha palavra ou não.

—Muito inteligentes. — ela disse, sarcástica. — E então?

—Ele perguntou se queríamos ganhar dinheiro fácil. Essa é uma pergunta meio idiota a se fazer para um mendigo, é claro que queremos dinheiro, fosse fácil ou difícil, aí ele atirou um maço de dinheiro na direção da fogueira. Eu agarrei.

—Bom reflexo.

—Eu não podia deixar que ele atirasse dinheiro no fogo, eu estava passando fome, droga! Foi então que ele se aproximou de mim e disse: “Você...” — o mendigo apontou para Donovan, imitando o que acontecera. — “Escolha outros quatro que não sejam imprestáveis, vá até o cemitério Brompton e matem essa moça.” Daí ele me mostrou uma foto no celular dele.

—Ele disse dessa forma?

—Disse.

—E vocês obedeceram prontamente?

—Ficamos meio desconfiados do cretino. Eu abri o maço e havia 100 euros. Formamos uma roda em volta daquele dinheiro, não víamos tanto dinheiro junto há séculos. Quando levantamos os olhos o homem havia sumido. Daí discutimos como iríamos encontrar a vadia e matá-la.

—Simples assim?

—Simples assim.

—Foi simples assim? —pergunta Dimmock para Sherlock.

—Não, não foi.

Donovan cerrou os olhos.

—Não acho que 100 euros convenceriam tão fácil alguém a matar.

—Você não conhece nossa realidade. Nem espero que algum dia chegue a entendê-la. — o mendigo fungou. — Temos de nos curvar a certas coisas para conseguirmos sobreviver, a vida não é tão gentil para nós quanto é para os outros, nós sim comemos o pão que o diabo amassou.

—Estou sensibilizada... — Donovan disse, pegando sua pasta e se retirando da sala. — Acho que vou pedir para que te deem perpétua só para você não voltar para as ruas.

Ela fechou a porta, dando alguns passos no corredor e entrando na porta ao lado, aproximando-se de Dimmock e Sherlock, entregando ao detetive a pasta do suspeito.

—Thadeus Lieberman, 27 anos, morador de rua, várias passagens pela polícia. — Dimmock abre a pasta. — Roubo à mão armada, depredação, prisão, resistência a prisão... Enfim... — ela suspirou. — Ele é um idiota.

—Ele foi o único que sobreviveu dentre os atacantes ao ocorrido no cemitério. — comenta Dimmock.

—Não vai durar muito. — diz Sherlock.

—Mesmo?

—Considerando o histórico do assassino logo ele voltará metido num saco preto.

—E o que faremos?

Sherlock dá de ombros.

—Solte ele.

—Mas você acabou de falar que ele vai ser morto! — protesta Donovan.

—Ah, agora vocês estão preocupados? — Sherlock pega a pasta da mão de Dimmock, abrindo a porta. — Deem-me 5 minutos.

Sherlock retira-se daquela sala, que era escura e apertada, e entra na sala de interrogatório. Esta não é ampla, mas tem pintura clara e é bem iluminada. O mendigo o vê entrar, e respira fundo.

—Que droga... — resmungou. — Por que eu não podia continuar conversando com a morena bonitona?

Sherlock sentou-se. Colocou a pasta sobre a mesa. E juntou as mãos sobre a pasta.

—Você mentiu para ela.

—O quê?

—O que ele ameaçou fazer?

—Como assim?

—O que ele fez?

—Eu não sei do que você está falando!

—Quem ele matou?

—Seu filho da...

—Quem ele vai matar?

O mendigo o olhou de forma triunfante.

—Você não vai tirar nada de mim.

—Já tirei. — Sherlock recosta-se na cadeira, observando o mendigo. — Você recebeu dinheiro, seus amigos foram ameaçados, você os ameaçou.

—Eles não...

—Sim, eles eram seus amigos, cresceram juntos na rua, mas ele pagou você para ameaçá-los. Não sei ainda o que mais ele fez com você, mas de qualquer forma deu certo. Ele pegou um deles, eles se assustaram, e você imaginou que, fazendo o que o assassino te pediu, você sairia com o dinheiro e nenhuma baixa. Não devia ter feito o que fez, foi desperdício, seu amigo já estava morto, e agora todos os outros se juntaram a ele.

O mendigo baixou o olhar. Balançou a cabeça de forma negativa.

—Não, eu falei a verdade...

—Ele te pagou e você fez o resto.

—E que escolha eu tinha?! — o mendigo exclamou. — O cara ia me matar se eu não fizesse o que ele mandou, e ele tinha pegado o Jerry, eu não queria ser o próximo! Acha que a polícia daria a mínima para um ou mais mendigos mortos encontrados num beco no meio da madrugada? Não, ela se importa com uma vadia de classe alta que deve ter feito o que não devia, e por isso está encrencada, mas encontrá-la morta é chocante demais para essa cidade! Não me sinto mal, fiz o que devia fazer para sobreviver!

—Não fale assim, está partindo meu coração...

—Você parece durão, mas não é... — o mendigo abriu um sorriso desdentado. — Eu vi como você protegeu aquela cadelinha, aquela cadelinha do cabelo vermelho, você tomou uma bordoada por ela... Você quer pegar ela? É isso? Eu não te culpo, ela é bem gostosa.

Sherlock apoia o queixo numa das mãos.

—Estou aqui imaginando dois caras falando assim de você na cadeia.

—Prefiro aguentar alguns tarados a ser estripado com um canivete.

—Interessante você saber que ele usa canivete...

—Você está tentando bancar o espertinho, mas eu não vou te dar nada, você vai ter de sair farejando feito o cachorro que você é.

—Se não me der o que quero eu farei eles soltarem você.

Silêncio. O mendigo titubeou. Estudou Sherlock com atenção, talvez tentando adivinhar se ele faria mesmo o que disse.

—Não faria isso.

—Quer me testar?

—Não tenho medo.

—Terá.

—Eu vou para a prisão.

—Não, não vai, vai morrer primeiro.

—Eu não vou morrer, ele me disse...

—Ele disse? — Sherlock sorriu. — Você acredita nele... Fantástico... — ele solta um suspiro cansado. — Estou cansado de falar com você, você é extremamente estúpido, façamos um trato, você me conta o que sabe e eu te mando para Pentonville, o que acha?

O mendigo juntou as mãos sobre o colo. Respirava rápido e superficialmente.

—Todos deviam fazer isso, se fossem inteligentes! Não há polícia, não há trancas, não há nada que vai impedi-lo de ter o que ele quer, e eu não quero estar no caminho dele.

—E o que ele quer?

—Sangue. — disse o mendigo. — Muito sangue. Ele vai matar todo mundo, a começar pela vadia do cabelo vermelho...

—Ele estava no cemitério?

—Estava. Mas não ficou para ver o show, ele é muito discreto, se é que me entende, ele só queria acuar um pouco mais a presa dele... — o mendigo deu um meio sorriso. — Que boneca... É uma pena, eu teria pegado ela de jeito se vocês não tivessem se metido no assunto... Mas agora não importa, todo mundo vai morrer.

—Inclusive você.

—Eu fiz o que eu tinha de fazer... Cumpri meu objetivo. Ajudei a limpar o mundo.

—De quê?

—Ninguém está seguro. Nem mesmo a cadela ruiva. Vocês podem tentar protegê-la, mas no final ela vai acabar como todas as outras... — o mendigo voltou a cruzar os braços, sustentando um ar altivo. — Um saco de carne sem vida. Ele vai brincar com ela e depois... — o mendigo passa o dedo indicador pela garganta. — Quando ele marca um alvo, essa pessoa morre e pronto.

—Ele parece encantador...

—Poderá conhecê-lo se não parar de atrapalhá-lo.

—Eu o atrapalhei? — ri Sherlock.

—Ele citou você. Foi num resmungo, te chamou de intrometido.

—Fascinante.

—Estou feliz por que vou viver para ver você ser morto.

—Você vai morrer. — disse Sherlock, sua voz saindo como que de um computador. — E eu estou feliz com isso, por que terei mais um corpo decapitado para montar meu quebra-cabeça.

—Talvez o próximo corpo decapitado não seja o meu! — o mendigo tremia ao falar. — Tem coisa grande vindo, ah, se tem, e eu vou poder assistir de camarote você e a polícia tomando bonito. E aquela vaca? Ela vai estar pendurada pela garganta na porta da sua casa, com aquele cabelo lindo balançando ao vento!

—Poético. — diz Sherlock, se levantando. — Ainda não sei se você está apaixonado pela tal “vadia do cabelo vermelho”, ou se está apaixonado pelo assassino, mas prometo descobrir logo. Vejo você no Barts. — Sherlock abre a porta. — Seja um defunto bonito.

***

John Watson estava sentado ao lado de uma das mesas da Divisão de Detetives da Scotland Yard. Entrelaçava os dedos vez após vez, fazendo nada, olhando para o nada, sem pensar em nada. Sentia-se profundamente desconfortável. Ultimamente ele estava indo muito lá.

Violet Hunter estava ao seu lado. Estava ainda com a mesma roupa que usara no enterro interrompido, assim como ele e Sherlock. A diferença é que seu vestido estava rasgado em dois lugares. E o cabelo estava desgrenhado. Mas parecia calma. Não dissera mais que duas palavras necessárias desde que chegaram, mas de qualquer forma não parecia à beira de um ataque de nervos. Uma enfermeira viera ver seus ferimentos, passara algo no machucado em seu joelho que certamente ardera, mas ela não reagiu. Devia estar realmente calma, pensou John. Ou em choque.

Lestrade não estava lá. Deixou que olhassem seus ferimentos, todos superficiais, e retirou-se dizendo qualquer coisa, não mais retornando.

Mary não ficara. John insistiu para que ela fosse embora, pois a boa Sra. Watson estava visivelmente agitada, e isso não era bom. Não era bom para o bebê. Dimmock viera, perguntara algumas coisas, mas Violet simplesmente virou o rosto para o lado oposto e deixou que John respondesse a tudo. E ela estava do mesmo jeito, inexpressiva e quieta, sentada ao lado de John, com as mãos sobre o colo. Era melhor mesmo que ela ficasse assim, daria um tempo para sua mente se recuperar. Todos precisamos de um tempo em absoluto silêncio.

John pegou seu celular. Entrou na seção “Contatos”, e foi escorregando pelos vários nomes que ali se encontravam. Logo parou em um nome. Ella Thompson. Sua terapeuta. Ele olhou para Violet. Já algum tempo ele mimava uma ideia, mas sempre imaginava quando seria o momento certo para comentá-la ou sugeri-la. Naquele momento ele percebeu que o momento certo não existia, e que ele teria de escolher qual seria o momento menos errado. Concluiu que era aquele. Colocou a mão no ombro de Violet, que virou a cabeça na direção dele.

—Violet, eu estava pensando...

Uma porta se abriu, chamando a atenção de todos. Dois policiais carregavam consigo Thadeus Lieberman, o mendigo, que permanecia algemado e caminhava com dificuldade, atrapalhado pelos dois homens que imobilizava seus movimentos. Todos abriram caminho no corredor, e John contentou-se em observar o cretino, e em torcer para que ele tivesse um colega de cela bem esquisito.

O mendigo olhava ao redor enquanto andava, e ao avistar Violet, abriu um largo sorriso.

—Ei, princesa, tome mais cuidado no próximo enterro! — riu.

Violet se levantou, interpondo-se no caminho dos policiais. John também se levantou, preocupado com o que poderia acontecer, e permanecendo ao lado dela.

—Canalha! — ela cuspiu, seu rosto endurecido e tenso. — É bom que você pense em janelas, por que não tem nenhuma para onde você vai!

—Só de te ver agora, boneca, toda nervosinha, eu já vou ter razões suficientes para me alegrar durante anos sem janelas.

—Como se atreve? — a voz dela tremeu. — Você desrespeitou uma pessoa boa e decente! Devia ter vergonha!

O mendigo torceu o nariz.

—Querida, se me pagassem eu até mijaria na cova dela.

John não esperava aquilo. Ninguém esperava. Mas Violet cerrou o punho e desferiu um soco no rosto do mendigo, que o fez cambalear para trás. Alguns policiais soltaram exclamações de espanto, alguns correram para afastar o mendigo, e outros apenas se levantaram da cadeira para ver melhor. John segurou Violet pelos braços, puxando-a na direção contrária, e ela se debatia para atacar o mendigo novamente.

—Desgraçado! Maldito! Me larga!

—Tire ela daqui! — ordenou um dos policiais para John.

Os policiais puxaram o mendigo para longe dela, este soltando pragas e palavrões enquanto seu nariz sangrava, e o levaram rapidamente para fora. John puxou Violet por entre as pessoas, desejando sair daquele bolo de gente que se formara, e conseguiu carregá-la até um corredor menos movimentado. Sorte os policiais serem menos curiosos e intrometidos que as pessoas comuns...

—Me solta, John! — ela exclamou. Ela se debatia, mas obviamente uma mulher comum não conseguiria se livrar da imobilização de um soldado.

—Eu te solto se você se acalmar! Vamos, se acalme!

Ela parou de se debater subitamente, e continuou assim. Ele a soltou, deixando-a se encostar na parede, recuperando o fôlego. Ela segurava a mão que desferira o golpe à frente do peito, agora ensanguentada e com marcas roxas, e controlava a respiração. Fechou os olhos, apertando os cílios e se proibindo de chorar.

—Eu queria matá-lo...

—Não ia adiantar nada. Não honraria a finada, e lhe causaria ainda mais problemas.

—Eu odeio aquele homem! — suspirou, derrotada.

—Qual deles? — pergunta John. Ela o encara, e quase ri.

—São vários, não são?

John sorri.

—São sim.

Alguns policiais se aproximam. Donovan à frente deles. Seus olhos logo pousam sobre a mão ferida de Violet.

—O que aconteceu?

—O que você fez? — Dimmock surge, seus olhos acusadores fincados em Violet.

—Ela deu um belo soco no homem que tentou matá-la. — diz John. — Não faria o mesmo?

—Tem ideia do problema que poderia causar a si mesma?

—Não. — responde Violet. — Eu só bati nele.

—Onde está Sherlock? — diz John.

—Ele saiu. — Dimmock gesticula nervosamente. — Eu não sei para onde ele foi e não importa, ela bateu no mendigo!

—E arrancou sangue. — murmura um dos policiais. Outros disfarçam tímidos sorrisos.

—Bom trabalho, garota. — sorri Donovan.

—Muito bem, incentivem a violência. — resmunga Dimmock. — Este é o trabalho da Scotland, não é? O show acabou, vão trabalhar!— Dimmock dispersa os policiais, e aponta para John e Violet. — Não quero ver a cara de vocês por enquanto, vão para outro lugar do prédio!

Dimmock sai andando, nervoso, e John leva Violet pelo outro corredor. Eles descem as escadas, indo em direção à saída.

—Para onde vamos?

—Você verá, mas antes temos de achar um taxi. — eles atravessam a calçada, e John assobia para o primeiro carro negro e reluzente, com marcas xadrez na lateral, que passa. Eles entram, e John diz o endereço.

—Quem mora nesse lugar? — pergunta Violet.

John vira-se para ela, montando as frases com cuidado em sua mente.

—Eu estive pensando: você não reconhece rostos, mas deve haver algum outro jeito de reconhecer pessoas, cegos reconhecem pessoas, hum, pessoas com problemas de vista conseguem reconhecer pessoas, por que você não pode?

—Tudo bem.

—Acho que posso te ajudar nisso, não necessariamente eu, mas uma amiga minha. Ela me ajudou muito no início de minha estadia aqui em Londres.

—Uma amiga?

—Ela é terapeuta, é uma excelente psicóloga, não sei se ela é especializada em pessoas com o seu problema, mas tenho certeza de que poderá ajudar.

Violet baixa o olhar, pensativa.

—Acha que ela pode me treinar a reconhecer pessoas?

—Sim, eu acho. O assassino está agindo livremente por que não sabemos quem ele é, e você não pode ajudar. Mas se você treinar, se conseguir aprender, poderá começar a reconhecer as pessoas. E se você reconhecer pessoas... — John a encara. — Poderá reconhecer o assassino.

***

Mycroft Holmes revirou os olhos. Observando o policial ao seu lado, que estava a segurar seu polegar sobre a pequena placa de vidro, achava-o completamente idiota. Apenas alguns segundos e o policial perceberia que não tinha permissão nem mesmo para tocá-lo, quanto mais para exigir que se checasse sua identidade. Mas no fim não podia culpá-lo, era o trabalho dele e com certeza ele era burro demais para reconhecer um passe real e ilimitado, tal qual o que Mycroft, e talvez mais umas três pessoas em todo o Reino Unido, possuíam. Mycroft respirou fundo. Que demora...

O computador apitou. O policial leu as informações, ficou um pouco mais pálido que o natural, pediu desculpas pelo incômodo e permitiu que Mycroft passasse. Ele caminhou por aquele longo e largo corredor, vendo um homem gordo e baixo, vestindo um terno modesto, caminhar em sua direção. Este chegou, e sorriu nervosamente.

—Sr. Holmes, que prazer tê-lo aqui. — o homem estendeu a mão, Mycroft não fez o mesmo. Aquele era o diretor da prisão Pentonville, mas era apenas isso. O homem guardou a mão para si, visivelmente constrangido. — Espero que meu pessoal da Biometria não o tenha aborrecido.

—Me aborreceram sim. — disse Mycroft. — Fará algo a respeito?

O diretor engoliu em seco.

—Sim... Sim, claro... Mas é... É que...

—Não gagueje, por favor.

—O senhor chegou de repente, não nos avisou...

—Os assuntos com os quais lido exigem velocidade, destreza e resiliência. Precisa estar sempre preparado para eventualidades se quiser permanecer onde está.

—Com certeza... Disseram-me que o senhor quer conversar com um dos presos?

—Está perguntando ou...

—Disseram isso.

—Está correto.

—E me disseram também com quem o senhor quer falar.

—É um problema?

—Sr. Holmes, veja bem, eu estou preocupado com sua segurança, ele teve uma crise ontem e...

—Coloque-o na sala de interrogatório, Sr. Hopper, imobilizado e com dois guardas armados de cada lado, além de um contingente armado do lado de fora em alerta, e faça isso em 10 minutos, ou lhe entrego sua demissão em 5, fui claro?

—Perfeitamente.

O diretor, Sr. Hopper, saiu andando o mais rápido que suas perninhas curtas e rechonchudas permitiam, e Mycroft observava-o andar. Que visão patética...

Em 6 minutos, foi-lhe avisado que a sala estava pronta, e o preso à caminho. Mycroft sorriu, acompanhando o policial que viera buscá-lo. Finalmente conheceria a pequena aranha que ele mesmo, indiretamente, prendera naquele lugar...


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Notas finais do capítulo

Oh, meu Deus... A autora desta história está viva rsrs
Após séculos de ostracismo estou de volta com mais um capítulo de minha querida história. Minha demora não pode ser explicada, mas também não me importo. O capítulo está aí, e estou feliz com isso. Bjos a todos os meus queridos que estão lendo isso!
PS: Eu sempre quis ouvir o Sherlock dizer "Fantastic!" Será que ele diz isso na série e eu esqueci?



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