Magnólia

Sentou-se no gramado de um tom forte de verde. Era um verde-escuro que contrastava com seu casaco azul marinho. Sobre as coxas, Sasuke apoiou um caderno de desenho grosso, aberto numa página em branco. Apontou o lápis mediano e segurou-o entre os dedos, esperando pacientemente, como algum religioso espera que suas preces sejam atendidas. Ao contrário dos religiosos, ele sabia que não precisava pedir.

A mulher vinha todo sábado e todo domingo. Ele não via sombra dela durante a semana, mas isso não o machucava, ele ainda conseguia vê-la mesmo quando ela não estava ali. Carregava consigo uma marca que ela deixara; um buraco no peito, uma coisa que já não podia ser revertida. Um machucado feio, porém invisível para os outros.

Como esperado, lá estava ela. Parecia leve em sua saia até os joelhos, as alças da blusa lilás caindo pelos ombros estreitos. Sentava-se à poucos metros deles, mas nunca o via. Sorria para o horizonte, aproveitando a paisagem que Sasuke já não enxergava. Pois só a enxergava. No tamanho do campo, entre poucas flores que cresciam ali, no sol forte e quente ao fundo, no céu azul sem nuvens, ela era a única que ele podia ver.

Ele retratou aquele sorriso leve com a maior fidelidade que conseguiu – o começo do desenho. O começo de mais um desenho. E então veio o nariz arrebitado, o rosto redondo e o cabelo escuro. Apertava o lápis forte contra o papel quando precisava fazer o cabelo dela. Era como um pedaço do mar durante a noite. Um brilho escurecido que escorria pelas costas. Costas pálidas, por que a pele dela era quase transparente, cheia de sardas irregulares até onde ele podia ver. O rosto, porém, era limpo, completamente limpo, mesmo que as bochechas e a ponta do nariz vivessem avermelhados. Desenhou, então, o corpo. As pernas longas tomaram a maior parte da folha.

Quando errou, procurou a borracha para apagar o que fizera. E ele, o homem escondido debaixo de uma árvore, acolhido pelas sombras e deixando que os raios solares fossem dela, e apenas dela, pensou consigo mesmo. Tirou os olhos do papel e encarou a silhueta já conhecida por seus olhos, mas desconhecida por suas mãos, por sua boca. Há quanto tempo estava ali? Há quanto tempo ele vinha a observando, desejando-a? Esperando que ela o descobrisse? Ou, melhor, esperando que ela nunca soubesse? Que nunca soubesse de seu admirador secreto obcecado? Ele saiu de seu devaneio e olhou ao redor, para longe de onde ela estava. A grama parecia ter ficado mais clara, o sol se punha no horizonte escondido. Havia flores desabrochadas. Botões prontos para serem abertos.

Primavera, era a resposta. Estava ali desde a primavera. Ela havia chegado no começo, mas, como ocorre com toda flor, iria embora no final. Desapareceria murchar no inverno, era o que significava.

Sasuke suspirou e bateu o outro lado do lápis, a borracha, numa parte vazia da folha com o desenho terminado. E, como fazia todo o dia, ele decidiu o nome daquela página. Magnólia. Marcou no topo, olhando as pétalas que caiam da árvore enorme na sua frente. Sua flor. Sua mulher. Seu amor.