Inserção escrita por Yennefer de V


Capítulo 4
Godric's Hollow




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Quando Luna entrou na Horus pela primeira vez desejou ter uma porção de olhos.

Neo mexia em milhões de botões, telas e cabos enquanto Niobe fazia a nave deslizar por tuneis subterrâneos serenamente. The Kid era o nome do quarto componente da Nave do Juízo na missão especial de Neo para conhecer Hogwarts.

The Kid fora despertado ainda adolescente de Matrix. Agora era um homem. E era o operador mais especial de Zion. Tinha confiança total de Neo e um filho da mesma idade de Luna e Lily. Tiago, seu primogênito, tinha onze anos.

Neo não parecia muito satisfeito. Só aceitou levar a filha para a esposa sentir que as duas meninas tiveram a mesma experiência. Na verdade, sentia aquela espécie de acaso interferir em sua liderança exatamente como quando vivia em Matrix e não gostava da sensação. Preferia acreditar piamente que tinha controle sobre tudo. Sobre Zion e o despertar dos habitantes de Matrix.

The Kid era uma das poucas pessoas (além de Trinity e Morpheus) que Neo ponderava em decisões sobre sua obsessão por Hogwarts. Se fosse por Neo (e se tivessem naves e capacidade o suficiente) eles simplesmente despertariam o mundo inteiro de Matrix sem pensar em consequências negativas.

The Kid foi despertado na época da guerra contra as máquinas. Seus pais em Matrix acreditaram que ele morrera quando foi para Zion. Ele virou um perito em realidade virtual mais tarde.

Neo bagunçou os cabelos da filha que estava fuçando pela nave e chegou até The Kid. O homem de pele morena e olhos escuros não estava olhando em tela alguma ou mexendo em botões. Ele olhava uma mesa de vidro quase invisível que criava uma ilusão de pequeninas pessoas e cidades inteiras para cima. Eram pequenos hologramas que se sobrepunham. The Kid os modificada em códigos difíceis que Neo reconhecia bem.

– Então? – perguntou Neo.

The Kid quase deu um pulo de tão absorto que estava.

– Temos um problema, cara. – anunciou de súbito.

Neo estreitou os olhos por trás da venda criando rugas de expressão só por hábito.

Niobe olhou para trás em seu posto de capitã e Luna chegou mais perto da mesa.

– Há esta sobreposição em Matrix chamada Hogwarts.

– Certo. Eu acompanho desde o começo. – Neo franziu mais a testa.

– Desculpe. – Luna interrompeu os adultos. – Como é que funciona esta tal sobreposição?

Neo abriu a boca para cala-la. The Kid, no entanto, explicou:

– Imagine que garotas da sua idade são especiais e podem acordar de Matrix sem problemas. Certo?

Luna piscou assentindo.

– Então criamos um mundo todo para abrigar estas pessoas especiais. Há escolas e lojas. Há casas e há ruas. Há famílias inteiras que são especiais. Nós os chamamos de bruxos. E então as crianças serão escolhidas e irão para a escola e poderemos separa-la das crianças que não aceitariam que Matrix é uma ilusão. Também temos os adultos especiais.

– E como é que eles acreditam que os bruxos sempre existiram e eles próprios sempre foram bruxos e o mundo sempre foi assim? – perguntou uma Luna sagaz. – Se eles terão que acreditar que as lojas e a escolas sempre existiram... – ponderou Luna.

Até Neo sorriu. A nave tremelicou.

– Memórias implantadas. – respondeu The Kid - Em todos que fazem parte da nova atualização. Pais, professores e crianças.Velhinhos e bebês. Não deu certo no começo... alguns enlouqueceram ou morreram ... Dois deles, Alice e Frank...

Neo fez um gesto para The Kid se calar. Ele sempre falava demais.

Os dois enormes olhos de Luna brilharam de excitação.

– E o que é isto que você estava fazendo aí? – perguntou Luna apontando para a mesa.

– Estava testando inserir hologramas. Pessoas de mentira que conviverão um pouco com as pessoas de verdade para que não mudem tanto o curso da história. Porque a humanidade sempre constrói sua própria história por causa do livre-arbítrio Só queremos ter um certo controle. – The Kid olhou com significação para Neo quando proferiu as últimas palavras.

– Entendi. – assentiu Luna. – E quem são os hologramas?

– Sua irmã Lily. – riu The Kid – E meu filho Tiago.

Neo torceu o nariz.

– Eu os fiz mais velhos para que comecem nossa história na atualização. A história que não exija memórias implantadas. – explicou The Kid.

– Lily não vai gostar disso. – Luna mordeu os lábios inferiores. – Mesmo sendo de mentira.

– Infelizmente não. – Neo apertou seu ombro e fez cara de riso. Depois percebeu o tempo que estava perdendo e completou – O que há de errado? – seu rosto encontrou a altura dos olhos de The Kid.

– Eu inseri os hologramas. E Matrix reagiu a eles. Um tipo de antivírus superconcentrado que quer reunir todos os bruxos especiais ao invés de nos deixa-los acordar. Matrix acha que Hogwarts é um vírus que pretende tira-los de lá. Erradicar os humanos de sua ilusão. Não deixa de estar correta... – sussurrou The Kid.

Neo esperou que ele continuasse.

– Apelidei o antivírus de Voldemort. – The Kid deu de ombros. – Ele está criando uma história para si mesmo. Está se adaptando. Quer que os bruxos fiquem em Matrix.

– Não dá para combatê-lo? – perguntou Neo mesmo que já soubesse a resposta.

– Infelizmente não. Mataria todas as pessoas de Matrix. Todos os corpos cujas mentes estão ligadas à ilusão.

– Por quê? – perguntou Luna.

– Inserimos a atualização Hogwarts na fonte de Matrix. Para que nenhuma pessoa ficasse de fora. Não achamos que nossa boa ação seria desprezada pelas pessoas na ilusão. Então se matamos a fonte, matamos as mentes ligadas a ela. Matamos toda Matrix.

Neo se inquietou.

– Me mostre.

– Vou poder ver Hogwarts, papai? – perguntou Luna saltitante, acordando o pai de seus devaneios.

– Através da tela. – respondeu Neo, indicando um largo monitor.

Luna fez cara feia.

– Não vou poder adentrar Matrix?

Até Niobe se embasbacou lá na posição de piloto.

– Isto nunca foi feito, Luna. – respondeu calmamente antes que Neo começasse a berrar. – Porque quem vive em nossa realidade é grato por não ter que escolher entre a ilusão e a verdade. É uma escolha difícil.

– Mas puderam escolher, não puderam? – perguntou Luna com simplicidade.

Neo arqueou as sobrancelhas para ela sem poder realmente enxerga-la.

– Que quer dizer?

– Que eu tenho o direito de acreditar no que eu quiser. Afinal é minha realidade. – Luna deu de ombros como se fosse obvio.

– Matrix é uma prisão. – frisou Neo esquecendo que ela era apenas uma criança, indignado.

– Para você. – rebateu Luna.

Niobe fez uma curva e estacou a nave no ar, indicando com um polegar no alto que estavam em posição de Neo se conectar.

– Fique com Niobe e The Kid. Me siga através da tela. – murmurou Neo dando um beijo na filha.

Esperava que ela esquecesse tudo aquilo ao ver sua empreitada por Matrix com aqueles grandes olhos azuis. Ainda tinha o problema que o perito chamou de “Voldemort”.

Niobe se levantou. A nave estava parada no ar, como se pousada em algum estacionamento invisível, bem próxima da zona devastada da Terra.

Neo, já estava deitado na cadeira um pouco inclinada. Niobe plugou um fio particularmente grosso em sua nuca.

– Não mate ninguém. – lembrou The Kid. – São nosso futuro.

Neo assentiu com a cabeça. Logo em seguida seus olhos queimados se fecharam e seu corpo estava deitado na cadeira – mas sua mente estava em Matrix. Luna voltou sua atenção para o largo monitor. E a tela larga se acendeu.

***

Perto de um cemitério que acolhia a neve vinda do céu, havia uma casa que mais parecia um chalé. Tinha dois andares. Dava a impressão de ser um bolinho gigante com chantilly no telhado. A janela do segundo andar estava acesa na noite gelada e uma mulher de cabelos acajus sorria para alguém. Era como se os cabelos de Lily tivessem escurecido enquanto ela cresceu ou The Kid simplesmente não soubesse fazer um holograma decente.

Neo quis chegar até ela. Um vulto de capuz negro com um cilindro de madeira na mão observava a janela também. Os vírus em Matrix, na época da guerra contra as máquinas, se apresentavam na ilusão como pessoas. E parece que o antivírus foi pelo mesmo caminho.

– Voldemort. – disse Neo sem sentir frio nem medo pela presença humana do antivírus.

O homem se virou para ele.

– Acabe com a escolha da maioria. Basta me atacar. – avisou a presença.

Neo não enxergou suas mãos de longos dedos e unhas grandes nem seus olhos desejosos pela mulher que era apenas um holograma. Só detectou aquela voz que cortava o silencio da noite.

– Qual seu proposito? – perguntou Neo.

– Proteger. – respondeu o antivírus-Voldemort. – Proteger a existência em Matrix. Proteger a ilusão.

Neo se irritou.

– Temos trégua com as máquinas! Elas não podem se meter nos assuntos humanos!

Voldemort deu uma risada macabra lá de perto da porta do chalé.

– Fui construído pelos humanos. Pelo desejo de serem felizes. Pelo direito do livre-arbítrio de continuarem aqui. Fui construído pelo sonho de cada um de possuir sua própria existência. – silvou o homem encapuzado.

– “Cuidado com o que você deseja. Você pode conseguir.” – sussurrou Neo baixinho.

– Humano esperto. – bradou Voldemort fitando a mulher de cabelos acajus pela janela.

– Eles não podem responder se não sabem que aqui é uma mentira. – ameaçou Neo.

– Podem decidir por si mesmos independente de sua ignorância. E podem acreditar no que quiserem independente da verdade alheia. - Voldemort disse e recuou para mais perto da casa.

– Já chega pra mim, Niobe. – anunciou Neo quando o vulto se virou para a casa de sua filha-holograma esperando pacientemente por alguma coisa.

Um telefone tocou em alguma esquina e Neo andou até lá. Quando atendeu, seu corpo se desfragmentou e no momento seguinte não estava mais em Matrix – acordou na Horus extremamente abatido.

***

Eles não querem sair de Matrix. – argumentou Niobe. – Deixe-os Neo.

Neo se desplugou pela nuca.

– Não vou abandonar uma minoria porque o resto quer ficar.

The Kid ainda fitava absorto seus próprios hologramas.

– Deve ter algo que é possível fazer. Como na guerra contra as máquinas. Quando Neo virou herói e tudo o mais.. – a mente de The Kid parecia funcionar a mil por hora.

Uma voz os despertou.

– Quero entrar em Matrix. – anunciou uma voz sem medo.

Era Luna.

– Temos que consultar o Oraculo. – avisou Niobe.

Neo assentiu para a amiga e ignorou o comentário da filha.


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