O Inferno de Lizzie Horn escrita por Ramone


Capítulo 6
Capítulo 5




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“NÃO!” – gritou histérica, ao mesmo tempo em que abria os olhos. 
O quarto estava escuro e a única luminosidade existente era o luar refletido na janela. Mal conseguia enxergar o papel de parede verde musgo. Estava de volta ao quarto, deitada na cama, suando, sozinha. 
Tinha sido apenas um sonho? 
Lizzie podia jurar que tinha vivido aquele episódio horrível. Tinha sido tão real, que a garota precisou se levantar e conferir se Zack estava realmente vivo. Desceu até o segundo andar e abriu a porta do quarto onde ele dormia. O corpo do rapaz estava sobre a cama e sem sinais de sangue ou cortes nas costas, e era notável que ele respirava. Uma coisa, porém, a deixou incomodada: Zack dormia de bruços e sem blusa exatamente como no sonho.

Na manhã seguinte, Lizzie não escondia a tensão que sentia. Depois do pesadelo, não havia conseguido dormir direito. De alguma forma, sentia que o sonho era um tipo de aviso, e o medo de acontecer algo fatal à aquelas pessoas adoráveis por se envolverem demais com ela a consumia . Tinha receio do que os sentimentos dela pudessem ocasionar, e também, óbvio, do que Tito pudesse fazer. Sua energia andava ainda mais pesada desde que chegara ali e sabia que ele não gostava e nada da idéia de Lizzie procurar alguém para se livrar da companhia dele.

— Você está bem Lizzie? – perguntou Zack no café da manhã, observando o comportamento totalmente retraído da garota enquanto o resto conversava extrovertidamente.

— Sim, estou ótima – mentiu, enfiando uma colher de cereal na boca.

Martin passou o resto da manhã assistindo Tv e descansando já que era sua folga, Lucy o acompanhou e Lizzie foi para a varanda, onde sentou na rede e ficou olhando o pouco movimento de pessoas na rua. Trenton tinha um clima úmido, céu com nuvens e o ar tinha cheiro de folha seca, típico da estação de outono.

—   Sabe... Seria mais fácil começarmos a procurar o Raul se ao menos você tivesse um endereço – a voz de Zack surgindo de repente pelas costas de Lizzie fizera a garota se contorcer num susto. Ele se aproximou e sentou-se ao seu lado na rede. Lizzie achava engraçado em como Zack não esquecera o nome do homem e em como parecia disposto à encontrá-lo. Será que todo mundo naquele lugar era tão prestativo?

— Na verdade, eu acho que tenho. Acho que é alguma coisa Hamilton.

— Hm, sei. Ainda assim fica difícil considerando o tamanho da Hamilton Ave – Zack suspirou pensativo – Afinal, o que ele é seu? Sem querer ser intrometido...

— Ele é um amigo da faxineira do orfanato que eu vivi. Ela me ajudou muito lá e ela faleceu... – a voz de Lizzie foi diminuindo enquanto lembrava de Fabrizzia.

— Ah, que pena... Sinto muito.
Lizzie agradeceu mentalmente por Zack não continuar perguntando coisas a respeito do tal Raul, pois ainda não tinha bolado uma história convincente sobre aquela parte. O clima estranho que era formado ao se falar da morte de alguém era sempre um bom escape.

— A gente pode pesquisar na internet ou perguntar aos mais idosos que moram da Hamilton Ave se alguém conhece um Raul – o garoto sugeriu e Lizzie assentiu. Um silêncio se instalou e Zack sem perceber começou a balançar a rede com o leve impulso que fazia com os pés. O vento gélido fazia os cabelos da menina esvoaçarem, e incomodada, puxou algumas madeixas para trás da orelha. Notou pela primeira vez o rosto de Zack, que naquele momento estava tão próximo ao seu lado. Ele tinha um rosto muito bonito, que misturava a dose certa de aparência expressamente masculina com feições mais delicadas, e olhos incrivelmente verdes que brilhavam mesmo sem a presença de luzes solares. 

Ao perceber que a garota o observava, Zack encarou-a com interrogação e um sorriso extra, fazendo-a corar.

— Eu ia dizer obrigada, mas já percebi que você não gosta de agradecimentos – sussurrou Lizzie tentando disfarçar. Zack apenas riu.

Após o delicioso almoço feito por Martin, um saboroso bolo de batata, Lizzie e Zack  concordaram em começar a busca pelo Raul caminhando a partir do lado da Hamilton Ave que tinha o Centro Médico St. Francis, que possuía mais residências, ao contrário do outro lado da avenida que tinha mais comércio. 
Andaram do hospital até um restaurante chamado “Peasants” abordando todos os idosos que viram pela frente, sempre perguntando se algum deles conhecera algum Raul que vivia em Trenton. “O Doutor Raul? Ele quase me deixou morrer  uma vez no St. Francis!” “Você ta falando do Raul que era gay? Eu acho que ele se mudou!” “Eu conheci um Raul uma vez que era farmacêutico...” “Meu filho, Raul. Infelizmente ele morreu atropelado.” 

Foram mais Rauls que o esperado. Nenhum, porém, parecia ser o que Lizzie imaginava que seria. O problema é que ela não fazia a mínima idéia de como e quem ele era, então, o que podia esperar? Ele podia ser qualquer um daqueles Rauls citados, ou então, ele nem existia, ou o endereço e a cidade estavam errados. Era muitas opções, e nenhuma delas deixava a garota otimista.

Depois de 3 horas de caminhadas e abordagens públicas, Lizzie e Zack decidiram voltar para casa de Martin, mas levando anotado o endereço de todos os Rauls ainda vivos que moravam em Trenton que tomaram conhecimento.

— Amanhã eu visito cada um deles – disse Lizzie ofegante durante o caminho de volta.

— Amanhã não poderei te ajudar. Tem trabalho no pedágio. Tudo bem?

— Sem problemas! Você já ajudou demais.

— Mas no fim de semana a gente vê o outro lado da Hamilton Ave! – continuou Zack ignorando Lizzie, sem perceber que a garota de certa forma dispensava mais ajudas. Ela sorriu ao ver a insistência inconsciente do garoto, mas não se sentiu confortável com a situação, pois, quando fosse visitar os Rauls para perguntar a respeito de Fabrizzia, ela ia ter que falar todo o resto a respeito de si mesma, e como faria isso na frente de Zack se ele continuasse acompanhando-a nas buscas?

— Seria bom fazer outra coisa no fim de semana... – a garota comentou. Zack olhou-a entendendo o comentário como um tipo de indireta, mas ficou quieto. Talvez ela tivesse falado aquilo inocentemente, e nem se quer envolvera-o na hipótese.

Ficaram calados o resto do caminho e quando estavam chegando na Chambers Street, onde Martin morava, uma voz feminina chamou por Zack. Lizzie procurou a origem da voz e foi encontrá-la atravessando a rua. Uma menina de cabelos loiros ondulados, olhos azuis e pele branca se aproximava trazendo consigo um sorriso enorme e um aroma de pêssego.

— Oi Zack, quanto tempo! – exclamou enquanto o abraçava. Ele respondia ao ato um pouco mais sem vontade – Aonde você tem andado? Todo mundo tem perguntado sobre você, e eu não sei o que responder já que você sumiu desde que... Bem, você o quê – a voz dela tinha um tom naturalmente ácido e seu olhar exilava ira e luxúria em cima de Zack, ao mesmo tempo em que ignorava Lizzie completamente.

— Er... Er... Nada a ver Summer... – gaguejou estressado, alternando o olhar entre a loira à sua frente e Lizzie totalmente avulsa ao seu lado – Só estou trabalhando muito.

— Trabalhando?! Você? Como assim? Quem diria... Quem diria! – a menina parecia realmente incrédula, ou desconfiada considerando o cenho franzido.

— Essa é a Lizzie – apresentou sem graça, se afastando da loira.
— Oi! – Lizzie sorriu de canto com um aceno de mão, e em troca recebeu um olhar atravessado. Summer a analisou dos pés à cabeça, soltando um risinho ao fim.

— Oi... – bufou. - Bem, Zack, você podia aparecer lá em casa como costumava fazer antes dessa mudança toda. Sabe, eu já esqueci o que houve!

 - Er, a gente vê Summer... Mas agora eu tenho que ir – Zack falava já dando passos para trás antes da menina o puxar para estalar dois beijos em suas bochechas.

— Te ligo depois então, ok – Summer falou de uma forma que parecia mais um aviso do que sugestão. Zack assentiu e voltou a andar com passos mais apressados, não dando a oportunidade de ninguém falar mais nada, inclusive Lizzie se despedir de Summer. Como se isso fosse necessário...

Os poucos minutos que se levaram até chegarem em casa foram ainda mais silenciosos. Lizzie pensou em falar alguma coisa ou brincar, mas via que Zack não estava nada confortável, então se manteve quieta até entrar na sala e contar para Martin como havia sido à busca pelo Raul. Zack subiu as escadas e voltou logo em seguida com uma sacola na mão, pegou a caixa de ferramentas e antes de sair pela porta, se despediu coletivamente de pé. “Nos vemos amanhã no trabalho Baby. Até mais Lucy. Tchau Lizzie.”  E a porta bateu atrás de si num barulho alto.

Martin e Lizzie se entreolharam sem entender e até mesmo Lucy estranhara a atitude do rapaz.

— Aconteceu alguma coisa? – perguntou.

— Eu também queria saber...


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