O Inferno de Lizzie Horn escrita por Ramone


Capítulo 4
Capítulo 3




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Os dois ficaram calados por todo o percurso, que durou pouco menos de 20 minutos. Trenton não tinha prédios ou grandes construções. A maioria das casas era meio colonial de tijolinhos e todas as ruas possuíam árvores. Havia escolas, prisão, alguns comércios, mas era basicamente uma cidade de moradias.
Quando estavam na Chambers Street, Zack estacionou o carro em frente à uma casa cor de barro de 3 andares.

— Chegamos! Casa da Lucy - anunciou puxando o freio de mão.

— Quem é a Lucy?

— Ela é filha do Baby... Ela é muito bacana, mas... Ela é cega, então não estranhe se não estiver acostumada - respondeu sem jeito.

— Sem problemas.

Zack e Lizzie saíram do carro, subiram os degraus da varanda da casa e tocaram a campainha. Considerando que era muito cedo (por volta das 7 da manhã), demorou um pouco pra se ter alguma resposta. "Um momento"- ouviu-se uma voz fina de dentro da casa, e logo depois uma moça apareceu cautelosa pela brecha da porta. Ela era alta, magra, tinha cabelos volumosos e encaracolados. O sorriso era idêntico ao pai.

— Olá!? - exclamou.

— Oi Lucy, desculpe bater na sua porta à essa hora...

— Ah... Oi Zack! Aconteceu alguma coisa? - Lucy então abriu a porta totalmente ao saber de quem se tratava, pela voz, claro.

— Mais ou menos... Estou com uma pessoa ao meu lado.

— Oi - Lizzie falou, um pouco sem graça.

— Sua namorada, Zack? - perguntou Lucy ainda sorrindo.

— Er... Não não!- respondeu imediatamente tímido - Seu pai pediu pra você recepcioná-la e mais tarde ele te explica!

— Aaaah sim, desculpa! - riu.

— Prazer, meu nome é Lizzie - falou erguendo a mão, esquecendo que a menina não poderia ver. Ficou novamente sem graça, fazendo Zack segurar uma risada.

— Prazer Lizzie, sou Lucy. Venha... entrem! - ela se afastou da porta, dando espaço para que passassem.

Lucy andava pela casa como se pudesse enxergar normalmente; Obvio que tudo era planejado para facilitar sua movimentação e rotina, mas ainda assim, se Lizzie não soubesse que a garota era cega, não teria percebido, principalmente quando Lucy lhes serviu o café com tanta facilidade.
Lizzie contou novamente sua versão da história, deixando Lucy comovida. Zack observava quieto e com atenção.

— Graças a Deus você escapou! - exclamou a menina com as mãos entrelaçadas sob o peito.

— É...

Não era bem à Deus que Lizzie agradecia o fato de ter fugido. E por falar em Deus, era bastante visível que Lucy era uma pessoa muito cristã, pois a casa possuía muitas imagens e pequenos enfeites de santinhos e crucifixos, o que deixava Lizzie estranhamente desconfortável, e pela energia que ela sentia de Tito, ele mais ainda.

Após o café, Lucy emprestou uma toalha e um vestido para Lizzie poder usar. Antes de tomar banho, porém, ela se despediu de Zack, que já devia ter retornado ao pedágio a muito tempo.

— Obrigada pela carona... De novo - disse com um sorriso de canto.

— Não é a mim que deves agradecer... Mas, tudo bem. Nos vemos por aí! - respondeu com um tom que mais parecia uma pergunta.

— Nos vemos ?

— Aham... Se cuida Lizzie! - assentiu antes de dar um beijo na bochecha de Lucy e sair.

Lizzie o observou entrar no carro e partir antes de ser guiada por Lucy até o banheiro.

— Fique o tempo que achar necessário! Ah... A banheira é ótima! - avisou gentilmente antes de fechar a porta.

A menina se despiu, colocando a roupa suja de sangue dentro da mochila que ainda carregava e abriu as torneiras da banheira, deixando uma água morna cair. Quando cheia, Lizzie entrou na mesma e deitou-se, se permitindo relaxar e curtir aquele momento delicioso por quase 15 minutos.

 

Em outro canto da casa, num tipo de altar improvisado, Lucy se ajoelhava diante de uma grande imagem de Nossa Senhora com o menino Jesus.

"Senhor, obrigada por mais esse dia que nasce... Obrigada por eu estar de pé e pela saúde de todos aqueles que eu amo. Peço que o Senhor agora proteja nossa visita, a Lizzie, essa menina doce que passou por algo horrível esta noite. Que o Senhor a abençoe e gere proteção em torno dela... Para que nada de ruim a aconteça e que todos os maus espíritos se afastem de..."

Neste exato momento, Lucy sentiu seus olhos arderem repentinamente, como se pequenas chamas de fogo atingissem-no. Era uma dor que acompanhava uma estranha sensação de medo, angustia e sofrimento; Uma dor que durou apenas 2 minutos, mas que fora suficiente para fazê-la chorar, e que só parou no momento em que ela gritou desesperada: "Me proteja, Senhor!".


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