O Inferno de Lizzie Horn escrita por Ramone
Os dois ficaram calados por todo o percurso, que durou pouco menos de 20 minutos. Trenton não tinha prédios ou grandes construções. A maioria das casas era meio colonial de tijolinhos e todas as ruas possuíam árvores. Havia escolas, prisão, alguns comércios, mas era basicamente uma cidade de moradias.
Quando estavam na Chambers Street, Zack estacionou o carro em frente à uma casa cor de barro de 3 andares.
— Chegamos! Casa da Lucy - anunciou puxando o freio de mão.
— Quem é a Lucy?
— Ela é filha do Baby... Ela é muito bacana, mas... Ela é cega, então não estranhe se não estiver acostumada - respondeu sem jeito.
— Sem problemas.
Zack e Lizzie saíram do carro, subiram os degraus da varanda da casa e tocaram a campainha. Considerando que era muito cedo (por volta das 7 da manhã), demorou um pouco pra se ter alguma resposta. "Um momento"- ouviu-se uma voz fina de dentro da casa, e logo depois uma moça apareceu cautelosa pela brecha da porta. Ela era alta, magra, tinha cabelos volumosos e encaracolados. O sorriso era idêntico ao pai.
— Olá!? - exclamou.
— Oi Lucy, desculpe bater na sua porta à essa hora...
— Ah... Oi Zack! Aconteceu alguma coisa? - Lucy então abriu a porta totalmente ao saber de quem se tratava, pela voz, claro.
— Mais ou menos... Estou com uma pessoa ao meu lado.
— Oi - Lizzie falou, um pouco sem graça.
— Sua namorada, Zack? - perguntou Lucy ainda sorrindo.
— Er... Não não!- respondeu imediatamente tímido - Seu pai pediu pra você recepcioná-la e mais tarde ele te explica!
— Aaaah sim, desculpa! - riu.
— Prazer, meu nome é Lizzie - falou erguendo a mão, esquecendo que a menina não poderia ver. Ficou novamente sem graça, fazendo Zack segurar uma risada.
— Prazer Lizzie, sou Lucy. Venha... entrem! - ela se afastou da porta, dando espaço para que passassem.
Lucy andava pela casa como se pudesse enxergar normalmente; Obvio que tudo era planejado para facilitar sua movimentação e rotina, mas ainda assim, se Lizzie não soubesse que a garota era cega, não teria percebido, principalmente quando Lucy lhes serviu o café com tanta facilidade.
Lizzie contou novamente sua versão da história, deixando Lucy comovida. Zack observava quieto e com atenção.
— Graças a Deus você escapou! - exclamou a menina com as mãos entrelaçadas sob o peito.
— É...
Não era bem à Deus que Lizzie agradecia o fato de ter fugido. E por falar em Deus, era bastante visível que Lucy era uma pessoa muito cristã, pois a casa possuía muitas imagens e pequenos enfeites de santinhos e crucifixos, o que deixava Lizzie estranhamente desconfortável, e pela energia que ela sentia de Tito, ele mais ainda.
Após o café, Lucy emprestou uma toalha e um vestido para Lizzie poder usar. Antes de tomar banho, porém, ela se despediu de Zack, que já devia ter retornado ao pedágio a muito tempo.
— Obrigada pela carona... De novo - disse com um sorriso de canto.
— Não é a mim que deves agradecer... Mas, tudo bem. Nos vemos por aí! - respondeu com um tom que mais parecia uma pergunta.
— Nos vemos ?
— Aham... Se cuida Lizzie! - assentiu antes de dar um beijo na bochecha de Lucy e sair.
Lizzie o observou entrar no carro e partir antes de ser guiada por Lucy até o banheiro.
— Fique o tempo que achar necessário! Ah... A banheira é ótima! - avisou gentilmente antes de fechar a porta.
A menina se despiu, colocando a roupa suja de sangue dentro da mochila que ainda carregava e abriu as torneiras da banheira, deixando uma água morna cair. Quando cheia, Lizzie entrou na mesma e deitou-se, se permitindo relaxar e curtir aquele momento delicioso por quase 15 minutos.
Em outro canto da casa, num tipo de altar improvisado, Lucy se ajoelhava diante de uma grande imagem de Nossa Senhora com o menino Jesus.
"Senhor, obrigada por mais esse dia que nasce... Obrigada por eu estar de pé e pela saúde de todos aqueles que eu amo. Peço que o Senhor agora proteja nossa visita, a Lizzie, essa menina doce que passou por algo horrível esta noite. Que o Senhor a abençoe e gere proteção em torno dela... Para que nada de ruim a aconteça e que todos os maus espíritos se afastem de..."
Neste exato momento, Lucy sentiu seus olhos arderem repentinamente, como se pequenas chamas de fogo atingissem-no. Era uma dor que acompanhava uma estranha sensação de medo, angustia e sofrimento; Uma dor que durou apenas 2 minutos, mas que fora suficiente para fazê-la chorar, e que só parou no momento em que ela gritou desesperada: "Me proteja, Senhor!".
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