Purple Despair escrita por Lawlie


Capítulo 1
Capítulo 1 - Tudo é púrpura


Notas iniciais do capítulo

ps: centralizei o texto pois não estava conseguindo fazer parágrafos, não sei por que :T



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Depois de mais um dia desgraçado de trabalho, finalmente chegava em casa. Exausto, atirou aquele boné idiota do uniforme sobre o primeiro móvel que encontrou, praguejando quando errou o alvo e o objeto caiu ao chão. Mas todo seu ódio se esvaiu quando ela entrou na sala.
A única razão de sua existência.
E sorriu para ele.
O sorriso que era sua única motivação para continuar vivendo.
Sentia o coração amolecer enquanto ela segurava as mãos dele e, entusiasmada, anunciou que tinha uma notícia "fabulosa", como costumava dizer.
Sentou-se no sofá e obrigou-o a sentar também, mantendo os dedos entrelaçados.
E ele esqueceu de todo o cansaço e aborrecimento quando, com os olhos de tom lilás brilhando de emoção, ela lhe contou que estava grávida.
Foram os melhores meses de sua vida que nunca havia feito tanto sentido. As semanas em que ele mais podia sorrir sem que seu sorriso fosse extremamente semelhante ao de um maníaco.
A melhor época da sua vida.
Que terminou da pior maneira possível.
Quem diria que, com ar cansado e de quem adoraria ir para casa relaxar e esquecer do dia horrível que teve, o médico lhe contaria que, infelizmente, mãe e bebê haviam morrido durante o parto.
Naquele momento, tudo era púrpura.
O hospital era púrpura.
O jaleco manchado de sangue púrpura do médico púrpura, era púrpura.
Tudo ao seu redor era púrpura, e ele não sabia o porquê.
Ele próprio era púrpura.
Talvez púrpura fosse a cor da morte.
Assim como as lágrimas que não parava de derramar durante semanas a fio.

Por mais que quisesse estar morto, não estava. E por isso, teve de voltar ao trabalho.
Ao trabalho medíocre que ele detestava.
Ao trabalho onde só havia se mantido por tanto tempo para poder sustentá-la.
Ao trabalho onde o tempo todo, ouvia as risadas felizes das crianças.
As.
Crianças.
Rindo, despreocupadas, se divertindo com as bobagens ao seu redor.
Uma fase que seu filho nunca experimentaria.
Nunca o veria brincando daquele jeito, nem correndo.
Não receberia o abraço que todos aqueles pais presentes recebiam ao final de um dia exaustivo de trabalho.
Qual era mesmo, o nome dele?
Esquecera. Qual era a diferença, se nunca atenderia quando o chamassem?
Observava com desgosto os garotos e garotas brincando com os animatrônicos idiotas, se empanturrando de pizza.
Era menino ou menina?
Esquecera. Não fazia sentido se lembrar disso quando a criança não chegara a viver para que isso fizesse alguma diferença.
E todos aqueles risos irritantes, lembrando-lhe constantemente de como a única coisa que amava nesse mundo havia lhe sido roubada por uma que nem mesmo tivera a chance de lhe trazer alguma alegria.
Ao mesmo tempo, aquilo tudo era tão... bonito.
Uma fase tão doce.
Tenra.
Como teria sido sua própria infância? Com certeza ótima, mas todo o amargor e desgosto de sua vida adulta lhe fizera esquecê-la.
Talvez fosse melhor para aquelas crianças que nunca deixassem de ser crianças.
Talvez fosse melhor que brincassem com seu filho, no lugar onde ele estava.
Sentiu-se confortado ao notar que, de onde estava, ele nunca cresceria. Nunca sofreria.
E aquelas crianças definitivamente não precisavam crescer nem sofrer.
Caminhou até a cozinha, pegando uma faca distraidamente. Nenhum dos cozinheiros prestava atenção para o que ele faria com ela.
Voltou para a ala onde os pequenos se divertiam.
E descobriu que, estranhamente, o choro daquelas crianças lhe fazia muito bem.
Fazia com que o mundo parecesse menos púrpura.


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Notas finais do capítulo

Não tenho nenhuma explicação para que tudo se tornasse púrpura além de o fato de ele estar enlouquecendo com o sofrimento. E essa seria a explicação (obviamente, não oficial) para o apelido que ele recebeu.