Fora do templo, Ralph procurou por Nesse e Mariah.

Os dois estavam experimentando trajes de combate. Era algo simples: um peitoral de ferro que se reluzia como prata, ombreiras, joelheiras e braceletes.

– Ralph! – Nesse Mariah quase falaram ao mesmo tempo, o que foi engraçado para Ralph.

– Como foi lá? – Mariah perguntou um pouco curiosa.

– Nada demais. – Ralph não queria comentar aquilo que ouvira. Ele queria contar para os dois quando estivesse pronto.

– A propósito... Porque Gabriel disse aquilo para você, Mariah? – Ele queria mudar de assunto o mais rápido possível, e achara uma desculpa.

– Eu... Bem... – Mariah olhou para Nesse. – Se importa se eu falasse com ele agora?

– É claro que não. – Nesse deu uma afastada e foi experimentar mais trajes de combate.

– Bom... – Mariah reuniu forças para falar. – Eu menti quando pedi para eu ir naquele ginásio de natação para que Nesse fosse com você porque ele seria melhor. Acontece que eu... Tive medo de querer me machucar muito, e eu sabia que indo para o ginásio de boxe ia acontecer isso, então...

– Espera ai. Quer me dizer que você fez o Nesse vir comigo para não se machucar tanto de propósito? – Ralph ficou espantado e um pouco indignado. – Por qual razão?

– Como eu já disse uma vez... – Mariah estava quase a ponto de chorar. – Você ainda não me viu zangada.

Mariah deu uma afastada de Ralph e seguiu para perto de Nesse. Ralph os ficou olhando em silêncio durante alguns minutos. Segredos. Ralph pensava consigo mesmo. Que segredos esses dois escondem?

– Bom, gente... – Ralph se aproximou dos dois amigos. – E agora?

– Bem, temos que esperar novas ordens. – Explicou Nesse.

– Estamos em um acampamento, afinal de contas?

– Seria mais correto dizer que isso é uma base. – Corrigiu Mariah.

– Porque uma base?

– Ninguém te disse que aqui somos uma rebelião, né? – Comentou Nesse.

– Uma rebelião? Porquê?!

– Francamente. Você não lê nada sobre nós? – Mariah pareceu ofendida. – Somos as rebeliões de Gabriel. Somos contra as ideias das Legiões de Miguel. Aquele tirano.

– Porquê?

– Simples: você está com a gente porque está do lado de proteger os humanos. – Respondeu Mariah, com um ar de ignorância. – Eles estão do lado de querer destruí-los.

– Acho que você já sabe a razão disso. – Concluiu Nesse.

Ralph assentiu. Soubera daquilo na explicação de Gabriel.

– Bom, se a gente está sem nada para fazer agora... – Ralph levantou o braço enfaixado. - Vamos treinar!

– Opa! Calma lá. – Nesse reprimiu o amigo. – Não pode treinar com essa mão.

– Mas já parou de...

– Blá! Blá! Blá! – Mariah provocou Ralph fazendo uma boca com a mão. – Não vai treinar agora e pronto! Vai descansar até isso melhorar!

– Nossa. Tá bom. – Ralph estava repreendido por aqueles dois. Era melhor não discutir.

Depois de exatos três dias, o braço de Ralph finalmente havia melhorado. E durante esse tempo ele ficou parado, aprendendo tácticas de cobrimento, estratégias de batalha, etc. E depois que ele não tinha mais nada para aprender, ele dormia na enfermaria.

– Ah, finalmente. – Ralph estalou os braços e as costas. – Vou ter um pouco de ação, afinal.

– Venha, Ralph. – Mariah pegou na mão do amigo. – Vou te mostrar nosso campo de treinamento.

O campo de treinamento era um grande espaço divididos para os anjos elementais. Como eles tinham poderes diferentes, o campo era dividido igualmente para cada tipo de elemento.

– Ralph, tá vendo ali? – Nesse apontou para um espaço onde havia vários anjos de vento criando fortes ventanias. – Ali é o campo dos Anjos do Vento. É ali que você deverá ir para treinar.

– OK. Obrigado. – Ralph agradeceu o amigo e seguiu em direção ao campo específico seguindo uma trilha que levava até lá.

O nome do campo de treinamento de vento era chamado Campo Força Tornado. Ralph adentrou no campo e viu vários anjos de vento treinando técnicas diferentes. Alguns treinavam pequenos tornados de vento, outros flutuavam no ar sem precisar das suas asas, e um outro grupinho que Ralph mas se interessou: eles estavam treinando o Whirlwind.

– Você deve ser um novato, né? – Um anjo se aproximou de Ralph. – Meu nome é Fariel, sou um dos tutores aqui.

– Ah, prazer. Meu nome é Ralph. – Ralph se corrigiu, ali, ele era chamado pelo nome. – Perdão, meu nome é Rafael.

– Rafael? É um nome muito bom.

– Obrigado.

– Bom, vamos começar com o seu treinamento. – Aconselhou Fariel.

– Legal!

Ralph e Fariel se aproximaram dos outros alunos.

– Muito bem, Rafael. Quero ver o que você sabe como usar o Tornado de Força.

– Tornado de Força?

– Sim. O Whirlwind é apenas um apelido. O verdadeiro nome desse golpe é chamado de Tornado de Força.

Ralph assentiu e, como Fariel havia pedido. Ele realizara o Whirlwind e acertara uma enorme pedra. Mas algo estava diferente ali. O braço de Ralph já estava arranhado novamente, e ele havia acabado de se curar.

– Vejo que você está fazendo essa técnica do jeito errado. – Comentou Fariel.

– Jeito errado? – Ralph estava inconformado. – Mas eu...

– O Tornado de Força é uma técnica de ataque e defesa da qual o vento envolve o braço no indivíduo.

– Ataque e defesa...

– Vou lhe mostrar. – Fariel concentra sua técnica e mostra a diferença. – Quando você invoca o comando do vento, deve-se moldá-lo em seu braço como um escudo repulsor.

– Escudo? O Tornado de Força é um escudo?

– É isso ai! – Fariel mostrou satisfação em perceber que Ralph havia entendido. – Mas este é um dos nossos golpes mais poderosos, que, se atingir o coração, o poder do vento o corta em segundos.

– N – Nossa! – Ralph estava surpreso. Nunca imaginaria que o seu maior golpe era na verdade um escudo e ainda o estava fazendo errado.

– Mas o golpe que você fez estava forçando demais. – Fariel estava analisando Ralph. – O Whirwind são dois tipos de ataque, era por isso que você estava fazendo errado.

– Dois tipos de ataque? Mas você disse...

– Eu disse “escudo repulsor”. Isso quer dizer que ele te protege e ainda ataca o inimigo. – Fariel ajeitou o seu tom de voz. – Bem, o primeiro tipo é o golpe comum. Mas o segundo tipo é a parte destrutiva do golpe, da qual você usa a rotação do vento em seu punho para rasgar a superfície que você está atacando e rompê-la por completo, se não fizer direito. – Fariel deu uma pausa. – O próprio vento em seu braço vai te arranhar.

– Então são dois lados da mesma moeda. – Comentou Ralph.

– Exato.

– Eu vou te mostrar. – Fariel molda o vento em seu braço e, quando o braço começa a avermelhar, Fariel molda o vento em forma de um escudo e a cor volta ao normal. – É isso que eu estou querendo te mostrar. Usando a sua aura você é capaz de se alto proteger do vento e o torna o seu aliado. É esse poder que nós temos.

Ralph já estava racionando o suficiente para pensar em uma nova técnica.