Ralph estava ansioso para o que ele ia ouvir.

– Bem... – Gabriel pensava com ele mesmo. – Por onde eu começo... Ah, sim. Há muito tempo atrás, um pouco antes de meu Pai criar Adão e Eva, ele criara os anjos, cabendo à nós, os arcanjos, os comandarem, essa foi a tarefa que ele deu para Miguel, e ele se tornou o Príncipe dos Anjos. Mas, nos tempos em que meu Pai criara os anjos, dentre eles, havia um que era diferente dos outros, ele era muito poderoso que seu nível chegava aos dos arcanjos.

– Nossa. – Ralph acabou interrompendo a história de Gabriel. – Perdoe-me, comandante.

– Tudo bem. Gabriel fez uma pausa, mas ele continuou a história. – Este anjo era conhecido por ser um Ishim, um anjo elemental muito mais poderoso que os outros. E daí ele foi conhecido como O Avatar. Yahweh lhe dera uma aura tão poderosa que ele dividira ela e criara um espírito que originava todos os seus poderes, que era dominar os quatro elementos.

– Incrível, senhor. – Ralph estava chocado. – Mas, sinceramente, o que este anjo tem a ver comigo? – Ralph falava com a maior gentileza possível, apesar dele estar adorando aquela história.

– Eu chegarei lá, Rafael. – Gabriel disse com um tom calmo e elegante. – Bom, algum tempo depois o Avatar não estava mais apenas dominando os quatro elementos como também a luz e as trevas. Nós, os arcanjos, ficamos indignados como o porquê daquele anjo ter tanto poder quanto os arcanjos. Nessa época, o Pai havia criado Adão e Eva e lhes dera o Livre – Arbítrio para eles, depois, foi demais para nós aguentarmos aquilo, e nós queríamos uma explicação.

Gabriel deu uma pausa.

– Mas o Pai havia dito que, o Avatar era o anjo que manteria o equilíbrio do mundo. E o ser humano seriam uma raça que viverá e morrerá, além deles obterem o Descanso Eterno. Foi então que começamos a odiar os humanos tanto quanto o Avatar.

– Sim, mas porquê sentiram ódios dos humanos. – Ralph hesitou um pouco mas continuou. – Eles não competem com vocês, que são superiores... Eu não entendo.

– Essa pergunta tem uma simples resposta, Rafael. – Gabriel olhou para Ralph com olhos tristes. – Eles podem morrer.

– O quê?!

– Eu explicarei: Anjos, se morrerem, não voltam mais. – Gabriel foi direto. – Nós não temos alma, e nossa existência retorna ao cosmo, que foi da onde nós viemos.

Ralph ficou pensando por um minuto. Essa era a tal raiva dos arcanjos.

– Por favor, continue a história.

– Claro. – Gabriel retornou aonde ele parara. – O Avatar tinha um poder imenso, e antes de meu Pai entrar no Descanso do Sétimo Dia, ele desafiou os arcanjos.

Ralph congelou por um instante.

– Nós o enfrentamos, mas por sorte ninguém havia morrido. – Gabriel havia ficado com um tom triste novamente. – Mas depois de um tempo, nós soubemos que ele havia sido morto.

– Morto?! Por quem?

– Esse é o ponto que eu quero chegar. – Gabriel manteve sua cabeça erguida. – Não descobrimos quem o matou, mas esse Avatar possuía uma divindade diferente de qualquer anjo, até de nós, os arcanjos. Depois que ele morreu, um tempo depois, ele ressurgiu como outro anjo. Ele havia ganhado o dom dos humanos, ou algo parecido com isso.

– Então...

– O que está interessando agora é isso o que tem dentro de você. – Gabriel apontou para o peito de Ralph. – Era isso o que você tanto quer saber, não é? Isso que está dentro de ti é um espírito, o mesmo espírito que estava no Primeiro Avatar há muito tempo atrás.

Ralph parecia ter levado uma surra na cara. Ele não estava acreditando.

– O quê?! Quer dizer que eu sou o Avatar?!

– Isso eu não sei. Tive relatos que um dos Avatares havia separado o espírito de seu corpo e o enviado para outros anjos. O que esse espírito faz dentro de você eu não sei, mas não tenho uma resposta concreta de que você é o Avatar.

– Então... Eu estou sendo perseguido... – Ralph engoliu em seco. – Pelo mesmo anjo que matou o Primeiro Avatar?

– Exatamente.

Ralph não sabia o que dizer, ele acreditara que ia levar um choque pelo que Gabriel ia dizer, mas aquilo tudo era demais.

– Eu... Eu domino o vento. – Ele chamou a atenção de Gabriel. – O Primeiro Avatar também o dominava.

– Sim, mas como todo Ishim, sempre nasce com um elemento inicial. E o que eu soube era que o elemento inicial dele era diferente do seu.

– Bom, obrigado. – Ralph sentira um pouco mais aliviado, mas ainda estava abalado.

– Não se preocupe, Rafael. – Gabriel estava em posição de meditação. – Fique no nosso lado e nada de mal vai lhe acontecer.

Por acaso, comandante, o senhor sabe onde está o meu pai? – Aquela foi uma pergunta tão diferente que assustou até Gabriel.

– Bem... – Gabriel olhou triste para Ralph. – Eu lamento, mas eu não sei onde ele está. Ele sumiu durante muito tempo.

As esperanças de Ralph de achar seu pai haviam se esvaído.

– Mas isso não quer dizer que nós não estamos procurando ele. – Gabriel quis ser mais detalhista. – Estou sempre enviando equipes de busca atrás dele, afinal ele foi e sempre será um anjo muito habilidoso.

– T – Tá. Muito obrigado, comandante. – Ralph fez uma reverência e começou a se afastar. – Deixarei o senhor a sós.

– Ótimo. Vá. – Gabriel voltou a meditar e não disse mais nada.

Ralph saiu do templo silenciosamente. Desceu os degraus com pressa, ele estava com a cabeça fervendo do que ele ouvira. Tinha poucas respostas para muitas perguntas. Mas ele tinha que se acalmar primeiro.