Tenshi no Tamashi escrita por AoiTakashiro


Capítulo 171
Capítulo 171 - Miguel, o Tirano


Notas iniciais do capítulo

Demorou mais tempo do que o esperado, mas aqui está mais um capítulo. Bem sério, por sinal.

Julgamento de Miguel à Ralph (final do capítulo) - Thousand Foot Krutch - In My Room



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Quarto Céu, Acheron.

Um dos Sete Céus que age como mediador entre o armistício dos anjos é o Quarto Céu. Ela é uma dimensão onde há picos enormes e uma pressão atmosférica devastadora. O local foi criado para os Querubins, os anjos guerreiros, pois como o recinto oferece todo o tipo de dificuldade, é o lar perfeito para eles se exercitarem. Também é aclamado como um dos locais onde a segurança é a melhor de todas, depois de Sion. Possui quilômetros de muralhas que cobrem diversas áreas de treinamento e postos de vigia.

Em um dos picos mais altos, chamado de Viribus, sobrepõe-se o Castelo da Luz. Um ilustre castelo que fica a mais de cem metros de altura de Viribus, onde os ventos mais fortes de Acheron o circulam. É a defesa natural mais poderosa que o Castelo possui. Além disso, sua construção é simplesmente indestrutível. Sua estrutura pedrosa parece feita de diamantes a julgar do seu brilho esverdeado. É o próprio símbolo da resistência.

Ralph, Gigan e Race foram transportados pelos guardas para dentro do pátio do Castelo. Assim que chegaram, tiveram de encarar a pressão atmosférica por estarem a muitos metros de altura. Apesar dos seus poderes, o loiro quase desmaiou. Gigan o ajudou a se concentrar em focar o Controle Atmosférico para regular a pressão. Logo, Ralph já estava seguro.

Isto é, por enquanto.

— Você não poderá usar sua aura latente de agora em diante. – Anunciou o guarda. Em seus braços segurava algemas e tornozeleiras.

Assim que foi algemado, Ralph não conseguiu sentir o próprio poder, o que o deixou surpreso. O loiro suava frio, mas decidiu não se abalar naquele momento. Ele apertou seus punhos com força, já não sentia mais a pressão do ar afetando-o. Sua própria mente já estava pesada.

— Ande, réu! – O guarda havia conectado as algemas com uma corrente, e com ela puxava o loiro, que andava desajeitado por causa das tornozeleiras. O grande portão de madeira e ferro abriu-se na frente deles. O loiro cogitou que aquela porta teria uns quinze metros por dez de largura. Enquanto andava, chamava atenção dos guerreiros Querubins que se encontravam por ali. Recebia vaias e ameaças de morte. Gigan permaneceu ao seu lado em silêncio, mas rosnava para os outros. Só não os atacou por Ralph estar em uma péssima condição, não queria causar problemas desnecessários.

O outro guarda que segurava Race nos ombros seguiu para a outra direção quando eles viraram para a esquerda.

— Para onde estão levando o Race? – Perguntou Ralph.

— O Querubim será levado para a sala de emergência, onde lá há Ophanins prontos para ajudá-lo. – Explicou o guarda. – Se eu fosse você, não se preocuparia com ele.

Ralph ficou menos tenso. Pelo menos Race estaria recebendo a ajuda necessária.

O castelo era enorme. Os corredores eram largos e escuros, e cheios de guerreiros. Era uma grande multidão. Tochas iluminavam pelas paredes. Não havia silêncio, somente risos e ofensas. Porém, era-se ouvido conversas e a surpresa de muitos dali:

— Soube que os dois Arcanjos virão julgar ele...

— Ele deve ter feito algo extremamente sério para atrair os Dois Grandes juntos mais uma vez...

— Hã? Alguém como ele?...

Ralph sentiu que era mais difícil manter a postura do que caminhar. Ele manteve sua cabeça erguida, mas a pressão era grande. Gigan notou isso e tremeu de frustração. Não queria que o loiro estivesse naquela situação, mas diante de tudo, era ele que estava presente. E como tal, deveria se manter ao lado dele, não importasse como.

Só que mesmo assim, os guerreiros ainda não cediam. Alguns pegaram equipamentos de pequeno porte como ombreiras e joelheiras e atiraram no loiro. Gigan o defendia como pôde, mas ele também estava estritamente proibido de começar a brigar ali. Ralph suportou a dor dos golpes que recebera mantendo o mesmo pensamento:

Eu... eu não estou errado...! Eu não estou errado...!

— Chega dessa comoção! O julgamento será daqui a pouco! – Exclamou o guarda, puxando o loiro pela corrente. Ele parecia estar perturbado, mas Ralph tinha total certeza de que o guarda estava satisfeito com aquela situação. Eles chegaram a uma imensa porta de treze metros de altura (por que tinha que ser tão grande?), onde mostrou-se ser a sala dos armamentos. Ali havia todo tipo de arma branca que poderia existir. Espadas, lanças, alabardas, flechas, maças, machados e martelos. Ralph não sabia muito, mas os Querubins não criavam armas. Cada um recebeu a própria arma quando nasceu. Ou seja, a arma surge com o guerreiro. Como ali era o lar deles, não precisavam ficar constantemente com suas armas, o que os permitia treinar corpo a corpo uns com os outros.

O recinto era enorme. Ali havia vários guerreiros polindo suas armas. O local era ainda mais escuro, mas as tochas iluminavam algumas regiões. Ralph notou que o Castelo em si era escuro pois as escotilhas próximas ao teto estavam fechadas. O tal julgamento parecia ser um evento que os obrigava a serem mais rígidos do que o normal. Não que ficarem no escuro seria um problema, pois graças aos instintos dos Querubins, eles conseguem enxergar tão bem no escuro quanto na claridade. São guerreiros natos que lutam em qualquer situação.

Enfim, quando passaram por outra porta, este local já estava mais claro. Na verdade, aos olhos de Ralph, era o local mais bonito que havia visto naquele castelo. A sala era enorme, com uma entrada à esquerda para fora. Raios de sol iluminavam como um véu. Ali havia um espaço para as testemunhas, precisamente do lado direito. Em vez de um assento para o réu, que ficaria no centro da sala, apenas havia duas algemas conectadas ao piso, onde o guarda o prendeu ali. Gigan teve que ficar no local das testemunhas sob vigilância de mais guardas que chegaram naquele instante. Ralph percebeu que todos aqueles guardas estavam ali para deter o Querubim caso algo aconteça, ou se algo acontecesse com algum dos Arcanjos.

Os Arcanjos... o loiro não deixou de pensar neles nem por um momento. Ralph sempre tivera um imenso respeito e admiração por Gabriel, aquele que o ensinou e muito em seu treinamento com o Mestre Chen. O Comandante das Rebeliões, um ser de puro poder e compreensão. Ralph sabia muito bem que havia quebrado as regras, e não esperava que Gabriel teria tanta compaixão, mesmo assim, ele esperava que o Comandante lhe desse uma punição mais leve... o que quer que ele seria condenado ali.

Ele, porém, não sabia nada do que esperar de Miguel... aquele que era o Comandante das Legiões, líder supremo de Aziel e Rimeria. Mas sentia que não podia contar com ele. Não sabia como, mas ao pensar na figura de Miguel surgira um mal pressentimento.

Passos foram ouvidos, e da outra porta entrou uma escolta de guardas armados com lanças. Imediatamente todos ali se curvaram perante o Arcanjo Gabriel, que portava a mesma armadura dourada. Suas seis asas estavam recolhidas, mas o rosto dele estava duro. Ralph não conseguia encarar o Comandante. Nesse momento, o loiro sentiu seu corpo pesar cada vez mais. Ao que parecia, o grau de seriedade que ele cometeu lhe havia caído a ficha.

Gabriel... o Arcanjo Gabriel está aqui! I – Isso é mesmo uma coisa complicada!

Um dos princípios da mente humana é o de certamente planejar as coisas com antecedência para a própria mente não sofrer impactos momentâneos. Foi o mesmo que Ralph havia feito. Ele soubera da vinda de Gabriel, mas só quando o viu com a expressão em que estava foi que o loiro percebeu o grau da situação. No fundo ele sentia que não queria que Gabriel estivesse ali, assim como esperava muito mais o mesmo com a presença de Miguel.

No fim, ele estava mesmo errado.

Da mesma porta veio outra escolta, dessa vez de anjos com armaduras prateadas, alguns carregando estandartes dourados das Legiões. O círculo de guerreiros se desfez e, um Arcanjo surgiu deles. Ralph levantou seu rosto para encará-lo. O anjo clamado como uma das entidades mais poderosas por muitos seres humanos, aquele que protegia a todos do mal e de todas as injustiças, Miguel!

— Então o julgamento desse imundo vai começar agora? Que seja. – Miguel fitou o loiro com tanto desprezo que alguém podia dar. Ralph suou frio ao encarar aquela expressão intimidadora do Arcanjo. De certo, era correto afirmar que Miguel não era a figura que muitos viam dele. O Ser Supremo trajava a mesma armadura dourada que seu irmão, Gabriel. Mas os dois tinham muitas diferenças. O cabelo de Miguel era preso por uma trança para trás, o que permitia que fosse visível seu rosto cheio de cicatrizes horríveis. De suas asas, um par delas se manteve estendida, mostrando hostilidade. Ele carregava o elmo em um dos braços. Preso a bainha em sua cintura, estava sua espada Chama Mortal, que poderia matar a qualquer um com um golpe sequer. Tudo ali estava em silêncio, exceto pelos movimentos do Arcanjo por sua armadura.

Gabriel estava sentado em um dos tronos da corte. Seu porte era de calma, apesar de manter a mesma expressão dura. Miguel virou toda a sua atenção para ele. Durante alguns instantes, que mais pareceram uma eternidade, os dois Arcanjos se encararam.

— Vejo que continua severo, meu amado irmão. – Disse Gabriel, calmo.

— Poupe-me de palavras fúteis, Gabriel. – Retrucou Miguel. – Ter que te encarar uma vez mais por causa de um caso de um ser imundo como aquele é algo que me irrita profundamente. Vejo que nunca saberá colocar quem merece em seu lugar, irmão.

Ralph não conseguia entender o motivo de tremer tanto. Mas ele notou que ele não era o único que estava se sentindo assim. Todos, inclusive os guardas, estavam se segurando para não demonstrarem, mas seus espíritos estavam tremendo.

— Por que não deixa de emitir essa aura perturbada, meu irmão? – Disse Gabriel, sereno. – Estamos aqui para julgá-lo, não é? Então faremos isso com toda nossa autoridade e individualidade. Aqui não tem espaço para ações desnecessárias.

— Eu que deveria dizer isso. – Retrucou o Arcanjo, indo ao seu trono. Era ao todo três assentos e Miguel estava sob o central. Gabriel estava sob o da esquerda. O da direita permanecia vazio. – Que seja. Vamos começar com esse julgamento inútil.

O guarda que o trouxera saiu do local das testemunhas e ficou no meio da sala.

— Vossa senhoria, o condenado é Rafael, Anjo Divino. Um anjo de classe normal que no atual momento é capitão de um pelotão pequeno. Ele é indiciado de cometer um dos crimes mais proibidos entre os anjos: mostrar sua natureza para um ser humano. A punição ficará a critério de vós, Arcanjos.

A expressão de Miguel ficou ainda estressada. O guarda ficou confuso, apenas se curvou perante os Comandantes e voltou para onde estava. Gabriel soltou um suspiro e resolveu começar a falar:

— Rafael, lembro de ter sido eu quem o deu o direito de ser o capitão do seu time devido aos seus conhecimentos gerais sobre a Haled e os seres humanos.

— S – Sim... – Respondeu o loiro, envergonhado.

— Também lhe foi instruído sobre a proibição de se mostrar a um ser humano, seja ele quem fosse. Correto?

— Sim. – Ralph respondeu com mais convicção.

— Então quero que nos diga por quais razões você fez tal feito. Agora. – Exigiu o Comandante.

— Sim, senhor. – O loiro engoliu em seco, mas resolveu ir em frente. – Recentemente, tivemos problemas com anjos caídos que foram à Haled por... por Lucífer. – Ralph abaixou uma oitava ao dizer o nome da Estrela da Manhã.

— Especifique. – Ordenou Miguel, frustrado.

— São servos poderosos chamados de Generais da Morte... assim que pisaram na Haled, construíram um Santuário gigante envolvendo toda uma cidade de algum jeito. Eu e meus companheiros nos movemos o quanto antes para deter os planos deles...

— Pare. Está demorando demais. – Retrucou Miguel. Ele apontou para um de seus guardas. – Quero o relatório de Aziel sobre a missão.

— !! – Ralph ficou sem reação.

Um dos guardas de armadura prateada que acompanhava Miguel dera um passo para frente. A cor de seus olhos mudou, parecia ser um Serafim.

— Relatório da missão por Aziel: fizemos o reconhecimento sobre uma ação desconhecida do que poderia ser a construção repentina de um Santuário fora dos padrões atualmente conhecidos. Eu e meus companheiros fomos pegos por um anjo caído que detinha dos poderes de um Ishim do fogo, assim como nós. Além disso, uma rebelde também foi pega e assim como nós, usada como experimento para aumentar a força latente desse anjo caído. A força rebelde, no entanto, já estava vindo como reforço e conseguiram destruir o inimigo [...].

— É desse “inimigo” que você fala? – Questionou Miguel para o loiro.

— Sim. – Respondeu Ralph.

— Soube também pelo relatório que esses anjos caídos eram inteligentes e não lutavam sozinhos.

— Sim, senhor. Na ocasião, eram dois anjos caídos. – Ralph fez uma pausa. – Mas, com todo o respeito, por que a própria Aziel não está aqui para contar sobre o que houve?

— Isso não será possível. Ela foi punida e agora está sob custódia do Cárcere do Medo.

— !! – O loiro ficou sem palavras.

 Aziel havia sido punida? Por qual razão?!

— Então agora conte a história até esse ponto. O que fez com que você se mostrasse para um ser humano?

O loiro não parava de tremer.

Ele já deve saber de toda a história... ele está me testando para ver se eu tentarei omitir alguma verdade...!

— A – Assim como foi dito no relatório, eu e meu companheiro Nesse conseguimos deter um dos anjos caídos, mas o outro se manteve escondido. E num momento em que estávamos exaustos, ele se aproveitou para nos atacar. Eu tentei deter ela e salvar meus companheiros... – Ralph estava com pesar, seus olhos estavam irritados. Ele estava se segurando para não chorar naquele momento. – E em troca de deixá-los livres, ela controlou uma humana que conheço muito bem para me sufocar. O – O momento que aconteceu... foi um evento de surpresa antes que a inimiga pudesse nos atacar, e...

— Chega. Já ouvi o bastante. – Disse Miguel, indiferente. – Quer dizer que ficou preso por causa de um ser humano? Por que simplesmente não a matou? Teria sido mais fácil e não teria cometido a bobagem que fez.

Ralph ficou indignado que rangeu seus dentes. Ele agora tremia de frustração e raiva. As algemas que o prendiam rangiam pela aura que absorviam dele. Os olhos do loiro fitavam Miguel com toda a fúria possível.

Porém, Miguel também notou isso e seu estresse aumentou.

— Essa reação nojenta do imundo já responde à pergunta. Ele se apaixonou por uma humana que quase o levou a própria extinção. É relevante que essa ocorrência seja uma pura prova de burrice!

— M – Mas...

— Você mesmo se condenou, tolo. – Miguel o encarou com olhos frios. Ele se levantou de seu trono para sua palavra final. Sua aura ecoou por todo o recinto. Perante a uma força daquelas, Ralph não conseguia se opor. – O seu desejo primitivo de um animal o está manchando! O nome que tem, a honra que tem de ser um anjo... tudo! Deveras devo dizer que, algo precisa ser feito e agora.

— Espere! – Exclamou Gigan. – Eu sou a testemunha dele! Tenho muito a dizer!

— Sua opinião de nada vale agora. – Disse Miguel com uma expressão fria e destrutiva.

— Meu irmão... eu sei bem o que eu ouvi. Mas, o que você pretende fazer? – Perguntou Gabriel.

— Ah, ele será devidamente punido no Cárcere... é onde tolos imundos como ele devem ir, mas... eu ainda preciso fazer o que eu devo fazer.

— O que... deve fazer?

— Sim. – Encarou Miguel para o loiro. – Eu irei tirar dele a vontade de amar algo de uma vez por todas.

***

Race nunca pensaria que acordaria naquela enfermaria tão cedo.

O Querubim abriu seus olhos e se deparou com o recinto fechado. Próximo dele estava um grupo de Ophanins que rezavam juntos perante os feridos que se encontravam ali. Logo, ele percebeu que acima de sua cabeça lhe descia uma benção de luz e cura dos anjos bondosos. Rapidamente, toda a sua dor havia se esvaído.

— Como se sente? – Disse um dos Ophanins.

— Novo em folha. Valeu Pirilampo. – Disse o guerreiro. Pirilampo era um dos vários apelidos que os Querubins davam para os Ophanins. Ele notou que a maioria dos anjos da guarda estavam exaustos por usarem suas energias na cura dos guerreiros, mas era algo fútil, pois ali os guerreiros se machucavam em seus treinos intensos e a maioria não ligava para a presença dos Ophanins, que nunca saíam da enfermaria, pois odiavam violência. E aquele castelo era cheio disso.

Mas graças a cura deles, Race estava curado. Seu corpo estava coberto de bandagens, mas era o de menos importante. Isso o fez lembrar da luta que tivera na Haled contra os demônios e contra Suiren, além de bater de frente contra um poder latente de anjos de fogo. O Querubim realmente achava que não resistiria ao golpe.

Acabei lembrando Dela por causa disso, que droga...

Race cobriu sua cara de descontentamento.

— Race está acordado? – Soou uma voz do lado de fora da enfermaria.

— Quem chama a minha pessoa? – Race saltou da maca e prosseguiu para fora do local. Como sempre, sua espada não desgrudou da mão, como esperado.

— Senhor, talvez deva ficar repousado. – Implorou um dos Ophanins, acompanhando-o para fora. – Você nunca largou de sua espada, pode ser um trauma ou...

— Relaxa, meu senhor. Isso é o meu normal, mesmo. – Disse o Querubim, meio sem jeito. – E já estou recuperado. Vá descansar, estou vendo que além de você ter sido um daqueles que me ajudou, esteve muito tempo sem descanso...

— Oh, você é um bom observador...

— E um bom guerreiro também. – Disse a voz que antes o chamara. Era um guardião que estava na entrada.

— Quem é você? E por que eu estou no Castelo da Luz, afinal? Tratamento de férias, por acaso?

— Não. Mas você bem que merece, soube dos feitos que realizou na Haled na batalha anterior. Fui um dos guardas que o trouxe para cá, isso foi devido ao julgamento que seu capitão ingênuo causou.

— O – O quê... – Race estava chocado. – O – O capitão está... está sendo julgado?! Por qual razão?!

— Isso não lhe é importante agora. – Interveio o guarda. – Soube que você era diferente no passado, mas a julgar do feito que fez, estou vendo que mudou muito! Os oficiais decidiram lhe dar o mérito por enfrentar tantos raptores de uma só vez! Você deve comparecer a sala dos oficiais agora mesmo!

Vários pensamentos vieram à mente de Race naquele momento... não era todo dia que um guerreiro recebia um mérito como o de ser condecorado pelos Oficiais. Era uma honra imensurável. Diante pelo que ele passou, se a situação fosse outra, ele até relevaria e veria o que ele iria receber pelos seus feitos. Mas naquela situação, o Querubim simplesmente ignorou o guarda e saiu correndo pelo corredor.

— Ei! Para onde você está indo?! E a sua honra e promoção?!

— Que se dane essa honra e promoção! Eu tenho que ver o capitão! – Seus olhos estavam pesados, sua preocupação era enorme. Além do mais, ele estava com um mal pressentimento.

***

Ralph não conseguia acreditar no que tinha ouvido da boca de Miguel. Estava tão chocado que não sabia o que falar. Até mesmo Gabriel estava surpreso.

— Do que está falando, Miguel? – Continuou Gabriel.

— Esse julgamento está encerrado. Eu o decreto condenado. – O Arcanjo desceu do trono e ficou à frente do loiro. – Mas para que essa condenação seja bem-feita, eu o punirei como se deve.

— P – Por favor...! – Ralph estava furioso, mas reunia as palavras para ainda falar. Ele queria falar. Ele queria tentar fazer com que eles entendessem. O loiro sabia pelo o que seria punido, mas era algo que ele achava um completo absurdo. Mesmo que ele estivesse assustado e acuado, fitava Miguel com olhos sinceros, como sempre fez.

Porém, a expressão do Arcanjo era imutável.

Gigan tentava chegar perto dele, mas os guardas o seguravam com força. Era um pelotão inteiro. O guerreiro estava tão incrédulo quanto seu capitão. Ele queria tentar impedir o quanto fosse possível que Ralph sofresse, mas...

— Não a perdão para você. – Disse Miguel à Ralph – Então, receba...

A expressão de Ralph não mudou. De alguma forma, ele havia reunido coragem.

— Não faça isso, meu irmão! – Exclamou Gabriel.

— RAAAAALPH!! – Berrou Gigan de pavor.

—...DOR. – Decretou o Arcanjo. Em um instante, uma pressão esmagadora atingiu Ralph contra o chão. As algemas se destruíram de imediato. Uma cratera se formou de onde o loiro estava. A camisa dele se desfez pelo tamanho da força. Seus músculos enfraqueceram por suportar o impacto. O berro do loiro ecoou. Mesmo com os olhos abertos, ele só enxergava a escuridão devido a dor que estava sentindo. Parecia que todos os seus ossos estavam sendo quebrados. Ralph caiu no chão com o corpo sangrando.

— Levante. – Ordenou Miguel.

Como se ele estivesse sendo controlado, Ralph reagiu e começou a se reerguer. Ele estava totalmente assustado. Seu corpo todo tremia de dor, além do sangue. O loiro conseguiu se levantar, e tornou a encarar Miguel com seus olhos de determinação.

— DOR. – Miguel decretou novamente.

Novamente uma pressão esmagadora o atingiu, fazendo-o berrar de dor mais do que a vez anterior. Mais sangue era expelido de seu corpo. O chão ficou cada vez mais destruído. O corpo do loiro despencou mais uma vez.

— RALPH!! – Exclamou Gigan, mal podendo se mexer por causa dos guardas.

— Levante. – Ordenou o Arcanjo, mais uma vez. O loiro o obedeceu, cambaleando um pouco para conseguir ficar em pé. – Agora, preste muita atenção em minhas palavras... – O loiro o fitava com devaneio, sua mente estava inerte. Sua boca expelia sangue, mas seus olhos continuavam os mesmos, desafiadores. O Arcanjo sabia que o loiro tinha bastante determinação, e a sua intenção era destruir essa confiança dele. – O amor é algo que o Pai deu aos seres humanos como uma forma fictícia de aproximar um do outro para a próxima reprodução. É algo efêmero. Farei com que entenda que estará sofrendo por ainda ter isso. É algo que os anjos não precisam ter. O amor que temos é com nossa missão que o Pai nos deu, apenas isso. É algo que você DEVE aderir também. Agora veja...

Ralph se sentiu estranho, sua consciência não conseguia acompanhar o que estava acontecendo. De repente, ele sentiu uma dor imensurável dentro de si. E essa dor aumentava cada vez mais com o procedimento das palavras que Miguel falava.

— Você sentirá o quanto essa dor mexerá em cada centímetro de seu corpo, incitando seus músculos a se rasgarem, seus ossos se contorcerem, as hemorragias internas de seu corpo aumentarem gradativamente, como uma doença sem cura...

Tudo isso ocorreu a ele. Seus ossos começaram a se distorcer dentro dele, seus músculos se deslocavam, pontos vermelhos de veias estouradas surgiam por entre seu corpo, sua garganta, seus braços e pernas. Ele não parava de berrar pela dor, mesmo que sua voz ficasse rouca, ele não parava. Sua dor não parava. Seus membros então começaram a se contorcer para lados estranhos, seus braços se distorciam, quebrando tendões e músculos mais resistentes.

— Mesmo que você use de seus poderes angélicos, não terá diferença. Você só estará se machucando cada vez mais... tudo ecoará dizendo que é sua culpa. Seu corpo dirá que é sua culpa, seu sangue vai querer sair de seu corpo por ser sua culpa. Você pagará pelos seus erros por ter tal sentimento com você...

Miguel fez Ralph levitar, o loiro de tão assustado invocou suas asas, mas isso só piorou as coisas. Suas asas começaram a sangrar, o esqueleto delas começou a se distorcer também, penas manchadas de vermelho se espalhavam por todo lugar. Cada parte de seu corpo se deslocava com mais violência. Era como se Ralph estivesse sendo espremido, pois uma poça de sangue se formou debaixo dele. O loiro ainda vomitava sangue por causa de tudo isso. Quando a crise de hemorragia cessou, ele foi lançado violentamente contra a parede, manchando-a de vermelho. Seu corpo todo estava sangrando.

Gigan berrou para ele a todo momento que também ficou rouco de tanto gritar. O guerreiro chorava pelo o que estava acontecendo a ele. Gabriel estava incrédulo.

— Levante. Não pense que isso acabou, culpado... – Retrucou Miguel, impaciente.

— Já terminou?

Tais palavras fizeram o Arcanjo arregalar os olhos.

O corpo de Ralph tremia, mas mesmo assim... mesmo assim ele estava se levantando pela própria vontade. Ele sangrava muito, poderia morrer naquele instante, mas ainda assim estava se erguendo pela própria vontade. O loiro cuspiu sangue, mal conseguia se manter em pé. – Não posso perder meu tempo aqui... – Ele se mantinha em pé com toda a determinação que conseguia manter, a mesma determinação que Miguel tentou tirar dele. Era a única coisa que o fazia se manter firme. Era a única coisa que o fazia ser quem ele era. Era a única coisa que o fazia persistir por quem amava. Sua aura se irrompeu do corpo, envolvendo seu braço direito, onde um pequeno tornado se formava no membro.

— ELA ESTÁ ME ESPERANDO! – Ele novamente encarou Miguel com seus olhos determinados, emitindo toda a sua fúria, brandiu o punho contra o Arcanjo, saltou para cima usando o Whirlwind, na qual toda sua esperança estava residida e, apesar de tudo, ainda não tinha sido abalada.

***

Na Haled, Isabelle continuava a fitar um lindo pôr do sol que se formava naquela tarde. Ela segurava forte uma pena contra o peito enquanto observava quieta o tempo passar.

— Ralph...


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