Bem, vamos acabar isso de forma correta. – Slace brincava com uma faca em uma das mãos. – Farei isso de forma rápida e violenta. Já brinquei demais com você.

Slace abriu o seu sobretudo e de lá tirou uma grande foice, que só com o seu tamanho deu um grande susto em Ralph. Slace pegou um punhado de lâminas e as pendurou na longa manga do sobretudo. Ele girou a longa foice em seus braços e a apontou para Ralph.

– Essa é a chamada Foice da Morte. – Slace falou com um tom declarador. – Sim, Ralph. Eu também sou um Querubim igual à Kleber. – Slace meio que parecia saber que Ralph estava fazendo aquela pergunta pela sua expressão. – Acontece que a minha especialidade não é combate mano a mano. – Disse ele com um sorriso. – É de combate a longa distância e também sou calculista.

– Até que foi legal conversar contigo. Mas a minha brincadeira demorou demais além do previsto. Posso ter ferido seus amigos gravemente, mas eles ainda podem vir tentar te salvar.

Mariah corria apressada. Ela conseguira escapar da piscina, que ficara encharcada de sangue dela. Mas como as facas de Slace a perfuraram nas costas, ela não mantinha concentração para voar. Então seguiu correndo para o ginásio correndo mesmo.

– Droga! Preciso chegar lá à tempo.

Dentro do ginásio de boxe, Gotay tentava se soltar das cordas que o mantinham preso, mas estava muito preocupado com Nesse.

– Nesse! Você está bem?!

Nesse soltou um suspiro. Mas ele se aproximou a ponto de Gotay e Dona Melly o verem direito. Ele estava horrível. Nesse fora ferido por todas as direções no seu corpo. Costas, braços, abdômen, pernas e membros estavam cheios de facas, agulhas e lâminas.

– Sim. – Nesse ofegava um pouco. – Fui acertado gravemente, mas protegi meu coração e evitei feridas mais graves.

– Ufa! – Gotay estava mais aliviado.

– Não se preocupe, eu vou tirá-los daí.

Slace atirou uma faca no braço bom de Ralph, que se contorceu mais ainda de dor. Slace lançara mais duas facas, uma em cada perna. O que ele estava fazendo, Ralph percebera, era que Slace o estava imobilizando primeiro, porque mesmo se contorcendo de dor, Ralph ainda poderia usar seus poderes de vento. Poderia.

– Você... Você disse que seria uma morte rápida... – Ralph mal suportava falar por causa da dor.

– Ah, é. Eu só queria te distrair. – Slace preparou a sua foice. – Mas se quer assim...

Ralph não queria morrer. Ninguém quer morrer. Principalmente morrer cedo. E ele descobrira recentemente que era um anjo, tinha poderes incríveis. Mas o Quarteto Sombrio o havia encurralado. E naquele momento Ralph só poderia morrer por Slace.

Mas aquela era a questão: Ele não queria morrer.

Slace atacou com a foice mirando no pescoço de Ralph, mas ele se agachou a ponto de desviar da foice. O que Ralph não percebera, era que aquela foice era pesada, e Slace quase perdeu o equilíbrio por não esperar aquela reação.

– O quê?!

– Foi mal. – Ralph ainda gemia de dor, mas mantinha o olhar firme. – Eu ainda não quero morrer.

– Você me fez de bobo. – Slace ficou nervoso. – Ninguém me faz de bobo! Nem a mim, e nem a minha Foice!

Slace avançou com tudo, empunhando a sua foice para tentar decapitar Ralph, que mal podia mover os membros, todos atacados com facas em meio às juntas dos ossos. Slace atacava com golpes violentos, mas lentos. Ralph se desviava com dificuldade, e a cada mexida com o corpo sua mente doía por causa do corte espiritual. Ele começou a avançar para a esquina, queria tentar escapar, de algum jeito. Ou morreria tentando.

– Você não vai escapar! – Slace atirou uma faca bem no lado da terceira vértebra da espinha dorsal, Ralph cambaleou e caiu no asfalto, arranhando os joelhos e cotovelos além de não conseguir respirar direito.

– Tudo o que lhe resta, é a morte! – Slace já não estava mais calmo. – Parabéns por me deixar nervoso.

– Vai se danar! – Ralph ainda tentava se levantar. – Seu gótico dos infernos!

Slace deu um chute no ombro esquerdo de Ralph enquanto ele tentava se levantar e arrancou um grito de dor de Ralph. Slace o deixou deitado de costas contra o asfalto, Ralph sangrava, seus joelhos e cotovelos latejavam, e a dor era tanta que ele estava prestes a desmaiar.

– Ah, é. Eu tenho que atacar o coração pra você morrer de vez. – Slace apontou a foice ao coração de Ralph. – E parar de me perturbar.

Slace começou a penetrar ainda mais a foice contra o peito de Ralph, que só teve força pra gritar.

– Para! Me deixa em paz! – Ralph gritava e gemia, mas já não tinha mais forças pra nada.

– Adeus ao cosmo. – Slace fez uma despedida falsa.

O único sentimento que Ralph sentia naquele momento não era tristeza, não era felicidade, não era alívio por nunca mais ser maltratado. Apenas um único sentimento, que queria despejar em Slace. Um único sentimento. Ódio.

De repente, alguma coisa envolveu Ralph, que expeliu Slace de perto dele. Ele ficou meio atordoado, tentando entender o que o havia tirado de perto de Ralph. O própio? Não. Ele já estava praticamente morto, como ele poderia ainda fazer uma coisa daquelas?

Uma força invisível levantou Ralph do chão. Uma ventania o rodeou, retirando as facas estacadas em seus membros. Seu corpo estava todo ferido. Ralph estava quase desmaiado, então ele não sabia onde a sua mente estava, mas ou ele estava imaginando ou ele estava vendo e não estava acreditando, pois ele via uma enorme águia branca com enormes olhos o fitando. E o que parecia, aquilo queria sair.