Tenshi no Tamashi escrita por AoiTakashiro


Capítulo 168
Capítulo 168 - Fortes Emoções! Segredo Revelado!


Notas iniciais do capítulo

E CHEGOU O MOMENTO QUE TODOS ESTAVAM ESPERANDO DESDE O INÍCIO DA HISTÓRIA!!!!!!!!!! Gente, lamento a demora, mas aí está! O melhor capítulo desse ano e um dos melhores desta história!



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Isabelle não sabia se estava enlouquecendo.

Primeiro de tudo, ela nem sabia como havia parado naquele local completamente destruído. Mas não havia cena mais pavorosa do que a que estava vendo diante de seus olhos.

Ralph estava à frente dela, seus olhos lacrimejavam, seus lábios estavam quase roxos, mas não tanto quanto a área do pescoço em que ela estava apertando com as mãos.

O pior de tudo era a pressão que estava sentindo, do próprio corpo, e da expressão na cara dele, de total surpresa e horror. Ela gritou várias vezes, tentando de tudo para tentar afastar suas mãos do pescoço dele para deixá-lo respirar, mas nada adiantava. Seu corpo não a respondia.

Como não podia tirar suas mãos, as lágrimas irradiavam em seus olhos, deixando sua visão enxaguada, mas mesmo assim não podia desviar o olhar para o que estava em sua frente. A cada segundo que passava o aperto ao pescoço ficava ainda mais forte, e ela nem sabia que tinha toda essa força. Seus dedos estavam escuros de tanta força que estava usando, sem ela querer.

Ela ainda berrava, mas ninguém a escutava.

— SOCORRO! Alguém me faça parar!

O horror tomava cada músculo de seu corpo, mas isso não a impedia de continuar fazendo aquela atrocidade. Ela esperneou até não ter mais o que chorar. Suas lágrimas secaram no rosto, causando coceira. Sua boca tremia. Mas então, algo mudou naquela cena pavorosa em sua frente.

Ralph estava forçando um sorriso.

Isabelle apenas podia arregalar os olhos...

— A – Acalme-se... Vai... Vai ficar tudo bem...

Não... Não acredito que... que ele está dizendo isso...! Ele... Ele não...

Ralph se engasgou e expeliu um filete de sangue da boca, que escorreu pelo queixo. Ele teve uma crise de asfixia, e lutava ofegante para tentar recuperar o pouco fôlego que se escorria cada vez mais.

Em alguns metros dali, Mariah, Nessie, Belfrior e Nessie apareceram. Pelo canto do olho Isabelle fitou suas expressões horrorizadas. Ela forçou a visão para ver se eram eles mesmos. Seus olhos ardiam pelo esforço, suas pálpebras pesavam.

— Mariah! Nessie! Pessoal! Me ajudem! Eu... eu não quero fazer uma coisa dessas! Tirem o Ralph daqui!

Mas a expressão deles não eram das melhores.

— Não... não podemos... – Murmurou Mariah, com a pior expressão de desconsolo que ela já vira antes nela.

Mariah cerrou os punhos e berrou o mais alto que pôde.

— SUIREN, SUA VACA! VENHA NOS ENFRENTAR COMO...

Ela foi impedida por Nessie.

— Quer que ela saiba que somos anjos de vez, Mariah?! – Cochichou o anjo das águas num tom onde apenas Mariah podia ouvir.

— Eu... eu esqueci. – Murmurou Mariah, envergonhada. De repente, ela caiu de joelhos e começou a vomitar. Uma poça de sangue negro se formou ali, no mesmo instante, ela desabou no chão, inconsciente.

— E – Ela está t – tremendo... – Disse Nessie, acolhendo a amiga, que estava com a pele tão fria que aterrorizou o anjo das águas de vez.

A cura tirou todas as energias dela... Se ela não se alimentar nas próximas duas horas...!

Pensava Nessie, aflito. Mas não podia naquilo agora. Ainda estavam em pleno perigo diante da General Suiren. Ralph estava prestes a morrer asfixiado e estavam na presença de uma humana. Não podiam usar seus poderes.

— Belfrior... por favor... – Murmurou o anjo. – Use seus poderes...

— EU NÃO FARIA ISSO SE FOSSE VOCÊ. – Ecoou a voz de Suiren, que fez o corpo de Isabelle estremecer. Era a segunda vez que ouvia aquela voz aterrorizante. Quem era? – É MELHOR FICAR QUIETINHO E SEM FAZER TRUQUES. SEU LÍDER FEZ A ESCOLHA DELE. MORRER DO PIOR JEITO POSSÍVEL.

Isabelle sentiu o corpo de Ralph tremer, não sabia se era exatamente pelo estrangulamento ou pelas palavras daquela pessoa misteriosa seja ela quem fosse. Suas mãos queimavam, já estavam vermelhas de tanto apertá-lo.

Ela não conseguia entender aquele garoto. Ele podia facilmente tirar suas mãos dele com aqueles braços musculosos. De repente, ela não soube o porquê, mas fitava a camisa azulada dele, já surrada. Parecia que ele estava brigando novamente, com um motivo que nunca a tinha dito. Ela se perguntava de como ele não tinha muita escolha do que se vestir. Era uma pessoa totalmente simples. Um garoto simples. Ela não conseguia entender isso, nem a razão dele estar com aquele penteado de estrela, mas de alguma maneira ela gostava disso dele. Não era uma pessoa descolada, mas que chamava muita atenção com seu jeito de ser diferente. Isso a acalmava, e após isso acontecer, ela conseguiu supor algo:

Ele não queria machucá-la.

Ele não quer que eu me preocupe com ele...! Ele...! Ele não se importa de que eu o machuque assim só para que eu não fique aterrorizada?!

Ralph era um idiota.

— Ralph, eu... – Isabelle começou a falar, mas algo a deteve. Seja quem fosse que estivesse controlando seu corpo (ela já estava realmente considerando que estava ficando louca) não queria mais que ela falasse. Sua boca se fechou contra sua vontade, o que a fez apenas murmurar: - Hmpf!

— CHEGA DE CONVERSA!

Isabelle sentiu uma forte pressão novamente, o que fez suas pernas cambalearem. Ela não sabia o que era aquilo, mas só a assustava cada vez mais. Queria despertar daquele pesadelo. Acordar e...

E...

Algo veio a sua mente.

***

Dois anos atrás...

Isabelle fitou o loiro apanhando mais uma vez de valentões maiores que ele. Na ocasião, ela estava acompanhada de algumas amigas durante a volta da escola. As outras começaram a rir e cochichar:

— Que garoto estúpido. Se ao menos tentasse ser normal... – Disse uma delas.

— Ele podia tentar ser como todo mundo, né? – Debochou outra.

— Pessoas estranhas são desprezíveis... – Disse uma terceira.

Isabelle ouviu metade do que elas disseram e fechou os ouvidos. Apenas se concentrou no garoto apanhando de um número covarde de adversários, enquanto provavelmente tiravam sarro do seu cabelo estranho.

— Ele não está atacando... – Ela pensou alto.

— O quê? – Disse uma das amigas.

— Ele... está se defendendo. – Ela apontou na direção dele, do outro lado da rua, em um beco. E enfatizou no exato momento em que o loiro se defendeu de um soco de um dos caras, segurou o chute de outro e empurrou o terceiro. Então, ele se agachou numa esquiva de outro soco e desferiu um soco seu no queixo do cara, que desabou no chão. O cara que deu um chute atacou novamente, mas o loiro fez mais que defender seu chute novamente, aplicou uma rasteira na perna de apoio do garoto e o derrubou também. O terceiro socou sua cara, e as outras acharam que ele ia cair, mas numa reação surpreendente Ralph socou o queixo deste e o atordoou. Eles se levantaram e o encararam, mas Ralph os intimidava com os olhos azuis, mesmo com sua expressão ferida, ele mostrava sua determinação. – Uau!

Os três valentões bufaram.

— Esse aí está se fazendo de durão. Amanhã a gente pega ele com mais caras. – Eles saíram do beco e sumiram pela rua.

As outras voltaram a dar risos.

— Ah, Isabelle. Você precisa entender que para pessoas como ele esses esforços não adiantam. É como nadar contra a correnteza. Uma hora você será empurrado com toda a força. Do que adiantou ele ter dado uma de durão hoje se amanhã vai apanhar ainda mais?

— Ele vai se defender com mais confiança do que hoje. – Respondeu Isabelle, sem olhar para suas amigas. Ela não desviava os olhos do garoto que soluçava e chorava pela dor que estava sentindo, mas sua expressão era de alguma satisfação própria.

Ele aproveita a vitória que obtém... por menor que ela seja...

***

— Ralph... – Isabelle forçou sua voz a sair da boca, que saiu quase como um sussurro. – Pare...

— O – O quê? – Perguntou o loiro, com uma voz grave, dolorosa.

— Pare... de agir como você sempre faz... – Isabelle chorava ainda mais, suas lágrimas mais pesadas que da outra vez. Seu nariz escorria e sua boca estava enrugada. Ela se controlava para tentar não soluçar, mas era difícil. – Não importo como faça... tire minhas mãos... você pode fazer isso...

Então ela percebeu que ele levantou a cabeça, e para a surpresa, as falas dela o haviam feito chorar também.

— Não chore... por isso... – Ele estava com uma cara de preocupação.

Ele não quer que eu me preocupe com ele?!

Isabelle sentiu raiva por isso e logo se amaldiçoou por sentir isso. Mas..., mas ela não conseguir aceitar aquilo. Por que ele não podia tirá-la daquela situação?

Então, ela notou que estava apenas pensando em si mesma. E se arrependeu ainda mais por isso. Seu coração batia cada vez mais forte, parecia sair do peito. Ela olhou para o rosto do loiro, e enfim percebeu a expressão de cansaço dele. Talvez ele não tinha forças para tirar ela dali, mas seria isso mesmo? Ela também notou que, ao prestar atenção nele, a brisa dali era forte e agradável.

Não tinha como uma tarde agradável como aquela ser tão tenebrosa.

Estranhamente ela sentia o vento percorrer por todo o seu corpo, mas ela considerou que fosse toda a sua tensão, que a fazia tremer. Todo aquele terror a assustava, abalava sua mente e corpo.

Enquanto isso, Belfrior e Gigan encaravam a expressão demoníaca de Suiren.

— Parece que ela não quer que Isabelle não fale mais, mas...

— Por que isso de repente? – Perguntou Gigan. – E por que isso não deu certo? Afinal, ela continua a falar...

— Talvez a Segunda Possessão possa ter tirado todas as suas energias restantes. Podemos usar isso a nosso favor.

— Como?

— Vamos ver.

Belfrior avançou alguns passos.

— PARE! FIQUE ONDE ESTÁ! OU EU MATO ESSES DOIS, NÃO. ESSES QUATRO DE UMA SÓ VEZ! VOCÊS DOIS ESTÃO FRACOS PARA DETER MEUS FERRÕES, NÃO É?

— Pode ser. – Belfrior manteve a calma e postura, colocou as mãos no bolso e fingiu desinteresse. Ainda poderia virar aquele jogo. – Assim como você. No seu estado atual, não deve nem conseguir calar a minha boca, não é?

Suiren fez uma expressão mista de indignação e pânico.

— NÃO ME SUBESTIME! NA MINHA SEGUNDA POSSESSÃO, POSSO PARTÍ-LO AO MEIO!

— Não duvido disso. Mas está totalmente certa de que vai matar Nessie? Ele poderia curá-la até seu poder total, seria um desperdício total.

Gigan considerou que Belfrior já estava falando demais. Mas logo ele entendeu que estava causando uma confusão em Suiren.

— É... VOCÊ ESTÁ CERTO. ACHO QUE VOU LEVÁ-LO COMO SEU PRISIONEIRO.

— Então você admite que está fora de suas condições de nos deter também, não é? – Belfrior soltou satisfação em suas palavras. Exibiu um sorriso provocante. – Isso é bom. Posso atordoá-la com uma simples telepatia de confusão, o que acha?

— NÃO OUSE! – Suiren esbravejou. Seus tentáculos de água escura ficaram envoltas em Belfrior. Gigan entrou em modo de alerta, mas sabia que havia alguns tentáculos mirando nele, também. – AINDA ESTOU COM SEUS AMIGOS PRESOS! E AINDA TENHO PLANOS PARA AQUELES LEGALISTAS NOJENTOS!

— Me pergunto qual de nós está blefando. – Provocou o Serafim. – Acha que ainda vai poder tocar um dedo sequer nos nossos amigos? Acredite, isso não vai acontecer.

Gigan grunhiu. Seu corpo estava dolorido e cansado, mas seus sentidos despertados o fizeram ignorar isso com a adrenalina. Ele está contente com isso, odiaria travar no meio de uma luta.

O Serafim soltou um suspiro. Ao redor deles, gotículas de água circulavam pelo ar, o Serafim sabia que Gigan estava farejando o ar. Ambos sabiam o que Suiren estava planejando fazer: atacar a todos de uma vez e no ato matar a Ralph enquanto ele estivesse imobilizado por Isabelle em uma chuva de espinhos de aço. Se isso acontecesse, não poderiam escapar. Gigan foi fatalmente ferido por um ataque similar e não poderia receber outro golpe daqueles, não que ele fosse recuar da luta por causa disso, o que preocupava o Serafim.

Capitão... espero que saiba o que está fazendo. Isso é o máximo que consigo para intimidá-la. Não sei se poderei proteger a todos com minhas barreiras. Mas não deixarei que Áries, Rimeria e os outros sejam feridos! Custe o que custar!

Isabelle estava sofrendo de dor de cabeça. Mas mesmo não querendo era obrigada a ver a cena mórbida do sofrimento de Ralph, que expelia cada vez mais sangue da boca e agora do nariz. Suas pupilas estavam paralisadas, como se ele estivesse em um transe. Ela sabia que ele estava fazendo de tudo para tentar ignorar aquela dor, mas deveria ser algo impossível. Os seus dedos já estavam roxos envolta do pescoço, da mesma cor.

Ela suava frio, o vento forte já a fazia tremer por completo. Ela queria sair dali. Não queria que aquilo estivesse acontecendo. Só o pensamento de ter que encarar que seria a causa de Ralph a fazia...

Não! Não! Não!

Mas, o que era aquilo?

Ela arfou, enquanto algumas mechas do seu cabelo laranja caíam sobre o rosto, que estava vermelho.

Nós...

Sim, nós.

Ela não conseguia entender aquela estranheza que tinha com a personalidade de Ralph. Nem porque notava tantas coisas nele. Ele podia ser o cara mais estranho de todos, mas... ele era diferente! Não era um estranho ruim.

Não é um estranho ruim...

Aquela frase ecoou pela mente de Isabelle. Ela nunca achou a estranheza de Ralph um deboche, ou nada assim. Muitos poderiam pensar que ele estaria fazendo isso para afastar o fato dele estar sozinho, mas...

Ei! Ele não está sozinho!

Ela corrigiu a si mesma. Ralph não estava sozinho, ele tinha a... Isabelle refletiu sobre a palavra “mim” e sentiu algo estranho e quente. Ela expirou, suas bochechas queimavam. Parecia que o ar estava mais gelado. Era como se o inverno estivesse ali. Como se um forte vento trouxesse uma tempestade naquele momento. E, por algum momento, Isabelle achou que Ralph pudesse estar causando aquilo. Ele não deixara de olhar para ela em nenhum momento, sempre com um sorriso no rosto, como se fosse para que ela lembrasse que ele morreria com um sorriso, apesar de tudo o que passara.

Certamente, era Ralph que estava fazendo isso.

Aquele garoto sempre esteve mexendo com ela com seus mistérios, com sua sinceridade e simplicidade. Era muitas coisas para se conseguir pensar de uma vez.

Céus, não acredito...

De repente, Isabelle sentiu como se um peso em suas costas tivesse sumido.

***

Melissa era uma mãe muito cativante.

— Meu filho é um anjo.

— É, sim. – Isabelle respondeu com uma risada. As duas estavam sentadas na sala de estar na casa de verão. Ela considerava Melissa como uma mãe, já que nunca teve uma. Sua vida familiar era uma bagunça, mas aquela mãe havia surgido e a acolhera. As duas faziam tudo juntas como melhores amigas.

— Como foi ter Ralph na barriga? E depois quando ele nasceu? – Isabelle foi casual, e ficou surpresa de fazer tal pergunta, mas Melissa não estranhou.

— Ah, como posso dizer... – Melissa estava divagando, como se estivesse relembrando de um sonho. – Era muito bom. A maioria das mamães sentem um enorme peso a carregar com o filho na barriga. Mas, comigo foi diferente. Pelo contrário, eu senti como se fosse mais leve que o ar.

— Uau! – Isabelle estava impressionada. Queria ter esse tipo de experiência no futuro.

— Sim. – Melissa retribuiu uma risada. – Sentia até que algumas vezes eu flutuava de verdade.

— Como assim?

— Ah! Não é nada. – Melissa se retesou apressada para mudar de assunto. – Foi só modo de expressão, querida.

— Mas... Ralph nunca foi de dar trabalho? – Ela não queria entrar em detalhes das brigas que o loiro lidava quando ia para a escola.

— Se você se refere a personalidade dele... sempre foi assim. – Melissa bebeu um gole de chá. – Mas, o seu jeito tímido... nem sempre foi assim, mas não é preciso falar disso. Meu filho é ainda muito ingênuo e isso o faz transmitir suas emoções com facilidade. Isso o faz ser muito amável por seus amigos.

— Sim... Eu... – Ela ficou confusa neste instante. Isso também a incluía. Mas, algo naquele encaixe com os outros amigos de Ralph não estava certo. – Para mim, também... eu...

— Sim, eu sei. Você demonstra bastante preocupação com meu filho. – Melissa a olhou com ternura.

Mas a reação de Isabelle foi exagerada.

— Hã? Eu fico mostrando tanta preocupação assim?! – Ela tocou o próprio rosto, numa expressão misturada de dúvida e vergonha. Seu rosto enrubesceu, ressaltando as sardas no seu rosto.

— E você, querida? O que acha dele? – Melissa foi mais direta. Isabelle sentiu como se estivesse pegando fogo.

— Hã? Eu... Eu não sei...

***

Ela sempre dizia “eu não sei” para essa pergunta.

Mas ela sabia que esta não era a resposta.

Sempre quando estava por perto dele, sentia algo diferente. Até diante daquele momento em que Ralph estava pairado de tanto desespero, ela agiu sem pensar e foi quem o motivou a seguir em frente. Desde quando ela o contagiava tanto assim?

Seu rosto queimava sempre que pensava nisso, mas naquele momento atual ela decidiu parar de evitar de encontrar uma resposta, mesmo que aquilo pudesse ser uma besteira.

Mas, por alguma razão, ela mesma não achava isso uma bobagem.

Sempre que estava junto de Ralph, ela sentia uma calma transbordar dele para si. A presença do garoto era descontraída, e era como se ela se sentisse segura. Não era algo que dava para descrever. E a cada momento de dúvida que ele demonstrava, queria ser aquela que o ajudaria a encontrar uma resposta, assim como ele a ajudara a se livrar das incertezas que dúvidas que tivera de seu “pai”. Sua vida havia virado de cabeça para baixo por causa dele. Ela podia pensar: “isso é culpa dele”. Mas, sempre que ela demonstrava gratidão por apenas ela estar ali (o que ela não conseguia entender como que apenas isso podia gerar gratidão, garotos eram complicados), Isabelle sabia que nunca poderia agradecer a ele por tudo o que fizera por ela.

Ele a fazia se sentir leve como Melissa descrevera.

Por isso, ela não queria que isso iria acabar daquela maneira.

Mas, de alguma forma, sabia que ia morrer ali também.

Isso não importa mais.

Isabelle fitou a expressão de Ralph, enquanto se contorcia com o enforcamento. Suas mãos já estavam encharcadas com o sangue que ele expelia do queixo. Era doloroso vê-lo daquele jeito. E aquela sensação de que aquela situação acabaria mal sem que ela pudesse dizer algo a deixava ainda pior.

Por isso, ela não se importou com o que ia acontecer.

Ela forçou cada músculo do corpo a se mover pela sua vontade, o que era similar a morrer várias barras de aço. Mas ela não desistiu, continuou tentando. Era como se uma força invisível a forçasse a fazer o que ele quisesse. E ela não queria que isso continuasse.

Preciso... fazer isso... quero... eu quero...

Isabelle chorava novamente, mas ainda tinha um resquício de esperança. Ela queria tentar até o último momento. Ela sabia que ia morrer, não sabia o porquê. Só sabia. Mas isso não a evitou de ir contra aquela sensação.

Naquele momento, mais do que nunca, ela ia tentar de ir contra. Ela seguiria aquele “sentimento”.

***

Ralph tinha certeza de que nunca iria encarar uma morte pior do que morrer pelas mãos de Isabelle. Ele chorara tanto que ele apenas não continuou por não ter mais energias para isso.

Diante de Suiren, a General da Água, ele deixou passar um detalhe muito importante. No canto de sua memória, se recordou do que seus companheiros disseram sobre os civis zumbis. Provavelmente era Suiren que os estava controlando. Mas como foi algo que ele só descobriu um tempo depois.

A água.

Era algo óbvio. Mas que passou despercebido por todos. Suiren havia irradiado sua aura pela reserva de água, passando por todas as casas das cidades. Por isso que os Raptores não encontraram resistência. E...

Por pouco não havia se tornado marionete de Suiren.

Mas se Isabelle não o tivesse oferecido aquele copo d´água, ele nunca chegaria a essa conclusão.

Aquilo o deixava frustrado. Isabelle tomara da água e estava sob o controle de Suiren. E ela ainda a deixara consciente para saber que ela é quem o estava matando. Imperdoável!

Mas seus sentidos angélicos não o deixaram na mão.

Ele sentiu um fino traço da aura de Suiren se dispersando ao redor de todos. Era como uma geada úmida que avisava que uma chuva forte estava prestes a chegar. Mas Ralph sabia que não seria uma chuva comum.

Mesmo no estado em que estava, ele queria proteger Isabelle.

Com suas últimas reservas de energia, ele emitiu tudo para Isabelle. Uma forte brisa a envolvia, mas ele não sabia por quanto tempo ainda ia conseguir manter.

Ele fitava a garota tentando de tudo para se libertar da prisão imposta por Suiren. Isso o machucava. Droga, ele queria fazer de tudo para que tirar ela daquela situação! Queria ser ele no lugar dela. Qualquer coisa.

Ele sabia que poderia invocar suas asas e salvá-la do perigo iminente, mas Isabelle era humana. Ele não podia em hipótese alguma mostrar que era um anjo.

Como queria que essa regra estúpida não existisse.

Nem que fosse só por aquele momento.

Ele sentia que ia morrer naquele momento. Por mais angustiante que isso fosse, não podia ignorar isso.

Droga... Isabelle...

Ele não tirava os olhos dela nem por um segundo. Como ela estava linda. Ele não ligava pelo o que ela vestia ou como estava seu cabelo. Ele adorava tudo nela. Ela era incrível. Aqueles olhos verdes cativantes o deixavam muito sem jeito.

Não fosse pelas experiências em que olhou para ela de perto, teria corado na mesma hora.

Ele se sentiu egoísta por querer abraçar ela bem apertado naquela hora.

Que coisa. Seria um bom jeito de morrer...

Um pensamento surgiu em sua mente. Começou a suar frio na mesma hora.

S – Se eu vou morrer... Então, não tenho nada a perder...! Eu... Eu vou dizer a ela que a amo!

Ele sentiu seu rosto queimar, mas resolveu não demonstrar isso a Isabelle. Já estava usando todas as suas forças para não a aterrorizar com aquele sorriso.

Eu sei que estou sendo injusto com você, Isabelle... Me desculpe...

Ele tornou a lacrimejar os olhos.

..., mas não quero que você se lembre de que a última vez que me viu eu não estava chorando!

Ele estava determinado agora. Queria poder encarar Suiren agora e intimidá-la: “não tenho medo de morrer desse jeito!”

Por tudo o que ele já passara e sofrera na vida. As brigas desnecessárias e a tristeza que acumulara por tantos anos por ser diferente. Isabelle havia sido diferente. Ela não ligava para isso. Ele não se importava de morrer depois que dissesse tudo a ela. Estava cansado de esconder. Ficou entristecido diante de toda sua vida e ao começar a viver daquele jeito, cumpriria seu desejo de proteger alguém importante até o fim.

Se ele ia se declarar, teria que ser do melhor jeito possível. Resolveu guardar saliva e controlar sua respiração, tentando ignorar a dor de ser enforcado o máximo possível. Era doloroso fazer tudo isso e ainda sorrir para não preocupar Isabelle, mas era assim que ele queria fazer.

Logo, Suiren irá atacar... sei que ela vai abrir alguma brecha. Assim que isso acontecer, eu vou mandar uma mensagem para Belfrior para que fuja com todos e irei proteger Isabelle a todo custo!

***

Suiren começara a odiar Serafins.

Aquele maldito Serafim tinha descoberto sua ideia da Chuva de Aço. Além de que não tinha mais energia o bastante para manter sua Segunda Possessão. Ela só poderia usar mais este ataque, e logo voltaria ao normal. Ainda tinha que guardar energia para escapar. E era lógico que aquele Serafim não ia permitir tal fuga.

Mas talvez o ataque faça bastante efeito na estratégia dele.

A General ofegava de cansaço. Amaldiçoava que Kazan havia partido e a deixado com aquele problema. Aquele idiota com mania de ser maneiro em tudo não havia conseguido matar Ralph e deixara aquela tarefa para ela. Se ela não conseguisse...

Não queria nem pensar nisso.

Ela concentrou seus poderes. A aura dispersava começou a se organizar. Nuvens escuras se formavam ao redor deles. Ela detinha de todo o alcance necessário para atingir até os feridos dentro do Golem de Nessie. Ela mataria a todos com um golpe só.

Agora, Senhor Lúcifer... Honra a você com o sangue destes anjos!

Ele ofegou cada vez mais, mas estendeu seu braço.

Terei que desfazer do controle da garota por três segundos, mas não é como se ela vai poder escapar! TODOS ESTÃO MORTOS!

***

Tudo aconteceu muito rápido.

As nuvens escuras de chuva se aglomeraram e explodiram como vários sacos de pipoca.

Belfrior e Gigan ficaram paralisados durante aquele segundo. Nessie olhava constantemente para Mariah e Ralph, ainda tentando achar alguma solução.

Suiren desfizera do controle de Isabelle, que logo notou que estava normal de novo, e imediatamente soltou o pescoço de Ralph.

Ralph abriu a boca para falar as palavras tão esperadas que guardara por tanto tempo...

— Isabelle eu... Eu te...

De repente, tudo parou.

A reação de todos foi de surpresa. Todos olharam para os dois.

Isabelle pousou suas mãos nos ombros de Ralph com o impulso e o beijou profundamente na boca, calando-o de imediato.

Ralph arregalou os olhos. De repente, tudo clareou. Tudo o que viu foi os cabelos laranjas de Isabelle esvoaçarem em seus olhos. Tudo estava branco diante deles.

E ele aceitou o beijo.

Nisso, Isabelle abriu os olhos... E ficou totalmente surpresa.

Nas costas do loiro pendiam um par de... Asas! Duas imensas asas brancas que a rodeavam pelos lados.

O maior segredo daqueles dois havia sido revelado.


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