Tenshi no Tamashi escrita por AoiTakashiro


Capítulo 165
Capítulo 165 - Se Anjos Honrosos lutam, Eles sabem Rezar


Notas iniciais do capítulo

Começo de mês, novo capítulo!
Boa leitura ;D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/583124/chapter/165

Um cenário inimaginável estava abaixo de Ralph, que o encarava com pura surpresa. O calor imenso os alcançara, com a aproximação dos gêiseres a cada segundo.

— Jack!

— C – Certo! – Ainda um pouco desajeitado, o garoto posicionou suas mãos na direção dos gêiseres abaixo, colocando toda a sua força. Gerou-se uma enorme ventania, flocos de neve ressoaram das palmas de suas mãos, de tamanhos desfigurados e alternados. Uma plataforma de gelo foi formada, situado no alcance de cada torrente de lava direcionado a eles. Placas de gelo eram sobrepostas, pois primeiramente, o choque térmico entre as duas potências exalou uma névoa potente. Jack teria que te certificar de não deixar nenhum daqueles jatos superaquecidos ultrapassasse por suas defesas.

Por entre os espaços transparentes da imensa plataforma gelada, era possível ver o braço esquerdo que fora decepado segundos antes.

Durante todo aquele momento, Ralph não respirara, de tamanha tensão que sentira. Ele bufou, como se tivesse prendido o ar ao entrar na água. Porém, quem ficou ainda mais tenso, foi Jack. O garoto simplesmente ultrapassou seus limites, colocando tudo de si, em tão somente uma ordem que seu capitão lhe fizera. A surpresa veio, por ele mesmo não saber se poderia fazer tal feito. O problema veio depois. Não somente as mãos, mas o corpo todo do garoto começou a tremer, uma tontura repentina surgiu, e seus sentidos se esvaíram. Ele havia perdido muita temperatura corporal. Isso não seria um problema para anjos do gelo, acostumados a alcançar temperaturas baixíssimas.

Mas aquela situação era deveras diferente.

É dito que o Avatar, a estrutura corporal que os anjos usam como disfarce para atuar na Haled é formado por uma substância chamada Ectoplasma, encontrada facilmente nos limites do Limbo, o chamado Campo Astral, do qual os fantasmas se encontram. Há boatos de pessoas que podem enxergar as asas de um anjo, mesmo este em um Avatar. São pessoas raras.

Simplesmente, o Avatar de Jack não tinha tanta capacidade de adaptação a crises climáticas. Não era um “manto” usual e antigo, e Jack não sabia como maneirar em suas habilidades. Ainda, como estava dentro de um Santuário gigante, ele e seu Avatar eram um só, por isso, era sem dúvidas pior. Ele se sentiu desvanecer, seus olhos pesaram, e suas asas ficaram instáveis.

Mas ainda havia outro problema.

Assim como as Chamas Emocionais de Mariah, um Ishim aumenta seus poderes de acordo com um ambiente específico, com suas emoções ao máximo. Isso significa que, se Jack não regulasse suas camadas de gelo corretamente, elas ficariam fracas e cederiam. Ralph sabia disso, mas não estava ciente do estado atual de Jack, diferente de Kazan.

— Jack, não deixe os gêiseres passarem! – O loiro sacudiu suas asas e se impulsionou para frente, na tentativa de alcançar o General, para não demorar em fazer Jack de desgastar demais.

O garoto desceu fazendo uma curva paralela ás placas de gelo. Ele estava se preparando para realizar um novo ataque em Kazan, virando-se para sua direção. Neste momento, suas mãos tremeram tanto que vacilaram no seu controle de gelo, que já estava frágil.

Nesta hora, algo inesperado aconteceu.

Jack expeliu sangue de repente. Suas asas se desfizeram, e aos poucos ele caía sobre o cenário da geleira que se derretia perante o inferno de lava abaixo. Um raio de energia havia perfurado seu abdômen, acertando seus fígados.

Ralph fitou tudo aquilo chocado e confuso. Porém, em meio a essa complicação de compreensão, o loiro notou que o raio de energia viera abaixo do garoto, e de uma direção específica. Foi então que ele logo descobriu o que havia sido responsável por atacar o pequeno garoto.

Como isso é possível?!

Na direção designada, havia um braço vermelho como magma, com seu dedo indicador apontado onde o raio acertara Jack, a fumaça que saía da extremidade do dedo mostrava que aquilo realmente foi verídico.

Não pode...?!

Ralph se engasgou com os próprios pensamentos. Aquela não era hora de ficar raciocinando o que poderia ser possível ou não. O loiro não encarou Kazan, mas sabia que ele estava sorrindo.

Ele usou o braço de isca?! Não, foi uma medida desesperada de tentar conseguir vantagem!

— JACK!!! – Ele gritou com todas as suas forças, enquanto seguia até o garoto voando o mais rápido que podia. Levaria somente alguns segundos, mas...

— Agora, morra. – Murmurou o General. Sua posição estava levemente inclinada. – Exploda! – Dito isso, o braço esquerdo começou a inchar como se fosse um balão, e subitamente desencadeou uma imensa explosão. No momento, o loiro havia conseguido pegar o garoto, mas não estava preparado para aquela armadilha.

A explosão ressoou violentamente.
                                     ***

Mariah estava tentando se acalmar, mesmo tendo vomitado instantes atrás. Ela sentia-se fraca, mas se ela ingerisse mais daquela água curativa de Nessie, talvez ela se curasse depressa.

Sua atenção se virou para os anjos legalistas, ainda desacordados. Aqueles que sofreram da mesma forma que ela. Eles estão do lado oposto da potência angélica. Os anjos da Legião de Miguel são destruidores que só querem saber de pilhar humanos, por não acreditarem no Livre Arbítrio dos Macacos, chamados por eles. Compõe de cerca de mais soldados que os Rebeldes, mas não pareiam o número de anjos caídos, a horda demoníaca de Lúcifer.
De acordo com a crença das potências, o dever de Mariah seria matá-los naquele instante. Mas ela se deteve, por inúmeros motivos.

Ralph que os tinha salvado. Seria dever dele realizar isso? Não, pois ele nem sabia que eram Legalistas. Ou sabia?

E havia a própria conduta dela mesma. Era correto matar outro, sendo este sofrido da mesma forma que si mesmo, apenas por ter um pensamento diferente?

Os pensamentos da ruiva se cessaram ao notar que um deles havia desperto.

— Uh...! Minha cabeça... – Era uma jovem mulher, aparentando ser de mesma estatura de Mariah. Seus cabelos eram longos, sendo fios dourados condecorando seu rosto, para no fim terminarem em traços de fogo. A Legalista usava um vestido totalmente branco, com um colete de prata por cima. Era certamente uma beldade, ao julgar por seu forte porte e aparência.

Mariah resolveu ser cautelosa.

— Hã, você está bem... – Ela se interrompeu quando a Legalista quase a incendiou ao mover seus braços.

— Não se aproxime, Rebelde! – Apesar de tonta, ela se posicionava à frente de seus companheiros para protegê-los. Mas dava para notar que ela despencaria a qualquer momento.

— Não precisa disso! – A ruiva se sentia pior só de olhar para o estado dela. – Nós vamos salvar seus...

— Salvar? – Ela soltou uma risada irônica e cheia de dor. – Quem vocês, Rebeldes, querem mesmo salvar?! São apenas tolos que continuam a proteger os humanos por séculos! São vocês que precisam de salvação!

— Ah, por favor! – Mariah já perdeu a pouca paciência que tinha. – Pare com essa política ridícula sobre as Potências! Não está vendo que ajudar você e seus companheiros é o mais importante?!
Logo após ter iniciado essa discussão, a Legalista começou a vomitar novamente. Um líquido negro expeliu de sua boca contra o chão. Sua barriga doeu mais que sua cabeça, o que a fez se contorcer e desabar no chão.

— Ei! – A ruiva fora até dela, ainda sentindo pontadas de dor no estômago. Suas olheiras mal a deixavam abrir os olhos. Ela ergueu a inimiga e colocou sua cabeça sobre seu colo.

— O – O que está fazendo? – Sua voz era rouca pelo vômito arranhar sua garganta.

— Infelizmente, o anjo da água que me curou um pouco não está aqui. Por isso, vou ao menos deixá-la confortável para mostrar que não quero lutar contra ninguém.

— Mesmo sabendo que ainda vou agir para matá-la? – A Legalista não dava o braço a torcer.

A ruiva balançou a cabeça.

— Desculpa, mas isso não vai rolar com meu capitão por aqui. – Nem mesmo a ruiva aguentava a dor que sentia, e por tudo o que tinha acontecido naquele dia, ela resolveu evitar de se estressar, para o seu próprio bem. Além disso, ela tinha com quem contar.

— Como pode ter tanta certeza? – A outra parecia estar um pouco melhor, ou então sua antipatia a deixava com um bom humor.

— Por que não o pergunta diretamente? – Mariah foi curta e grossa. – Se acha que pode nos vencer com opiniões, então nunca irá vencê-lo.

A sucinta explosão aconteceu ao longe. Mariah não deixou de transmitir preocupação.

— Me parece que isso não vai demorar muito... – Murmurou a Legalista, irônica.
                                    ***

Nessie escutou a tremenda explosão, e logo virou sua atenção na direção em que os outros dois se encontravam. Ele fitou Kazan, que havia se equilibrado no ar com suas asas demoníacas, porém, viu que estava sem o outro braço. Então, porque ele não estava abalado?

Nisso, o anjo pôde notar a atual situação na superfície. Uma plataforma de gelo havia sido formada para deter inúmeros gêiseres de vulcão, que agora derretia essa fina camada de gelo, e alcançavam os céus sem dificuldade. Ele procurou por Ralph e Jack, em meio daqueles feixes alaranjados superaquecidos, mas nada.

De repente, ele escuta um zumbido em seu ouvido. No início achou que era o barulho dos gêiseres, mas aos poucos o som ia aumentando cada vez mais. Na sua cabeça. Era similar a uma interferência causada por uma ligação, ou...

Indício de telepatia!

O som veio abafado, mas logo uma voz familiar ressoou.

... Nessie...?... Está aí... Você...
Era a voz de Áries.

— Sim. Eu estou bem, mas ainda não detemos o inimigo. Como está aí?

Ufa, ainda bem! – A interferência parecia que havia acabado, pois a voz da Serafim estava limpa e clara. – Estamos bem, de algum jeito, mas Race se feriu demais, e... – Era possível notar que Áries estava aflita, mas como ela havia dito que os outros não estavam em perigo, Nessie não conseguia entender a angústia dela. – De repente, a cidade inteira se cobriu de gêiseres de fogo, o que nos obrigou a usar um prédio abandonado para nos escondermos. Diga sua localização, por favor.

Se tivermos ao menos Gigan e Belfrior para o combate, poderemos vencer!
Foi o que Nessie assumiu. Ele disse a localização em que estava, mas logo sentiu a presença de duas auras: as de Ralph e Jack. Não estavam muito longe, por isso tomou o pensamento de que poderia auxiliar os outros. Ao que parecia, Race estava em uma condição crítica.
O anjo se impulsionou com as asas e seguiu para a direção dos outros, ignorando o fato de já ter dado suas coordenadas.
                                    ***

Em um instante, Ralph apareceu diante de Mariah carregando Jack nos braços. A ruiva tivera um susto, assim como a Legalista. O loiro arfava, exausto. E junto a ele, o garoto se encontrava desmaiado. Mariah quis se levantar, mas a dor no estômago a impediu.

— O – O que houve?! – Perguntara, aflita.

— Aquele maldito... Estava focando em Jack o tempo todo! – Ele deixara o garoto no chão. Seu rosto, assim como seu corpo, estavam cobertos de fuligem, assim como Jack. Logo, olhou para todos os lados na tentativa de encontrar Nessie, mas uma voz o deteve.

— Então, você é o capitão dos Rebeldes? – Era a Legalista, não tão longe dele. Ele a reconheceu como uma das vítimas feitas por Kazan. Ficou feliz por ver que ela estava se recuperando, mas não teve a chance de tomar a palavra. – Aposto que sim. O culpado por tudo isso.

O loiro engoliu em seco.

— Ei! – Dessa vez, Mariah não se segurou, ignorando toda a dor que estava sentindo no corpo, ela agarrou o colarinho do vestido da Legalista. – O que está dizendo?!

— Só estou dizendo a verdade. – Ela respondeu friamente.

Em meio à fúria da ruiva, Ralph manteve sua postura.

— Ela tem razão. A culpa é toda minha. – Ele a fitou nos olhos.

— Ralph! Ficou doido de vez?! Você sabe o que ela é...

— Sei muito bem. – O loiro fechou seus olhos pesadamente. – Uma líder de pelotão da elite da Vanguarda, estou certo?

A Legalista ficou surpresa pela primeira vez.

— C – Como sabe disso?!

— Você tem os mesmos olhos que um certo alguém. E por isso, tenho certeza que teve essa missão dada pelo próprio Miguel.

— Quem é você, maldito? – Ela estava nervosa, mas cautelosa.

— Acho que você não está em condições de perguntar isso. – O loiro a encarou, sério. – Em primeiro lugar, éramos para estar no mesmo lado em uma luta dessas.

— Quem precisa da ajuda de Rebeldes traidores como vocês?! – Berrou a Legalista, expelindo fumaça de seus braços.

Dessa vez, foi Ralph quem a segurou pelo colarinho.

— Idiota, acha que estou encaixado em qualquer lado?! Eu sou um humano também, por isso eu não luto por motivos de outros, eu luto pelos outros que me motivam! Não me importa se são Legionários ou Rebeldes!

Ela ficou sem palavras, sua pura cara de surpresa deixava claro o quanto estava confusa. O loiro a soltou e voltou na direção onde Kazan estava.

— Nós vamos detê-lo, tanto pelo o que fizeram a minha melhor amiga, quanto ao que fizeram a você e sua equipe. – Ele deu uma pausa. – Qual é o seu nome?

— S – Sou Aziel, líder do pelotão de Reconhecimento das Legiões.

— Prazer em conhecê-la, Aziel. – Ralph não se virou para cumprimentá-la. – Por favor, peço que ao menos por enquanto, não odeie os humanos e quem os protege. – E dito isso, ela vislumbrou a pressão que o loiro expelia. Podia sentir, sem nem mesmo olhar em seu rosto, que Ralph estava calmamente furioso.

Dado uns instantes, um chiado surgiu na mente de Ralph. E logo, veio a voz de Nessie.

Ralph, vocês estão bem?! Eu vi a explosão e apenas senti a presença dos dois.

Estamos, mas Jack desmaiou por se esforçar demais por minha culpa. Dessa vez, vou matar o Kazan cortando-o ao meio!
Ralph apertou o cabo da Vingadora Indomável de raiva.

Então, deixe-me compartilhar dessa raiva com você!

Ao longe, o loiro pôde visualizar o Golem de Nessie surgindo. Naquele momento, mais do que nunca, ele precisava da ajuda de Nessie. Ralph não poderia deter Kazan sozinho.

Vamos!

Ao mesmo tempo, tanto Ralph quanto Nessie rugiram. Seus gritos ecoaram pelo campo de batalha. A pressão de suas auras era esmagadora. Aziel estava completamente assustada.

Ele é tão doido assim?!

Logo, o loiro alcançou voo, e seu único alvo era Kazan. Do qual ele colocaria todas as suas forças para matá-lo sem pudor. Nessie não tardou de sair de onde estava, tão determinado quanto Ralph.
Ainda no ar, o loiro recebeu outra mensagem telepática.

Ralph, sou eu Belfrior. Nessie passou as suas coordenadas de onde está Mariah. Eu, Gigan e Áries vamos ajudar os outros anjos a se afastaram o máximo possível!

Belfrior, Gigan não pode nos ajudar? E quanto a Race?

Infelizmente, ele já está carregando Race, que nos salvou inúmeras vezes. Ele quer muito lutar, mas não sabemos quando que Kazan pode fazer mais reféns, por isso teremos que os afastar o quanto antes.

Entendo, então a luta é minha e de Nessie. Pode deixar com a gente!

Capitão... Ralph. Por favor, vença!

O loiro pôde notar que até Belfrior estava acuado, e essa confiança era o que o motivava a prosseguir.

— Certo!
                                    ***

No alto do céu, Kazan tentava alcançar mais longitude o quanto podia. Sem seus dois braços, agora tinha poucas chances de vitória. Havia se livrado do anjo do gelo, do qual tinha arruinado sua última tentativa de conseguir matar a Ralph. Mas dentre eles, nenhum poderia deter o avanço dos gêiseres de fogo. E ele ia explorar isso ao máximo. Suas asas se contraíram, e se irradiaram completamente. 

Mesmo longe, ele podia sentir a aura de Ralph e Nessie vindo a ele em alta velocidade.

— Renascimento dos Sóis Ferozes! – Ao redor dele, uma horda de pontos luminosos surgiram, e se expandiram em bolas de fogo imensas, que condecoraram os céus de laranja.

De acordo com a aura de Mariah, suas chamas são as mais difíceis de se apagar... E se reproduzem em instantes. Totalmente impressionante.

— Não vou deixá-los nem se aproximarem! – Esbravejou o General. Suas bolas de fogo se misturaram e formaram uma massa de fogo que tomou todo o ambiente aéreo. As nuvens se dispersaram instantaneamente.

Ralph e Nessie se aproximavam quase ao mesmo tempo. De repente, ao visualizar aquela cena surreal do céu, fez o loiro se lembrar daquela salva de bolas de fogo que destruiu toda a cidade. Mas o resultado foi diferente. Em vez das bolas individuais em grupos, o que surgiu foi vários feixes vermelhos incrivelmente rápidos. Não fosse a habilidade de percepção do loiro e sua agilidade de anjo do vento, teria sido morto naquele instante.

Isto é...

— Plasma?!

O céu alaranjado soltou inúmeros daqueles feixes, que se chocavam aos gêiseres, parecendo bastões de grades de uma gaiola. Aquele era o último movimento de Kazan. Os feixes, assim como os gêiseres, eram imprevisíveis, e muitos rápidos! É certo que a formação dos feixes, e o choque que faziam aos gêiseres, era de somente segundos. Seguia a explosão, e recomeçava novamente em outro lugar, e nisso, vários ocorriam ao mesmo tempo.
Ralph e Nessie estavam realmente presos. Mas desta vez, nenhum deles estavam nervosos com aquela situação. Pelo contrário, sabiam que depois de um golpe desses, Kazan não poderia mais se mover. Do alto do céu laranja, uma cara demoníaca surgiu para encará-los. O rosto demoníaco era imenso, e parecia ser feito do próprio céu.

— Hora de morrer, Kazan. – Entoou Ralph, destemido. – De uma vez por todas. Vamos, Nessie? Consegue acompanhar minha velocidade ? Pois faremos isso para que aquele desgraçado não veja o que o atingiu.

— Pode apostar, Ralph! – Concordou o anjo das águas. – Dessa vez, eu conseguirei usar meu poder total!

Ambos encaram o monstro que viam a sua frente.
                                    ***

Áries, Belfrior e Gigan corriam o quanto podiam pelos trajetos ainda disponíveis após as explosões anteriores, com seus fôlegos a mercê da grande estrada que estava por vir. Race pendia-se sob as costas do guerreiro robusto, num estado completamente grave. Para reconfortar a Serafim, Gigan tivera que repetir a mesma explicação da veloz recuperação dos Querubins, mesmo desacordados. Ela não deixava de visualizar o guerreiro abatido no caso de qualquer ferimento em seu quadro piore. A estrada era horrível. Diversos destroços obstruíam o caminho, rochas e pedaços inteiros de prédios ameaçavam desabar a qualquer momento, e por isso, Gigan notava qualquer traço de rachadura destas construções com afinco. Ele mesmo poderia acabar desabando pela quantidade de esforço que estava exercendo.

Belfrior tomara aquela rota de diversas, talvez em melhores condições do que aquela, devido aos gêiseres de fogo estarem tomando tudo, engolindo o que restou da cidade em um mar de chamas. O calor chegava a ser insuportável, mas era por causa dele que o anjo poderia prever quando um novo gêiser estava vindo.

— Cuidado! Está vindo um novo pela direita!

Sem rodeios, uma mancha de lava surgiu no chão, e um jato vermelho seguiu para os céus, espirrando lava e magma ao seu redor. Isso foi há uns três metros de onde eles estavam.

— Droga! Essa estrada está inacessível! – Retrucou Gigan, esgotado.
Agora, a poça de lava encharcava todo o local. Eles tiveram que se afastar para não serem atingidos pelos respingos ardentes.

— Vai demorar para procurar outra rota... – Murmurou Belfrior, coçando a cabeça.

— Não vai, não! – Áries tomou a dianteira do grupo, e formou uma esfera psíquica ao redor deles. – Se demorarmos demais, Race só vai piorar mais, e até mesmo vocês dois estão exaustos por causa daquela General.

— Mas Áries, você deve estar exausta também...! – Interviu o Serafim, mas de repente sentiu uma forte pressão vindo dela. Áries enrolou seu cabelo num coque desajeitado, e exibiu sua determinação restante.

— Está tudo bem! – Seus olhos reluziam, e seu escudo também, que em meio à lava, a expelia completamente. Os outros dois não sabiam por quanto tempo iria durar, mas pelo menos podiam prosseguir pelo caminho. – Eu... Posso ver... Mais um pouco, e vamos... Vamos conseguir chegar até Mariah!

Seria ela a liderar eles dali, com toda sua força.
                                     ***

Mariah estava simplesmente chocada.

Um show de luzes explodia no céu, formando uma gaiola de fogo. Não tinha como aqueles dois escaparem daquilo se não manterem suas cabeças no lugar. A ruiva pensou naquilo durante aquele instante e percebeu que ela era mesmo um pavio curto. Aquela adrenalina toda, aquela emoção, frustração, irritação e desejo de vencer por algo. Aquilo não era algo somente dela, então, o que ela estava pensando em eles não poderem errarem? Se isso vier a acontecer, o que se daria para fazer? Era correto repreender aqueles que estavam no lugar dela por isso?

Mas ela é cabeça dura e sempre soube.

Mas diante daquele momento, ela estava totalmente empolgada com os movimentos daqueles dois, arriscando suas vidas para salvá-la. E nem estava ligando às ofensas da Legalista Aziel.

— ... A Corte Marcial vai cuidar de todos vocês, lixos.

— Não estou nem aí. – Ela retribuiu com um sorriso, enrubescido pela alegria que tinha de seus amigos estarem lutando por ela. – Por quê em vez de reclamar, você não senta e reza?

— Rezar? Do que está falando, imbecil?! – Aziel estava completamente indignada. Seus cabelos reluzia, e seus braços estavam envoltos em fumaça. – Não somos nós, que...

— Hã? O que está dizendo? Se anjos honrosos lutam, eles sabem rezar. – Ela desviou sua atenção para o alto. – E eu, estou começando a agradecer por tudo o que está acontecendo.

Aziel ficou com uma cara amarga, sem ter como responder.

— Além disso, você já deve ter percebido, certo?

— ?! – A Legalista ficou confusa.

— Esse ataque... Essa gaiola gigante, é um meio de acabar com meus amigos e ainda matar a todos nós. Ou seja, ele está sendo direcionado para cá.

— Como?! Eu não percebi nada! – Aziel olhou atentamente para a gaiola de fogo, e notou que os gêiseres e os feixes de plasma se aproximavam cada vez mais em fileiras organizadas. Era fácil perceber o padrão do qual elas apareciam.

Mariah sentira isso minutos atrás, talvez devido a seu poder ter sido usado por Kazan. E seu sexto sentido notou sua essência vagando por cada faísca daquele poder.

Aziel ficou desesperada, e foi correndo (do jeito que podia) até seus companheiros, e os sacudia como sacos de batatas. Seus olhos lacrimejavam.

— Vamos! Vamos! Acordem, por favor! Senão, morreremos todos aqui!

A ruiva apenas observava de longe.

— Quem é o intimidador, agora?

— Sua...! – Aziel voltou-se para ela. – E por quê está tão calma?!

— Troooouxa! – Mariah fez uma careta. – É claro que meus companheiros vão estar aqui e nos ajudar a fugir, enquanto Ralph e Nessie acabem logo com essa palhaçada desse desgraçado de moicano!

— Está brincando, né? Eles não vão vencê-lo! – Ela quase se engasga ao falar “nós”. – Eu preciso carregá-los e sair daqui!

— Faça o que quiser. Mas você pode optar por querer levar todos eles nas suas costas, o que seria até engraçado ver você se matando pra carregar tantos. Ou poderia esperar o resto da minha equipe chegar para que nos ajudem a escapar daqui todos juntos. Temos dois Querubins poderosos e dois ótimos Serafins. Seria menos preocupante...

Aziel estava com a cara vermelha, mas Mariah não soube distinguir se era raiva ou vergonha. Ela apenas conteve seus risos quando a Legalista sentou-se no chão e começou a esperar.

Logo, outra integrante da equipe de Miguel despertou.
                                   ***

Enquanto atravessavam o território coberto de lava, todos sentiam um calor insuportável e avassalador. Áries se esforçava ao máximo para manter seu escudo em seu auge, e agora Belfrior a ajudava também, com cuidado para não interromper a técnica dela. Mas felizmente, eles haviam ultrapassado os gêiseres, e a estrada estava limpa novamente. Áries despencou de joelhos, completamente exausta.

— E agora? Onde estamos? Não consigo me encontrar nas coordenadas. – Disse Belfrior, analisando o cenário.

— Calma, estou sentindo o cheiro dela. – Interveio Gigan, farejando o ar. – Mais importante, tem algo que vocês vão achar incrível.

— O quê? – Expeliu o Serafim, mas logo ele sentiu algo diferente. O clima ali estava mais agradável, mais... Frio. Em pouco mais de quatro metros de distância, era possível ver a presença de uma leve geada. Mas como?

— Será que é coisa do Jack? – Perguntou Áries.

— Não sei, mas não tem o cheiro dele.

— Não. Não foi ele que fez a geada. Fui eu. – Surgiu uma voz. E de alguém desconhecido a eles. Ambos viraram na direção dela. No alto das rochas, havia uma jovem garota, de cabelos loiros claros como ouro, que mal chegavam aos seus ombros, de tonalidade quase igual com o de Belfrior. Seu traje era um vestido de linho branco, por baixo de um colete de bronze. Ela exibia um sorriso sincero, enquanto suas asas balançavam. Era uma das Legalistas que foram capturadas.

— Bem... Qual é o seu nome...? – Arriscou Áries, já que estava se referindo a uma inimiga.

— Eu sou Rimeria. Faço parte do Pelotão de Reconhecimento das Legiões. Prazer! – Ela retribuiu com um sincero sorriso.

— Como fez isso? – Perguntou Belfrior, curioso. – Achei que apenas controlasse fogo.

— Ah. É a minha habilidade. Eu posso manipular a conversão de calor para geada e vice-versa. – Ela falava de um jeito envergonhado. – Mas nasci como uma artesã, então minhas habilidades são apenas para construir. – Ela deu leves risos. – Fui escalada para essa missão pela primeira vez, e fui capturada! Não levo jeito para lutar!

De algum jeito, Belfrior ficou tocado.

— U – Uma artesã! E mesmo tendo passado por tantas coisas horríveis, conseguiu manter seus companheiros em segurança. Ah, que crueldade sermos inimigos!

Surgiu um silêncio repentino.

— O – O que está dizendo, Belfrior? - Gigan estava totalmente surpreso, que chegava a suar frio.

Eu nunca o vi desse jeito...

Áries estava impressionada pela tomada de palavras do Serafim.
Em compensação, Rimeria estava com o rosto vermelho.

— Ah! Acabei falando sem pensar... – Belfrior havia se curvado e apenas erguera a cabeça para notar que havia falado demais.

— B – Bom, vamos. T – Temo que nosso tempo seja muito curto. – Ela os conduziu por uma trilha sucinta até onde Mariah e o resto dos Legalistas estavam. Ao ver a parceira bem, os três foram abraçá-la.

— V – Vocês sempre fazem isso? Que estranhos... – Expressou Aziel.

— Bom, isso é o que acontece quando se convive muito com humanos... – Disse Belfrior, fitando-as.

— Acho que isso torna o trabalho de equipe mais agradável. É muito bonito. – Disse Rimeria.

— Chega dessa conversa. Como vamos sair daqui carregando o resto dos meus companheiros? – Interveio Aziel, apressada.

— Eu os levarei nas costas. – Disse Gigan, disposto.

— Espere. São três para carregar, é muita coisa. – Segurou o Serafim. – E você ainda está ferido. – Com um comando mental, ele fez levitar os dois anjos Legalistas a alguns centímetros do chão. – Eu posso levá-los.

— Um Serafim ajudando? Isso é mais bizarro ainda. – Retrucou Aziel, indiferente. – Se não for usá-los como marionetes, tudo bem.

Mas Rimeria estava impressionada com o auxílio do Serafim. Áries se ofereceu para trocar com ele caso precisasse.

— O resto consegue voar? – Anunciou Gigan. – Agora que estamos longe do alcance dos gêiseres, será mais fácil escapar desta forma.

— Não. Nenhuma de nós está em condição de fazer isso. – Respondeu Mariah. – Precisamos do tratamento de Nessie para nos recuperarmos.

— O que faremos, então? – Questionou Aziel. – Corremos pelas nossas vidas? Que belo jeito de morrer, hein.

— Não. Não vamos morrer. – Interrompeu Rimeria, convicta. – Não me importo de correr, ou o que for, mas fugirei. Ainda serei a ferramenta que mudará este mundo errado!

Aquilo mexeu com todos. Mas foi por isso que Belfrior soube o que a fez se tornar uma Legionária.

— Certo, então. – Começou Mariah. – Corram!

Gigan levantou suas asas, levando Race nos braços, para o quão longe podia ir. E os outros o seguiam. Com o clima árido como aquele, Rimeria criou uma leve geada que os envolveu, refrescando-os, motivando suas determinações para continuarem a correr, enquanto atrás deles, os gêiseres se aproximavam cada vez mais depressa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!