O caminho de Nesse não foi deveras longo, até bem tranquilo por sinal. Pelas margens da estrada podia ver a água banhada pelos raios do sol da tarde, e vez ou outra até peixinhos encontrava. Mas não poderia dizer a mesma coisa do ambiente para com ele naquele instante. Ele estava perturbado, aquilo era muito mais que uma missão. Mariah por fim ignorara Dirtiel, o que era satisfatório, mas porque ele não o esquecera? Ela foi de fato enganada por ele, e se aquilo tivesse dado certo, Mariah agora estaria do lado inimigo. Um anjo caído. Poderia ser ainda mais doloroso presenciar esta realidade. Mas não. Nesse também fora enganado, achava que ser um General seria uma mudança em sua vida. Em meio desses devaneios, o destino estava quase ao seu alcance. Agora era a hora de manter o foco.

O anjo sentiu um forte odor de enxofre antes mesmo de ter entrado na cidade, ainda na estrada. Acima, nas nuvens, havia uma enorme concentração de uma névoa esverdeada, sendo ali provável a origem do enxofre. A questão era que os cidadãos daquela cidade estavam sofrendo. Pois uma quantidade absurda causa a morte pela corrosão. Pelo território, era já possível reconhecer traços dos efeitos que o ácido causava. O topo dos prédios tinha o reboco desmanchado. Hora ou outra azulejos caíam sobre as ruas. A maioria das pessoas havia evacuado. Tudo parecia abandonado. Como uma cidade fantasma.

Nesse percorreu as ruas, procurando mais pistas de onde Dirtiel poderia estar. Era tarde, cerca de duas ou três horas, mas o ambiente era escuro, as nuvens de enxofre cobriam os raios de sol. E tão logo a respiração começou a complicar. Tendo que prender a respiração, o anjo correu mais quadras, e a partir dali viu estragos causados por ácido. Vitrines corroídas, portas arrombadas, muros pela metade. Até que percebeu uma coisa bem óbvia: de todos os prédios e casas, somente uma delas estava com as luzes acesas. Uma típica casa de banho. Na placa sobre a porta, estavam os seguintes caracteres feitos com a corrosão causada pelo ácido: A MORADA DO ANJO MAIS FODA.

— Ele não tem estilo... – Murmurou Nesse. Ele adentrou cauteloso. A recepção estava completamente bagunçada. Toalhas de banho e rosto completamente desintegradas, o balcão estava quebrado, com um rombo bem no meio. Os armários, quase todos estavam destruídos. Então, ele percebeu que emanava vapor do vestiário masculino. Nisso, lá estava. DIrtiel estava apenas de shorts, aproveitando a densa água quente, numa piscina gigante. Não havia mais ninguém lá.

— Oh, chegou. Atrasou um pouco, hein. – Retrucou DIrtiel. – Fiquei cansado de esperar. Mas sinceramente, achei que a Mariah fosse vir. Seria um encontro mais dramático.

— Dane-se. Vamos logo com isso. – Interceptou Nesse, sério. – Ela não merece vê-lo. Nunca mais.

Dirtiel o encarou durante alguns minutos...

— VAI SE FERRAR! ACHA QUE ESTOU AQUI POR ACASO?! – Ele saiu da água. Estava nervoso. De seu corpo, emitia um vapor forte, e não era o da água. Nesse sentiu a aura dele na forma de vapor, uma névoa ácida que irritava os olhos. – Deixa pra lá. – Ele colocou sua blusa. – Eu vou tê-la para mim de qualquer jeito.

Nesse desejou esmurrá-lo com tudo. Mas se conteve, precisava raciocinar principalmente naquele momento. Mas não deteve de arregalar seus olhos de indignação.

— De tudo o que eu pensei que você ia falar... – Expressou. – Você se tornou um cara ainda mais repugnante.

— Oh? Não gostou do que eu disse? – Ironizou Dirtiel. E ainda foi mais provocador. – Ah, mas só ela para me salvar! Minha vida é uma completa ebulição! Nós nos entendemos, não acha?!

Nesse saltou de seu encontro, justamente o que Dirtiel queria. De sua mão, produziu uma substância viscosa e esverdeada, e a jogou contra os olhos de Nesse com um peteleco. O anjo das águas teve pouco tempo de se defender, mas como tinha água ao seu redor, foi fácil criar um projétil de água, que impediu o ataque covarde de acontecer. Nesse desferiu um soco no rosto de Dirtiel, e depois mais um, e outro, uma consecutiva, até empurrá-lo com a força dos golpes. O rosto de Dirtiel estava surrado.

— Maldito! Minha cara! – Ele tentou revidar, mas Nesse jogou-lhe uma onda de água escaldante, que o jogou contra a parede.

— Não terei piedade contra você. – Proferiu Nesse. – Eu vou te matar.

— Há! De onde você tirou essa coragem?! – Retrucou o anjo caído. – Nós dois sabemos que você não passa de um covarde!

Ele não soube o que responder.

— Tsc! Enxofre Corporal! – Dirtiel anunciou sua técnica, onde ele expelia enxofre de seu corpo, geralmente ele se prendia ao corpo de alguém para matá-lo de corrosão, mas nesse caso foi usado para vaporizar a água que o prendia contra a parede. – Aprendi umas técnicas bem loucas, não?

— Isso não importa. – Nesse reunia mais água sobre seus braços. – Eu vou te eliminar, custe o que custar! – Ele lançou vários projéteis de água, enquanto DIrtiel escapava deles, faziam furos na parede.

— Molde de água: Foice de Água! – A água remanescente dos braços se juntara, com extrema velocidade e virara uma lâmina gigante que fatiou a parede, fazendo a parte de cima começar a desmoronar, e logo em seguida, o teto. Dirtiel ainda foi acertado no abdômen, mas nada tão grave. O que ele se preocupou é de ser esmagado vivo, avistando as partes do teto caindo sobre ele, se preparara para corroê-las.

***

Já se seguia para as quatro horas da tarde, e enfim Belfrior e os outros estavam quase chegando ao seu destino. Um ar de dúvida pairava sobre eles.

— Bel, o que você acha do Nesse? Porque você acha que ele está agindo daquela maneira? Muito suspeito. – Perguntou Gigan.

— Não sei. Pergunto-me se isso tem a ver com Mariah. Da outra vez, os dois deixaram o capitão muito nervoso.

— Ah, fala daquele encontro com os Generais. – Lembrou Race. – Porque será que ele se importa tanto com ela?

— E você me pergunta isso? – Retrucou Belfrior. – É a mesma coisa de você com a Áries. São parceiros de equipe. Um deseja que o outro esteja bem. Não é assim que funciona?

— É... Você acertou.

— Ele age como um irmão mais velho para ela. Talvez só esteja agindo como tal. – Expressou Gigan.

— Que estranho. – Concluiu Race.

— Sabe... Ouvi dizer que, quando os humanos se sentem responsáveis por alguém, é certo que até alterem sua personalidade por aquela pessoa.

— Acho que isso encaixa com ele.

— Mas então... Ele esteve escondendo sua verdadeira vontade? – Murmurou Race.

— Talvez sim. – Disse o Serafim. – É provável que algum dia veja um lado dele da qual nunca vimos.

— E que lado seria? – Perguntou Race.

 - O lado vingativo. – Completou.

***

Nesse estendeu seus braços.

— Molde de água: Chuva Rápida. – Proferiu seriamente calmo. A água presente na piscina saltou violentamente e se dividira em facções, mirando nas pedras maiores que caíam no teto, elas as empurraram com tudo contra Dirtiel em questão se segundos. Já ele, se protegera com a água que atacara que se manifestava como um manto.  – Eu não minto no que digo Dirtiel.