Ralph e Fred ainda se mantinham em total espanto. Tão logo os Generais da Morte estavam se anunciando segundo Fred. Com isso, a angústia e ansiedade do loiro aumentaram ainda mais, o receio de que acabaria sabendo mais sobre eles o assustava.

– E – Essa voz... Dirtiel! – O irmão lembrara-se do nome da voz.

– Ora, ora. Ainda se lembra de nós! Traidorzinho esperto... – A voz era arrogante e não demonstrava medo algum.

– O – O que você quer? – Questionou o loiro, reunindo forças para falar.

– Ei, Fred. Não sei quem é que está aí com você, mas parece ser a voz de um garoto, não é? Será que é quem eu estou pensando?

Ele se aproximou de Ralph e cochichou no seu ouvido.

– Não fale. Há somente um motivo para ele ter vindo se comunicar comigo. Ele só esperava ter me encontrar. Não se anuncie ainda, por favor. – Ele se virou para a esfera cintilante. – Deixando isso de lado, o que quer comigo?

– HÃ? O que você acha?! Acha que pode zuar com a nossa cara e sair ileso? – A voz soltou um pigarro, mas o que mais pareceu foi um riso segurado. – Temos uma proposta para você. Mas para isso você precisará vir até nós.

Ralph sentiu um frio na espinha. Fred por outro lado, analisou a situação em que se encontrava. Se ele havia dito “nós”, significava que o inimigo não estava sozinho.

– Entendi. E como farei isso?

– Basta seguir esta esfera cintilante, assim que eu terminar de falar. – Uma risada arrogante e desagradável ecoou da esfera assim que terminou de falar. A esfera, que outrora se mantinha parada e flutuando, se locomoveu zumbindo em direção ao céu, e como era rápida, logo ficaria fora de alcance.

– Venha comigo, Ralph! Com certeza eles sabem que eu estou com alguém e eles não estão sozinhos também. – Fred liberou suas asas, elas, não estavam mais negras, o loiro supôs que elas mudassem de cor quando ele perdesse o controle. Em relação com a situação atual, ele não tinha como recuar.

– Vamos. – Ele respondeu já liberando suas asas, ambos alcançaram voo, cruzando os céus atrás da esfera cintilante, que já não estava mais fora de alcance. Ralph não parava de pensar em várias coisas, e sua expressão de incerteza estava estampada em seu rosto.

– Ralph... Vamos manter o que sabemos em segredo por enquanto. Não sabemos quem foi usado por Lucífer. Do pior dos casos, eles poderiam acabar surtando.

– Surtando?! – Chocou-se o loiro.

– Sim. – Fred não demonstrava surpresa. – Muitos seguiram as palavras de Lucífer e se arrependem até hoje. Em minha opinião, eles foram sortudos por terem escapado do Julgamento de Miguel.

Quanto mais Ralph ouvia sobre Lucífer, ele ficava ainda mais irritado. Ele queria impedir que algo horrível acontecesse. Mas proteger seus amigos estava no topo dessa lista, era naquilo que ele deveria pensar. Ele sabia disso.

Os dois percorreram um caminho mediano voando, a esfera cintilante acabou por entrar em um bueiro, e sendo obrigados a entrar também, se adiantaram para passar por entre os canos de esgoto. Quanto mais se aproximavam, mais poderiam sentir a aura de anjos caídos, mesmo assim ela era muito bem contida.

Entendi. Eles usaram um portal para vir para cá. O que significa que podem fazer isso quando quiserem... Analisou Fred. Por fim, a esfera finalmente havia parado, e bem a sua frente estava um portal largo, com coloração alternando do vermelho carmesim ao roxo. Os dois anjos pousaram e guardaram suas asas. Segundos depois viram algo saindo do portal, e reconheceram ser alguém, pior foi que o que temiam era verdade, havia mais de um alguém ali, porque mais um indivíduo aparecera trespassando o portal carmesim.

Os dois caras que se apresentavam era distintos. Um deles parecia ser um garoto da idade de Ralph, já o outro era alguém muito mais velho, parecendo ser um cara de meia idade ainda se sentindo jovem. O garoto tinha cabelos arrepiados e com cor verde água, e camisa da mesma cor. O velho trajava uma camisa de malha, de cor amarelo incandescente, tinha longos cabelos loiros, e, além do bigode loiro, disfarçava os olhos com um óculos escuros. A única fonte de luz era a cor chamativa carmesim do portal.

– Ora, ora, Fred. Faz um bom tempo. – Manifestou-se o garoto. – Esse ao seu lado deve ser o seu irmão, né?

– É. Diga logo o que veio fazer aqui. – Retrucou. Ralph percebeu que ele se sentia impaciente.

– Ah, é. Beleza então. Você já deve imaginar o problema que causou por fugir da sua execução, né? Pois é, a nossa ordem era de te matar.

– Seu!... – Ralph se enfureceu, mas foi contido por Fred.

– Vocês dois vieram me matar? Não é a toa que enviar um Schatten para me vigiar chamou a atenção de vocês.

– Bom você está certo. Mas Lucífer não sabe exatamente o que aconteceu, por isso ele me pediu para vir até aqui.

– Para o quê? O que ele quer? – Fred estava sem paciência para brincadeiras.

– Viemos aqui formalmente lhe entregar um convite de Lucífer. Ele quer vê-lo. – Anunciou o garoto.

Ralph nunca sentiu tanto pavor e ansiedade na vida, se Fred concordasse que sim...

– E se eu recusar?

– Vai mesmo fazer isso?

– Dirtiel, eu não sou idiota. Diga logo o truque.

– Ora, vamos. Somos todos veteranos apesar desse moleque aí. – Ele apontou para o loiro. – Pode confiar na gente, cara.

– Além disso. – O velho se manifestara. Sua voz era firme e um pouco grossa. – Tenho uma leve impressão que você recebeu ajuda.

– Não é especulação, é verdade. – Disse Ralph. – Eu fui até lá.

– Hã? Você?! – Disse Dirtiel, surpreso. – Vejo que você não é somente um pivete com fraldas.

– E você não me parece alguém forte para mim. – Retrucou Ralph, o encarando. A expressão de Dirtiel mudou.

– Você vai ver... – Num instante em que Dirtiel levantou sua cabeça, o velho se adiantara numa velocidade impressionante e atacara o loiro com um soco, que se defendeu com um Whirlwind instantâneo. Faíscas saltitavam do braço do velho, mas Ralph conseguiu aguentar a pressão do golpe até rebatê-lo. O velho voltou até onde estava.

– Você é mesmo forte. – Expressou o velho. – É um excelente guerreiro.

– Tsc! Droga, Toru! Eu é que iria atacá-lo! – Retrucou Dirtiel, estressado. – Esse moleque vai se arrepender por ter me subestimado!

O braço do loiro estava dormente. Ele definitivamente havia conseguido defender aquele golpe, mas ele era forte demais, e com isso ele não conseguia mexer os dedos.

– Ralph, você está bem? – Cochichou Fred.

– Estou bem, mas vai demorar um pouco para poder mexer o braço.

Ouviram-se passos atrás deles, mas quando se viraram, já era tarde demais para que algo pudesse ser impedido. Chamas rodearam os quatro, numa verdadeira prisão de chamas. O cheiro pútrido do esgoto dificultava a respiração, ainda mais agora com essa ascensão de chamas...

– VOCÊ! – Uma voz conhecida ecoou por entre o túnel do esgoto, e de lá mais chamas saíram em direção à Tora, que desviou rapidamente. Antes que Dirtiel pudesse reagir, chicotes de água o interceptaram. Com esses ataques conhecidos, só poderiam ser...

Mariah e Nesse.

– O que vocês estão fazendo aqui?! – Resoou o loiro, enquanto os dois anjos apareceram por completo.

– Eles nos seguiram?! – Chocou-se Fred.

– Como ousam aparecer por aqui?! – Retrucou Mariah, ignorando o comentário dos dois. Sua expressão demonstrava pura fúria, e Nesse também estava furioso. Era uma reação que Ralph nunca esperava deles, aquilo só poderia ser uma coisa.

As suspeitas de Fred eram reais.

– Que surpresa encontrá-la por aqui... – Dirtiel falou meio sem jeito, mas Mariah o refutou. A quem ela estava encarando fervorosamente era Tora. E isso só alimentou ainda mais as chamas, aumentando o calor dali. Ralph sentia que ia acabar sendo cozido vivo, e não conseguia produzir vento com o fogo tão alto. Fred tentou desfazer as chamas, mas elas somente o machucaram.

– Chamas Emocionais, hein... Ela pensou em tudo. – Expressou o irmão.

– O quê?! – O espanto do loiro foi quase sumido pela forte crepitação das chamas.

Mariah e Nesse não olhavam para os dois, somente para os dois anjos caídos.

– Prestem atenção. – A ruiva murmurou. – Esse será o dia em que vocês irão morrer.