Ralph ficou muito impressionado com a desmaterialização de Nesse. Quando Nesse voltou ao normal, Ralph conseguiu ver ele de novo.

– Nossa, Nesse. Mas porque eu não consegui vê-lo direito? – Ralph queria saber de tudo que podia.

Quando Nesse ia responder, Dona melly aparece na porta dos fundos chamando Ralph para almoçar.

– Puxa, legal. Eu estou com fome de novo! – Mariah seguiu para a porta dos fundos;

– Mariah! Que falta de educação! – Nesse estava envergonhado. – Você acabou de comer!

– Sim, mas eu comi pouquinho, e não consigo resistir a comida da Senhora Melissa. – Respondia Mariah com água na boca.

– Ora, não precisa me chamar de Senhora. Por favor! – Dona Melly descontraiu a cena de Nesse.

– Puxa, eu também estou com fome. – Declarou Ralph, botando a mão na barriga que não parava de roncar. Há horas não comia. E ainda usara todas as suas forças para lutar contra Kleber. Estava exausto.

– Ralph vá comer. Você precisa se fortalecer. – Comentou Nesse. – Antes que aquela morta de fome acabe com tudo!

– Eu ouvi isso, Nesse! – Reclamou Mariah que já estava na cozinha. – Por acaso você está me chamando de gorda?

Durante o almoço, Mariah explicava para Ralph como os anjos atuavam na Haled. Era assim que os anjos se referiam ao mundo humano. Os anjos agiam dentro de Avatares, que o mantinham vistos na Haled. Era como uma capa, que os encobria e os disfarçava dos humanos. O único problema era esconder a aura. A aura era a fonte de poder de um anjo. Eles não tem alma, apenas esse núcleo de poder. E é difícil esconder a aura de algum inimigo.

Quando um anjo se fere no avatar, digo, se ele for ferido por algo mundano, ele não vai morrer, a menos que não seja atingido no coração. O coração é a fonte de núcleo da alma, se ela for atingida, a energia escapa e o anjo “morre”, e, como não tem espírito, eles retornam ao cosmo, da onde foram criados. Mas um anjo pode se recuperar rapidamente se ele comer alguma coisa e descansar. A fonte de comida revitaliza os tecidos atingidos e os reconstroem. Portanto, um anjo não precisa comer na Haled, a menos que ele esteja ferido.

– Então, se você não está ferida, porque está comendo? – Ralph perguntava curioso para Mariah.

– Porque eu usei energia demais. Eu e Nesse confrontamos um outro anjo antes de ir até a fábrica. – Respondeu Mariah. – Sem contar que a comida da sua mãe é uma delícia.

– Disso já sabemos, Mariah. – Dizia Nesse sentado ao lado de Ralph na mesa com uma mão segurando o queixo.

–Bem, então como vocês descobriram a presença desse anjo? – Ralph fez mais uma pergunta.

– Bom... Como eu disse antes. – Mariah terminou de engolir a comida e continuou. – É difícil esconder a aura, é como tentar prender a respiração, uma hora você vai acabar cedendo.

– Entendi.

Slace estava no apartamento de Kleber. Ele assumira o seu nome na recepção. Dr. Kima chegou no apartamento e ficou surpreso pelo que via. Nas paredes, na escrivaninha, em todo o lugar estava cheio de armas Lá de todos os tipos: facas, navalhas, lâminas pequenas e grandes, como foices de todas as formas.

Dr. Kima se aproximou de Slace.

– Vim aqui ver se você queria ajuda.

– Hum. Valeu, mas dispenso. Essa diversão eu faço sozinho. E além do mais. – Ele apanhou uma das navalhas e apontou para Dr. Kima. – Eu vou me divertir bem lentamente com eles e não quero pressa.

Ralph e Mariah terminaram de comer e os três ficaram no sofá, olhando Gotay, que dormia profundamente. Depois de um bom tempo em silêncio, Nesse se pronunciou:

– Bem, Ralph, agora nós vamos te falar sobre os inimigos que estamos enfrentando.

Ralph se endireitou no sofá e prestou atenção.

– Pelas nossas informações e a aparência dos dois caras que enfrentamos hoje. – Nesse deu uma pausa. – Acredito que eles sejam o Quarteto Sombrio, um grupo de assassinos que agem sem piedade.

– Como você matou um deles, parece que os outros virão vingar a morte no companheiro. – Comentou Mariah.

– Mas... Se eles querem me matar, porque não vieram todos de uma vez? – Aquilo soava estranho para Ralph. – Quer dizer, mesmo que confiem um no outro, tem essa possibilidade, né?

– Sim, mas acredito que era apenas a missão de Kleber, não dos outros integrantes do grupo. – Continuou Nesse. – E o meu medo é que ele estejam sendo comandados por alguém.

– Como assim? – Ralph se enfiava cada vez mais no assunto.

– É só uma suposição, mas eu acho que tem alguém que os está comandando. – Respondeu Nesse, um pouco incrédulo. – E isso está me dando nos nervos.

– Seja o que for que você fez no passado, Ralph. Esse cara tá atrás de você. – Comentou Mariah.

– Essa é a questão. – Ralph assumiu o controle do assunto. – Eu não me lembro. Aconteceu alguma coisa antes que eu não sei. E acho que descobrir isso é crucial.

– Você realmente está certo, Ralph. – Concluiu Nesse.

– Mas o que faremos? – Questionou Mariah.

– Primeiro, nós temos que dar um jeito nesses caras, vamos ter que nos manter aqui na cidade. – Respondeu Nesse, já bolando um plano. – E teremos que esperar eles agirem.

–Então... basicamente eu serei a isca? – Ralph olhava meio indignado para Nesse, que assentiu.

– Desculpe Ralph, mas é o único jeito. – Lamentou Nesse.

– Mas deixa com a gente. – Incentivou Mariah. – Nós estaremos de olho em você.

– Pelo menos isso me deixa mais tranqüilo. – Suavizou Ralph.

– Certo, agora nós temos outra coisa em mente. – Nesse havia mudado de assunto.

– Como o quê?

– Seu treinamento. Você precisa ficar mais forte para poder resolver as coisas sozinho.

– Ah, certo. Por mim, tudo bem.

– É assim que se fala! – Comemorou Mariah.

Dona Melly ficou com eles um pouco mais. Mas ela teve que voltar para o trabalho porém ela permitiu que os dois anjos ficassem. Ralph aproveitou essa chance para começar o treinamento com os dois.

Os três seguiram para o quintal. Que era cheio de árvores e dava um bom campo de treinamento. Mariah começou a dar a sua primeira lição.

– Muito bem, Ralph. Agora eu quero que você derrube aquela árvore ali. – Ela apontou para a árvore específica. – Use suas rajadas de vento.

– Mas eu não sei como usar elas livremente. – Havia se esquecido de como as usara mais cedo.

– Não se preocupe. – Disse Nesse. – Foque sua aura nos braços. E então acontecerá.

– Ok. Vou tentar. – Ralph se concentrou. Percebeu a sua aura chegar aos braços, ao mesmo tempo em que o vento também. Ele se preparou e lançou as rajadas de vento com um simples movimento de braço e cortou a árvore em dois. – Consegui! – Comemorou o estudante, que realizara o feito sozinho.

– Muito bem. – Mariah ainda estava com aquele ar de superior. – Agora eu quero que você corte aquelas outras quatro árvores ali de uma vez!

Ralph se concentrou de novo. Agora com mais rapidez. Ele criou mais rajadas de vento que perfuraram as quatro árvores em tempo único.

– Incrível! Ele foi melhor do que eu pensei! – Disse Mariah, surpresa. – Ele realmente está quase no nosso nível.

– Se é assim, vamos para um outro patamar. – Combinou Nesse com Mariah. – Faça ele fazer aquilo de novo.

– Ralph. Agora eu quero que você realize o Whirlwind como naquela vez! – Mariah voltou ao tom superior.

– Espera. O quê?! – Ralph não tinha entendido direito. – O que você disse?

– Whirlwind. É a sua técnica especial de anjo do vento. – Esclareceu Mariah. – Você a usou para matar Kleber.

– Não precisa me lembrar disso. – Ralph se recordou do rosto sem vida de Kleber. Ele havia matado uma pessoa. Mesmo sendo um inimigo.

– O que foi, Ralph? – Perguntou Nesse, vendo a angústia de Ralph estampada na cara. – Por acaso você está se sentindo mal por ter matado Kleber?

Ralph assentiu. Mesmo não querendo admitir.

Os dois anjos se entreolharam.

– Olha, Ralph. Você vai ter que entender que anjos agem assim. – Mariah colocou a mão no ombro de Ralph. – Você precisa entender que nós matamos demônios. E aquele anjo não era bom.

– Obrigado Mariah. – Ralph se sentiu confortado. Pela primeira vez na vida. – Obrigado mesmo.

– Então vá lá e tenta fazer essa técnica!

– Sim!

Mariah o havia aconselhado a manter o vento envolto dos punhos, fora assim que ele conseguiu realizar a técnica antes. Como Ralph aceitava qualquer coisa para melhorar, ele decidiu treinar sozinho até conseguiu. E foi o que ele fez.