Por entre as áreas reservadas de Minas Gerais, havia várias chácaras, que eram especialmente para pessoas que procuravam lugares exóticos para relaxar. Por entre as árvores, havia trilhas onde os guias faziam seu trabalho, mostrando o ambiente aos hospedados. E uma das grandes atrações era o enorme morro, servindo de alpinismo. O ambiente em si era um local refrescante e longe de problemas.

Ralph e os outros pousaram num canto da floresta para não serem percebidos. Seu cuidado tinha de ser maior por causa de Gotay. Enquanto caminhavam, seguindo para a entrada da chácara designada, os anjos verificavam o ambiente ao redor.

– Aqui é realmente um bom lugar para relaxar... – Murmurara Nesse.

– Como eu queria ficar num lugar desses... – Expressa a ruiva.

O loiro nada disse. Pensava consigo mesmo o que tanto o afligia, de certa forma que o incomodava muito. Era desconfortável. Olhando para a placa da estadia, que ficava um pouco a frente da construção, estava escrita Pousada Raio de Sol.

O pequeno estava escondido por entre as vegetações, com sua extrema agilidade e tamanho, não seria descoberto tão facilmente. Enquanto subiam as escadas que seguiam para o salão de entrada, Ralph finalmente quis falar:

– Gente, não estão com um mau pressentimento?

– Para dizer a verdade, tudo está muito calmo. – Disse o anjo das águas.

– Ainda não senti nenhuma energia inimiga. – Concluía Mariah. – Talvez nós estejamos sendo observados de longe.

– É... Deve ser... – Finalizou o anjo loiro, apreensivo.

***

– Olá! Bem vindos à Pousada Raio de Sol. – Disse a balconista. O salão de entrada era um vasto cômodo, com restaurantes e vários lugares para se acomodar, a pintura dourada das paredes esplendia bastante o lugar. As escadas para os quartos ficavam depois do balcão, uma grossa mesa de mármore também tingida de dourado.

– Ah... O – Oi. – Ralph estava muito nervoso.

– Viemos pegar a estadia. – Disse Nesse, tomando a dianteira do loiro.

– Mas vocês não são muito jovens para alugarem quartos aqui?

Agora nenhum deles sabia direito o que dizer, já que aquele episódio do motel com aquela senhora quase cega fora o bastante para deixá-los constrangidos.

– S- Sabe o que é? É que queremos ficar em quartos diferentes dos nossos pais. – Mariah inventara uma desculpa bem na hora.

– Ah, entendo. Já querem ser independentes... Bem a cara dos jovens. – Expressara a balconista. Com o que tinham, poderiam ficar em três quartos durante dois dias. Quando finalmente puderam relaxar, eles saíram dos quartos e foram passear pela chácara. Lá era cheio de atividades extrovertidas, para entreter os hospedados. Longas piscinas eram vistas em vários lugares, além de campos de tênis, futebol, basquete.

– Como o local aqui é grande. – Disse Mariah. – Como vamos procurar um Familiar aqui?

– Paciência. Temos dois dias para encontrá-lo. – Respondeu Nesse. – Não temos como ficarmos com pressa.

– Tem razão. Vamos nos dividir. – Esclareceu o loiro.

***

Eles levaram o dia inteiro, e nada. Logo após terem comido, todos retornaram aos seus quartos. Até que Ralph recebeu a visita de Gotay, pela janela.

– Gotay. Você o achou?

– Ainda não. Mas não é isso que me preocupa.

– Hum? O que é então?

– A energia dele é muito pequena, e difícil de detectar. Pode ter certeza de que já descobriram que estamos aqui.

– “Descobriram”? Como assim?

– É isso o que você ouviu. Eu senti uma outra presença.

Depois de ter ouvido aquilo, o loiro não conseguiu mais dormir. Quem estaria junto com o familiar de Fred?

***

Após terem acordado e levantado. Os anjos continuaram a procurar. Dessa vez, eles avançaram pela floresta, sem ninguém poder vê-los enquanto desmaterializados, puderam procurar melhor. Ralph não estava detectando nada, até que sentiu uma fraca oscilação por entre a floresta. Se movimentando rapidamente, ele finalmente achara. Sem fazer barulho, o loiro vira a verdadeira aparência do familiar, ou quase. Porque o pequeno estava envolto no que parecia ser uma casca de ovo, muito dura e resistente ao ver. E a cara dele estava escondida por entre a casca, somente dando para observar seus olhinhos vermelhos, e seus pés cheios de escamas esverdeadas.

– Ei! Você é o familiar do Fred? – Manifestou-se o anjo. – Você é bonitinho...

Mas o pequeno reagiu em forma de fuga, correndo apressadamente. Confuso de primeira, o loiro saiu correndo atrás dele, sem ter outra escolha.

– Ei, volte aqui, por favor!

Mesmo sendo pequeno, o familiar corria muito rápido, e Ralph mal conseguia acompanhá-lo, sem saber em que direção estava indo.

– Flamegg, pare, por favor!

Ele parara, ainda de costas para o anjo, que não se movera.

– Como sabe do meu nome? Como sabe quem é Fred? – Manifestara o pequeno ser, com uma voz cortada de um grunhido.

– Por que... Bem, ele é meu irmão. – Expressou o loiro, surpreendo Flamegg.

– Você... ?

Logo se ouviram passos, e os dois anjos chegaram.

– Ralph, o que houve? Ouvimos sua voz e... – Nesse se interrompeu quando viu o familiar a sua frente.

– Vocês não deveriam estar aqui. – Anunciara o familiar.

– Porque não? – Gotay se manifestara.

– E o que você faz aqui? – Grunhiu, com arrogância.

– Porque não deveríamos estar aqui? – Foi a vez de Ralph perguntar.

Antes que o familiar pudesse responder, uma voz desconhecida surgiu.

– Simples. Porque aqui é o meu território.

Ao longe, um alguém se aproximara. Quando ele se aproximou, pôde se ver melhor sua aparência. Um garoto, que aparentava ter a mesma idade que Ralph. Também era loiro, trajando uma regata preta, calça jeans, e seus olhos vermelhos demonstravam ameaça.

– Q – Quem é você? – Perguntou Ralph, mas após ver a reação dos dois amigos, pareciam que já o conheciam.

– Que droga. Porque justo aqui? – Murmurou Nesse, nervoso.

– Isso não é bom. – Completou Mariah.

– Como assim? Quem é ele?

– Isso é um problema. Estamos enfrentando inimigos.

– Inimigos?

– É isso mesmo o que você ouviu anjo. Eu também sou um. – Manifestara o desconhecido. – Flamegg, volte logo pra cá.

– C – Certo mestre. – Respondeu a criatura, correndo apressadamente para o outro lado.

– Mestre?!

– Ralph, presta atenção. Essa missão está acabada. Temos que sair daqui, agora! – Disse Nesse, muito mais nervoso que o loiro já o vira.

– Ele é um inimigo natural, Ralph.

– I – Inimigo natural?

– Sim. Eu sou das legiões de Miguel. – Expressou o outro anjo. – Eu sou Drago. E vou repetir só mais uma vez: Saíam do meu território.

Ralph não o conhecia, mas sabia que aquele cara não poderia fazer o que quisesse.

– Quem você pensa que é? Apenas viemos aqui por causa dele! – O loiro apontara para Flamegg.

Os outros dois estavam chocados com a reação do capitão.

– Como ousa falar assim comigo? – Ameaçou Drago, com expressão intimidadora. – Ele é meu parceiro. Ele não é do interesse de vocês, lixos.

O loiro se irritara, cerrando os punhos.

– Ele era parceiro do meu irmão! Eu preciso dele para encontrá-lo!

– Problema seu. Cuide dos seus próprios problemas, cabeça de estrela. Isso não me interessa. – Drago ainda continuava intimidando. Seus olhos vermelhos eram penetrantes, mas mesmo assim Ralph não se abalara.

– Ralph, vamos embora...

– Não! Eu só irei depois que o Flamegg falar! Se for isso que ele quer... Ele é que tem que dizer!

A teimosia do loiro era enorme, mas ele tinha razão. O familiar, porém, parecia muito ressentido e deprimido.

– Olha só o que você fez... Magoou meu familiar. Eu vou quebrar a sua cara. – Ameaçara mais uma vez. – Ele passou por muitas coisas antes, você não pode magoá-lo dessa maneira.

– Acho que teremos que nos entender, então. – Expressou o loiro, encarando o anjo inimigo, que fazia o mesmo. O que os outros não perceberam, era que o embate já havia começado naqueles olhares.