Durante o tempo em que Gotay ficou fora, Ralph achou melhor treinar com o poder novo que ganhara, ou seja, o poder das trevas, claro, não era algo que ele se sentia bem em obter, mas aquilo poderia ser essencial para ajudá-lo a resgatar o irmão, então estava válido. Mas ele não era o único que se sentia assim, Mariah e Nesse também não gostavam de sentir esse poder dentro dele, aumentando, se mesclando...

A tarde estava chegando, e o loiro estava sentado na varanda da casa, contemplando o pôr-do-sol que brilhava sobre o céu laranja, os dois amigos o acompanharam.

– Ralph... – Introduziu a ruiva. – Tem certeza que pode confiar nesse espírito?

– Nós dois estamos preocupados com o que pode acontecer... – Completou Nesse. – Não queremos pegar pesado com você, mas...

– Relaxem. Isso não me incomoda. Nada que vocês falam fará isso. – Confortou o garoto, expressando um sorriso. – Sei que vocês não falariam nada de mal. Também estou ressentido com isso.

– Porque vai tão longe em salvar seu irmão para até conseguir um poder desse? – Perguntou Mariah, sincera.

Nesse fez um comando para a ruiva para que não falasse mais, mas Ralph respondeu mesmo assim.

– Ás vezes, precisamos pensar no lugar das pessoas. – Refletiu o loiro. – Não devemos julgar as pessoas por suas ações. Fred pareceu estar sofrendo muito. Acredite, ele não é como os outros que enfrentamos antes.

– Entendo... – Expressou o anjo das águas. – Se ele for mesmo o seu irmão, talvez ele seja um pouco mais como você...

– Se for isso, eu retirarei tudo o que disse. – Disse a ruiva, fazendo uma careta. Os três riram juntos. O momento descontraído passou bem depressa, e o loiro começou a pensar em Gotay.

– Ei, será que o Gotay está bem? Ele demorou dois dias inteiros...

– Não esquenta. Ele é quase detectado. – Disse Nesse. – Em missões furtivas, ele é quase invisível.

– Como o conheceram?

– Hum? Simplesmente numa missão. Claro, foi um treinamento. E ficamos amigos desde então.

Ao horizonte, alguém estava vindo, e era a pequena gota chegando cansada.

– Gotay! – Ralph pulou da varanda e fora ao encontro do pequeno.

– Ufa. Cansou. – Expressou a gota exausta.

– E então? Porque demorou tanto?

– Ei, dá um crédito! Não é fácil percorrer um estado em tão pouco tempo!

– Estado? – Expressou o loiro, surpreso.

– Pois é. Localizei a aura dele na área de Minas Gerais.

Então era isso. Em tão poucos dias o familiar de Fred fora achado. Agora eles apenas precisavam chegar lá. O problema era o curto tempo que tinham em relação ao tempo do inferno, um mal pressentimento havia se entrelaçado no loiro.

– Vamos partir pela manhã. E vamos nós. Vai ser mais rápido assim.

Os outros concordaram. Mas Ralph sabia, que eles queriam ficar de olho nele, afinal, agora o loiro tinha o poder que Fred usara contra os anjos, e não queriam que ele se descontrolasse também. Ele resolveu não questionar para não criar mais problemas. Nesse contou aos demais a atual situação, e no que eles iriam fazer. Enquanto o anjo das águas e a ruiva convenciam os outros, o loiro quis ver como Isabelle estava.

Subindo as escadas, o corredor estava escuro, a porta que dava para o quarto da garota estava entreaberta, olhando de relance, ele a viu deitada em sua cama, provavelmente já dormindo. Ele queria ver como ela estava, mas não queria forçar a barra, tinha medo do que ela ou os outros poderiam falar. Sim, ele ainda continuava o mesmo. Uma presença familiar o notara, e o distinguindo na pouca luz do corredor, Ralph percebeu que era Jack.

– Jack? Não está lá embaixo? – Ele disse baixinho para não acordar Isabelle.

– Não. Eu...queria falar com você. – Expressou o garoto.

Os dois se entreolharam durante uns segundos, porque Ralph nunca realmente conseguira conversar com Jack. Aquilo fora uma surpresa.

– Claro. Pode dizer.

– Porque está fazendo tudo isso pelo seu irmão? – Jack o olhava com olhos frios. – Esqueceu de tudo o que ele nos causou?

– Claro que não. Eu...sinceramente eu estou com medo do que poderá acontecer, mas preciso fazer isso. Talvez ele saiba onde meu pai está. E quem é o nosso inimigo até, mas... – O loiro soltou um suspiro. – Também por querer muda-lo. Não quero pensar que ele seja daquele jeito.

– Mudá-lo? Acha mesmo que pode mudar as pessoas? – O garoto ironizou.

– Qualquer um pode mudar. – Expressou Ralph, um pouco surpreso. – Eu acredito nisso.

– Irmãos não passam de egoístas que não ligam para a família. Fred pode ser provavelmente um exemplo disso.

O loiro não conseguia pensar em resposta nenhuma, perante ao olhar frio de Jack. Um olhar intimidante e natural, ele era mesmo uma criança?

– Aposto que não tem uma resposta para isso. – Expressou o garoto. – Não pode achar que qualquer um pode mudar por ser parte de sua família. Se ele não fosse, você ajudaria?!

Ralph abaixou a cabeça em sinal de desapontamento.

– Talvez pense mais sobre isso. – Disse o menino, passando pelo loiro, mas quando ele chegou perto da escadaria, Ralph se manifestou.

– Você está certo. Não sei se posso mudar as pessoas, mas sei que elas devem mudar. Dentre todos os inimigos que enfrentei, achei que todos poderiam mudar, mas me enganei! Eles escolheram a vida que queriam ter, e morreram por causa de suas ações! Se eu morrer acreditando que posso muda-lo, eu farei isso sem remorso algum! Isso é o que é pensar o que é bom aos outros, talvez até o que um irmão deveria pensar. Se fosse você no lugar dele, eu o salvaria como um irmão!

Jack ficou sem palavras, sem saber como encará-lo, ele desceu as escadas rapidamente, deixando o loiro sozinho no corredor.

Dentro do quarto de Isabelle, ela não estava dormindo. E havia escutado tudo.

– Ele... realmente pensa assim?

***

No dia seguinte, os quatro se prepararam para sair, como era de manhã, o sol ainda exibia um calor fraco com uma refrescante brisa. Enquanto Mariah e Nesse confirmavam com Gotay a localização exata, Ralph imaginava de como poderia ser o familiar de Fred. Já partindo, o loiro sentiu uma presença estranha, mas familiar, e que não era boa.

– Acho que é impressão minha, ou... – Ele foi interrompido quando uma explosão repentina aconteceu, seguida por outras mais.

Só havia uma pessoa que sabia invocar explosões instantâneas.

Slam.

– Quantas vezes você tentará nos atrapalhar? – Disse o anjo da explosão, saindo da fumaça.

– Quantas vezes forem necessárias para impedirem vocês! – Retrucou o loiro, preparado. – Dessa vez, você não me escapa!

– Ralph, não. Ele só está tentando nos atrasar. – Disse Mariah.

– É. Mas agora ele sabe nosso esconderijo, não podemos deixa-lo escapar. – Interveio Nesse. – Agora não temos escolha.

– Isso. Era o que eu estava esperando. – Ralph estendeu seu punho. – Esperei muito para esse momento.

– Sinceramente, eu também. – Expressou Slam. – Enfim, nossa luta final. Finalmente poderei mostrar o meu poder total.

Os dois se encararam. Como já esperado, Mariah e Nesse se afastaram, pois sabiam que era apenas Ralph que iria lutar, afinal, aquele embate estava predestinado desde o início.