Impressões Enganam, as escrita por MyKanon


Capítulo 5
Ela arruína os meus planos




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_ Ahh... Ovinhos de codorna! Adoro ovinhos de codorna! Vocês não adoram?

A Veridiana se serviu de algumas unidades dos tais ovos de codorna.

_ Não gostam mesmo? - reforçou a pergunta ao notar que ninguém respondera.

_ Eu prefiro tofu. - respondeu a Dani servindo-se da iguaria.

Eu também peguei um prato e comecei a me servir, seguido do Robson.

_ Eu não gosto de nada que contenha soja. - começou a Veridiana, tentando manter contato com a outra colega – É um grão meio suspeito, não acha? Dela se faz leite, queijo, carne... Como pode um grão ser tão volúvel?

_ Ué! - exclamou a Dani por sua vez, sem desviar sua atenção de seu prato – O leite então também não deveria ser suspeito? Com ele fazemos pães, bolos, queijos, iogurtes... Ele é muito mais volúvel.

_ Eu também não como nada que contenha leite... - ela começou.

Então a Dani soltou uma risadinha e comentou:

_ Você não come nada que seja “volúvel”?

_ Não, é que eu tenho intolerância à lactose.

_ Ah, então me desculpe...

_ Desculpar pelo quê?

A Veridiana a encarou preocupada por fazê-la sentir-se culpada por alguma coisa. E a Dani por sua vez, sentiu-se intimidada com a expressão arrebatada da Veridiana.

_ Por nada não. - dando um sorriso tímido, voltou sua atenção para a comida.

Ficou claro naquele momento que a tentativa de socializar com a Veridiana estava finalizada para a Dani. Então foi a vez do Robson:

_ E então Veri, muito serviço?

_ Não. O mesmo tanto. - e sorriu simpática.

_ O que você faz exatamente? - perguntei.

_ Ah... Ajudo no planejamento.

_ Legal, então você deve conhecer a Marissol. - deduzi.

_ Sim.

_ Eu recebi um e-mail dela hoje de manhã. Bem, não diretamente... - queria poder perguntar se ela era bonita, mas não me pareceu muito ético – Ela é legal?

Ela olhou para cima, tentando decidir. Certo, patrões geralmente não são legais...

_ Tá bom, não vou obrigá-la a difamar sua chefe.

Então ela voltou a comer, como se a minha pergunta fosse uma tarefa obrigatória que acabara de ser cancelada.

_ E você Dani? É programadora né? - arrisquei.

_ Sou.

Como ela também sorriu ao responder a pergunta, resolvi continuar a conversa. Quem sabe não conseguisse estender aquele almoço para um encontro?

_ Faz tempo?

_ Tem quase dois anos.

_ Poxa! E eu achando que você era uma garotinha!

Ela riu sem-graça e o Robson fingiu engasgar com o refrigerante que tomava.

_ Ah! Não! Não estou dizendo que te acho velha por causa disso!

_ Claro que não. Eu entendi.

_ Liga não Dani, desde que o conheço, ele é meio tonto. - dessa vez quem riu foi o Robson.

_ Se eu fosse você, não daria ouvidos. Ele é meio esquizofrênico.

_ É mesmo Robson? - perguntou a Veridiana verdadeiramente preocupada. Quase como quando eu joguei o copo descartável no lixo na frente dela.

_ Não, Veri... Eu só estava brincando. - tentei consertar, meio sem jeito por ela ter acreditado em tal piada.

_ Nossa, que susto! - disse aliviada – É que a minha mãe tem... E eu fiquei com pena... - depois sorriu novamente – Mas era piada! - e riu como se realmente achasse graça.

Nós três ficamos sem saber como agir. No fim eu acabara fazendo uma piada de mal gosto, mas ela ria como se não se importasse nem um pouco, então preferi não pedir desculpas e parecer mesmo culpado.

Resolvi fazer silêncio, pois não sabia mais o que era seguro ou não falar. Os outros dois adotaram a mesma postura.




*






_ Por favor a Veridiana?

_ Esse número não é dela. - informei.

_ Você saberia me dizer qual é o ramal dela, então?

_ Sinto muito.

_ Ok, obrigado.

Desliguei o telefone e disse sem me levantar:

_ Mais uma ligação pra você.

_ Hum-hum. - ela murmurou sem dispensar maior atenção.

_ E como ficam essas pessoas que não conseguem falar com você?

_ A Marissol dá um jeito.

_ Mas se você foi contratada para ajudá-la... Não deveria atender?

_ Quem disse que fui contratada para ajudá-la?

Estiquei o pescoço para ter certeza que era com a Viridiana mesmo que falava. Era ela mesma. Mas falava de forma tão direta e firme que não reconheci.

Provavelmente a Marissol já havia lhe puxado as orelhas por causa do telefone e por causa disso estava irritada.

_ Está brava? - perguntei observando o topo de sua cabeça.

_ Eu? Não... - pronto, voltara a divagar – Já volto.

Em seguida, pegou algumas folhas na impressora e deixou seu lugar. Encolhi os ombros e concentrei-me no meu trabalho.

_ Ei! - ouvi alguém sussurrar.

Levantei a cabeça e encontrei com o Robson adentrando minha baia sorrateiramente.

_ Qual é, tá fugindo de alguém? - perguntei achando engraçado.

_ Sim, da Dani e da sua vizinha doida.

_ Hã? Que foi?

_ Você nasceu mesmo virado pra lua, não é?

_ Por quê?

_ Vai dar uma de desentendido pra cima de mim agora?

_ Dá pra falar logo o que é?

_ Seguinte, depois de voltarmos do almoço, a Dani ficou cheia de suspiros... Perguntei qual foi, e ela disse que te achou “um fofo” - ele interpretou esse adjetivo de forma bem afetada – e o escambau...

_ Sério mesmo? - ganhei meu dia. Minha semana e possivelmente meu mês.

_ É, é! - confirmou impaciente – Bom, só vim aqui te dar essa ideia... Hoje é sexta... Quem sabe vocês não acabam se esbarrando no fim de semana?

_ Ahn... Bem... Será que ela...

_ Não sei. Daqui pra frente é com você. - Ele se levantou e começou a sair – Tá me devendo essa, hein!

_ Valeu, irmão!

Será que já era uma boa hora para chamá-la para sair? Não! Que ideia de girico!

Devia esperar pelo menos pelo horário de saída!

Foi muito mais difícil me concentrar no serviço depois da notícia, mas fiz o possível. Nem reparei na Veridiana andando de um lado a outro, cheia de papéis. Bem, na verdade eu reparei, não é mesmo?

15:59.

Desliguei o micro e comecei a arrumar minhas coisas. Fiz alguma hora até ver a linda mestiça rumando para o elevador. Nesse momento, joguei minha mochila bruscamente sobre meus ombros e deixei minha baia da mesma forma. Só não contava encontrar com a Veridiana no caminho. E por causa disso acabamos nos trombando com força.

_ Ah... Meus prospectos...

Todas as folhas que ela carregava espalharam-se pelo chão.

_ Ah, droga! - praguejei.

Olhei para o elevador onde a Dani estava embarcando. Ao me avistar, ela sorriu e estendeu o braço para impedir o elevador de fechar as portas. Olhei para a Veridiana recolhendo as folhas e tentando recolocá-las em ordem.

_ Veri, me desculpe... - disse ainda em dúvida entre ajudá-la ou correr para o elevador.

_ Não, tá tudo bem! Eu devia mesmo tê-las grampeado! Eu recolho tudo num minuto!

Olhei mais uma vez para o elevador, onde a Dani já estava ficando impaciente por ter de segurar a porta.

“Maldição!” Pensei comigo ao acenar para que ela fosse embora sem se preocupar comigo.

Abaixei-me e a ajudei a recolher as folhas que eu mesmo providenciara que ficassem daquele jeito.

_ Já está na sua hora de ir Vitor, deixa que eu termino...

_ Não, eu que derrubei. Não estava prestando atenção.

Então atentei para um dos números no cabeçalho de uma das folhas.

_ Você está prospectando o projeto 10.003?

_ S-sim... É trabalho da Marissol...

É, eu não devia ter dito que ela não ajudava a chefe...

_ E como está o andamento? Foi por causa desse projeto que recebi o e-mail da Marissol.

_ Não sei se posso dizer mas... - ela fitou o nada atrás de mim – Parece que vai ser cancelado e todos os envolvidos demitidos...

_ O quê?!

Ela voltou a encarar minha expressão desesperada e começou atormentada:

_ Ah, me desculpe!

_ Desculpá-la por me alertar?

Mas não consegui mais pensar sobre seu pedido... Eu era um reles estagiário... Onde arrumaria outro emprego tão rapidamente? E eu realmente precisava de um outro emprego rapidamente!



Continua

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