Impressões Enganam, as escrita por MyKanon


Capítulo 2
Ela não precisa de telefone


Notas iniciais do capítulo

Vou chamar essa de uma beta-fic...
Minha primeira fic com POV maculino.
Se não funcionar, ela morre, mwahaha!
*~*~*



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_ Você me enganou por tanto tempo...

_ Eu... Eu nunca menti.

_ Omitiu! Propositalmente! Dissimulou!

_ Vitor... - ela me cortou delicadamente - Se um dia eu desistisse da minha carreira por alguém, seria somente por você. Mas eu não vou desistir dela... Relacionamentos são efêmeros... Para pessoas como eu.

Queria xingá-la, ofendê-la, chacoalhá-la... Mas ao mesmo tempo agarrá-la para não deixá-la ir.

_ Por favor...

_ Nós ainda vamos nos encontrar... - sorriu debilmente – Porque você é muito competente!

Beijou minha bochecha ternamente e passou por mim.

Eu fiquei ali apenas observando-a ir embora. Para sempre.

*

_ Parabéns Vítor! Você vai para a matriz.

Meu chefe me estendeu a mão, cumprimentando-me por ter conseguido a tão esperada vaga na central, que tornaria minha efetivação mais rápida.

_ Ah não! Sério mesmo Serginho?

_ Seríssimo! - Um pouco mais baixo, acrescentou – Agora vê se puxa o saco da pessoa certa, já que vai estar mais perto dela!

Na central estavam todos os gerentes mais importantes daquela empresa de tecnologia onde eu trabalhava. E claro, os estagiários mais inteligentes. E mais sortudos, como no meu caso.

_ Pô, valeu mesmo!

_ Não esquenta, você merece. Mas vê se faz bonito lá, não vai queimar meu filme!

_ Não, deixa comigo!

Rimos ambos satisfeitos. Me transferir para lá também manteria meu chefe Sérgio Ribeiro mais perto dos manda-chuvas. Mas como para ele não era viável se transferir, decidiu por aproveitar a oportunidade do meu pedido de transferência.

Trabalhei feliz como nunca antes naquela semana. Minha última semana no pequeno prédio no subúrbio da cidade. O escritório da matriz era em um prédio grande e pomposo no centro.

O ambiente ajudaria a contribuir com o meu humor. Nada podia ser melhor.

*

Fiquei algum tempo apreciando o edifício espelhado antes de entrar. Parecia ter uns trinta andares.

Cumprimentei os porteiros e passei o cartão na leitora da catraca. Tinham 5 elevadores. Apertei o botão para subir e observei num mostrador eletrônico qual deles chegaria primeiro.

Embarquei e apertei o botão de número 20. Ouvi uma música estranha durante o trajeto e não pude deixar de me aliviar quando desci.

Parei em frente a uma porta de vidro e novamente aproximei meu crachá numa leitora para que a porta se abrisse.

Senti o ar refrescante do ar condicionado dentro da sala e me encaminhei para uma mesa desocupada próxima a porta. Ficava dentro de uma baia com quatro lugares, um em cada canto. Estavam todos vazios.

Coloquei minha mochila sobre a mesa e decidi procurar o gerente do projeto em que eu estava trabalhando.

Nesse momento prestei mais atenção às pessoas que trabalhavam ali. Todas organizadas em baias de quatro pessoas, e pareciam muito atarefadas. Andavam apressadas de um lado a outro, quando não estavam digitando furiosamente.

_ Oi, bom dia Sr. Barasal. Sou o Vitor Ferreira. O Sérgio deve ter falado com o senhor... - parei quando notei que ele não me dera atenção.

_ Ah, sim, sim, falou. - disse ainda sem me dar atenção.

“Bom, então se ele falou...” Pensei e resolvi aguardar instruções.

Mas ele não disse mais nada. Continuou digitando calmamente em seu computador. E eu continuei parado como um monumento em frente à sua mesa.

Depois de cerca de cinco minutos ele me encarou e indagou:

_ Sim?

_ Eu sou o Vitor... O senhor disse que o Sérgio falou com o senhor...

_ E falou. Você continua no projeto que ele está liderando. Mais alguma dúvida?

Senti antipatia pelo rosto redondo e vermelho do chefe do meu chefe. O Sérgio podia ao menos ter me alertado sobre o humor do velho...

_ Não. Só queria avisar que se o senhor precisar de alguma coisa...

_ Ok. Obrigado. - depois voltou a digitar.

Não vi outra alternativa a não ser voltar para a mesa onde havia deixado minha mochila e torcer para que não pertencesse a ninguém.

Voltei para a baia e liguei o computador que estava lá. Percebi que logo à minha frente tinha alguém sentado, na sua respectiva baia.

A divisória não me deixava ver a pessoa, só o topo de sua cabeça. Cabelo loiro.

Senti curiosidade. Seria homem? Mulher? Estagiário? Chefe? Se fosse menina, seria bonita? Inteligente?

Digitei meu usuário e senha no micro, e enquanto esperava que carregasse tudo que era necessário, estiquei o pescoço disfarçadamente tentando ver o rosto do meu colega de baia.

“Que bobeira!” Pensei irritado ao me dar conta do que fazia. Abri meu gerenciador de e-mails, mas não tinha nenhuma mensagem nova.

Ouvi a pessoa à minha frente digitar agilmente. Inconscientemente, voltei a esticar o pescoço e só me dei conta quando praguejei mentalmente por ainda não conseguir ver quem era.

_ Alô? - ouvi do outro lado.

Era uma menina. Torci para que também fosse bonita.

_ Aahn... Não. Não me liga mais aqui. - apesar do pedido, sua voz não parecia firme. Parecia indecisa. - É. Na central... - E distante. Parecia estar concentrada em outra coisa enquanto falava ao telefone. - Não vou mais atender. Não vou mais ter telefone aqui, tá bom? - Parecia preocupada em agradar seu interlocutor.

Seu tom de voz era engraçado, parecia uma professora de primário com seus alunos.

_ Tchauzinho. - disse infantilmente, e ouvi o “click” do telefone sendo desligado.

Segurei o riso da forma como ela falara e acessei o sistema onde estava o trabalho que eu estava desenvolvendo.

_ Toma. Esse pode ficar pra você.

Ela retomou o tom infantil ao falar. E só quando notei um telefone flutuando acima da minha divisória, entendi que era comigo. Ela estava me estendendo o telefone dela.

_ Ah! - Levantei-me rapidamente para pegar o aparelho e aproveitar para espiá-la.

Não sei se “decepção” seria a palavra correta. Talvez “surpresa” fosse mais adequado.

Devia ser mais uma estagiária, a julgar pela sua aparência. Magra, pequena e branca. Mais que branca, pálida. Era exatamente isso. Tinha uma cor nada saudável. Os cabelos não eram loiros como eu estava imaginando, mas loiros sem vida. Tudo nela parecia sem vida.

Seus olhos eram claros, mas sem uma cor definida. Parecia uma pessoa desbotada.

Mas abriu um sorriso amável quando eu não peguei o aparelho. Mais que isso, um sorriso aéreo, assim como sua expressão.

_ Tem certeza que não vai precisar dele? - perguntei transferindo o aparelho para a minha mesa.

_ Ahn... Não vou não... - ela continuava sorrindo vagamente.

_ E se alguém perguntar por você?

_ Ah... Pode dizer a verdade. - Seus olhos estavam arregalados – Diz que não é mais meu.

“Que louca!” A expressão dela me assustava.

_ Tá.

Voltei a me sentar para não ter de continuar olhando para ela.

Menos de quinze minutos depois, o telefone tocou.

_ Vitor. - atendi.

_ Veridiana, por favor.

_ Esse número não é dela.

_ Mas era há uma hora.

_ Ahn, não é mais.

A moça do outro lado da linha bufou impaciente e agradeceu contrariada antes de desligar.

_ Tem certeza que não vai ter problema se ficar sem telefone? - perguntei sem me levantar para não ter de encará-la.

_ Hã? Ah... Não vou não.

Que estagiária podia estar tão tranquila naquele tipo de situação? Dei de ombros, decidindo não perder mais tempo com os problemas da “Veridiana”.

Continua


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