Impressões Enganam, as escrita por MyKanon


Capítulo 16
Ela sabe o que quer, e quando quer


Notas iniciais do capítulo

Pessoinhas lindas! Mil perdões pela demora! Fase mto, mto ruim!
Mas cá estamos com cap caprichado de grande, e até comum sonzinho no final pra ajudar no climinha!

Kissão!



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Acordei disposto logo cedo no sábado. O sol estava forte e quente.

Bem que a Veridiana podia ter marcado seu compromisso na praia...

_ Já? - perguntou minha mãe ao me ver caminhando pela casa logo nas primeiras horas da manhã.

_ Tenho que arrumar umas coisas. Vou dar uma saída hoje e volto amanhã, tudo bem?

_ Pra onde você vai?

_ Uma cidadezinha do interior. Não conheço.

_ Vai com a sortuda?

Sentei-me na mesa para acompanhá-la no café.

_ Ela se chama Veridiana. E o sortudo sou eu.

_ No meu tempo a gente primeiro casava e depois fazia lua de mel...

_ Mãe! É só um passeio...

_ Hum... Pelo que conheço de você menino... É quase lua de mel.

Deixei de dar-lhe atenção para que não começasse a falar o que eu não queria ouvir.

*

Pouco depois do almoço, despedi-me de meus pais e fui para o quintal, e como se tivesse sido cronometrado, uma linda Tucson prateada parou em frente ao meu portão.

Eu ainda compraria uma...

_ Oi.

Quando abri a porta, inclinei-me e a beijei, então me acomodei no banco. Coloquei minha mochila no banco de trás e perguntei:

_ Você não é uma daquelas que fazem três malas para dois dias não é?

_ De forma alguma. É claro que eu sei que devemos fazer pelo menos duas malas para cada dia.

Sua naturalidade era tamanha que fiquei abismado com sua afirmação.

_ É brincadeira, Vitor. Eu fiz só uma...

_ Quem disse que eu caí?

_ É que você ficou assim... Todo parado... E sério... Foi engraçado.

_ Vou te mostrar o que é engraçado!

Comecei a atacá-la com cócegas nas costelas, enquanto ela me pedia para parar entre risos.

_ Vitor, pare! Eu não puxei o freio de mão!

Preocupado, afastei-me dela e mirei a alavanca.

_ Mas, está puxado... - argumentei.

_ Eu tinha que fazê-lo parar...

_ Quer dizer que mentiu pra mim?

Rapidamente ela o abaixou.

_ Não... Viu?

_ Você continua se safando...

_ Hee! - ela riu – Bem, vamos, então?

_ Claro... E... Só uma coisa... Eu não gosto de emoções muito intensas, sabe... Então... Será que você não vai se esquecer que estamos no Brasil, e não na Alemanha?

_ Ah não! Com certeza! Veja só, eu fiz um lembrete!

Ela apontou para o velocímetro do carro, onde tinha colado um pequeno post-it amarelo com a anotação 110 em vermelho.

_ Uau! Você é mesmo metódica!

Ela me sorriu sem graça e deu a partida.

Percebi que ela dirigiu receosa pela estrada, atentando para o marcador de velocidade a todo momento.

_ Trouxe algumas músicas, quer ouvir, ou prefere dirigir no silêncio? - perguntei mostrando-lhe meu pendrive.

_ Ah... Não tenho preferências, pode colocar...

Como eu não sabia qual seu estilo, nem qual sua idade, optei por um repertório amplo dos anos 90 e 80.

A ouvi cantar baixinho Sweetest thing e Wuthering Heights.

_ Você assistiu ao filme? - perguntei referindo-me ao clássico Morro dos Ventos Uivantes.

_ Li o livro.

_ Gostou?

_ Sim! A história mais linda que já vi... A personagem Catherine dividida entre o amor e o dinheiro, até que definha até a morte... Heathcliff com sua paixão tão intensa que chega a destruir a si mesmo e aos outros a seu redor... É realmente tocante. Você não acha? - sorriu tão angelicalmente que parecia realmente ter falado de coisas lindas e românticas.

Mas era psicótico e atormentador.

_ Não saberia dizer... Não vi o filme...

_ Oh... Se um dia puder assistir, vai mesmo gostar!

_ Acredito que sim... - de forma nenhuma.

Não podia negar que ela ainda me assustava.

Viajamos por mais umas duas horas entre conversas casuais, piadas e música. Ao final, estávamos ouvindo Beethoven, por sua própria sugestão.

Ao sairmos da rodovia, entramos em uma estradadinha deserta e ladeada por árvores silvestres.

Essa estrada não tinha sinalização, logo, fui obrigado a enfrentar meus receios.

_ Ah, me desculpe! Esqueci que não gosta... - ela desculpou-se ao notar meu silêncio repentino.

Vi a numeração da velocidade baixar gradativamente de 130 para 120, 110 e 100.

_ Não esquenta Veri... Pode continuar. Eu me acostumo.

_ Não faz mal... Ainda está claro... E podemos aproveitar a paisagem... Se você gostar de árvores. Se não gostar, podemos só ouvir música... Ou conversar. Ou ainda dormir. Claro, só você. Eu não. Enquanto eu estiver dirigindo.

Ri de toda sua preocupação.

_ Veri, relaxa! Ei, você quer me entreter? Posso dirigir pelo resto da viagem?

Ela já estava dirigindo por horas, devia estar realmente cansada. E claro, eu também desfrutaria do prazer de guiar um SUV...

_ Você quer mesmo? - ela pareceu esperançosa ao perguntar.

_ Com certeza.

Antes de encostar, ela me sorriu satisfeita.

Depois de trocarmos de lugar, ela me indicava a direção com instruções, gestos e até encenações. Eu não sabia onde estávamos indo, mas não conseguiria me perder da forma como ela acreditava que eu fosse fazer...

Apenas quarenta minutos depois, passamos pela entrada da cidade, onde lia-se “Serra Celeste”.

Ela abriu um mapa e olhou para ele. Incerta, virou-o de cabeça para baixo e continuou a estudá-lo.

_ Bem... Talvez se virarmos... E depois... Virarmos de novo... E... Outra vez... Talvez o mapa tenha sido impresso com algum problema... Não é?

_ Posso tentar?

Ela sacudiu a cabeça e me estendeu o mapa. Virei-o para a direção correta e encontrei o ponto circulado em vermelho pela Veridiana. Dirigi até lá, e descobri uma aconchegante pousada.

Depois de passarmos por uma guarita, estacionamos ao lado do que parecia um restaurante. Tinham algumas mesas ao ar livre, e nas extremidades do estabelecimento, duas escadas que levavam ao andar de cima.

Lá ficavam os quartos. Pelo menos era o que pareciam ser, a julgar pelas varandas.

Joguei minha mochila nas costas ao desembarcar, e peguei a mala da Veridiana no porta-malas.

Peguei sua mão e caminhamos para a recepção da pousada.

_ É... Oi. - ela começou para a recepcionista – Tenho uma reserva no meu nome: Veridiana Bergen.

A recepcionista sorriu gentilmente e conferiu as reservas no computador.

_ Ah sim, quartos 11 e 12. Aqui estão as chaves. Gostariam que levássemos as bagagens?

_ Não, são apenas 2 malas. - recusei.

Então eram dois quartos, hum.

Não sei porquê fiquei surpreso, era totalmente esperado. Afinal nós ainda não havíamos...

_ Olha só, seremos vizinhos! - comentou alegremente ao pararmos frente aos quartos.

_ Uma pena ser apenas um dia, não é mesmo?

_ Oh, sim... Mas não pense dessa forma! Pense em como esse dia será legal!

Uma otimista irrecuperável, não podia negar. Talvez eu me desse bem se também adotasse a prática...

_ Eu marquei com o senhor Pires às 19hs no café... Podíamos aproveitar e jantar... Não é?

_ Claro.

Deixei as malas no chão e fui até a sacada conferir a vista.

Era realmente um lugar agradável. Era possível ver algumas serras, que possivelmente davam nome à cidade, pois seus picos pareciam ir de encontro ao céu.

_ Ei Veri, venha ver.

Estendi a mão para ela, e a cerquei quando ela me alcançou.

_ Deve ser o máximo ver o pôr do sol aqui. - comentei ainda apreciando a paisagem em sua companhia.

_ Sim... Deve sim... Vamos fazer isso?

_ Humpf. Não tenho nada para fazer. Você tem?

_ Hum-hum! - ela balançou a cabeça negativamente.

_ Ótimo. Então, podemos matar o tempo enquanto não escurece, não acha?

_ Podemos?

_ Com certeza.

Virei-a para mim e a beijei.

Quanto mais perto de mim, com mais intensidade eu podia sentir seu perfume cítrico. Acariciei toda a extensão de seu cabelo leve e fino, até alcançar suas costas. Queria prosseguir, mas ela me interrompeu dizendo:

_ Veja, começou!

Depois de assistirmos ao pôr do sol, dirigi-me ao meu quarto para tomar um banho e me preparar para o jantar.

Encontrei com ela no restaurante, numa das mesas externas. O tal senhor Pires ainda não havia chegado.

_ Desculpe o atraso. - comecei.

_ Não... Eu que me adiantei. Eu só queria organizar esses papeis para que o senhor Pires assinasse certo... Afinal... Eu não entendo nada do que ele diz... - lamentou.

_ Não?

_ Ele é português. O sotaque é muito forte... Você vai ver.

_ Certo. Você já pediu alguma coisa para beber?

_ Ainda não... Mas adoraria um espumante... Hoje eu posso, não é?

_ Ótima pedida, Veri. Vou lhe acompanhar.

Pedimos duas taças de champanhe enquanto aguardávamos o português.

Antes de finalizarmos nossas bebidas, um senhor barrigudo e de bigode se aproximou. Quando começou a falar, entendi a dificuldade da Veri em entendê-lo. Mas como ele gesticulava indicando a cadeira, logo supus que quisesse se sentar.

_ Claro, fique à vontade. - ouvi-a dizer.

Sorridente, ele puxou a cadeira e se acomodou. Chamou o garçom e pediu uma dose de vinho tinto.

Ele começou a discursar sobre a beleza da cidade onde estávamos, mas nós só entendíamos alguns poucos adjetivos. E quando ele subitamente parava de falar e nos encarava, também sabíamos que era porque havia nos feito uma pergunta.

Nessas ocasiões, a Veridiana sorria vagamente, na esperança que aquilo servisse como resposta.

Já cansado de toda aquela interpretação, também pedi por uma taça de vinho, e a Veri fez o mesmo.

Por fim, ela conseguiu fazer com que o falante senhor assinasse os documentos e finalmente nos deixasse.

_ E então, ele fez tudo certo? - perguntei.

_ Hum... Se eu não estiver errada, sim... Acho que era só isso que ele tinha que fazer...

_ Ele está vendendo uma casa para sua mãe?

_ Não, está comprando na verdade.

_ Comprando?

Ela deu um gole no seu vinho.

_ Sim. Já que ela não pode mais administrar seus imóveis... E eu também não poderei.

A Veridiana já tinha uma vida profissional bastante atarefada, e cuidar de uma mãe temperamental também não devia ser fácil... Era justo querer se livrar de tarefas imobiliárias...

_ E por que ele quer sair de um lugar tão bonito como este?

_ Poxa Vitor, não quis perguntar... Eu não entenderia de qualquer forma...

_ Tem razão. - ri ao me lembrar – Acho que vou pegar um branco... Aceita mais um? - indiquei minha taça vazia.

_ Bem... Está mesmo muito bom... Mas...

_ Oras, aproveite, você não precisará guiar hoje...

_ Ahn... Você tem razão, mas mesmo assim... Um branco suave, por favor! - já pediu a um garçom que passava.

Ri novamente, dessa vez de sua repentina mudança de ideia.

_ Não pense que sou alcoólatra... Eu até apoio a causa dos alcoólatras que tentam se re-educar... Mas eu não sou...

Suas bochechas estavam ficando rosadas, e eu não sabia se era pelo constrangimento, ou pelo efeito do álcool, pois eu também já começava a me sentir mais eufórico que o habitual.

_ Até parece Veri. Muito pelo contrário, me sentiria ofendido se não me acompanhasse! Dois, por favor. - corrigi o garçom.

Depois da segunda taça de vinho, pedimos nossas refeições, e acabamos no entregando a uma terceira taça da bebida.

_ A gente podia emendar o próximo fim de semana, não podia? - sugeri já um tanto alterado.

_ Eu adoraria... Mas seria desastroso...

_ Desastres são inevitáveis.

_ Hum! Mas já está evitado Vitor! Fiz reservas para só até amanhã! Sinto muito, mas não teremos um desastre.

_ Já que é assim, muito bem.

_ Você está bravo?

Encarei-a seriamente.

_ Me chateia pensar em abandonar esse lugar paradisíaco e essa companhia incrível... Mas eu jamais conseguiria ficar bravo com você.

Estendi minha mão sobre a mesa e segurei a sua. Ela continuou me encarando inexpressiva por uns instantes, e então soltou uma risadinha acanhada.

_ Isso é muito bom! - comemorou.

Continuamos a papear casualmente, rindo com uma frequência maior que o usual, por mais uma hora, até decidirmos descansar para poder aproveitar o dia seguinte.

Só esperava não acordarmos com dores de cabeça...

_ … E mal vejo a hora de vermos os cavalinhos amanhã! - ela ainda divagava enquanto subíamos as escadas.

_ Não só ver, né Veri? Você vai cavalgar comigo, não vai?

_ Cavalgar? Ahn... Gosto mais deles quando estão paradinhos...

_ Mortos?

_ Não! Vivos! Mas quietos... Dormindo. É isso. Gosto dos cavalos quando estão dormindo!

_ Então seria melhor irmos vê-los agora! Vamos?

_ Não, não, Vitor! Amanhã eu vejo! Você cavalga, e eu vejo! E todos ficaremos felizes!

É, estávamos mesmo alcoolizados.

Paramos ao alcançar a porta do seu quarto.

_ Combinado, então te busco amanhã bem cedo, hein...

Puxei-a para mim e lhe beijei.

Aproveitando-me da falta de pudor que experimentava, acariciei suas costas e desci para os glúteos.

Pensei que fosse levar uma bronca, mas estava preparado para aquilo. Ela simplesmente iniciou a gargalhar.

_ Qual a graça? - perguntei.

_ É... Você.

_ Jura?

_ Hum-hum.

_ Certo, parei com as gracinhas, então.

Fiz minha cara de sério.

_ É? - ela perguntou.

_ Sim.

_ Então por que... Ainda não soltou?

_ É mesmo. Já tinha até me esquecido que ela estava aí.

Relutante, soltei-a.

_ Então até amanhã, Veri.

_ Hum-hum. Até... Vitor.

Inclinei-me em sua direção e dei-lhe um último beijo de boa noite.

Tentei adotar seu raciocínio otimista, pensando que quanto antes eu a deixasse, antes poderia voltar... Mas não funcionava muito bem comigo.

Sweetest Thing (U2)

Link: http://www.youtube.com/watch?v=5WybiA263bw

Blue-eyed boy meets a brown-eyed girl

Um garoto de olhos azuis conhece uma garota de olhos castanhos

Oh, the sweetest thing

Oh, a coisa mais doce

Antes de eu poder me virar para me retirar, ela segurou minha mão.

Voltei-me para ela, curioso.

_ Bem... - começou.

Mas parou, e fitou os próprios pés.

Ri de sua atitude.

_ Nos vemos amanhã, Veri.

_ Não, espere.

Ela voltou a me encarar, decidida.

_ Fique.

_ Hã?

Ela queria que passássemos a noite no corredor?

Respondendo à minha pergunta, ela virou-se e destrancou a porta de seu quarto. Adentrou-o e voltou a me encarar com firmeza.

_ Fique aqui... Comigo.

Inicialmente não entendi seu convite... Afinal, ela mesma havia feito as reservas de quartos separados...

You can sew it up, but you still see the tear

Você pode remendar isso, mas o rasgo continua visível

Oh, the sweetest thing

Oh, a coisa mais doce

_ Veri... Eu adoraria, você sabe. Mas talvez você só esteja empolgada por causa do vinho e tudo mais...

_ Vitor, eu não estou mesmo completamente sóbria... Estou um pouco tonta, e minha visão está até um pouco turva, isso é divertido... Mas eu estou lúcida.

Novamente ela falava com aquela firmeza que eu quase me esquecia que existia.

Baby's got blue skies up ahead

Ela teve um céu azul pela frente

But in this, I'm a rain-cloud,

Mas nisso, eu sou uma nuvem de chuva,

_ Sim, estou vendo... Acho que mais do que eu.

Continuamos imóveis por alguns segundos, então ela me deu as costas, e até pensei que tivesse desistido, quando voltou a se virar, e sentou-se nos pés da cama.

_ Você vai ficar aqui, comigo?

Observei-a balançar os pés, e acariciar o pescoço com uma das mãos.

Quando foi que a Veridiana havia ficado tão sexy?

Antes de ir em sua direção, tranquei a porta do quarto.

Ours is a stormy kind of love

Nosso amor é do tipo tempestuoso

Oh, the sweetest thing

Oh, a coisa mais doce

Continua


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