Impressões Enganam, as escrita por MyKanon


Capítulo 11
Ela fica linda sob o luar




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_ Ainda está cedo... Quer ver um filme? - convidei quando deixamos a mesa.

_ Hum... Está uma noite tão agradável para ser desperdiçada numa poltrona...

_ Então podemos dar uma volta. Pode ser?

_ Claro. Onde?

Como assim? Estávamos num shopping...

_ Por aqui...

_ Ahn, você diz... Aqui dentro?

_ Foi o que pensei... Inicialmente. Mas se você tem alguma ideia...

_ Não, por mim tudo bem!

_ Que isso, Veri... É que eu não sou muito criativo. O que já não podemos dizer de você, não é? - ri descontraidamente em seguida.

_ Você acha? Bem... Então tá... É que eu gosto muito de caminhar. Quanto mais perto da natureza, melhor...

_ Ixi, Veri... Acho que o mais perto que podemos chegar da natureza é ali naquele pet shop...

Ela riu, e depois de se recompor, contou-me sua ideia:

_ Você sabia que temos um parque temático a menos de quinze minutos daqui?

Neguei com um aceno de cabeça.

_ Bem, nós temos... - ela voltou seu olhar para os pés.

_ Olha, adoraria conhecê-lo! Você sabe onde é?

_ Sim, estava lá antes de vir para cá!

_ Então, apresente-me a ele!

_ Claro!

Seus passos tornaram-se mais rápidos quando deixamos o shopping.

Começava a escurecer quando alcançamos a rua.

_ Você mora muito longe daqui? - perguntei enquanto esperava um farol fechar para atravessarmos.

_ Não.

_ Não tem problema ir embora depois de escurecer?

_ Não... Eu sempre acabo saindo muito tarde de lá do escritório. Estou acostumada.

_ Mas pode ser perigoso. Devia tomar mais cuidado.

_ Realmente, não há muito com o que se preocupar... Não devo chamar muita atenção.

_ Por que acha isso?

Ela encolheu os ombros e arregalou os olhos quando concluiu:

_ Nunca atraí nenhum perigo.

_ Ah, bom.

Ela me encarou indagativa, mas não encontrei uma forma de dizer que não queria que ela se achasse sem graça.

_ E aqui está.

Ela indicou a entrada do parque estendendo uma mão na direção dele.

_ Eu realmente nunca tinha ouvido falar dele... Nossa, parece grande.

Acompanhei-a para o interior do que parecia ser um bosque.

Uma estranha mistura de natureza e urbanidade acontecia naquele parque.

Muitas árvores de várias espécies abriam um estreito caminho, que era  ladrilhado de tijolos, e em intervalos regulares, revelavam pequenas lanchonetes aconchegantes entre suas folhagens.

_ Poxa, que engraçado... Quando começo a achar que estou na mata atlântica, aparece uma pastelaria! - comentei.

_ O parque iria a falência sem elas... O ser humano é um tanto hipócrita quando diz querer manter contato com a natureza...

_ Você acha?

_ Você andaria mais de 40 minutos sem entrar em uma delas?

_ Se elas não existissem... Eu não teria escolha, não é?

_ É, por isso não voltaria mais.

Eu não podia mesmo contestá-la. Encolhi os ombros enquanto começava a caminhar:

_ Bem, eu nunca disse que queria manter contato tão íntimo assim com a natureza...

Ela me acompanhou enquanto ria da minha sinceridade.

_ Mas e então, há quanto tempo você está trabalhando na MH?

Ela revirou os olhos, tentando se lembrar.

_ Há quase cinco anos.

_ Nossa! Há quase cinco anos eu estava entrando no ensino médio! Quantos anos você tem? - depois me toquei que era uma pergunta indiscreta.

_ Quantos anos você acha?

_ Ah, agora me confundiu... Talvez uns 22, se for seu primeiro emprego...

_ Hum... Vinte e dois está bom. - riu divertida em seguida.

_ Seria muito contra a natureza se nos sentássemos naquele banco?

_ Bom, ele está lá, então o ato de sentar já foi planejado pelos engenheiros...

Ela me acompanhou até o pequeno banco de concreto.

_ E esse lance de trabalhar como empresa... Você tem que escolher um nome pra ela?

_ Não, nada sofisticado. Podemos usar nosso próprio nome, com o “Ltda” no final.

_ Ah, agora eu entendo a parada de você dizer que era “limitada” lá no shopping!

_ Não era exatamente nisso que eu estava pensando...

_ Foi brincadeira, Veri...

_ Eu sei! - ela rebateu quase indignada.

Já era possível ver algumas estrelas.

_ Amanhã vai fazer sol. - comentei olhando para o alto.

_ Que bom... Tem muita roupa pra secar em casa.

Felizmente nenhum de nós dois tínhamos uma visão muito romântica das estrelas.

_ A lua está cheia... Dizem que essa é a melhor época para cortar o cabelo, não?

_ Depende do que você quer. Dizem que a cheia dá volume...

Nem da lua.

_ Você acredita mesmo nisso da lua? - perguntei na falta de assunto.

Ela me encarou brevemente, e então voltou-se para a lua.

_ Não sei ainda. A lua exerce gravidade sobre tudo no nosso planeta, mas a influência dela na maré é mais perceptível por causa da fluidez da água... Cerca de 75% do nosso organismo é composto por água... Então... Não vejo motivo para que ela não tenha alguma influência também sobre nós, não acha? - voltou-se para mim quando perguntou.

Mas eu não sabia. E nem queria responder. Ouvi-la e observá-la era muito mais interessante que falar qualquer bobagem só para interagir.

Conseguia ser surpreendente de formas impensáveis. E daquela forma como estava, falando sobre ciência sob a luz da lua, parecia intocável, inatingível.

Nesse momento luzes elétricas se acenderam no alto de postes que até então eu acreditava que fossem troncos.

Percebi que a deixei constrangida, pois ela parou de me encarar enquanto corava levemente.

Antes que pudesse me impedir, afastei uma mecha de cabelo de seu rosto, colocando-a atrás de sua orelha. Por um breve momento, senti a textura de sua pele. Macia e morna, exatamente como parecia ser.

Ainda sem me encarar, levantou-se e foi até a árvore mais próxima.

_ Você sabia que essa árvore é um eucalipto? - perguntou, mas quase não ouvi a pergunta por estar voltada para a planta.

Também me levantei e a segui.

_ Me diz algo que você não sabe, talvez assim possamos conversar de igual para igual.

_ Ah, não precisa exagerar...

Ela virou-se, mas pareceu se arrepender. Sabia que eu estava perto, mas não tão perto. Pigarreou e olhou para o lado tentando me evitar.

Venci a curta distância que nos separava, até quase tocá-la, e então ela recuou mais um passo. Suas costas foram de encontro ao eucalipto, e ela suspirou levemente, vencida.

_ É só você dizer que não quer.

Mas ela não disse. Dei mais um passo em sua direção, ficando perto o suficiente para sentir sua respiração sobre meu rosto. Seus olhos cinzentos não encontraram alternativa a não ser me encarar.

Acariciei de leve sua bochecha com as costas do meu dedo indicador, e ela estava quente por causa do fluxo sanguíneo.

Sem desfazer o contato visual por momento algum, inclinei-me em sua direção, até tocar seus lábios com os meus. Enquanto fazia isso, senti o perfume cítrico que exalava de sua pele.

Afastei-me o suficiente para voltar a encará-la. Seus olhos abriram-se vagarosamente e voltaram a me encarar. Sem nenhum arrependimento.

Por causa disso, puxei-a pela cintura para mim, e tornei a beijá-la, dessa vez com mais intensidade.

 

 

*

 

 

Era indescritível a sensação de beijá-la. Ou talvez meu vocabulário fosse apenas restrito.

 

Sua boca parecia muito delicada e até mesmo imaculada para ser invadida por alguém como eu. Mas seus movimentos, sua desenvoltura me despertava cada vez mais o desejo de ir adiante.

Tinha medo de assustá-la, e mais medo ainda de não agradá-la.

Queria que fosse tão bom pra ela, como estava sendo pra mim.

 

Com suavidade, beijei sua bochecha, várias vezes, indo em direção ao lóbulo de sua orelha, onde dei um último beijo antes de voltar a encará-la.

 

Por que eu estava fazendo aquilo?

Eu tinha absoluta certeza que naquele sábado ela me seria apenas uma guia gastronômica. Pelo menos até cinco minutos atrás.

Eu não tinha nenhum outro tipo de intenção ao convidá-la para aquele passeio, coisa que sempre acontecia com outras garotas. Com elas, eu sabia exatamente o que faria. Era quase tudo planejado.

Mas com a Veridiana tudo tinha que ser diferente. Nela, tudo era atípico. Sua aparência frágil, seus problemas singulares, sua personalidade contraditória... A vontade de tê-la pra mim que ela me despertava sem que eu ao menos percebesse...

 

Ela sustentou meu olhar em silêncio. O que deveria ser dito a uma pessoa como ela depois de um primeiro beijo?

_ Ah, não mente pra mim... Você sabia que era um eucalipto, não sabia?

Eu imaginava dizer quase qualquer coisa, até um trecho do hino nacional – talvez “em teu formoso céu risonho e límpido” -...Mas jamais pensaria em classificação vegetal.

_ Não, juro que não.

_ Mesmo com a placa?

Ela apontou para o lado, e só então notei a presença de um aviso que dizia “Eu sou um Eucalipto”.

Tudo parecia muito engraçado... A fala da árvore, o próprio fato de ainda estarmos falando dela naquelas circunstâncias.

Minhas mãos ainda envolviam sua cintura fina, e podia beijá-la novamente sem dificuldade alguma. Mas ela não me dava nenhum indicativo sobre querer ou não.

_ Eu sou muito desatento.

_ Já tentou fazer yoga?

_ Hum-hum. – neguei – É que tem momentos que a desatenção, é bem vinda, você não acha?

Aquele era um deles.

Ela olhou para a bolsa que segurava firmemente entre as mãos.

_ Sim... Me desculpe... Talvez eu devesse parar de falar um pouco.

Ergui seu rosto com cuidado.

_ Não, adoro ouvi-la.

_ Ahn, mas eu prefiro parar...

_ Talvez pudéssemos fazer outra coisa.

Pensei que ela talvez fosse discordar, até que disse:

_ É. Acho que eu preferiria.

Sorrimos juntos antes de nossos lábios outra vez se encontrarem.

 

 

*

 

 

_ Eu não me incomodo de chegar tarde em casa, mas não gosto de deixar a minha mãe sozinha por muito tempo...

_ Ah, não, tem razão! Não é bom que fique até muito tarde na rua mesmo.

Afastei-me dela, e observei seu rosto risonho. Estendi a mão para ela, e ela logo a aceitou.

Refizemos todo o caminho de volta de  mãos dadas.

Quando percebi que sua mão estava ficando fria, puxei-a para perto de mim e enlacei seu ombro com meu braço.

Senti-a enrijecer, mas não a soltei. Queria que se acostumasse aos meu toques.

_ Ah, então, temos de ir por aqui... - ela avisou quando atingimos a saída do parque.

Ela indicava para a direção oposta de onde viemos.

_ Por quê?

_ É que... O estacionamento fica pra lá...

E por qual motivo ela queria ir ao estacionamento? Teria combinado com alguém?

_ Alguém vem te buscar?

_ Não... Eu deixei meu carro lá.

Além de tudo, ela também tinha um carro?

 

 

Continua


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Notas finais do capítulo

N/a: Olá leitoras lindas!
Gostaria de agradecer a todas pelo carinho!
Se não fossem por ele, "Aparências" não teria ido adiante!

Super kissão pra v6!