Dust and Shadow escrita por Liv


Capítulo 1
PRÓLOGO OO1: Nolan


Notas iniciais do capítulo

O prólogo será dividido em três partes. Cada um terá uma narração diferente. Boa leitura!



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TRÊS MESES ATRÁS...

— Nolan Cohen. — Foi a primeira coisa que ouviu sair da boca do policial quando foi empurrado para um cubículo cinza que chamavam de sala. No centro, viu uma pequena mesa e uma cadeira vazia. O policial Simon Cross indicou a cadeira com a cabeça e o rapaz se sentou suspirando teatralmente. Cruzou as pernas e então voltou a encará-lo do modo mais presunçoso que conseguiu. — Este é seu nome, garoto?

Nolan não gostava de ser chamado de "garoto". Especialmente pelo modo que o homem falava, como se fosse ele fosse inferior. Não que isso o surpreendesse, pois policiais costumam ser assim. Na primeira chance que tivessem de torturar um jovem delinquente, eles não a desperdiçariam. Nolan com essas características era um pedaço de carne suculento na mão de tipos como Cross.

Mas Nolan não era um rapaz fácil de se engolir. Seu cabelo castanho já começava a ganhar tímidas ondas nas pontas que não eram cortadas há meses. Tinha a barba por fazer e alguns cortes nas bochechas e nas mãos calejadas, com as sobrancelhas grossas sempre arqueadas, que lhe davam um ar selvagem, acompanhado do sorriso tombado e irônico. Entretanto, Nolan continuava parecendo jovem demais. Cross notou isso.

— Você é o policial aqui. — Respondeu sorridente, com o escárnio pingando pela língua. Exatamente como qualquer pessoa petulante faria. — Descubra.

O policial sorriu igualmente.

— Não será necessário.

Não viu o braço do homem se mover, mas sentiu seu rosto arder como se tivessem derrubado fogo líquido por toda sua face. Também sentiu o sangue quente escorrer livremente por seu nariz e manchar sua jaqueta de couro (roubada) favorita. Cross massageava o punho na sua frente. Nolan fechou a cara.

— Belo soco, Simon. — Nolan tentou sorrir, mas acabou apenas fazendo uma careta. Ele viu o policial sorrir novamente. — Acho que você se daria melhor como um boxeador do que como policial. Huh?

— Não me venha com sarcasmo novamente, garoto. — Quanto mais Cross se aproximava, mais seu tom de voz aumentava. Nolan tentou recuar, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, seu rabo de cavalo foi pego e o cabelo puxado com toda a força para trás. Com a boca perto o suficiente da orelha do garoto, Cross sussurrou: — Conheço você. Eu sei exatamente o que você faz. Sabemos que escondeu aquela maldita droga dando descarga nela na festa. Podemos te colocar na cadeia em um segundo. — Nolan continuou quieto, com a respiração pesada. Não havia se assustado. Apenas abriu um sorriso em meio a dor e estava prestes a responder quando o homem puxou seu cabelo mais uma vez. Mordeu a língua para não gritar ao sentir um tufo de cabelo sair. — Ah... Pequeno Nolan, filho da puta Cohen. Por que não vejo mais sua mãe dando na esquina? Soube que ela está com Alzheimer. É realmente uma pena. Sinto falta dela. — Nolan se contorceu para sair debaixo do policial, mas recebeu um soco no estomâgo. — Coopere, garoto. Coopere. É melhor para todo mundo.

Dando um empurrão, soltou o cabelo e desferiu um tapa na cabeça de Nolan, que tombou para frente. Nolan não reagiu em momento algum depois disso. Não conseguia pensar, muito menos respirar direito. Mas conseguia ouvir os passos do homem andando para lá e para cá na sala. Também conseguia ouvir tudo o que ele havia dito sobre sua mãe no fundo de sua cabeça. Sobre o fato dela ser uma prosituta e ter Alzheimer. Sobre a possibilidade dele ter...

Nolan engoliu em seco.

— Vá se foder.

Cross virou o rosto para ele, aparentemente surpreso ao vê-lo continuando a falar.

— Me desculpe? Acho que não escutei direito.

— Você escutou. Vá. Se. Foder. — Cuspiu. — Eu vou te...

O homem saltou para cima de Nolan como um animal. O garoto tentou desferir um golpe mesmo algemado, mas toda sua boca se encheu de sangue no mesmo momento. Cuspiu para o lado. Seu pescoço foi puxado e todo o ar sumiu. Recebeu mais um soco e quando tentou fugir, recebeu outro, e outro, e outro. Queria vomitar e se soltar das algemas, mas não conseguia fazer nenhum dos dois. Cross continuava no mesmo lugar, em cima dele, olhando-o com uma raiva genuína enquanto elevava o punho pela décima vez. Nolan não sentia mais seu rosto, apenas dor. Gemeu, preparando-se para o soco.

Não sentiu...

Nada.

Piscou os olhos, atordoado. Enquanto sugava o máximo de ar que podia, olhou para cada centímetro da sala, procurando pelo policial, mas não havia nenhum lugar para se esconder. Olhou debaixo da mesa, mas não viu nada. Seu coração acelerou. Tentou se levantar, mas seus joelhos cederam no primeiro passo. Não desistiu. Pareceram que horas se passaram até conseguir ficar completamente em pé e mais horas ainda para chegar até a porta e abri-la desajeitadamente pelos pulsos algemados. Quando botou os pés para fora da sala, ergueu a cabeça e esperou Simon Cross aparecer empurrando-o novamente para a sala e recomeçar a série de murros, onde sangraria até morrer. Mas não viu ninguém na delegacia.

Ficou parado por quase cinco minutos, raciocinando. Havia diversas possibilidades, se pensasse direito. Deveria ser a maconha, Nolan pensou. De fato, era a maconha. Não que ela o fizesse delirar nesse patamar. A maconha não fazia nada além de relaxá-lo... Não o deixava alucinado, mas drogas costumam ser uma caixinha de surpresas. Então, como tudo parecia ser tão real? Quis rir da situação, porém se conteve. Ele poderia estar apenas sonhando, porque era impossível que não houvesse nenhuma alma viva no lugar. Deveria haver pelo menos algum policial escondido, somente esperando para prendê-lo. Em vez disso, Nolan viu a saída.

Quando chegou à rua, ficou rindo igual um louco. Gargalhando como nunca havia feito antes. Como isso tudo era possível? Sair desse jeito, completamente impune? Caminhou para o meio da rua e caiu sobre o meio do asfalto. Não conseguiu nem quis realmente se levantar, então apenas deitou.

Em poucos minutos, um carro apareceria e o atropelaria. Não buzinaria antes ou qualquer coisa do tipo. Simplesmente o atropelaria. Esta é Nova York. Mas não havia ninguém além dele próprio: nenhum empresário apressado andando com uma maleta cheia de dinheiro, nenhum grupo de jovens rindo e nenhum mendigo implorando por dinheiro. Não havia ninguém.

De repente, um som tomou conta de toda a rua aparentemente deserta. Pensou que fosse outro delírio, até identificar completamente o som, como se algo estivesse rachando. Algo grande. Levantou-se e a sua frente, viu um prédio e uma rachadura, primeiramente pequena demais para se fazer um estrago, percorrer por toda sua estrutura. Porém, deixava claro que pela velocidade que o concreto se partia, que o prédio desmonaria em breve. Como qualquer pessoa sensata, Nolan iria correr, mas mais um som chamou sua atenção. Era agudo, repetido e suplicante, como um choro, ou um bebê chorando.

Do lado do prédio, viu uma garota que não deveria ser tão mais nova que ele, carregando um bebê ao colo, terminando de amamentá-lo. Ela pareceu totalmente alheia, como se não escutasse ou visse nada. Só prestava atenção no maldito bebê. Nolan deu alguns passos cambaleantes para a frente.

— Ei! — Gritou estrangulado. Formou uma concha com as mãos ao redor da boca para ampliar o som, mas não pareceu resolver em nada. Ela não o escutou. Merda. Nolan começou a correr. — O prédio! — Ele apressou o passo, mas se forçasse mais, daria de cara no chão. — Ele vai desabar! O prédio vai desabar! — Ela virou o rosto para ele e começou a correr em sua direção com o bebê a tiracolo. Mas era tarde demais. — Mais rápido!

Era improvável que conseguisse, mas não precisou pensar duas vezes. Correu o máximo que pôde e no mesmo momento que chegou perto o suficiente deles, empurrando-os com o máximo de força que pôde, viu o prédio começar a desmoronar de uma vez só. Puxou-os para perto de si enquanto acelerava o ritmo da corrida, mas no último momento tropeçaram. No chão, a poeira e os destroços se aproximavam de modo brutal. Como última alternativa e completamente sem fôlego, fez um escudo humano com o próprio corpo em cima dos dois.

Nolan fechou os olhos mais uma vez naquela noite.

Morrer era uma coisa esquisita. Era realmente diferente de tudo o que Nolan já havia cogitado, porque em todas as vezes em que fantasiou sua morte, nunca pensou em uma sensação tão extraordinária quanto essa. Era como se não existissem, ou simplesmente não tivessem um corpo físico. Mas Nolan ainda sentia e via. Tudo passava por seu corpo, alma, ou o que quer que fosse dele, mas ao mesmo tempo em que o ignoravam, queriam atravessá-lo, enquanto algo que não conseguia ver bloqueava. Não escutava mais nada, além de sons abafados e sem sentido, mas podia jurar ter ouvido os próprios batimentos cardíacos enquanto o mundo à sua volta era destruído. De repente, em meio ao silêncio e a morte, um nome passou por sua cabeça, como uma ideia surreal.

Nolan não era um garoto morto e continuava tendo seu corpo intacto. Era somente um garoto espancado e uma garota com um bebê presos em uma cúpula. Dentro de um... campo de força.

Nolan sentou-se e viu. Enquanto a poeira abaixava, o campo de força se desmanchava gradativamente, até não haver mais nenhum escudo que os protegesse. Ele ouviu a garota soluçar e se virou para olhá-la, tão perdido quanto ela. Ele tinha a pergunta estampada no rosto e a resposta estava na dela. Entre lágrimas, ela balançou a cabeça e segurou o bebê com mais força entre o peito, que enrolava uma mecha do cabelo castanho da garota entre os dedos minúsculos, como se nada tivesse acontecido.

Olhando para o bebê, ele entendeu.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. *u*