White Is The New Black escrita por Vitor Matheus, Chery Melo


Capítulo 4
Eu Pensei Que Você Nunca Viria


Notas iniciais do capítulo

Notas do Vitor: Gente, sumimos por tanto tempo assim? Mil perdões, sério! Mas a situação das nossas vidas ficou bem complicada. Digamos que a Chery escreveria este capítulo, mas ela se ocupou com a mudança de casa e passou essa tarefa para mim... na semana retrasada. Desde então vim trabalhando para entregar um capítulo decente para vocês e, bem, aqui está o resultado.
Lembram que, no final do capítulo passado, vimos Rachel pela primeira vez e cantando para o Finn no hospital? Bem, hoje daremos continuidade a esse acontecimento e outras coisinhas vão surpreender vocês. Não posso falar muito, mas espero que gostem e boa leitura!



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Ficamos nos entreolhando por um longo tempo. Aquele momento parecia durar uma eternidade, sério mesmo.

Eu não sabia o seu nome nem a sua história, mas tinha certeza de que ela seria especial na minha vida. Infelizmente o destino – também conhecido como Dr. George O'Malley – entrou no quarto sem avisar e estragou o clima presente entre mim e aquela garota – a qual eu resolvi chamar de “rouxinol” por enquanto.

— Estou atrapalhando alguma coisa?

— Imagina. — Ah, então a dita cuja sabe falar? Interessante. — Já estava de saída.

— Bom te ver por aqui, Hobbit. — George falou, arrancando uma expressão irritada da garota rouxinol.

— É Rachel para você.

— Eu poderia muito bem discutir com a senhorita agora mesmo sobre isso, mas eu aposto como este paciente aqui não está entendendo coisa alguma dessa nossa conversa. — Virou-se para mim. — Certo?

— Corretíssimo. — Respondi, e ela logo saiu dali. — Quem é ela?

— A única coisa que você precisa saber é que ela me odeia porque eu vivo soltando cantadas por aí. — Argumentou, pigarreando em seguida. — Desculpe. Costumo ser informal com os pacientes.

— Sem problema, eu acho até legal. Aqui as coisas são muito monótonas. — Ri em seguida.

— É, mas logo vão deixar de ser para você...

— Como assim?

— Vim aqui para te avisar que ainda hoje você terá alta deste hospital.

Abri um sorriso quase que instantaneamente. Finalmente poderia dar o fora daquele lugar deprimente.

— Sério? Pensei que tivesse de ficar por aqui mais um tempo...

— Finn, você tem AIDS, não um cálculo renal da vida. Não precisa ficar aqui. Só vir para fazer o tratamento necessário já é o bastante...

— Bom, agora sim eu posso dizer que estou aliviado. — Expirei. — Pensei que ficaria neste hospital até morrer por essa doença.

— Opa, acho que encontramos um equívoco na sua frase. — Disse o médico.

— Como assim?

— Você não morre de AIDS, mas sim em decorrência dela. Você pode ficar muito debilitado caso o vírus HIV se estenda dentro de seu corpo, daí pode contrair outros problemas que aí sim podem te levar à morte certa.

— É, até que faz sentido. — Respondi, e logo uma outra ideia aleatória veio à mente. — Será que daria para descobrir como eu fui contagiado com o vírus HIV? Porque ainda é um mistério para mim, então...

— Oh, essa é realmente uma pergunta difícil. Ainda não investigamos como o vírus entrou no seu organismo, mas já que pergunta... — Fez um tipo de “pausa dramática”. — Suspeitamos que ele tenha entrado por meio de... é...

— Meu órgão lindo e maravilhoso que só entrou em ação umas duas vezes?

Deu pra notar que George estava se controlando para não cair na risada com minha afirmação muito natural.

— Às vezes fico impressionado com a sua sutileza, caro paciente.

— E às vezes eu fico impressionado com a sua espinha bem perto do nariz, mas não falo isso em voz alta.

[…]

Está tudo bem? — Will invadiu meu quarto, exasperado pelo fato de que eu tinha gritado no meio da noite.

Tive um pesadelo algumas horas após finalmente criar coragem para dormir tranquilamente. Já há alguns dias não conseguia fechar os olhos para descansar devido ao choque daquele dia onde meus pais literalmente mataram um ao outro... as lembranças vinham à minha memória como flashes, chegavam e iam embora na mesma velocidade.

Eu não sei! Eu não sei! — Exclamei, enquanto ele se sentava em minha cama e me abraçava.

Calma, Finnie, eu estou aqui. Foi apenas um pesadelo.

Mas parecia tão real... eu os vi morrendo de novo, Will. Eu os vi de novo... — Falei, ainda em meio a lágrimas.

Agora está tudo bem... mas lembre-se de que, por mais que pareça ser bem real, nem tudo é o que parece ser, meu filho. Nem tudo.

Lembrei daquela noite fatídica da infância. A verdade é que ainda não consigo entender o porquê da minha mãe ter se afastado de mim logo no momento em que mais precisei do seu apoio. E ela ainda teve a coragem de puxar meu pai junto nessa... mas por quê? Qual o propósito nisso?

Felizmente (ou infelizmente), estava tão exausto acerca de tudo o que acontecera nos últimos dias que me permiti fechar os olhos por um momento e memorizar a grande frase que mudaria minha vida pelo resto dos meus dias.

"Eu tenho AIDS. Eu tenho AIDS. Eu tenho o vírus HIV circulando dentro de mim. Eu tenho AIDS."

Certo, agora vem a parte em que eu julgo Deus e o mundo por toda a revelação em si.

"Sinceramente, Deus: por quê? Por que comigo? Por que isso está acontecendo comigo? Qual o seu propósito nisso? Preciso de respostas. Agora."

— É... Oi. — A garota rouxinol apareceu ali. — Acho que não nos apresentamos direito.

— O Dr. O'Malley fez por onde, você não tem culpa disso. — Soltei um riso fraco. — Sou Finn.

— Rachel. Prazer em te conhecer.

"Por onde você esteve? Eu poderia te mostrar coisas incríveis..." Completei mentalmente, lembrando daquela canção psicótica da Taylor Swift.

— É... A satisfação é minha. Sabe, nunca vi ninguém tocando violão e cantando de forma tão suave como você. — Vi-a corar de leve. — Ainda mais num ambiente tão depressivo quanto um hospital.

— Bom, só estou aqui para animar os pacientes que... Você sabe...

— Que estão em estado terminal como eu?

— Eu não diria que seu estado é terminal...

— Só porque eu descobri minha fatídica companheira de corpo há algumas horas, não significa que eu preciso ficar com uma cara deprimente. — Argumentei.

— Tudo bem, seu argumento é válido. — Ergueu as mãos, em sinal de rendição. Sorri timidamente.

— Então... E esse violão nas suas costas? Carrega alguma história além de boas notas? — Perguntei, apontando para o instrumento amarrado na garota.

— Ah, você nem imagina... Sinatra é meu companheiro de várias jornadas...

— Sinatra?! — Fiquei confuso e com razão.

— Meu violão, bobo. Dei a ele esse nome em homenagem ao Sinatra original. — Passou os dedos pela madeira do violão.

— Então... Cante para mim. Seja meu rouxinol nesta noite. — Cruzei os braços, esperando que ela fizesse sua performance. — E nem venha com desculpas. Eu te ouvi cantar Nightingale da outra vez e você tem uma bela voz.

Estou com algum problema ou então não estaria distribuindo elogios para uma garota nova. Certo? É, acho que sim.

— Tudo bem, eu posso fazer isso... Mas você vai me ajudar. — Começou a testar as cordas do Sinatra, e essa era a minha deixa para fazer alguma coisa.

— Em que posso ajudar... Rachel?

— Cante comigo. É fácil.

Ela dedilhou algumas notas, arqueando a sobrancelha para mim em seguida. Eu já sabia que música era aquela.

Acho que é verdade... não sou bom em casos de uma noite só. Mas eu ainda preciso de um amor, pois sou apenas um homem.” Cantei primeiro, mesmo tendo uma noção óbvia de que como cantor, sou um ótimo universitário. Não pude deixar de notar um brilho especial nos olhos da garota rouxinol.

Parece que estas noites nunca vão de acordo com os meus planos. Eu não quero que você vá embora... pode pegar a minha mão?” Rachel cantou, impressionando a todos naquele quarto – ou seja, eu (zueira never ends, b*tch) – com sua voz doce e ao mesmo tempo potente. Quase deixei meu queixo cair lá no subsolo, mas OK.

Agora vinha a parte em que seus olhos deixaram bem claro que teríamos de cantar aquele refrão juntos.

Oh, por que você não fica comigo? Pois você é tudo o que eu preciso. Isso não é amor, está bem claro; mas, amor, fique comigo.” Cantamos em sintonia. A garota começou a se aproximar ao mesmo tempo em que tocava seu Sinatra, e eu, sentado na cama, não pude recuar.

Continuamos entoando as outras partes da canção, até que o espaço existente entre nós acabou sendo o mínimo possível. Eu simplesmente não sei o porquê de Rachel ter se aproximado tanto, afinal, eu era um reles universitário moribundo devido ao probleminha do vírus HIV – ah, é. Ele não vai me matar, o que vem depois é que pode fazer isso, que animador – e que por isso não pegaria nenhuma garota pelo resto da vida.

— Você canta bem. — Falou, jogando seu violão em suas costas e sentando-se num espaço livre da cama.

— Não tanto quanto você. — Respondi, ainda sorrindo timidamente.

— Quando eu pisei no seu quarto pela primeira vez... — Ela parecia receosa em falar algo. — Pensei que você estava em coma. Juro.

Ri. Como nunca na minha vida.

— Por isso você levou aquele susto enorme quando eu abri os olhos?

— Exatamente! — Começou a rir também, e logo estávamos em uma crise incessante de risadas. — Sabe... nunca vi um paciente tão animado por aqui como você.

— Obrigado, Joseph Weeks. — Ironizei, lembrando daquele livro com o garoto que tinha câncer.

— Não me diga que você também leu!

— Não só li, como reli e gostei muito... ele é uma verdadeira inspiração.

— Então temos mais uma coisa em comum!

Infelizmente, fomos interrompidos por alguém bateu à porta. “Universo não está cooperando com a minha vida? Claro que não, tem um ser humano querendo falar comigo logo quando estou começando a gostar de uma garota de verdade pela primeira vez”, pensei comigo mesmo.

— Dane-se, eu vou entrar. — Uma voz resmungou, antes que abrisse a porta como se fosse um batalhão da FBI prestes a entrar na casa de um assassino internacional.

E eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Mas não vou falar sobre isso agora.

[...]

— Depois disso poderei ir pra casa? — Perguntei à Tina, que entrou em meu quarto já perto da meia-noite para me avisar que fariam apenas algumas averiguações finais comigo antes de dar alta médica. Nem preciso dizer que saltei de alegria por dentro.

— Pode, sim. Mas... — De repente, ficou receosa. — Não sei como falar iss- — Precisei interrompê-la.

— Meus pais não virão, não é? — Deduzi, tratando de colocar uma expressão de infelicidade no rosto. Uma expressão verdadeira. — Eu já esperava por isso desde ontem, quando minha mãe ficou longe de mim com aquela notícia.

— Sem querer me meter nesses assuntos de família, mas... não vai conversar com a Sra. Holiday sobre isso? Ela é praticamente sua mãe.

— Apesar de ser um doce, também sabe ser carrancuda quando quer. E, vai por mim, você não teria coragem de fazê-la mudar de ideia sobre seus pensamentos... além do mais, ela nem se permitiria falar comigo.

— Mãe à moda antiga? — A escandalosa e ao mesmo tempo calmíssima Dra. Meredith entrou no quarto sem avisar e já tendo noção da pequena conversa que tive com Tina – viva, lembrei do nome! — Já vi vários casos por aqui, Sr. Hudson. Não pense que é o primeiro e nem será o último.

— Oh, hey, doutora! Como vai a vida?

— Se você está achando que vai ficar livre de mim para sempre com o método da bajulação, saiba que não vai dar certo. Nós ainda vamos nos ver nos próximos tempos. — Respondeu na lata, arrancando um risinho da enfermeira ao lado. — Vejamos... creio que o Dr. O'Malley já tenha passado por aqui e trocado umas palavras com você, certo?

— Sim, ele tirou umas dúvidas que eu tinha sobre... bem...

— Sobre o que você tem. — Ela completou.

— Isso mesmo.

Depois de fazer todas aquelas coisas típicas que médicos fazem antes de dar alta num paciente – desculpe, se você queria verossimilhança com o mundo dos hospitais, não vai receber isso porque eu não pesquisei na internet como é isso. Afinal, estou estudando Publicidade e Propaganda, não Medicina ou Enfermagem da vida.

— Ah, e sua prima ainda está te esperando lá fora. — Tina me despertou dos pensamentos internos da minha mente, me ajudando a levantar da cama. — E sim, ela está com a sua roupa.

— Seria uma vergonha tirar esse uniforme aqui na frente de uma enfermeira... não me leve a mal, só que eu não me sinto muito à vontade com isso.

— Tudo bem. — Riu. — Posso deixá-la entrar, então?

— Pode, sim.

Ela foi até lá e chamou minha adorada, linda, maravilhosa, explosiva, irritada, arrogante e latina prima que eu tenho como irmã e chamo de Santana Lopez.

— Ai, finalmente te liberaram, viu? — Resmungou, quando entrou no meu quarto já com uma roupa normal em mãos.

— Eu pensei que você nunca viria me ver.

— Sou sua prima e provavelmente a única da família que não te odeia neste momento, então veste essa roupa e vamos logo para aquele cubículo de faculdade.


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Notas finais do capítulo

Notas do Vitor: Aos que não reconheceram qual a música cantada pelo casal 20 - digo, Finchel - ela é "Stay With Me", do Sam Smith... viciei nela e resolvi colocar aqui. O que acharam dessa cena? Ou melhor, o que acharam do capítulo? Compensou a demora?
Espero que todos vocês possam comentar por aqui, assim saberei quem ainda acompanha a fic depois de quase um mês em hiato :D
P.S. Sem previsão de estreia para o próximo capítulo. Chorem.



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