Por: Yui

Sentei-me diante da mesa branca, fitando o cenário triste e cinza que eu via pela janela, suspirei e peguei a caneta. Fitei o pacote intacto apesar dos anos em cima da mesa e pigarreei antes de começar a pensar num texto bom o suficiente para ser mandado á minha querida filha...

“Querida Amy,

Sinto muito por não ter-lhe enviado cartas ou notícias antes, mas eu simplesmente não podia, estava ocupada demais fazendo... Coisas.

Estou preocupada com você, quantos anos faz que eu não a vejo? Um bom tempo!

Como você está? Como se sente? Está segura?

Perguntas assim me atormentaram por todos estes anos, sei que está magoada comigo por não ter lhe mandado notícias, ter te deixado tão repentinamente... Você deve me achar uma descarada por enviar notícias, uma carta assim do nada!

Mas eu... Sinto a sua falta!

Você é minha filha, um pedaço de mim e do seu pai... Sei que deve estar bem, talvez um pouco amedrontada com eles, mas bem! O que importa é que você está bem, segura, firme, com suas próprias preocupações... Sei que estão cuidando de você, dando-lhe todo o carinho e proteção que necessita!

Bom... Eu estou num lugar estranho, cinza e sem cor... Fico aqui, todos os dias pensando em quando vou poder vê-la novamente! Eu te amo, filhinha...

E mais, hoje é dia das mães!

Sei que deve se lembrar e certamente estar comemorando tal dia com suas sogras, ou sua tia...

Mas, eu me lembro de que até os seus onze anos (quando eu parti) todo dia das mães, você vinha até meu quarto e trazia um cartão e um presente, uma caixa de bombons, um perfume, maquiagem, roupas ou coisa parecida...

Até hoje não tive coragem de abrir seu último presente, eu temo não ser merecedora de algo tão puro e doce seu amor meu bem...

E apesar de ter lhe deixado, foi por uma boa causa... Eu e seu pai erramos em algumas coisas, estes erros iriam voltar-se contra você se permanecesse conosco.

Meu bem precioso, meu tesouro, meu amor, parte do meu coração, minha bonequinha de porcelana, minha jóia preciosa, meu querido anjinho... Esta carta, eu envio a você com uma dor no coração que você não deve imaginar, sei que não vai senti-la, pois será melhor mãe que eu...

Sei que deve estar já com raiva o suficiente de mim para querer rasgar a carta e jogá-la no lixo, mas, por favor, leia até o final!

Este é meu último pedido, e queria que você o realizasse...

Seja boa com o Shuu, Reiji, Ayato, Kanato, Laito e Subaru... Eles merecem.

Seu coração é bom, digno de uma princesa! E eu queria que fosse piedosa com eles e lhes dirigisse um pouco de seu amor, seus corações frios como gelo e duros como pedra, estão despedaçados, você precisa juntar os cacos, precisa ajudá-los a ser como eu os via antes:

Doces, de certa forma, sensíveis... Garotos comuns, de coração enorme e que vale ouro.

Quero que saiba que eu e seu pai sempre te amamos, nunca a deixamos pra valer, você sempre nos preocupou nos arrependemos de não ter avisado a você que partiríamos, mas não de tê-la deixado, foi o melhor para você! Acredite, você estaria morta se estivesse conosco, e antes distante e viva, do que junto e morta!

Sinto as lágrimas molharem-me o rosto no momento, tudo o que eu desejo é ver seu lindo rosto pelo menos mais uma vez, sinto meu coração doer e os soluços escaparem-me pelos lábios, sinto que nada é como antes... Ainda hoje acordei na esperança de vê-la entrar pela porta do quarto, pequenina e delicada, com uma rosa e um cartão, sorridente e radiante, espalhando sua alegria e bondade por onde passa.

Mas quando me lembrei de onde estava fiquei de certa forma contente por não estar aqui, você detestaria o lugar, é simplesmente desagradável! Eu não gostaria que você viesse parar num lugar assim!

Querida... Nós te amamos e sempre iremos te amar, não importa o quanto estejamos longe, ou quanto tempo tenha passado, nós sempre te amaremos! Nunca deixamos de pensar em você!

Não espero que seu coração aceite, não espero que você aceite, mas adoraria, se você algum dia pudesse me perdoar!

Por favor, me perdoe!

Com amor,

Mamãe”

As lágrimas escorriam pelo meu rosto, e minhas mãos tremiam, dobrei a carta e coloquei-a num envelope branco e delicado, peguei um cartãozinho e escrevi: “Estou chegando!”.

Coloquei-os no envelope e saí do quarto, a passos cautelosos caminhei até o jardim, o local ao ar livre era agradável de certa forma. Suspirei enquanto dirigia-me a uma mesa distanciada, Magnus estava lá.

Magnus era um garoto que aparentava ter 19 anos, cabelos prateados e olhos escuros, rosto fino e delicado, seus lábios ergueram-se num sorriso ao, me ver. Ele vestia terno preto e tomava pequenos goles de um pequeno copo, cujo conteúdo era transparente, e apesar de duvidar que aquilo era água, sorri para o garoto e evitei olhar-lhe diretamente nos olhos.

_Yui! Há quanto tempo!_Falou.

_Magnus!_Cumprimentei-o, abraçando-o.

Ele era mais alto que eu, seu rosto num minuto transformou-se numa careta de desagrado devido meus trajes.

_Por que me chamou?_Indagou.

Sorri para o mesmo e estendi meu braço, entregando-lhe a carta. Ele arqueou as sobrancelhas, interessado no conteúdo.

_Não!_Respondi.

_Por quê?_Fez manha.

_Por que, não é pra você!_Respondi.

_Você é muito fofa, adorável e aparenta ter 16 anos, mas tem a mente de uma velha de 70!_Resmungou.

_Sou vampira, e se você não me atender, diga adeus a sua vida!_Falei.

_Tá de brincadeira, né?_Indagou.

_Convivi com vampiros por pelo menos 10 anos, quer mesmo duvidar da minha palavra?_Indago.

_Que casa?

_Village Kiss, o endereço de sempre!_Falei.

_Meu pagamento!_Falou.

_Vai ver sua filha, não é o suficiente?_Indago, cruzando os braços.

Magnus engoliu em seco, e fitou-me, os olhos negros estavam receosos.

_Maldita hora em que eu aceitei beber aquela droga de refrigerante batizado!_Resmungou.

_E aceitou dormir comigo!_Falei.

Bingo!

_Ela é minha filha?_Indaga.

_Tínhamos menos de 25 na época e estávamos profundamente magoados com as pessoas que deviam ser nossas almas gêmeas, você bebeu, eu bebi, conversamos, nos beijamos e etc... Descobri a gravidez um mês depois, fugi da mansão Sakamaki e pedi que Charlie fingisse ser pai dela por onze anos! Ele morreu no caminho para cá, por termos que passar por Old Wonderland!_Falei.

_Ela é minha filha?_Repete a pergunta.

Suspirei enquanto levava-o para uma fonte ali perto, no centro do jardim, aquela fonte era usada somente por pessoas que já viveram ou sabem da existência de Wonderland.

_Veja você mesmo!_Apontei para a fonte.

Magnus fitou a imagem de Amy por alguns minutos, lá na fonte estava refletido seu rosto, delicado e sorridente, os lábios avermelhados num sorriso meigo enquanto puxava Reiji pela gravata para ver algo.

_Ela é minha filha!_Afirmou.

_E em breve, você terá netos!_Falei.

_Ela está grávida?_Desesperou-se.

_Não! Ela está noiva, deve se casar ano que vem... Dependendo de quem ela escolher, pode ter filhos antes de completar 1 ano de casada!_Falei.

_Posso dar um tiro no vampiro que encostar nela?

_Tarde demais, Shuu já conseguiu beijá-la!_Falei.

_Essa é a fonte da juventude?_Indaga Magnus.

_Tenho sangue imortal, porque acha que eu não envelheço?_Indago.

_Cirurgias plásticas!_Respondeu.

_Entregue a bendita carta antes que eu jogue uma daquelas mesas em você!_Falei.

Magnus riu e fitou a imagem de nossa filha na fonte, mais uma vez antes de correr até toca do coelho e pular na mesma, fitei seu rosto uma última vez.

_Me perdoe..._Supliquei, sentindo uma pequena lágrima escorrer-me pelo rosto.

Seu rosto delicado virou-se na minha direção e um sorriso maior formou-se em seus lábios.

_Yui! Hora do remédio!_Falou Melody.

Até logo, meu anjinho!