Hikari escrita por Layla Glêz


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Bem, primeiro informo que é a única Yuri que já escrevi na vida e não é focado na relação em si. Depois, é dedicada a diva da Gisele -q
Me perdoe por ainda ser um fantasminha que só leu o primeiro capítulo da sua fic... Espero que goste.



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Em minha juventude, sempre gostei de observar os homens da pequena ilha Chioro, ao Sul do que os homens chamam hoje de Japão. Era uma dessas ilhotas com pouca população, alguma terra fértil, mares calmos e suaves, porém pouco navegados pelo medo que prendia os homens ao lugar.

Observava-os das assim chamadas Montanhas do Sol, num dos picos cobertos por neblina. E quando mais nova e inconsequente, descia nas peles de uma humana a um dos vilarejos, apenas para ouvir as histórias daquele povo, as tantas histórias que inventavam, de monstros imbatíveis e lições que jamais aprendiam. Poderia ter vivido assim toda a minha longa vida, mas a ganância dos homens e a loucura do proclamado Imperador, levavam pouco a pouco Chioro à ruína.

Das plantações férteis, surgiam as aves carniceiras; dos mares, nenhum pescado vinha; até mesmo as águas do único rio esgotavam-se mais e mais. As doenças se espalhavam pelo vento, junto a odores pútridos de carne e pus e os que antes aravam agora usavam seus instrumentos de trabalho para roubar e matar.

E assim se seguiu até minha última visita àquele povo, quando ouvi sobre a morte da Imperatriz no delicado parto de sua única filha: Hikari. Nome escolhido pela sabedoria da mulher em último suspiro, pois era isto que o povo necessitava - luz em meio à tormenta.

Do nascimento de Hikari até a morte de seu pai, pouco sei, apenas posso afirmar que a princesa não foi criada para ser delicada e gentil, havia um quê quase ferino em seus olhos negros, um desafio velado a todos que a enfrentavam o bailar de sua espada. Porém, era gentil a seu modo e tentava aplacar a loucura de seu pai - a qual apenas piorava dia após dia.

Quando então ele faleceu, imaginei que o povo de Chioro finalmente teria prosperidade de novo, que com o Imperador morto e sua filha por boa Imperatriz as plantações voltariam a ser férteis e os peixes regressariam aos mares.

Triste engano meu.

Procurando impressionar a princesa, os homens do lugarejo duelavam com afinco, matavam-se a todo momento, contudo, ela não demonstrava interesse em nenhum pretendente específico, seu interesse estava no seu povo, no que seria melhor para eles.

Foi quando, curiosa por inusitada humana, que cometi um deslize.

Desde que os ventos começaram a me trazer os boatos da princesa, Hikari desenvolvia em mim uma espécie de fascínio, por sua diferença tão óbvia com relação aos demais. Certa noite, quando os mares traziam espessas neblinas, sobrevoei Chioro até encontrar o singelo palácio que ela habitava. Digo o singelo pois o pomposo havia sido saqueado e queimado anos antes, este ficava próximo à praia e tinha um som de paz e tranquilidade, enquanto os gritos no treino interminável demonstravam disciplina e fúria em iguais medidas. Observei-a, camuflando o corpo com a magia de meus ancestrais, vendo como ela se portava diante de um mestre e como parecia sincera ao dizer:

­— Não sei mais o que faço ao povo de Chioro, mestre Kaito. Já tentamos distribuir comida, riquezas, água e ainda assim parece haver terrível maldição nesta ilha.

Deveria ter duas décadas de idade quando a vi pela primeira vez, seus olhos transpareciam cansaço e tristeza, o cabelo preso, o roupão entreaberto, o suor escorrendo em sua face. Soube de imediato que os rumores de sua beleza não lhe faziam jus, era ainda mais bonita que as flores de outono, porém com uma expressão selvagem que despertava mistério e lhe conferia uma nova camada de beleza.

— Creio que devemos encontrar a fonte deste mal, princesa, e então exterminá-lo.

Havia sabedoria em suas palavras, porém sua boca parecia contorcer-se em um meio sorriso sutil e pérfido, que teria passado despercebido por mim, não fosse o diálogo que veio em seguida:

— E como encontraríamos isto?

— Princesa, se me permite a liberdade, o povo está irritado desde que seu pai passou a cobrar mais impostos sobre a produção, levou-os a pobreza quase extrema, com a morte deles, viram a oportunidade de ascender ao poder. Creio que deveria casar-se logo, tornar alguém de tua inteira confiança Imperador...

— E quem poderia ser esta pessoa?

Ele fez então uma reverência, fazendo com que um fio de seu cabelo negro caísse a frente do rosto:

— Há uma série de pretendentes, eu me sentiria honrado.

Ela riu, uma risada digna de ser ouvida por toda a ilha, então com um tom doce falou:

— Mestre, não me entenda mal, mas o senhor já é um tanto velho... acharemos solução melhor que um casamento.

A risada baixa dela despertou um coro na minha que saiu rouca, baixa, porém aos ouvidos humanos deveria parecer algo entre um rosnado e um espirro e a confusão veio em seguida:

— Matem-no! O que estão esperando? — bradou Kaito, pegando uma das lanças e jogando em minha direção. Ri, afinal que humano tonto por pensar que uma coisinha daquelas seria capaz de me atingir tão fácil!

Desviei da lança e preferi sair do lugar, voltando ao meu isolamento no pico das minhas montanhas, de onde observaria a distância os males que se abatiam em Chioro. Confesso que havia pena em meu coração, assim como medo e frustração, como os homens podiam ainda brigar em situação tão torpe? Como eram capazes de se matar ao invés de buscar auxílio uns nos outros?

Meses se passaram sem que eu ouvisse mais que as conversas do vento, ocasionalmente via os focos de incêndio e imaginava o que estava acontecendo pela ilha. Assim foi, até que, num dia que pareceria comum, a princesa me apareceu, sozinha, vestida com uma armadura ancestral, repleta de cortes e inflamações. O cabelo, sedoso na primeira vez que a tinha visto, bagunçado e colado a pele. Trazia consigo uma espada, mas quando ergueu o braço não possuía força para empunhá-la.

Ela deu duas passadas em minha direção, então seus joelhos fraquejaram e a princesa caiu, e teria rolado montanha abaixo, pelas íngremes pedras que ainda me questionava em como ela tinha vencido, não fosse eu tê-la salvo. E o fiz talvez por sua audácia, talvez pela empatia que sempre senti pela garota e, durante os próximos dias, cuidei dela com afinco, vendo-a oscilar entre temperaturas e devaneios, balbuciando palavras e ardendo em uma febre que não cessava.

Para não assustá-la, ou fazer com que corresse novamente para a espada, decidi passar os próximos dias como humana, tomando características que sempre me faziam semelhante ao povo nativo.

Creio que deveríamos estar no quinto dia desde sua chegada, quando finalmente ela acordou, assustada, encolhendo-se contra as paredes da caverna, onde eu a mantinha, com os olhos arregalados. Armou-se com uma pedra, creio que a coisa mais próxima de sua mão, me fazendo rir com o gesto dela.

— Calma, princesa, não vou machucá-la e não deveria se esforçar tanto.

— Q-Quem é você?

— Meu nome é Umetsuya, você me conhece pela minha outra forma...

— Você é o monstro que eu devo matar... — interrompeu-me, enquanto levantava abruptamente e caia no chão em seguida, completamente sem forças para continuar erguida.

Fiquei perplexa com aquilo, refletia sobre o motivo dela me querer morta, qual a glória em ter minha morte somada a de tantas outras? A confusão me abateu naquele momento, me fazendo refletir acerca do ocorrido. Deveria ter matado a humana naquele instante, porém algo me dizia que matá-la era apenas o início de um problema maior, não traria benesses. Deixei-a viver por aquela noite, ficando atenta a sua movimentação durante todo o período que se seguiu.

Hikari dormia, com uma expressão suave e tranquila, parecendo ignorar os cortes em sua pele. Havia muitos, era fato, cada um me levando a perguntar o que trazia a garota aos picos, por quais percalços ela tinha passado para chegar. Admito que fiquei fascinada por suas nuances, a respiração suave que exalava, o revirar em suas pálpebras fechadas. Ajeitei-a no chão, querendo que ao menos parece um tanto confortável em seu leito de pedra e, em nenhum segundo, deixei de admirar a suavidade de seus traços.

Quando acordou, abriu os olhos lentamente, acostumando-se à luminosidade do lugar. Sentou-se na pedra e apenas me fitou, em absoluto silêncio.

Ficamos ali, olhando uma para outra, até que seu estômago protestasse.

— Posso preparar algo...

— Não... — tentou protestar, mas novamente seu corpo a traiu.

— Voltarei em breve — anunciei.

E assim sai para uma breve caçada a frutos e ervas, as quais preparei depois. Foi uma refeição silenciosa, entre os goles que ela dava numa espécie de chá e as mordidas isoladas. Continuávamos sem trocar nenhuma palavra, até que, após parecer satisfeita, perguntou:

— Por que não me matou?

Fitei-a sem resposta. O que falaria com relação àquilo? Terminei por dizer o óbvio, vendo a confusão se formar em seu cenho.

— Matar-te não resolveria nossos problemas.

Ela exalou um suspiro, dizendo após alguns segundos:

— Não entendo, vim aqui com o propósito de te matar, a fim de devolver a esperança ao meu povo, anunciei isto, estive debilitada e, aqui estou, sã e salva.

— Não há o que entender. Apenas aceite a dádiva da vida e regresse ao teu reino, conte a eles da façanha, se quiser, ou não conte nada. Apenas seja mais sábia que o seu predecessor.

— Não posso — confessou baixinho, talvez para si mesma, fazendo-me com que a olhasse novamente, curiosa com seu lamento — Desde que você foi vista, espalhou-se que nossa ilha estava em desgraça graças a sua presença e aquele que conseguisse então matá-la teria direito a governar.

— E é por isto que estás aqui? — perguntei e ela me confirmou com um aceno.

— Porém, não posso matá-la. Não mais.

Esperei pela explicação em silêncio, o suficiente para que ela entendesse que eu não perguntaria nada.

— Estou viva graças a ti, devo-te minha vida, como posso então tirar a tua?

— Mate-me, então, se acha que seus problemas se resolvem com isto.

— Seria uma desonra. Para o bem ou para o mal, devo-te minha vida agora.

E aquele foi o fim precoce de nossa conversa, enquanto ela virava-se para a parede, deitando-se no chão, e fingia dormir.

Eu terminei por sair daquela caverna, querendo espairecer os pensamentos sob a luz das infinitas estrelas. Talvez assim uma delas me piscasse a solução que não enxergava, trazendo as respostas a nossas perguntas. Porém o silêncio e a quietude foram meus companheiros naquele devaneio, trazendo pela contemplação uma medida temporária.

Adormeci com pensamentos inúmeros, dos quais há pouca relevância. Porém decidi, ao fim, que tentaria entender um pouco mais daquele povo, talvez por intermédio da humana que chegara a mim, afinal, por mais que em minha mente tivesse o esboço de infinitas soluções, elas poderiam ser apenas vazias sem o conhecimento prévio. Noutras palavras, nem sempre a solução mais certa é a mais imediata.

Na manhã seguinte, o brilho do primeiro despontar me acordou de forma preguiçosa, na certeza única de que estando viva naquele instante, era o início de algo. Como anteriormente, busquei comida entre as florestas inexploradas, e preparei algo com o pouco que podia oferecer. Entenda-me, nós, dragões, não estamos acostumados a visitas.

Vi-a acordar com um bocejo preguiçoso, o mesmo olhar desconfiado e enigmático serpenteando em seu rosto, comeu em silêncio, olhando-me o tempo todo. Desde sua chegada, evitei me mostrar tal como era, afinal, se o mero relance de meu corpo tinha causado tamanho alvoroço, ficava a pensar o que uma análise detalhada poderia causar.

— Sempre fica assim? Digo... como humana? — perguntou-me, intrigada.

Eu ri, baixinho, olhando para sua face quase infantil.

— Não.

­— E como és de verdade?

Arqueei uma sobrancelha, até que por fim disse:

— De verdade queres ver-me?

Acenou afirmativamente com a cabeça, fazendo-me exalar um suspiro e caminhar para fora da caverna, com seus passos em meu encalço.

Senti-me transformar, o corpo alongando, as mãos dando lugar às patas, a pele recobrindo-se por escamas. Não sei explicar como então o rosto oval e pálido foi substituído por minha real face, porém, ao dar o primeiro passo e me alongar tranquilamente, ouvi uma exclamação baixa de Hikari, levando-me a fitá-la.

— És tão bela... — falou.

E eu sorri, sem saber o motivo de fazê-lo.

— Posso? — perguntou, a mão estendida rumo a minha pele.

— Sim — respondi e a vi se assustar com o novo timbre de minha voz.

Aproximou-se com algum receio, apesar de minha imobilidade, quando então sua pele suave tocou minhas escamas, houve um arrepio, não sei se compartilhado pela princesa, até os limites de meu corpo. Ela percorreu o meu redor, analisando cada parte de mim com o que me parecia admiração - não sei dizer ao certo - até que afastou-se e falou:

— Não posso matá-la.

O tom triste de sua voz foi profundo, certeiro. Encolhi-me no chão e olhei-a, tão pequena em relação ao meu tamanho, sem nada a dizer, até que ela pôs-se a romper o mesmo silêncio:

— Não sei qual o motivo de quererem matar algo tão belo, sem que jamais tenha feito nada a nós. A menos que sejas tu o motivo de nossa desgraça...

Ri baixinho, fazendo com que se assustasse e disse:

— Não sou.

— Sabe o que nos causou tudo isto?

— Não.

Exalou um suspiro longo, falando após alguns segundos:

— Não posso voltar. Não sem uma solução, não é certo, não é justo. Prometi matar o mal que nos assolava e não devo regressar sem tê-lo feito.

— Fique então, até sentir que possa solucionar seu problema. Haverá silêncio para refletir e alguma comida, é tudo que posso oferecer.

— Já é mais do que mereço — falou, sorrindo-me triste.

O silêncio nos congratulou numa rotina saudável nos próximos dias, aos poucos, Hikari passou a me ajudar com a escolha das frutas, também falávamos sobre seus costumes e as tantas curiosidades que eu tinha sobre seu povo. Substituiu a armadura por uma veste leve, de seda, e sua presença me deixava a vontade. Ela parecia, entretanto, tristonha e resoluta, por mais que me esforçasse para mudar o rumo de seus pensamentos, havia sempre uma penumbra a espreitar, uma eterna desconfiança, não de mim, mas do próximo passo. Quando então ela descobriu minha idade, perguntou-me:

— Como era antes de tudo? Digo, antes desse mal que assola Chioro.

Contei-lhe das árvores, dos ventos, das hortas férteis e dos mares repletos de peixes. Falei-lhe das flores, dos invernos que aproximavam os homens, das guerras resolvidas pelo prosear, ela me observou em silêncio e curiosidade, até que sua próxima pergunta vir, em completa inocência:

— E quando tudo começou a dar tão errado? Preciso saber de onde veio o mal dessa ilha, para assim aniquilá-lo.

— Dizem que todos os grandes homens, estão suscetíveis a grandes loucuras. Foi assim que um príncipe, dotado de excelentes ideias para seu povo, porém inelegível para o reino se viu diante de uma grande escolha. Havia seu irmão, impetuoso, bárbaro, sem nenhum pensamento louvável além de sua ganância e egoísmo. Ele não era de todo mal, contudo, não seria bom para o povo aos olhos do mais novo. Certo dia, buscando conselhos para seu irmão inconsequente, o príncipe se viu diante de uma terrível escolha, havia a profecia que falava dos dias ruins que viriam, quando um louco assumisse o poder. Interpretando-a, o príncipe fez sua escolha e, na calada da noite, assassinou o próprio irmão e prometeu-se governar com sabedoria para que jamais houvesse desgraça em seu reino.

— Meu pai tinha um irmão mais velho que morreu, segundo ele, enquanto dormia... — interrompeu-me.

Sorri-lhe docemente e continuei a narrar:

— Ele teria conseguido cumprir sua promessa, não fosse o segredo terrível que guardava, segredo o qual o envenenava dia após dia, enlouquecendo-o. Aos poucos, pôs mais guardas em seu castelo, passou a estocar mais suprimentos na promessa de uma catástrofe que não chegava. Ele afastou-se de todos, até mesmo do povo pelo qual tinha um imenso amor. Não enxergando que, dia após dia, tornava-se o espectro de seus medos. Quando então sua loucura chegou ao ápice, sua esposa faleceu, deixando no mundo apenas uma criança que não poderia governar sozinha, era uma garota.

"Ele tentou, por anos, moldá-la como um verdadeiro líder, sabendo que jamais ela seria completamente independente. Cego por suas ambições, não viu o quanto seu povo fraquejava, sua terra sucumbia a profecia que ele tanto temera antes. Ele morreu pouco depois, sem ver o que suas decisões tinham causado..."

— Por que me contas isto? É a história de meu pai, não é? Da minha linhagem...

Não concordei, nem discordei, apenas disse:

— Conto para que note que, nem sempre, o problema está onde queiramos que ele esteja.

Olhou-me em completa confusão, até que eu acrescentei:

— Quando vieste a minha montanha, pensava que eu era a origem dos teus problemas, porém, ao conhecer-me melhor viste que eu não poderia sê-lo. É assim que é nossa vida...

Nossa conversa encerrou-se naquele instante, afinal, era noite, estávamos ambas cansadas. Dormimos sob o luar, ela encostando-se em meu corpo durante a madrugada.

Lembro-me de aquela ter sido nossa última conversa.

O dia seguinte amanheceu preguiçoso, ou assim me pareceu, Hikari ainda dormia quando sai para recolher frutos como sempre o fazia, porém, quando regressei, não houve palavras para o que ela havia feito.

Meus pés tocaram o chão no exato instante em que a vi transpassar o próprio corpo com uma espada, a mesma que trouxera para me matar. Tão logo vi aquilo, transformei-me em humana e corri a seu encontro, apoiando-a quando despencou cuspindo sangue. Senti as lágrimas em meu rosto, o nó em minha garganta.

— Hikari... por quê? — foi tudo o que fui capaz de falar.

Ela me sorriu, parecendo a visão mais linda que eu já vira, apesar de todo o sangue em seu abdômen.

— Eu sou o mal, nós somos. Digo, meu pai, meu tio, a família, a linhagem — tossiu, diminuindo o tom para falar — se é para salvar meu povo, sacrifico-me com orgulho.

Eu era incapaz de dizer algo, até ela continuar:

— Governe por mim, Umetsuya. Conte qualquer história absurda, tome minha forma se precisar, sei que pode fazer isto — pediu, em meio às minhas lágrimas — ensine-os a ter sabedoria como ensinou a mim...

Suas palavras foram interrompidas por outras tantas tosses.

— Hikari... — não pude dizer nada além de seu nome, pois no instante seguinte ela cobriu meus lábios com um indicador, para então depositar os seus sobre, em um mísero segundo que foi uma eternidade.

— Perdoe-me.

Então sorriu uma última vez, admirando o céu, e seu sorriso ficou estampado numa paz divina. Seu corpo então se tornou a luz que seu nome já trazia, misturando-se aos primeiros raios da manhã e parecendo varrer a sombra de Chioro.

Permaneci inerte, enquanto suas palavras faziam efeito em minha mente, nenhuma revolta por seu ato, apenas o desejo de fazê-lo valer a pena. Voltei a caverna para vestir as roupas que ela tinha, tomando sua forma, limpei a espada com seu sangue, e de uma pedra fiz a cabeça de uma fera.

Era a primeira vez que desceria a encosta para Chioro, porém, ali, já não seria como eu era, desta vez eu era Hikari, a luz, o sacrifício, aquela que tinha derrotado o dragão e, assim, levando paz para os homens do reino.

Por mais que, em verdade, aquilo tivesse custado a minha paz.


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Notas finais do capítulo

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