The Wild Youth escrita por moonshiner


Capítulo 7
Carmen & Scumbag Boy


Notas iniciais do capítulo

Hoje o cap é bem triste, ENTÃO VOCÊS TÊM DUAS MUSICAS
Gostaria de avisar que os pov's do Nate se passam na manhã seguinte da festa da casa da Sam, ou seja, no dia em que o Leo a a charlie saíram juntos.
Músicas de hoje?
Mary - Nightmare Boy
Carmen - Lana Del Rey

QUERO CHORO E QUERO REVIEWS



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Bianca

Estávamos sentados no jardim da casa de Sam, encarando o céu. Em outras partes do mundo eu não sabia, mas em Westfield ele parecia o fundo dilatado das minhas pupilas. Escuro e bastante aterrador.

Leo já tinha ido pra casa com a tal da Charlotte e ainda não sabíamos nada de Nate desde a noite da festa. Maggie foi vista com ele, mas quando perguntávamos se ela sabia de alguma coisa, ela simplesmente não respondia ou murmurava um “pergunte pra ele”.

Nós não pretendíamos sair do jardim ou ultrapassar muito mais do que a cerca da casa. Era quase como um ritual de passagem. A gente se trancava uns nas casas dos outros e só saía quando a ressaca passava.

Sam deitou no meu colo e deixou que o cabelo cobrisse o meu rosto. Mico a encarou discretamente por alguns segundos e depois levou seu sorriso para o meio da rua. É possível que você perceba o amor de alguém antes do que ela mesma?

– O Nate te ligou? – Perguntou.

Neguei com a cabeça.

– Isso é preocupante. – Comentei - Geralmente ele volta pra casa antes da menina acordar.

– Talvez ele só tenha gostado de alguém dessa vez. – Sam sempre soltava essas probabilidades impossíveis e otimistas além da conta.

Nico gargalhou perante a afirmação. Eu ri com ele. Sam acabou por se juntar a nós dois.

– Você realmente...? – E aí ele voltou a rir antes que pudesse terminar a sentença.

– Não é tão improvável quanto sei lá, eu me apaixonar por você. – Retrucou.

Ele concordou silenciosamente, olhando para os próprios tênis.

Ele era o tipo de pessoa que achava que ninguém podia saber. Nem ele mesmo.

Mas nós somos irmãos gêmeos. Temos uma ligação. Temos até nosso próprio idioma. Então enquanto ele mentia para si mesmo, eu contava a verdade. Eu queria estar lá no dia em que ele a pedisse em casamento.

Ouvimos a porta bater na frente da casa e a Srta. Magnólia veio marchando com uma expressão fechada. Seus cabelos dourados e perfeitamente alinhados agora esvoaçavam. O telefone estava sendo quase esmagado na sua mão.

– Vocês têm alguma noção de por que o irmão de vocês está em Whitmore? – Esbravejou.

Eu e Nico nos entreolhamos. Nate costumava fazer coisas imprevisíveis e acordar em lugares estranhos, como qualquer um de nós.

– E levaram o carro dele. – Explicou.

Geralmente, as coisas na nossa família funcionavam muito tradicionalmente. Nate, o irmão mais novo, fazia a merda, e nós, os irmãos mais velhos, concertávamos.

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Nate

Maybe i'm a scumbag boy

I'm sure that i'm a scumbag boy

Scumbag boy

Caminhei pelo fim da estrada até que não pudesse ver mais nada atrás de mim. Nuvens aveludadas e espalhafatosas se enrolavam na superfície do céu de uma maneira precoce. Eu estava a pé no meio fio, sem carro, sem dinheiro e sem a garota.

Piper Mclean era uma vagabunda. Uma vagabunda com doutorado.

Talvez seu ego fosse tão incrivelmente inchado que ela precisasse cutucar todas as vezes só para ter certeza de que ele não havia explodido. Parecia achar que se as pessoas sentissem a sua falta, demorariam mais para esquecê-la. Principalmente se estivessem com raiva.

Enfiei o telefone no bolso novamente e chutei uma pedra. Cravei os dentes no lábio inferior e fiquei com vontade de gritar. Ela levou o meu carro, o mínimo que poderia fazer era atender uma ligação. Piper tinha poderes de persuasão ou qualquer coisa, porque se ela não tivesse insistido, eu estaria desfrutando da minha merecida ressaca em casa.

Flashback on

Nós deixamos a bebedeira da festa para trás e saímos pelos fundos da casa com a nossa própria.

– Eu queria falar com você. – Sussurrou, tropeçando nos próprios pés descalços e se apoiando nos meus ombros.

Se Jason nos encontrasse ali, seríamos mal interpretados.

– Olha, a gente nem namora, mas eu queria sair daqui e acho que você faria esse favor por mim.

Estendeu um saquinho com ervas suspeitas e depois enfiou-o dentro do sutiã de novo. – Pelos velhos tempos.

Ela não estava completamente sã, mas também não chegava perto de um desmaio. Eu também não.

– O Jason brigou comigo de novo, acredita? – Tornou a tagarelar. A bebida sempre fazia com que ela falasse demais. – O seu melhor amigo vomitou nos meus sapatos caros. Parece que é difícil chamar uma menina para sair sem desmaiar. Um perdedor nato.

Me incomodava quando ela falava do Leo daquele jeito. Já era suficientemente difícil esconder nosso caso dele, ficava ainda pior quando ela o ofendia.

Pigarreei e pousei minha mão sobre a dela.

– Você quer sair daqui, então?

Flashback of

Eu não me lembro de mais nada a partir dali.

Eu não era apaixonado por ela nem nada, mas quase sempre que ela pedia, eu fazia. Era pelo prazer de ter algo só meu pelo menos por uma noite. Aí ela abusava e eu fazia meu melhor amigo de otário para dar umas escapadas com a Piper Mclean.

Meu celular tocou e eu o tirei do bolso novamente. Era Bianca. Eu o atendi e coloquei na orelha.

– Whitmore, uh? Boa escolha.

– Não me lembro como cheguei aqui também, se serve de consolo.

– Então quer dizer que o carro que você trabalhou por três anos para conseguir pagar foi roubado.

– Não realmente. Eu sei quem roubou e eu sei onde essa pessoa mora.

– Nate, explica.

– Você sabe que eu não fui assaltado, não é?

– Isso tem a ver com a Piper.

– Eu diria que sim. E com muita maconha.

– Estou decepcionada com você. Pensei que tivesse parado.

– Para falar a verdade, eu não sei.

– Só não se apaixone por ela.

– Mas que ótimo conselho.

– É sério.

– Tá, tudo bem. Eu vou esperar por vocês em algum lugar perto daquele hotel de merda.

– Sabemos qual é.

– Te vemos depois. Aí você explica a situação. Amo você.

– Tchau.

Eu desliguei.

“Sinto muito :c” Piper Mclean deixou uma mensagem no meu celular.

Apertei o celular na minha mão e praguejei alto.

O brutamontes tatuado que polia a própria moto no estacionamento da lojinha de conveniências me olhou de cara feia.

Retribuí seu olhar desgostoso e apertei a jaqueta molhada no meu corpo. Uma chuva intensa tinha caído há poucos minutos, então eu estava deplorável.

E cheirando a ressaca. E a cachorro molhado.

Ouvi o tilintar do sininho e a porta se abriu. Entrei no estabelecimento, deixando rastros de sujeira e água por onde eu passava. O único balconista e alma viva presente levantou seu olhar despreocupado para mim. Franziu o nariz e me olhou de cima a baixo.

Depois, voltou os olhos para sua revista.

Eu me encostei na parede. Lembrei do Leo.

Trair o seu melhor amigo é tipo trair sua namorada desde a sétima série. Só que pior.

Leo sempre foi o único de nós a ser o menos problemático. Ele não tinha sequer motivos.

Tinha uma casa grande. Uma mãe carinhosa, um pai dedicado e parentes sóbrios quando ele acordava de manhã e procurava pelo café. Ele não tinha que conhecer o novo namorado da mãe a cada duas semanas.

Leo tirava boas notas, nunca cabulava as aulas, fazia amigos facilmente e participava de todos os clubes nerds que se era possível participar no colegial. Provavelmente entraria em Harvard ou Stanford e seria um grande arquiteto um dia. Podia até não ter tanta sorte com as meninas, mas tinha um caráter muito melhor do que eu jamais teria. Ele me deixava viver na casa dele só para não ter que ouvir a Maria di Angelo me chamando de bastardo o tempo todo e a mãe dele me tratava como um filho.

Em troca, eu dormia com a menina por quem ele era apaixonado e não contava sobre isso.

Ás vezes eu tentava não parar pra pensar sobre o quanto eu era um merda porque o tamanho do meu papel de otário me perturbava um pouco. Era bem grande, na realidade.

– O senhor não pode ficar aqui sem comprar nada. – reclamou o balconista. Se não o fizer, peço que se retire. Está assustando os clientes.

Eu olhei em volta.

– Que clientes?

O funcionário relinchou como um cavalo.

– Conheço meninos como você. Arruaceiros. – Ele estendeu a vassoura para mim. – Vá e não leve nada consigo.

Me levantei com as mãos no bolso. Antes de sair da loja, peguei um maço de cigarros e saí correndo.

No fim das contas, eles acabaram por me encontrar num bar qualquer de beira de estrada. Era o único que parecia não ter um letreiro completamente apagado.

Sozinho, molhado, sujo e recebendo olhares não muito receptivos dos motoqueiros da região. Isso tudo, claro, bisbilhotando o decote de suas damas inalcançáveis.

Um deles, uma mesa á frente, tinha uma namorada gostosa de cabelos curtos e azuis. Ela não parava de me encarar fixamente, brincando com uma cereja na boca toda vez que o namorado dela desviava a atenção. Ele tinha até uma pistola na bainha da calça.

Nunca subestime minha capacidade de ser babaca e brincar com o perigo.

Seja lá o quão gostosa aquela mulher era, desviei o meu olhar, porque seu namorado parecia ter duas cabeças minhas nos bíceps e não era tão amigável assim. Pelo menos, aparentava.

Bianca foi a primeira a entrar. Vestiu seu melhor sorriso de “agora eu estou bem, mas mais tarde eu te estrangulo durante o sono” e caminhou por entre a perversão imunda e meio alcoolizada daqueles motoqueiros pedófilos.

Maggie veio logo atrás, praticamente escondendo uma Sam relutante debaixo do braço. E por último, veio o Nico, fumando um cigarro e tentando parecer o mais descolado possível perto de tanta gente armada.

Fiquei aliviado por Leo não estar com eles.

Bianca se sentou ao meu lado, me encarando sob os cílios espessos.

– Então... – Minha irmã começou, arqueando as sobrancelhas. – A gente dirigiu por uma hora e meia só para vir te achar no cu de Judas. Pode desembuchar.

Senti um gosto amargo me subir pela garganta. Olhei rapidamente para moça tatuada na outra mesa, tentando não olhar nos olhos caricatos e profundos de Bianca. Ninguém tinha a capacidade de julgar silenciosamente como ela.

A mulher soprou a fumaça do cigarro na minha direção e eu voltei á tona.

– É tipo arrancar um band aid, né? – Suspirei.

Nico assentiu com a cabeça.

– Eu e a Piper Mclean estamos transando. Ou estávamos. O fato é que ela é meio paranoica e nunca me conta nada o que acontece na vida dela, daí ontem de noite ela pegou meu carro e foi embora. Mas tudo bem, porque ela deve ter deixado estacionado na porta de casa. – Sorri. – Eu sei o que vão dizer. Que o Leo é apaixonado por ela, que eu sou um péssimo amigo, que ela tem namorado, que nenhum de vocês gostam dela, mas tudo bem, eu supero. Todos nós superamos.

Alguns queixos caíram simbolicamente e eu cruzei os braços em cima da barriga.

– Sabe, eu estou faminto.

Nico riu, balançando a cabeça. Há uns dois anos atrás, ele me daria uma surra psicológica, dizendo coisas como “você nunca valoriza suas amizades e acaba se afundando na sua própria merda”, e blá blá blá.

– Você é um otário. – Falou.

– É lógico que eu sou, sou seu irmão, afinal de contas. – Retruquei.

Ele fechou a cara e se sentou. Sorri sarcasticamente e fiquei observando a expressão emburrada da Sam.

– Sam, nossa querida embaixadora da Unicef e defensora dos fracos e oprimidos, existe algo que queira dizer?

Puxou uma cadeira e se sentou de frente para mim.

– Você quebrou o Código dos Bros de um jeito asqueroso. – Respondeu. – Você pôs a mina na frente do Bro, e eu posso até ser uma mina, mas nem eu tenho o direito de quebrar o código desse jeito.

Maggie pigarreou. Estava tão silenciosa até aquele momento que nem havia notado a sua presença.

– Tenho que concordar com a menina Sam.

Revirei os olhos.

– São erros. Erros que todos nós cometemos. – Tentei me defender.

– Que só você é capaz de cometer porque só você tem um nível de babaquice tão elevado. – Nico corrigiu.

– Disse o cara que saiu espalhando uns boatos sexuais pela escola só porque a menina que ele gostava não dava a mínima pra ele! – Retorqui.

Ele soltou uma gargalhada meio tremida e nervosa, enquanto corava gradativamente.

– A GENTE JÁ FALOU SOBRE ISSO, QUERIDO.

Bianca batucou com as unhas grandes na mesa e nos encarou com ceticismo.

– As bichas já vão surtar de novo? – Cruzou os braços, imitando minha posição. – Impressionante.

Bianca tinha uma imponência despretensiosa para cima de todos os membros da família. Talvez fosse sua voz rouca, os julgamentos silenciosos ou o bom senso de estar sempre certa, mas ela acabava sempre calando a boca de todo mundo. Infelizmente, sua personalidade forte e constante não era o suficiente para me pôr na linha.

– Já podemos ir embora daqui? – Maggie perguntou, fazendo careta. – Essas pessoas cheiram a morte e estupro.

Um dos caras da mesa mais perto, o da namorada gostosa, levantou o olhar para a loira.

– Sem ofensas. – Ela se apressou em dizer.

– Tudo bem, nós damos uma coça no Nate dentro do carro. – Nico se levantou e me lançou um olhar significativo. – Assim ele passa menos vergonha. Ou não.

– Vergonha? – Ajeitei meus óculos de grau quase totalmente embaçado e sorri. – Desconheço.

– Pois é, acho que todos nós já percebemos isso. – Bianca respondeu.

Do lado de fora, eles me ignoraram. Eu sabia que era mais por causa do Leo do que por minha causa mesmo.

Eles não se importavam se eu machucasse alguém de fora, o problema era ser um dos Três Mosqueteiros. Nico levava essa coisa de amizade antes do sangue bastante a sério.

– Então, por que você ligou pra mim antes de ligar pros seus irmãos? - Maggie perguntou. Estava sentada do meu lado no carro, alterando a estação de rádio de Usher para Young The Giant.

Batuquei o volante.

– Bem, é porque você não falou nada quando me viu com a Piper noite passada. Você simplesmente saiu andando e eu pensei que se eu te ligasse para avisar antes de ligar pra Bianca, isso pouparia muitos gritos e eu estava de ressaca. – Respondi.

Ela assentiu, sorrindo fraco. Maggie tinha lábios bem bonitos. Cheios e avermelhados, parecidos com flores. Era meio impossível não prestar atenção.

– E o que aconteceu com aquela coisa de os Strokes serem superestimados?

– Acontece que eu sou uma farsa. E os Strokes vulgo Piper, também.

Ela passou as unhas pelo vapor da janela.

– E você gostava dela. – Adivinhou.

De verdade, aquilo nunca me passou pela cabeça.

– Eu não sei nem o que é gostar de uma pessoa, Mags. Se eu sentisse, não sei se saberia distinguir.

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Ela deixou o carro na garagem. Tinha um papel na janela, grudado com uma fita adesiva.

“Desculpa mesmo” e uma carinha triste.

Garotas comprometidas gostam de mim desde a sétima série.

Elas se prendiam aos seus amores completamente seguros de alguma forma e depois elas me chamavam com o canto do sorriso. Elas gostavam de mim porque eu durava um verão e depois ia embora. Ou perdia a validade.

Porque o Nate sempre valia menos do que as outras pessoas. Tanto na hora de ser o bastardo da família, quanto na hora de se apaixonar por alguém.

Estávamos brincando de teatrinho. E eu era a marionete.

Eu, Nico e Bianca nos jogamos no sofá da sala. Na poltrona, onde nosso pai supostamente deveria estar, tinha um cara alto e magricela tomando cerveja e assistindo ao jogo.

Sabe, seria uma cena estranha para qualquer família tradicional, se não fosse o fato de aquilo acontecia de duas em duas semanas. Nada muito escandaloso.

– Vejo que já chegaram. – Maria falou, descendo as escadas. Surpreendentemente sóbria. – Esse é o Hermes.

O cara na poltrona acenou e depois voltou sua atenção para a cerveja e o jogo.

– Excepcionalmente simpático. – Nico comentou.

Eu prendi o riso. Bianca cutucou nossas costelas.

A mãe deles endureceu a expressão – especialmente para mim – e depois sorriu para o cara que nem a olhava do mesmo jeito para poder retribuir.

– Vá tomar um banho, Nathaniel. – Reclamou, franzindo o nariz. – Está parecendo um rato morto. E cheirando também.

Revirei os olhos mentalmente e me levantei com o cansaço que até então eu não havia percebido.

Vi Maria se esquivar. Era o que ela fazia quando eu me aproximava. Agir como se eu realmente fosse um rato doente e violento. Até porque, eu tinha culpa do marido dela ser um maldito traíra.

Subi as escadas e bati a porta do quarto, buscando ficar sozinho e aproveitar minha própria culpa.

– E aí, Mate.

– E aí.

– O Nico me disse que você estava em Whitmore. Algum motivo em espcial?

– Eu, sinceramente, não me lembro.

Leo riu.

– Isso é bem sua cara mesmo. Espero que não tenha dormido com nenhum travesti.

– Ah, de novo não. Juro. Palavra de escoteiro.

– Tudo bem, então. Te vejo amanhã.

– Aí você me conta o que aconteceu. E a gente assiste Star Wars, que nem aquelas coisas que as meninas fazem, só que com seriado de vampiro.

– Festas do pijama?

– Só que sem piajama sexy ou beijo lésbico.

– Acho que isso só acontece nos pornôs.

– Tenho que desligar.

– Tchau, Leona.

– Tchau, Natalia.

Desliguei o telefone, me enfiei debaixo dos cobertores e fiquei me perguntando se eu deveria realmente conta-lo ou virar a página. Se aquilo não importava nem pra mim e nem pra Piper, qual dos dois faria questão de esquecer primeiro?

Fechei os olhos e ouvi alguém bater na janela.

Abri os olhos lentamente e o nariz espremido de Maggie apareceu batendo contra a janela.

Fiquei surpreso, mas tive vontade de sorrir. Levantei e abri a janela.

– Oi. – Falei.

– Oi. – Ela respondeu, pondo os pés para dentro do quarto.

– Algum motivo em especial para isso? – Franzi o cenho, me voltando para ela.

– Sim. Eu estava entediada e resolvi passar para ver como o meu novo vizinho estava. Atrapalhando qualquer possibilidade de um sono tranquilo, caso você já estivesse indo dormir.

Era bastante inconveniente, mas era divertido também.

Eu sorri taciturno, indicando a cadeira do lado da cama para ela se sentar. Ela o fez e eu me joguei no meio dos meus travesseiros, me entranhando.

–Ficamos em silêncio por alguns segundos, com Maggie olhando meu quarto ao redor. Tinha várias fotografias penduradas e cobrindo as paredes, assim como várias discos de vinil. Tinha um pôster do Darth Vader na minha porta e aquilo a fez sorrir infantilmente.

– Dizem que você consegue conhecer uma pessoa pelo gosto musical dela. – Começou, despretensiosamente. – Eu diria que você gosta de sofrer.

– Mas não é esse o propósito da música? – Respondi.

– Eu diria que sim. – Ela falou, depois de um tempo.

– Então eu diria que temos muito em comum. – Puxei um disco dos Smiths na prateleira mais próxima e coloquei-o sobre o seu colo. – Você tem cara de quem gosta dos Smiths. Costuma entrar pela janela do quarto das pessoas que você conhece faz um dia?

– Só quando elas fazem o meu tipo. – Maggie sorriu de lado. Parecia ser aquele tipo de garota explosiva que tem resposta para tudo e para todos. – Conheço pessoas que nem você.

– Pessoas que nem eu?

– Pessoas que costumam fingir não ligar. – Esclareceu. – É esse tipo de pessoa que faz o meu tipo.

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Bianca

Darling, darling, doesn't have a problem

Lying to yourself cause your licor is top shelf

Carmen

Bianca di Angelo. Eu queria saber o que as pessoas pensam quando elas escutam o meu nome.

Eu sei que eu sou só mais uma – que sente sem nunca sentir realmente. E que as pessoas lembram de mim com um sorriso, porque elas não me conhecem o suficiente para fazer diferente. Mas eu queria saber.

Eu arranjo licor de primeira, conheço todo mundo que é alguém na sua cidade, poderia ter sido presa e a maioria dos caras cai aos meus pés porque eu sou bonita.

Mas eu queria que eu significasse alguma coisa pelo menos para mim mesma. Sabe, sou aquela que engana todo mundo dizendo que está se divertindo. E, daqui há alguns anos, me tornaria aquela que as pessoas se lembram para contar pros filhos que teve uma overdose e eles não devem usar drogas por isso.

Bianca di Angelo se classificava como um redemoinho, porque nem ela mesma se reconhecia dentro da multidão. Bianca di Angelo se sentia uma atriz – que mente para a própria família. Que mente dentro das próprias mentiras. O fato, é o seguinte: quando você se perde de você mesmo, não pode sentar e esperar que as pessoas o encontrem. Você tem que fazer isso sozinho.

E quando não funciona, você só deixa e fuma uns cigarros. Porque Bianca sempre tem cigarros. Cigarros e mentiras.

Aquele era o dia em que eu me convenceria a parar. Meu pai não me queria, e, depois de dezessete anos procurando entender o por quê, eu finalmente tinha conseguido seu endereço. Sam iria comigo e tentaria me proteger de tirar conclusões precipitadas.

Olhei o relógio na parede, prendi meus cabelos num rabo de cavalo e arregacei as mangas em silêncio. Os algarismos estavam ali, porque eu era a minha própria doença terminal e gostava de brincar de masoquista.

Todos estavam dormindo, então eu simplesmente tirei a bolsa da poltrona e escrevi um bilhete que dizia que eu voltava antes do almoço. Ou talvez não voltasse. Quer dizer, você não pode prometer essas coisas, não é?

– Vamos lá. – Disse para mim mesma e saí pela porta da frente.

Eu costumava pular as janelas, mas, naquele dia, não foi realmente necessário.

Sam estava me esperando encostada numa árvore, com os fones de ouvido. Sam era minha melhor amiga, então ela também não poderia saber. Estragaria a minha surpresa.

(Que sadismo pensar dessa forma)

Ela ergueu os olhos cinzentos e ficou me esperando com expectativa. Parecia mais nervosa do que eu.

– Bom dia, Sammy.

– Bom dia, Bianca.

– Eu estou pronta.

Ela assentiu. Entrelaçou nossas mãos e ficou em silêncio. Com Sam, as coisas eram tão práticas que você se perguntava se ela existia. Entendia sem dizer, dizia sem necessariamente agir. Você não precisava explicar, porque ela sabia. Então ela não perguntava.

– Você está com medo? – Me perguntou, descansando a cabeça no meu ombro.

– Vou dizer que não estou porque sou boa demais para essa coisa de medo. – Respondi.

Sam sorriu fraquinho e colocou as mãos no bolso.

– Eu esqueci que você não tem sentimentos.

– Mais do que você imagina.

Depois daquilo, nós pegamos um ônibus que levava para perto do Hospital Mercy West. Foi o endereço que o ex amigo da família me deu. Queria que estivesse mentindo, mas queria que dissesse a verdade.

Queria vê-lo, mas queria esquecer.

Será que ele se parecia comigo e com o Nico? Será que ele se parecia com o Nate?

Qual dos três se parecia mais com ele? Qual de nós três seria seu favorito, caso ele nos conhecesse?

Largamos no ponto de ônibus, em frente ao Hospital respectivamente. Tinha vários prédios marcando a vizinhança, mas o certo era o maior e mais antigo, que tapava a vista de quase todos. Larguei a mão de Sam, que estivera segurando por todo o percurso, e entramos na portaria. O moço me disse que Hades Levesque – Levesque, não mais di Angelo – morava no décimo primeiro andar no 220.

Batemos Na porta assim que pudemos; na verdade, a Sam bateu, porque ela sabia que eu demoraria uns vinte antes para tomar coragem.

– O que eu faço?

– Só respira.

– E se ele não souber quem eu sou?

– Eu acredito que seu pai não possa ser minha pessoa favorita no mundo, mas você ainda é filha dele. Um pedacinho dele. Vai se lembrar. - Sorriu.

Eu gostava da Sam porque ela sempre sabia o que dizer, mesmo que o que ela dissesse não surtisse efeito.

Uma mulher negra surgiu na porta uns minutos depois. Era bonita, tinha cabelos revoltos e bastante característicos, com incríveis olhos dourados e quase surreais.

– Olá, meninas. Posso ajudar? - Sua voz era doce também.

– Er... - Limpei a garganta e puxei a manga do casaco. - Eu... hm... você é a mulher do Hades?

Ela assentiu.

– Gostaríamos de falar com ele. Por favor.

Deus era um bom pai, por me ajudar a não vomitar ou gaguejar naquele momento.

Ela ergueu as sobrancelhas, desconfiada por alguns instantes. Depois, simplesmente se retirou e foi buscar aquela pessoa. Meu pai. O cara que me abandonou com uma louca alcoolizada.

– Eu vou esperar aqui. - Sam disse. - Acho melhor isso ser um momento só seu.

Eu concordei com a cabeça e pus um pé para dentro apartamento. Dois pés de pé sobre um princípio. Uma pessoa estagnada pelo rancor.

Alguns minutos depois, a mulher apareceu. Tinha um homem atrás dela: barbudo, pálido, com lábios bastante avernelhados e com os olhos castanhos bem grandes que o Nate havia herdado.

No fim das contas, ele era uma mistura de nós três. E isso fazia meu coração latejar. E meus ossos tremularem.

– Bom dia. - Ele falou cordialmente, colocando a cabeça para fora da porta. - Posso ajudar, meninas?

Ele não me reconheceu?

Sam se afastou, indo caminhar pelo corredor afora.

– Posso entrar?

Eu não quero mais contar o que acontece aqui.

Porque existem diários.

Porque existem lamentos.

E você conhece tudo aquilo que você nunca soube por eles.

E eu não sinto vergonha.

Eu não sinto medo.

Eu não sinto mais nada.

E você também não sentiria.


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Notas finais do capítulo

FOI DIFI IL PRA CARALHO POSTAR ISSO PELO CELULAR, então qualquer coisa eu ajeito depois s2
Vcs vao sofrer mto ainda pra descobrir sobre a menina depressiva Bianca
E quando descobrirem
VÃO SOFRER MAIS
mamai ama vcs bjs
Mamai ama review tbm ta.