The Wild Youth escrita por moonshiner


Capítulo 3
Have you lost your mind?


Notas iniciais do capítulo

EAEW, SEUS PUTO!
Eu demorei, né? Eu sei. Espero que ainda se lembrem de mim.
Então, coisinhas lindas da mamai, trago a vocês mais um capítulo da minha humilde historinha, na perspectiva da drag queen mais amada desse brazilzão
NICOLE
ELA MESMO
APLAUDAM
vou calar a boca

E EI
SE VOCÊS VIREM UM LINK COMO SUBTÍTULO DO CAPÍTULO
VOCÊS TRATEM DE CLICAR
PQ É UMA MÚSICA BONITINHA

Música do capítulo: She's got you high - Mumm-ha



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Nico

O céu lá fora se enche de um azul prematuro e fulgurante, que por alguns segundos parece não guardar um sol tão velho. As nuvens pesam nos tetos e nas janelas, com cheiro de álcool. E não é o álcool que passeia pelo bar da esquina, nos sorrisos dos vagabundos de Westfield. É o álcool que corrompe as entranhas da minha mãe há quinze anos.

Eu bufo. Andar por esses corredores é como andar por uma rua sem saída. E todas as manhãs, eu tenho que verificar se as persianas nos quartos dos meus irmãos estão bem fechadas. Algo no meu subconsciente tem medo que um dia eles cansem e sumam.

Eu me arrasto pelos cantos da casa e bato em cada uma das portas, porque se alguém tem que cuidar para que as pessoas dessa casa sigam suas vidas, esse alguém sou eu. E a Bianca. Não que exista alguma diferença de verdade entre nós dois.

Escovo os dentes, troco de roupa e desço as escadas. Vazia, oca e solitária. E ela fica assim pelo resto do dia, junto com o resto da casa, como eu bem sei. Não é como se alguém aqui valorizasse nosso lar.

Meus irmãos não descem e não irão fazê-lo tão cedo. Eu tenho o costume de acordar mais cedo que todo mundo, porque eu simplesmente gosto. Quanto a minha mãe, a própria consciência deve tê-la abandonado na sarjeta.

Resolvo ir até a sala e abrir a porta, ver se tem alguma correspondência ou coisa parecida. Isso e o jornal local, tão inútil na minha vida quanto saber que Samantha Lancaster ainda está viva ás seis horas em ponto. E por que fazer menção de seu precioso nome? Ela é a minha mais nova vizinha, para felicidade de sua melhor amiga, que é a minha irmã, e para minha infelicidade. Meu jardim fica de frente para o dela.

Eu vejo aquele emaranhado de espinhos desabrochar sob o pouco vento que restara pelas árvores da cidade. Ela desce as escadas da sacada de seu quarto, como se estivesse flutuando. Se senta na grama, cruzando as pernas. Seus cabelos castanhos claros, quase dourados, se derramam sobre suas costas nuas, por causa do decote na parte de trás. Ela tem os olhos da cor do mundo fixados no céu, por onde descem alguns fios de sol, refletindo em sua pele branca e levemente bronzeada. Ao seu redor, as flores bem cultivadas do jardim. Assim como em sua cabeça. Ela estava usando uma coroa de flores. E asas de fada. Para ir para escola.

Uma figura excêntrica, essa garota. Talvez seja sua única característica realmente notória.

Ouço passos na escada e me viro para dentro de casa, me escorando na porta. Bianca e Nate descem as escadas, já vestidos, mas atordoados. Mais Bianca do que Nate.

— A mamãe não dormiu em casa. - Ela fala, de bate e pronto. - Eu passei no quarto dela e ela não estava ali. Pensei que já estivesse acordada aqui em baixo. - Passa as mãos pelos cabelos, bufando.

O item número na lista de tudo aquilo que invejam os serafins¹, Bianca também se importa demais.

Nate tomba a cabeça para o lado, passando as mãos pelos cabelos.
— Ela faz isso sempre. - Responde, calmo e de forma serena. - Daqui a pouco o chefe dela liga, a gente explica uma enxaqueca falsa e salva o décimo quinto emprego dela em dois anos. Nada fora do habitual.

Eu lhe lanço um olhar restritivo, em meio a todo o seu ceticismo. Bianca respira fundo e mordisca o lábio.

— Convenhamos. Ele está certo. - Se dá por vencida. - Ela deve estar bem. Ela sempre dá um jeito.

Mas nós não estamos bem. Nunca.

 

XXX.

Tudo parece tomar um rumo diferente quando o ar escolar penetra na sua corrente sanguínea. Vamos aos fatos: seres humanos são naturalmente egoístas. Então, talvez por isso, tenhamos tendência a achar que a vida das outras pessoas é sempre menos pior do que a nossa.

Não importa se o cara é famoso por carregar narcóticos na mochila e por isso ele foi para um reformatório, largando a mãe grávida sozinha e divorciada. Você consegue enxergar o lado bom para os outros. Menos para você.

Então, na escola: é como se todos nós vivêssemos em casas com quintais bonitos. tulipas e cercas brancas. E nossos pais jogam golfe juntos nos finais de semana enquanto bebemos suco de caixinha na borda de uma piscina.

Já que você enxerga o lado bom para as pessoas, elas enxergam o lado bom para você. E isso é completamente reconfortante.

Estou segurando um cigarro entre o indicador e o anelar. Leo alisa o curativo do nariz na frente de um espelho na porta do armário, arregalando seus olhos roxos e fazendo uma careta esquisita. Seus lábios se franzem.

E as garotas. Claro, as garotas.

Elas sorriem e acenam para nós como se fôssemos conhecidos de longa data (apesar de eu achar que elas estão acenando somente para mim e não para Leo), e de fato somos. Micaella tem bons peitos. Drew tem boas mãos.

Ele, que ainda segura o curativo com a mão, pigarreia e olha mais adiante.

— Sabe, nessas horas, especificamente, eu te odeio tanto. Você não tem nem noção do quanto.

Eu rio. Seria cômico, se não fosse trágico.

E como um típico clichê colegial: se ele não apanha de um cara mais velho - pelo menos, não hoje -, ele precisa cobiçar sua deusa. Porque ele é um cara de dezessete anos e não vamos enganar, todos nós precisamos de uma inspiração artística. Mesmo que seja sombria.

Piper Mclean, cujo a aparência impecável me faz duvidar de sua existência, pela maneira como ela vai e vem. Principalmente pelo fato de que ele nunca parece estar falando. Só posando e atraindo súditos com seu mistério silencioso e cor de rosa. Eu suspeito que ela seja de plástico, ás vezes. Mas ela parece real para Leo.

Ela vem caminhando, enrolando o cabelo na ponta do indicador e desvencilhando o sorriso para o nada. Até que ele se cruza com Leo, e o mesmo quase desfalece.

— Você... viu... isso? - Ele sorri meio bobo, arregalando os olhos. - Foi para mim ou foi para você? - Pergunta, temendo a ideia de que talvez eu tenha tido relações com a única garota por quem ele realmente se interessa. Bem que eu poderia, mas eu não o faria.

Eu rio, dando um tapinha em suas costas.

— Foi por causa de ontem a noite. Você defendeu a defendeu e tal. - Explico.

— Ah... - Se vende por um sorriso patife, rindo sem motivo. - Garotas realmente gostam de defesa? Até quando a parte que defendeu sai fodida e de nariz quebrado?

— Elas nunca querem demonstrar que precisam de ajuda, mas no fundo elas querem. E quando você apanha por elas, elas acham fofo.

Leo faz uma careta.

— Vou ter que apanhar mais daqui para frente.

— Essa ideia de que mulheres gostam de proteção é tão tão tão patriarcal e sem sentido! - Protesta. - E que fique claro que você não fez nada além da sua obrigação. Se você não tivesse interrompido, eu mesma teria te batido.

Leo passa os braços ao redor dos ombros de Sammy, acariciando as asas de borboleta.

— Eu quero desencalhar, Sammy. Minha cueca está criando teias e um braço sempre parece mais musculoso que o outro. Tem noção dessa decadência? - Lamenta-se o garoto, dando um longo e pesaroso suspiro.

Ela ri. E eu sempre me irrito quando ela ri - porque seus olhos quase fecham e o nariz se enruga de um jeito adorável. E todo mundo sempre parece notar, porque ela tem covinhas e bochechas rosadas. E eu acho que eu me irrito tanto porque quase sempre paro para ver.

( e acabo rindo também)

— Se você vai, sinceramente, tentar conquistar uma garota a partir dos seus instintos masculinos de homem cis, é melhor melhorar suas habilidades de flerte. - Diz Sam, convicta.

Eu e Leo nos entreolhamos, arqueando as sobrancelhas.

Ela dá de ombros e uma margarida falsa desprende dos espinhos em sua cabeça. Suas asas de borboleta balançam e o glitter cai pelos seus ombros.

Talvez eu deva parar de prestar atenção.

Ela umedece os lábios e cruza os braços. Sua silhueta é pequena, mas sua aura é grande e assustadora como mil piratas armadas.

— Eu posso parecer um inseto fofo, mas te esmago com um cabo de vassoura. - Sentencia, roendo a unha do dedo mindinho.

— Acreditamos em você, chefe. - Responde Leo, batendo continência.

Eu repito seu ato.

— Mas eu ainda não entendi as asas de borboleta. - Confesso.

Ela lança para Leo um de seus famigerados olhares cúmplices e depois sorri sem mostrar os dentes. Dessa vez, as vigas ao lado dos olhos não se formam.

— Eu tenho que ir. - Sam fala, depois de alguns segundos de silêncio.

Segura a alça da bolsa meio firmemente, mordendo o lábio inferior e tentando olhar por cima do meu ombro, para porta do laboratório de biologia. Se suas asas pudessem falar, elas provavelmente alçariam vôo.

— Por que? - Pergunto. - Você acabou de chegar.

— É que tem uma pessoa me esperando.

Engulo em seco e sinto uma pontada estranha. Esquisita. Esquisito. Tudo muito esquisito.

— Ah.

Deve ser Bianca, porque as duas ainda não se encontraram hoje. Eu acho.

Sam comprime os lábios, encaixando a coroa de flores na cabeça.

— Te vejo por aí. Digo. Vocês dois.

E então ela vai dando passos para trás, sem se virar, em direção ao bebedouro.

— Você acha que ela está indo transar com alguém na biblioteca? Você tinha essa reação quando ia fornicarcom a Drew lá. - Leo comenta, meio sussurrado. - Meu Deus, é como imaginar minha irmã perdendo a virgindade. Que horror. Que nojo. Por que você está vermelho e suado?

Eu respiro fundo, puxando a manga da minha jaqueta.

— Eu tô bem. É impressão sua.

— Isaac Lahey. - Leo diz.

— Um filho da puta, o que tem?

— Olha para Sam.

E lá está ela, com seus sorrisos habituais, asas de borboleta, aura majestosa e Isaac Lahey com as mãos em sua cintura.

Não entre em pânico

ela não é sua namorada

e mesmo que fosse

não é da sua conta

mas por que você se importa?

 

XXX.

Existem momentos na sua vida em que o Universo parece conspirar contra você. Você percebe isso, geralmente, quando tudo parece passar mais devagar. Isso acontece porque você precisa sentir. Não num ímpeto imediato, mas num tipo de calor que te faça querer matar sem pensar por quê. Esses são os momentos que antecedem a sua merda. Os minutos posteriores são para você agir sem pensar. Porque o Universo não gosta de gente que pensa demais.

Impulsividade. Parece que essa é a causadora da Ruína Universal.

Mas essa é a forma como o Universo trabalha. Se ele cria uma coisa ruim, você tem o trabalho de torná-la ainda pior. E foi culpa minha. Samantha Eaton não era uma vadia, eu fiz parecer com que ela fosse.

XXX.

 

Alguns minutos antes.
Sam

Eu e o Isaac estamos no laboratório, um pouco antes do sinal soar. Ele precisa de ajuda e eu sou uma boa pessoa. Talvez, um pouco ingênua. Mas ele não pode ser um animal selvagem caçando. Não o tempo inteiro. Não é?

Estamos entre livros e quadros negros. A famosa tensão sexual me parece palpável, mas eu não sinto vontade de saciá-la. Pelo menos, não com ele. Pelo menos, não agora. Pensei que ele já havia a superado na noite anterior, mas ela ainda está aqui. Perfurando sua calça.

Nós fechamos os livros, suspirando silêncio adentro. Seus olhos tempestuosos fazem caminho até o meu decote, sorrindo em seguida. Com os olhos mesmo. Ele não sabe esconder a malícia, não é um cara discreto. Se ele realmente tem uma dúvida - o que eu começo a suspeitar -, ela não está na Victoria's Secret.

Isaac sorri meio de lado, apoiando as mãos nas costas da minha cadeira.

— Você é definitivamente uma ótima professora.

— Obrigada. - Agradeço, sorrindo timidamente.

Isaac se inclina sobre o meu ombro, quase colando os lábios na minha orelha.

— Como eu devo te recompensar?

Eu me afasto. "Eu só preciso me afastar. Só isso."

Não me levem a mal, Isaac Lahey tem belos olhos. E um belo corpo. Mas eu não me vendo por tão pouco por mais um dia, principalmente sóbria. Eu sorrio amarelo, afastando-o.

— Não precisa agradecer. - Puxo minha bolsa da mesa e coloco o livro e o celular dentro dela. Aperto a alça no ombro e sinto uma das asas se curvar. - Eu não ligo. Gosto de fazer boas ações.

Ele ri.

Merda.

Maldita frase com dois sentidos.
— Já vai? - Pergunta, caminhando em minha direção.

Engulo em seco.

— Tenho que me encontrar com o... me encontrar com o... Nico! - Falo, meio empolgada demais. - Vamos estudar, ele não consegue guardar nenhum fato histórico, aquele garoto é um desastre.

Isaac ri com escárnio, descrente.

— Hm. Pensei que não gostasse dele a ponto de oferecer ajuda. - Fala, meio baixo. Eu concordo com a cabeça.

As persianas que cobrem as janelas se movem lentamente, e eu juro ver um par de olhos negros familiares dançarem por ali. Familiares.

— Não gosto. Só vamos estudar.

Uma risada cínica e asquerosa. Como ele.

— Nós sabemos muito bem como acabam esses estudos, Sammy.

Isaac dá ênfase no "nós". Como se nós existisse.

Viado, pare. Não existe nós, é só você, sozinho, nessa sarjeta que você chama de vida, penso.

— Eu não sei do que você está falando. Nós só vamos estudar. Eu já disse. - Reclamo, colocando a mão na maçaneta. Ele imita meu movimento, colocando sua mão por cima da minha.

Seus olhos poderiam ser considerados vívidos e bonitos, se não fossem tão vesanos e prepotentes quase o tempo inteiro. Me lembram os de Tyler.

Coloco minhas mãos em seu peito, afastando-o mais um pouco de mim.
— Para com isso.

— Qual é... - Isaac fala, me puxando pela cintura, grudando nossos corpos. Empurro o peso dos meus punhos contra os seus ombros mais uma vez. - Deixa eu te recompensar, você sabe que você quer.

A cena a seguir é o cúmulo do desespero. Teria sido tentadora, se não fosse repulsiva. Teria sido até sexy, se não fossem as aspas.

Ele gruda seus lábios nos meus, rispidamente. Como se eu quisesse beijá-lo também.

Respondo á altura, justamente. A palma da minha mão se choca contra sua bochecha, em um estalo ardido. Grosseria se responde com grosseria.

— Eu podia ter feito coisa pior, mas eu não quero borrar a maquiagem. Te orienta daqui para frente, cuzão! - Grito.

Eu saio da sala, enfurecida. Esses machistas. Esses canalhas. Eu sempre me meto com eles.

As pessoas ao meu redor parecem borrões de diferentes dimensões, mas eu não sei quem elas são. Nico, que está me encarando feio, bate seu armário e me repreende novamente com um olhar. Se eu tivesse um espelho aqui, ele certamente seria Nico. Parecemos portar a mesma experiência e o mesmo ódio. Eu só não sei as motivações dele.

Ele me encara por mais alguns segundos, impassível. Depois. aperta o passo e some no meio da multidão. Por algum motivo, parece saber exatamente o que havia acontecido. Eu só não sei como.

 

[...]

She's got you high and you don't even know yet
It's the search for the time before it leaves without you
Have you lost your mind or has she taken all of yours too?
Whats this about? I figured love would shine through
We've lost romance this world has turned so see through - She's Got You High, Mumm-ra


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Notas finais do capítulo

CARALIO
tá grande demais esse capítulo, né?
Mas enfim, esperam que tenham gostado, sério mesmo



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