The Wild Youth escrita por moonshiner


Capítulo 14
Fear


Notas iniciais do capítulo

eu sei, eu sei
eu demorei h o r r o r e s
e eu sinto muito por isso, mas
tá tudo uma merda
e eu to tendo bloqueio criativo
e eu quero entrar numa bolha de chocolate e voar pra marte ouvindo mumm-ha
mas eu ainda amo vocês ♥
sim
a vanessa hudgens é a piper
não
a piper não é loira
mas é q essa foto combina com o capítulo
musiquinha de hoje

the fear - lily allen



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Piper

And I'll take my clothes off and it will be shameless
Cause everyone knows this is how you get famous
I'll look at The Sun and I'll look in The Mirror
I'm on the right track yeah I'm onto a winner

I don't know what's right and what's real anymore
And I don't know how I'm meant to feel anymore
When do you think it will all become clear
Cause I'm being taken over by the fear

Não acho que a escola seja um ambiente hostil. Também não me sinto ameaçada, assustada ou oprimida.

Não.

Nem por metade deles.

Mas a escola é só mais uma chacina socialmente aceita, onde você atira adolescentes em direção ao abatedouro e espera que eles durmam com os porcos. Até hoje, não se sabe quem são os reféns.

Uma carnificina.

Estamos no auditório agora. A tal da Audrey (psicóloga que eu talvez precise consultar) está dizendo que a sociedade (no momento, adolescentes desinteressados) tem mania de romantizar o uso de drogas porque a televisão (uma porcaria) disse que seria maneiro. Venus (diretora do falido e famigerado jornal escolar) revira os olhos e nos encara com uma expressão blasé. E Mcbee, nosso diretor calvo e complacente, insinua – entre uma pausa e outra – que ele concorda plenamente e que a nossa juventude está perdida.

É meio inútil.

Mesmo que não tenhamos heroína, ainda temos banheiras. E fornos. E mesmo que não tenhamos cocaína, ainda temos calmantes. Eles dizem que estamos nos matando, mas suicídio é apenas uma questão de interpretação. Você deixa de dormir com os porcos e eles esquecem que você existe.

Esfrego minhas têmporas, porque eu sinto cheiro de colônia e meu estômago começa a borbulhar. Acho que vou vomitar, como tenho feito faz um tempo.

Não sei decidir exatamente porquê.

Se é porque Mcbee tem poros gigantescos e eu me sinto incomodada. Se é porque eu odeio discursos. Se é porque pessoas anti – sucídio são hipócritas (todo mundo é internamente suicida). Se é porque eu odeio garotos.

Eu olho ao redor, na esperança de que a ânsia de vômito seja passageira. Leo quer se esconder. Nate quer sumir. Bianca di Angelo vira seus olhos serenos na direção da saída de incêndio enquanto arranca boa parte das bolinhas de lã do suéter. Nunca parece ter grandes preocupações, mas agora ela morde seu lábio inferior e empalidece como se estivesse anémica.

O relógio faz tique. Nuvens de poluição explodem no ar em diferentes partes do mundo e a nossa escola se preocupa com nossos pulmões ocasionalmente corrompidos.

Taque.

O diretor desce do palanque (“misturar álcool com heroína pode te matar”)

Inclusive, bom saber.

Meu estômago revira como uma criança insolente. Seus pés batem em minha caixa torácica e eu sinto seus braços emergirem na minha garganta em um nimbo. Tem alguém crescendo no meu útero.

Mergulho para fora do auditório no segundo seguinte. Meus pés tropeçam, pois são longos passos até o final. Um comprido corredor de luzes vacilantes e escuridão infinita.

Quando os ladrilhos sanguinolentos do banheiro se materializam, eu enfio minha cabeça para dentro do vaso e vomito a porra do meu filho.

Fico no banheiro até que as náuseas parem. Contemplo meu reflexo no espelho, que parece minguado. Funéreo. Como uma imagem distorcida. Eu sou só ossos e maquiagem.

Olheiras cavernosas, Pele seca. Lábios trêmulos e manchados.

Respiro fundo e lavo meu rosto novamente.

O banheiro da escola parece um banheiro de rodoviária. Cheira como um, se parece com um. Vejo números aleatórios pintados nas portas, ouço barulho dos canos cuspindo água.

E vejo uma sarjeta.

Quero ligar para os números aqui. Sou uma pessoa solitária.

Perguntar se as garotas não querem conversar. Se elas precisam de ajuda. Se nenhuma delas está grávida também, e se por um acaso não existe um grupo de apoio.

Quero saber de elas sabem onde fazer um aborto.

XXX.

Estamos ensaiando um arquétipo da aristocracia. Leo projetou o cenário e agora o sol brilha num tipo de holofote deficiente – o orçamento da escola não pode cobrir tudo. Espartilhos, anáguas, vestidos de mais de 20 metros de imitação de lã. As garotas mantêm-se sorrindo como se fossem de fato da nata Darcyana, deslizando pelo palco como se deslizassem por uma plataforma cheia de neve.

Sugeriram um musical, mas assim teríamos de redefinir um elenco e é muito difícil se mover com saias de seda com barbatanas e os corsets apertados. E eu provavelmente não seria cotada para ser alguém importante, de qualquer forma.

Palavras da Sra. Lawson: “Não vivemos num mundo onde garotas bonitas podem ser tudo. Talvez saibam sorrir e acenar, mas não atuar” – e aí ela me deu as falas de uma das irmãs secundárias de Lizzie Bennet. “Lydia Bennet é frívola. Pode ficar com ela”.

Então Sam é Lizzie, e não porque ela não é bonita. Lawson só enxergou em sua astrologia algo que ela não enxergou na minha. Sam só é mais articulada, aos olhos dela. Só isso.

Bianca é Jane, porque ela é encantadora. E olhá-la é como andar de bicicleta pela primeira vez.

De trás das cortinas, no camarim, vejo Maggie jogar pássaros de papel enquanto Sam rodopia no centro e Nate testa os ventiladores em cima delas. É um ensaio, é informal, elas estão se divertindo. Sam sempre me diz que a melhor parte de tudo são os vestidos.

Sento no chão perto do espelho e aliso a bainha do vestido azul turquesa. Enxergo tudo por uma fresta na porta e me pergunto como farei o que preciso fazer se eu tenho medo de vomitar durante os primeiros atos. Lawson provavelmente não gostaria que eu vomitasse em suas crinolinas. Ela acharia uma jovem grávida em seu palco uma blasfêmia. Porque eu sou uma pecadora.

E essa criança provavelmente me torna uma Rosemary. Ou uma Virgem Maria. Tanto faz.

As luzes no palco piscam de maneira ociosa. O céu deficiente que Leo havia projetado, agora balança numa ventania digital em um campo de trigo. Talvez ele seja só inteligente. E talvez ele não precise do orçamento ou da hierarquia escolar para criar coisas legais.

Vejo Bianca surgir na extremidade dos bastidores. Ela para um pouco entre ambos os camarins - os masculinos e femininos - porque não parece saber para qual direção seguir.

Então ela eclode ao meu lado, como uma revoada de corvos aidéticos. Vejo sua enfermidade mental, com garras e presas. Não sei se alguém a viu enquanto ela chegava até aqui, porque talvez tivessem-na mandando embora.

Bianca oscila. Não me vê, mas se apoia em um dos espelhos. Suas olheiras se formam ao redor de seus olhos como células mortas e doentias.

– Você está bem? - Lhe pergunto, num tom de voz terno.

Ela leva as mãos aos botões que prendem seu vestido e solta o ar pela boca como se não conseguisse respirar.

– Eu não sei o porquê de Lawson nos fazer usar os vestidos durante o ensaio. - Resmunga. - Ainda por cima com esses espartilhos malditos!

Sua unha lascada se prende numa cama de gato entre as tiras de tecido.

– Eu sei que a gente precisa de prática para andar com eles, mas essa necessidade dela de fazer tudo ser tão realista - E ela está resfolegando - É doentia e assassina.

Respira fundo novamente e se curva sobre uma penteadeira. Seus cabelos negros formam uma cortina sobre o rosto, tornando-a quase invisível, se não fosse por sua coluna se contorcendo em arrepios constantes.

– Bianca, o que você tem?

Ela ri um pouco. Soa como desespero.

– Crinolinas eram perigosas, sabia? Provocavam incêndios. - Comenta. - Mas eu não sei direito. Pode desabotoar isso para mim? Não consigo respirar.

Assinto silenciosamente, tateando meus dedos pelo tecido rendado. Os calafrios em sua espinha são quase palpáveis.

– Relaxa.

Bianca arfa e sorri cabisbaixa, espalmando as mãos sobre a madeira envernizada da penteadeira.

Tiro os botões das casas, um por um. Aos poucos, a mancha de seus ossos pontiagudos vão se fazendo visíveis na pele esticada sobre eles.São longos e expressivos, como trepadeiras sobre a superfície humana. Mas ela é uma pessoa. E está tremendo. E não consegue respirar.

Mas Bianca nem ao menos está usando um espartilho.

Franzo o cenho. O tecido se esvai pelo chão, fazendo um barulho abafado ao cair em seus pés. Bianca está nua. E então ela se vira.

– Obrigada. Me sinto melhor agora. - Mas não se sente.

Seu olhar continua brumado feito uma tempestade de verão. Seu rosto se contorce em espasmos inconscientes, seu peito flutua num halo pesado e inerente. Surtando, eu acho. Ela está surtando.

Seus seios sobem e descem, suados e brilhantes.

– Acho melhor eu me vestir. - Diz ela, cobrindo-os com as mãos.

– Claro. - Respondo, virando-me educadamente em outra direção.

Ouço seus movimentos pesados no ar. Ouço as barbatanas raspando o carpete com seu espartilho imaginário. Ouço sua respiração violenta. Ouço um zíper.

E ela some pelos calabouços novamente.

XXX.

Bianca passou boa parte do ano letivo primeiranista numa reabilitação no norte da Califórnia.

Em grupos de apoio, quando retornou à sua cidade natal. Estava magra, bronzeada, radiante e tóxica. Apodrecendo internamente, porque ela nunca é o que aparenta ser. E sumindo por aí em névoa monocromática de nicotina. Tentando cabular aulas.

Ficou limpa por dois anos. Fumava maconha e vomitava algumas vodkas. Usou LSD, uma vez. Mas só.

Ela não curtia muito essa coisa de cheirar, inalar, injetar e se matar logo em seguida. Todo mundo sabia.

Mas ela ficou limpa. Por dois anos e alguns meses. Ociosa e quase saudável, por um tempo considerável.

Ela fingiu. E se escondeu.

E agora eu estou segurando seu pacote de cocaína, que caiu do espartilho que não existia e provavelmente provocou aquelas reações esquisitas.

Eu a encaro pelos dobras solares que invadem a janela ao meu lado. Meus olhos são bonitos, mas eu acho que agora eles beiram o incandescente. Sentada perto da parede na aula de física, encosto minha cabeça no concreto descascado e jogo uma bolinha de papel, esperando-a notar que tem algo errado. Que eu sei algo errado.

E ela me nota. Vira sua cabeça para trás, despreocupada, mas retrai os ombros quando percebe que sou eu.

– O que foi? - Pergunta, sem fazer barulho.

– Você esqueceu uma coisa.

Estamos lendo lábios, eu acho.

Não estamos falando em voz alta, mas ela fica em silêncio.

Sua boca se contorce em um “oh” conclusivo.

Talvez ela não se sinta tão impactada assim, porque eu não sou tão importante. Mas talvez ela tenha medo de que eu conte.

Todos eles me acham uma filha da puta.

Eu sou uma filha da puta.

– Conversamos lá fora.

E o sinal toca.

XXX.

É começo de outono quando eu saio pela rua. Os esquilos entram nos troncos ocos espalhados pelo parque, as calhas das casas ficam sujas e pesadas, as folhas parecem mais velhas e as pessoas, mais incolores. Não gosto de outono.

Prefiro verão.

Bianca disse: “Vamos nos encontrar na casa abandonada do Velho Kirby”.

Nota: Kirby morreu há quinze anos.

Eu disse: “Pode ser”.

E agora eu estou adentrando uma cova em formato de casa, com velas aromáticas derretidas nos pés dos troncos das árvores delgadas. As sombras nas folhas prematuras são lutuosas, como o cenário de Hocus Pocus. Só que sem as crianças, o toque cômico e a Sarah Jessica Parker.

– Precisei procurar um lugar no qual as pessoas não nos vissem. - E Bianca salta de uma abertura quase aérea em um dos muros dejetosos da casa.

Cheira a fumaça e morango.

– Deveria me sentir ofendida? - Pergunto, me afastando um pouco a medida que ela se aproxima.

Bianca dá de ombros e enfia as mãos dentro dos bolsos da jaqueta. Elas estão sujas, mas a garota não parece ligar.

– Interprete como quiser. - E se joga numa das marcas de saco de dormir perto da sombra de uma árvore anciã.

As pessoas costumam acampar bastante aqui quando estamos quase perto do Halloween.

Sento-me ao seu lado, tirando o cabelo do rosto e suspirando por conveniência ou desconforto. Nunca estive sozinha com ela antes. Talvez naquele dia, na escola. Mas aqui é diferente.

Não existe Lawson, nem Leo, nem Elizabeth, nem Lydia e Jane. Somos Piper e Bianca. A grávida e a viciada.

É quase engraçado.

– Imagino que queira que eu vá direto ao ponto. - Deduz, com seu usual tom de pouco caso. - O que eu esqueci, exatamente?

Mordo o lábio e tombo a cabeça para o lado.

–Sua cocaína. Quando tirou a roupa e teve aquele surto e tal. - Respondo, tentando soar natural para não deixá-la tensa.

– Faz sentido.

E ficamos em silêncio.

– Se serve de conselho, eu estou grávida.

Digo isso porque talvez ela precise de uma confirmação que eu não contarei para ninguém sobre suas recaídas. Digo isso porque, acima de tudo, eu preciso contar para alguém. E se não for por uma amizade verdadeira, vai ser por “UNIR O ÚTIL AO AGRADÁVEL”.

Ela arregala os olhos, mas não diz nada. Bianca tem um jeito silencioso de fazer as coisas.

Ela não sorri. Não diz nada. Não se espanta completamente. Só fica em silêncio.

E eu gosto disso. Ela cheira a fumaça, e é tão efêmera quanto. Por isso, eu gostaria que ela sumisse agora.

Mas ela não vai.

– Piper?

– Sim.

– Aquela coisa no camarim. Não foi um surto qualquer ou cocaína.

– Não?

– Foi um ataque de pânico.


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Notas finais do capítulo

eu sei que tá ruim
como todos os outros capítulos porque eu sou uma pessoa lega mas uma escritora de merda
mas eu já disse que amo vcs?
por hoje é só pessoal



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