The Wild Youth escrita por moonshiner


Capítulo 10
Ask me


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo eu dedico à Unwordly, a pessoa que recomendou a fic e me inspirou a usar travessão ♥
Pro Thiago, porque ele é o amor da minha vida ♥
Pra Milena (A.K.A Charlotte) porque foi aniver dela essa semana ♥

Eu tô aqui, esses atrasos podem acontecer às vezes, mas eu amo vocês demais pra abandonar a fic
Ps: Quem ainda quiser entrar no grupo do whats manda o number ♥
Ps: RECOMENDAR PODE TBM

Música do cap: Ask - The Smiths



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Charlotte

Shyness is nice, and

A timidez é legal

Shyness can stop you

Mas a timidez pode te impedir

From doing all the things in life

De fazer todas as coisas

You'd like to

Que você gostaria de fazer na vida

Eles me mandaram o vídeo numa caixa. Armaram tudo como geralmente fariam se eu fosse uma criança do orfanato recebendo meu primeiro presente de Natal.

Eu sinceramente não pensei ser algo relacionado ás mensagens que eu recebia dos alunos da escola. Pelo menos, não com eles.

Supostamente, tinham me esquecido.

Os laços, as cores, os papéis e as texturas.

Devem ter acolchoado a parte de dentro por medo de quebrar ou arranhar. Devem ter colocado todos esses corações recortados por cima para que eu pensasse ser o presente de um parente distante.

Tia Mel, no Texas. Ela sim gostava de mandar coisas carinhosas pelo correio.

Daí eu peguei o cd e coloquei no aparelho. Deixei a caixa e os laços por cima do sofá de camurça, junto com os corações – que se espalharam por falta de aviso.

O dvd começou a rodar e eu pude ver pela luz fosca. As pinturas disformes nas paredes denunciavam todas aquelas tardes que eu passei ao lado de Barrie tentando entender cada um dos quadros.

Ele tirou os óculos para falar, Barrie sempre tirava os óculos para falar. Estava segurando uma garrafa de vodka como se fosse um desses sujeitos de gravata frouxa no fim do dia. Esses que vão aos bares tentar esquecer do trabalho e da vida estressante dentro de casa, mas acabam percebendo que é tudo culpa deles. Barrie não parecia achar que era tudo culpa dele. Na realidade, ele me culpava mais do que culpava qualquer um dos envolvidos.

Ele gritou um grito sem voz e a imagem tremulou. O cinegrafista colocou a luz bruxuleante no rosto de Megan e deixou que suas feições venenosas entranhassem toda aquela atmosfera pesada de maneira ainda mais aterradora. Ela fazia isso, porque destilava veneno. Megan, a menina que fez com que ele quase assassinasse um garoto-. Ela riu e quase caiu para trás. Estava segurando várias imagens que eu não consegui identificar de primeira, mas suas mãos chegavam a tremer pelo divertimento.

Barrie juntou as mãos numa concha sobre o abdômen, endireitou a postura e coçou a garganta. Sempre muito polido.

– Charlotte. – Era a primeira vez em dois meses que eu ouvia sua voz. – Quanto tempo faz desde que você fugiu.

Não gostei da entonação do fugir. Eu não fugi.

– Acho que você já se esqueceu da gente, mas a gente não se esqueceu de você. ­­– No meio disso, Megan desatou a rir muito alto.

A câmera virou abruptamente e mostrou as fotos de um novo ângulo: o lado em que eu aparecia.

Aquelas em que eu aparecia com as costelas salientes e os seios de fora.

Tenho o corpo magricela como uma criança de seis anos, e, embora meu manequim 35 gere inveja em boa parte das minhas amigas, seu aspecto no vídeo parecia nada mais do que doentio.

– Uma curiosidade sobre sua partida, é o fato de que metade da cidade nos odeia e a outra metade não liga para nós. – Barrie estava com raiva porque o rubor começara a subir em suas orelhas de abano. – Megan perdeu a bolsa de estudos, quebraram meu carro no estacionamento da escola e olha só, a igreja fez um protesto para que fôssemos banidos de todas as causas sociais nas quais estávamos envolvidos.

Ah, mas que novidade. Ele sabe como é ser um psicopata.

Mas ele não sabe como é se sentir nua na maior parte do tempo.

Foi ele que arruinou a minha vida.

Não posso me culpar por algo que não fiz.

– A parte boa é que você definitivamente não foi apagada da mente dos nossos meninos. – Megan se intrometeu. – Quer dizer, eles ainda se masturbam por aquelas fotos como se você fosse alguma espécie de coelhinha da playboy, sendo que seus peitos são menores do que meus punhos fechados.

As risadas a seguir foram tão altas que eu senti o teto da minha casa cair brutalmente sobre os meus ombros.

Novamente, me senti suja. E nua. E vulnerável.

Mas isso eu me sentia o tempo inteiro.

O vídeo terminou nas mesmas risadas fantasmagóricas de antes, cheio de epifanias na imagem. Elas iam ficando cada vez mais longe, até que a tela ficou preta. Não desliguei a televisão, mas o vídeo já não estava rodando.

Barrie devia estar num beco escuro atrás da biblioteca, fumando vários cigarros e ensaiando discursos para as paredes. Não permitiam que ela fizesse palestras motivacionais para os prodígios da região, então ela devia ir fumar com ele.

O resto da gangue eu não sabia onde tinha ido parar. Tenho em mente que a maioria fugiu sem deixar rastros. Eu nunca cheguei a fugir de verdade.

Só me escondi no primeiro avião de volta para a minha cidade natal e fiquei por aqui.

Não tem nada de errado com isso. Todos nós precisamos fugir ás vezes.

Coloquei o controle sobre a mesa de centro e fiquei encarando as fotos de New York que estavam no meu colo antes da encomenda chegar. Eu iria para a Columbia e tudo isso passaria. Eu me casaria com Manhattan e ninguém partiria meu coração de novo, só se as luzes da cidade se apagassem.

Mary Jane veio saltitando na minha direção. Como eu já esperava, parecia completamente desajeitada, já que com seus treze anos de idade havia se tornado alta demais para perambular por aí segurando suas trancinhas.

Ela parecia comigo quando queria contar uma piada. Tentando parecer atrevida, mas nós duas sabíamos que seu corpo rejeitava qualquer palavra politicamente incorreta.

Estiquei meus pés gelados e descalços sobre o sofá e deixei que ela parasse a minha frente, colocando os dentinhos para fora de maneira travessa.

– Seu namorado está aqui. – Anunciou.

Balançou o vestido florido de um lado para o outro enquanto mordia a almofada do dedão.

– Q-que namorado? – Ri com a voz falha e apertei a manga da blusa entre os dedos.

A possibilidade de ser o Barrie na porta me apavorava, principalmente por ser possível.

– O magricela do cabelo cacheado. – Respondeu.

Mary Jane havia desenvolvido uma curiosidade um tanto quanto aguçada em relação ao menino Valdez. Inclusive, a Sra. Minha Mãe, que não somente tinha toda sua ficha criminal memorizada, fazia questão de lhe alertar o fato de que ele colocara fogo na decoração do baile da escola. Propositalmente.

E depois, nas tendas de uma festa típica da cidade.

Na realidade, a família Valdez era toda um tabu dentro da minha casa. E eu nem ao menos sabia o porquê.

Suspirei pesadamente e levantei do sofá, acariciando e bagunçando os cabelos lisos e trançados da minha irmã mais nova.

– Ele não é meu namorado e se você disser isso na frente da mamãe qualquer dia eu estou completamente ferrada. – Deslizei com as meias cor de rosa no chão gelado da sala de estar até o tapete de boas – vindas na porta.

Ajeitei rapidamente meu cabelo e puxei a maçaneta.

– Campbell!

– Fucking Valdez. – Cumprimentei.

Ele me deu um beijo na testa, os lábios bastante gelados.

– Quer entrar? – Perguntei.

Negou com a cabeça.

– Na realidade – sorriu maliciosamente – eu preciso te levar comigo.

Revirei os olhos e me encostei no parapeito da porta. Geralmente, ele queria me convencer sobre lugares abandonados e histórias de amor esquecidas. Na maioria das vezes, funcionava.

De início, franzi meu cenho numa dessas expressões que diz “tá, mas e daí?”. Só que eu não sou uma bad girl tipo a Bianca, então ele acabou rindo.

Revirei os olhos de novo.

– Vou avisar a minha irmã. – Respondi, colocando a cabeça para dentro de casa novamente. – MARY JANE, EU VOU SAIR. AVISE PRA AMMA.

– TÁ BOM, USEM CAMISINHA.

– NÃO, PEGAR AIDS É INDIE.

– VOU SEGUIR SEU EXEMPLO.

– TÁ.

– TÁ.

Peguei meu casaco no cabide em um puxão e bati a porta atrás de mim. O celular curiosamente já estava no meu bolso, tremendo com várias mensagens que eu não me atreveria a ler.

– Sua irmã é uma gracinha. – Comentou, enquanto pisávamos nas muitas e controversas folhas de Outono.

Eu sorri, esfregando meus braços.

– Ela gosta de você. – Suas orelhas élficas combinavam perfeitamente com o sorriso malicioso que ele estava dando no momento. – Te acha um gato. Ela diz que você deve ter várias cicatrizes, ser extremamente perigoso, guarda cocaína na cueca e diz que devemos transar.

Leo se engasgou com a própria saliva, colocando o punho fechado dramaticamente sobre o peito.

– Mas ela tem treze, não é? – Estava visivelmente espantado.

Ri pelo nariz.

– Ás vezes, sim. – Respondi. – Ás vezes, deve ter uns dezesseis bastante conturbados e cheios de sexo.

Ele trincou o maxilar numa expressão de desgosto e passou o braço ao redor dos meus ombros.

– Sabe... – Encarou o horizonte poeticamente enquanto acariciava uma mecha meio cacheada do meu cabelo. – Espero que ela não fique que nem a gente.

– Totalmente fodidos?

– Por aí.

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Estávamos sentados sob o lustre da lanchonete McGuinness. Era um desses estabelecimentos excêntricos, onde os anos 60 encontram a aristocracia e fica tudo muito bem porque Aretha Franklin combina perfeitamente com os azulejos cor de rosa e os cristais acima das nossas cabeças.

Leo estava me contando sobre como Peter e Rosalie tinham se conhecido, num monte de cartas velhas e amareladas.

Peter, o cara das câmeras, e Rosalie, a moça dentuça e charmosa da casa 202, bem no fim da rua.

Peter pegava ônibus a três quadras longe dali, para ir a faculdade. Rosalie vestia saias até os joelhos e carregava blusas de costas abertas dentro da mochila, para que a mãe não visse. Ainda estava na escola enquanto Peter era considerado um homem feito.

Peter enxergava o céu como holofotes, cenários, nuvens de mentira e iluminação impecável. Rosalie enxergava o céu como uma oportunidade de agarrar borboletas e grudá-las nas alças dos vestidos. Eram muitíssimos diferentes, Rose e Pete.

As probabilidades eram altas. Altas tipo tentar pegar Paris na palma da mão, e não altas, tipo, possíveis.

Peter corria atrás de cada uma delas, todas ás vezes em que o carteiro entregava alguma encomenda e ele tinha a chance de enxergar o cabelo loiro escuro de franjinha escapando pela fresta entreaberta da porta. Não precisava ser necessariamente de dia; ele só estava lá.

Ele ficava zangando. Peter ficava zangado.

E Peter era lerdo, bem como certas pessoas.

Não quero entrar em detalhes, mas o encontro – o primeiro – se passou debaixo de chuva, interrompendo o cinema de rua.

Depois disso, foi um beijo casto na varanda. Um suspiro, um pezinho de sapatilha vermelha levantando e a saia cor de rosa balançando com a ventania.

Peter disse que chegou a ser utópico de tão bom. Rosalie disse que quebraria vários padrões chatinhos e o chamaria para sair. De novo.

E Peter sinceramente, SINCERAMENTE se orgulhava por ter chamado Rosalie para sair. Ele sinceramente se orgulhava disso, com todas as letras. Ele ao menos teve coragem de descobrir o que acontecia.

Tá, tudo bem, foi trágico, Mas, ao menos, ele soube.

E a razão pela qual ele sempre se questionou ao dizer qualquer coisa foi porque ele sentia demais por ela.

O verão sempre escapava pelas raízes do subúrbio, ele não queria que ela escapasse junto.

Leo empurrou as folhas envelhecidas por cima da mesa e ficou me esperando dizer alguma coisa. Eu queria dizer “tome o cara como exemplo”, mas acho que seria invasivo demais. Ou não. Ou sim. Sei lá.

– Bem, isso não te lembra nada? – Arqueei as sobrancelhas. – O cara perdedor, a garota mistério, o romance potencialmente impossível.

Leo tinha uma expressão bem ingênua no rosto, parecendo não perceber que era com ele. Pigarreei, o copo parado bem próximo da minha boca.

Ele entreabriu os lábios.

– Aaaaaaaaah! – Exclamou. – Não. Nem tanto. Quer dizer, ele pelo menos teve coragem.

Estava sorrindo, mas soava quase como um lamento.

Revirei os olhos a ponto de ver a parte de trás da minha cabeça.

– Que foi?

Resolvi ser bem direta:

– Se você não passasse tanto tempo sentindo pena de si mesmo por ser ai Meu Deus o Senhor Socorro Sou Um Nerd que Passa Os Finais de Semana em Casa Ouvindo Death Cab for Cutie, já teria a convidado para sair. – Ele parecia realmente ofendido.

Apertou o copo de plástico na mão e ficou longos segundos com as costas encostadas na cadeira de veludo, me encarando duramente. Não que aquilo me intimidasse, é claro.

– Você sabe que eu estou certa, só está com medo de admitir. – Falei convictamente, jogando meu cabelo por cima dos ombros. Encarei-o de volta, ceticamente. – Estou esperando você me contradizer. Me contradizer com razão.

Ele retorceu as costas no tecido estampado e deixou um cachinho de cor escura brotar na sua testa vincada. Ficou parado, de braços cruzados, parecendo matutar, parado e estático, como se do nada tivesse percebido o quanto é entediante viver sob a sombra de uma árvore.

– Ainda no aguardo. – Batuquei minhas unhas descascadas em cima da mesa e fiz um barulho irritante com o líquido que subia pelo canudo.

Valdez fez um biquinho infantil e semicerrou os olhos.

– Você quer que eu faça o que? – Foi o que disse, totalmente perdido e desprovido de qualquer experiência que fizesse parte do universo feminino.

Eu quase me engasguei com a bebida e senti o sangue se alastrar pelo meu rosto violentamente. Santa impotência!

– CHAME ELA PARA SAIR! – Esbravejei. A velha senhora McGuinness me encarou repressora e eu pigarreei. – Por que você acha que não vai conseguir?

Ele tamborilou os dedos longos pela mesa quase que desesperadamente. As unhas estavam cravadas na madeira – como se ele ainda quisesse acreditar que milagres aparecem por livre espontânea vontade.

– Sei que é difícil acreditar que um cara com o meu físico tenha falta de vida sexual, mas é verdade. – Deu de ombros, retraído. ­­– Sabe o quanto é uma merda tentar dar em cima de garotas que seus melhores amigos vão levar para cama dois minutos depois de você fracassar? Fere sua masculinidade.

Meus olhos tornaram a se revirar por conta própria, quase ficando salientes na minha nuca.

– Sua mãe é feminista e você acredita que mulheres e sexo definem sua masculinidade. ­– Pressionei as têmporas impacientemente e engoli uma lufada de ar, tentando me manter sã. – Eu vou vomitar. Juro que vou vomitar.

Leo bateu com a cabeça contra a mesa gélida e quase derrubou nossas bebidas de uma vez só. Estava repetindo “eu sou um pedaço de cocô” como um mantra religiosamente obcecadamente incessantemente.

Ele pareceu voltar à tona quando sua testa já estava suficientemente vermelha e sensível. Acariciou aquela parte da pele e ajeitou a blusa azul da Tardis, entranhando as mãos em seus cachos desgrenhados.

E, de uma morte súbita e entorpecente, o sininho na porta tocou e a deusa dita cuja pela qual ele morria adentrou a lanchonete com seus olhos caleidoscópicos solitários e desolados.

Ele não havia visto, mas eu a vi. E eu reparei em cada um dos seus trejeitos.

A forma como ela andava charmosamente com suas pernas longas e torneadas á mostra, a forma como havia picotado seus cabelos na intenção de que eles parecessem desajustados demais para ela ser considerada bonita e a forma como seu casaco puído cobria graciosamente a maior parte do seu tronco. Ela era incrivelmente bonita e a inveja branca que despontou do meu âmago naquele momento me fez querer correr para debaixo da mesa. Eu estava, relutantemente, com vergonha dos meus cabelos virgens, vergonha da minha blusa “I’m still eating pizza” e vergonha de um dia num passado conturbado ter me dignado a uma queda pelo Leo Valdez, enquanto no inconsciente eu disputava essa vaga com ela.

Meu Deus, eu queria estar morta. Senhor Jesus, como eu queria estar morta.

– O que foi? – O garoto perguntou, espiando por cima dos meus ombros.

Devia estar com a mesma expressão de “não posso mais viver na sombra” que ele, alguns segundos antes.

– Regina George está no recinto. – Respondi, secamente.

Não sei se ele entendeu logo de cara, porque apenas esticou o pescoço como se fosse feito de borracha e ficou procurando a felizarda. Infelizmente, seu olhar se cruzou com o de Piper e ele acenou de maneira contida.

Ela, por outro lado, lhe presenteou com um sorriso perfeitamente branco e reto. Leo estava surpreso.

Era um sorriso que parecia valer por vinte tipos diferentes de meteoros. E esses meteoros o atingiram no peito, ao mesmo tempo.

Engoli todo o ar rarefeito que circundava o recinto, mesmo que contra minha vontade.

– Você devia falar com ela.

Ele engoliu em seco e me encarou como se eu fosse louca.

– Você é completamente pirada! – Exclamou, usando um tom de petulância digno de Rony Weasley. – Eu não consigo e eu não vou.

Fiquei longos minutos encarando suas feições élficas e acovardadas. Ridiculamente latinas e ridiculamente coradas, os olhos amendoados sendo salpicados por aquilo que eu julgava ser falta de força de vontade.

Debrucei-me sobre a mesa outra vez, apoiando-me nos cotovelos. O contato visual que eu fazia era afiado como a ponta de uma navalha, e essa navalha estava sendo pressionada contra seu peito. E, ops! Ele não tinha nenhuma armadura.

– Quem é você, porra? – Trovejei, mesmo que num sussurro.

– Hm... Leo Valdez?

– Repete. Só que sem parecer um frouxo.

Limpei o esmalte descascado do canto das unhas e fiquei encarando-o repetitivamente, pelos olhos baixos, fazendo pouco caso.

Seu orgulho se feriu numa careta e ele de fato repetiu, com a voz mais austera:

– Leo Valdez.

– Leo Valdez o que?

– Leo Valdez, caralho.

– E qual a merda que você quer fazer?

– Levar Piper Mclean para sair.

Essa última parte ele falou meio baixo, provavelmente, com medo de que ela escutasse.

– E como pretende leva-la para sair se nem ao menos a convidou propriamente?

– Mas Charlie... – Começou a contrapor – Minha experiência com o sexo feminino é a mesma da Sam para com Star Wars.

Eu ri da comparação, porque ela era a única do bando que ainda não tinha assistido. De qualquer forma, eu persisti.

– Você precisa parar de agir como se todas as pessoas ao seu redor pudessem ser incríveis e fazer coisas incríveis, menos você. – Disse eu. – Você até mim, me mostra coisas maravilhosas de pessoas que já morreram, e não faz nada quanto a sua própria vida! Você quer ter o dinheiro, as bundas, as garotas, o seu nome em livros de história, mas você não faz nada. E você sabe que pode. Porque você é tão incrível quanto eles. Mas, tudo bem, se você quiser morrer escutando Death Cab fo Cutie, não vejo problemas.

Leo se desprendeu da sombra da palmeira que estivera carregando consigo todos esses anos. Ela voltou para as raízes de qualquer lugar e eu pude ver as gotículas de coragem crescendo como sardas ao redor do seu rosto.

Eu sinceramente esperei um protesto; esperei muitas desistências, mas percebi que estaria subestimando minha própria imponência.

Ele pegou o copo de frapuccino como se fosse um cálice sagrado e colocou no centro da mesa. Seus dedos ossudos e longos moveram meus dedos ossudos e pálidos para cima dos dele, na tampa de plástico.

– A partir desse momento, juro solenemente parar de ser otário, pelo poder investido no frapuccino mais indie do estado da Geórgia. – Fechou os olhos enquanto recitava as palavras, provavelmente, agradecendo mentalmente a Seth Cohen, o cara de The O.C que saiu da friendzone no começo da temporada.

Fechei os olhos também, sussurrei um “amém” e o vi abrir os olhos junto comigo. Olhou por cima dos ombros, para onde Piper estava.

– Sorria e acene. – Foi tudo o que eu consegui dizer, esperando ele se levantar da cadeira.

Seus ombros estiveram retraídos, mas alçaram voo assim que ele reparou no rosto dela pela primeira vez. As pupilas dilataram, o all star surrado chegou a dançar sozinho e todas as noites que ele passou ouvindo The Cure e pensando na mediocridade da metade da população, fizeram sentido. Eu sei disso porque eu continuei vendo as sardas de coragem crescendo ao redor dos seus olhos. E do seu queixo. De suas bochechas e a das suas orelhas pontiagudas.

Não consegui ouvi-los quando ele chegou lá, o que não era uma surpresa.

Tinha quase certeza de que ele estava dizendo coisas como “desculpe vomitar nos seus sapatos” e ela respondendo coisas tipo “tudo bem, não tem problema”, mas ambos sabiam que tinha problema sim. E então ele se sentaria e os dois começariam a conversar sobre o tempo, até que ele repararia no quanto ela é uma garota mistério como nenhuma outra e todas essas coisas de “seja cruel comigo, sou um tolo por você”, não muito melhores que “vejo galáxias nos seus olhos”.

A trama rolaria como uma estrela cadente costura a estrutura óssea do céu e eu sentaria aqui no meu canto, apaixonada por pizzas e batatas fritas porque eu não faço ideia do que significa ficar apaixonada pelo sorriso de alguém.

As mensagens da peste negra não paravam de chegar, mas eu não me dignaria a responder.

Mesmo que meu tédio estivesse eclodindo numa nuvem bolorenta em forma de coraçõezinhos. Os que voaram sem aviso quando tirei a fita da caixa e esses que encrustavam as cabeças do casal adolescente e nauseante na outra mesa.

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Se eu não o conhecesse há remotos oito anos, diria que ele era apenas mais um tolo. Tá, tudo bem, ele era apenas mais um tolo. Um tolo que era meu amigo, mas era um tolo.

Um tolo que não parava de me agradecer e falar incontáveis “eu te amo” no caminho da lanchonete para a casa dos di Angelo. Eu sentia a gratidão, a prestigiava.

Só não conseguia me sentir inteiramente satisfeita com o fato dele ter conseguido um encontro com Piper Mclean, a garota mais gelada de todos os estados. Isso fazia eu questionar minhas metamorfoses e me tornar uma delas. Não sabia por que tinha ajudado se sentia coisas esquisitas em relação aquela garota.

Coisas tipo um péssimo, péssimo, PÉSSIMO pressentimento.

Larguei meu sobretudo num cabide enquanto Bianca nos guiava escada acima, em direção ao quarto do menino Nico.

Veja bem, ele não parecia constantemente doente. Embora suas veias saltassem e pintassem um caminho azulão todas as vezes que a gente chegasse muito perto, por causa da sua pele demasiadamente clara, suas olheiras conseguiam passar quase despercebidas quando ele tinha uma boa noite de sono.

O negócio, meus queridos amigos, é que Nico di Angelo doente consegue parecer tão anémico quanto Amy Whinehouse pré – morte.

­– Meu Deus! – Leo exclamou dramaticamente, colocando o peito da mão sobre a testa. – Você está gripado ou com aids?

Nico riu uma risada anasalada e assoou a coriza num lencinho de papel.

– Não tem graça.

Sentei-me na ponta da cama, apoiando a mão em seu joelho. Meus olhares mais piedosos apareciam junto de ironia.

– Deve ser horrível quando você fode uma garota no sentido ruim e aí ela vai lá e acaba com a sua dignidade. – Lamentei sobre o ocorrido na noite anterior, a noite do baile. – Estamos aqui por você, inclusive, para tirar fotos da sua anorexia nervosa. Sua anorexia nervosa algemada na cadeira da escola. No terraço.

– Onde o zelador te encontrou hoje de manhã e falou com a diretora por medo de você ser praticante de técnicas sadomasoquistas pesadas demais para a sua idade. – Emendou Bianca.

– O que seria completamente compreensível, levando em conta suas tendências ninfomaníacas, ainda prematuras e em desenvolvimento. – Esse foi Leo.

Nico virou o rosto bruscamente no travesseiro, cruzando os braços. Sua cara amarrada e pálida corava gradativamente toda vez que uma risada era ouvida.

– Se vieram caçoar de mim para me deixar deprimido, podem sair. – Falou, abafado.

Nós gargalhamos, Maggie em particular, que surgira na porta vestindo um pijama de patinhos que eu reconhecia ser de Bianca e não dela.

– Você realmente acha que precisa da gente para ser triste e sozinho? De verdade? – Se sentou numa cadeira ao lado da cama, apoiando os pés sobre o tórax nu de Nico. Ele rosnou. – Você é trevassexual, querido. Nada pode te entreter mais do que as trevas e nada pode te colocar para baixo tanto quanto sua própria alma sombria.

Nós rimos. Ele revirou os olhos e espirrou. Um ciclo vicioso.

O coro de risadas só se difundiu quando Sam veio caminhando pela madeira gelada do quarto, usando nada mais do que uma blusa de ombros caídos que terminava no inicio de suas coxas grossas. Ela tinha uma marquinha de nascença bem na perna direita.

O rosto de Nico empalideceu de tal forma que antes de começar a rir, me perguntei se ele não estava morto.

Ela sentou ao meu lado na cama, um pouco mais próxima do tronco do garoto. Os olhos dele brilharam de medo e contentamento, um misto de puberdade em transição. Vi todos os seus músculos se contraindo.

– Como foi o resto da festa ontem, Sammy? – Maggie perguntou, coçando o queixo de Nico com o dedão porque ela era estranha o suficiente para fazer uma coisa dessas. Ele nem reparou.

– Foi legal. – A menina respondeu. – Batizei o ponche e peguei um garoto no terraço.

Olhou para trás como se tivesse percebido a presença de Nico pela primeira vez.

– Ah. Era você.

Ela também riu pelo nariz e ele a chutou numa das nádegas semi descobertas.

– Eu estou com fome. – Bianca resmungou. – O Nate ficou de trazer uma pizza, mas ele saiu faz mais de meia hora.

Maggie parecia incomodada. Eu estive notando que todas ás vezes em que ele saía sem nos avisar e demorava bastante tempo para retornar, a loira mistério de Westfield encolhia os ombros e virava o rosto como se não soubesse de nada. Principalmente se Leo estivesse por perto.

– Que chato. – Falei. O celular começara a tremer mais no meu bolso nos últimos segundos. Estava me irritando.– Querem que eu vá lá fora e ligue para ver se ele já está chegando?

Sabíamos que o sinal dentro da casa era ruim, mas também sabíamos que não era assim tão necessário.

De todo o jeito, acho que não ousariam ir contra a minha boa vontade, então me recolhi com cautela e saí do quarto, descendo as escadas da casa como uma ventania com braços e pernas. Os inúmeros desenhos que Nico tinha espalhado pelas paredes da casa se formaram em borrões, as fotos de Nate também.

Abri a porta com bastante vigor e senti o vento arrebentar para dentro dos meus poros. Estava anoitecendo, e eu estava sozinha.

Fazia muito tempo que eu não anoitecia sozinha. Desde as fotos. Desde as fotos, tudo se tornara um Inferno onde eu deleto minhas contas antigas e sumo do mapa por medo de ser perseguida. Bem, não funciona muito.

Fantasmas podem ser caçados também, afinal de contas.

Encostei a parte de trás da cabeça num tijolo descascado da parede, o frio acudindo meus braços nus.

Fiquei com medo de pegar o celular e desbloquear a tela.

Primeiro, porque eu não sabia como mais gente havia conseguido meu número novo. Segundo, porque eu estive fugindo dessa realidade há muito tempo. Acordar para ela de novo seria como cair num tanque cheio de tubarões.

Não era divertido para mim, mas era divertido para todos aqueles que sentiriam o gosto do meu sangue. O sangue é metafórico, mas a vergonha não é. Na verdade, ela é doce. Convivi com ela por tanto tempo que se tornou algo com gosto e forma.

Toquei o vidro liso do aparelho, espalmado nos meus dedos trêmulos e medrosos.

Eles estavam lá. Agarrados nas bordas das casas como trepadeiras; como aquelas que vimos afogar a casa de Peter Soneclair no esquecimento.

E as trepadeiras também têm gosto, como minha vergonha. Têm gosto amargo de cigarros. Têm fumaça nebulosa ao redor delas, como as cabeças de Barrie e seus amigos.

Eu não queria ver as mensagens, mas eu queria saber. Quer dizer, eles quase mataram um garoto e espalharam minhas fotos nuas por aí. Se o veredito fosse a minha acusação sem provas, começaria a duvidar piamente sobre o que as pessoas querem de verdade nos dias de hoje.

O corpo é meio que meu e meio deles agora. Eles tomaram uma parte para eles assim que as fotos foram coladas no mural da escola. Se eu sou culpada por ter sofrido das mãos escamosas de um ex namorado, eu sinceramente tenho medo de ver o que acontece com as outras meninas que sofreram da mesma coisa.

Escutei o barulho pesado de um corpo se chocando contra a parede.

Meus olhos traçaram avidamente na direção da garagem, que estava com seu portão entreaberto ao meu lado. Estava escuro, mas eu conseguia ver pés. Se chocando, se embolando, se escondendo e se chutando.

Eu não estava fazendo o mínimo barulho, então me esgueirar pela parte de baixo do portão e me arrastar pelo chão gelado não foi muito difícil. Fiquei de pé sem muito esforço e acendi a luz no interruptor que ficava na parede ao meu lado.

As duas entidades misteriosas se afastaram num movimento brusco e eu quase enfartei ao ver os ombros magros de Nate se repuxando e os cabelos negros e picotados de Piper escondendo furtivamente sua testa.

Estavam se beijando no escuro. Bem debaixo de algumas caixas com máquinas fotográficas velhas e rolos e mais rolos danificados pelo tempo.

Nate devia ter batido a cabeça ao se levantar e me ver, porque estava endireitando os óculos no rosto e acariciando a testa como se fosse formar um galo.

A surpresa foi evidente, mas a raiva não se atrasou a atropelar os sentimentos dentro de mim. Cruzei os braços e fiquei alternando meus olhares, de Nate para Piper e de Piper para Nate.

Eles estavam apáticos, como o fantasma que eu era.

– Vocês podem se explicar ou simplesmente fugir e fingir que nada aconteceu. – Minha voz ecoou pela garagem empoeirada como a voz de Dumbledore geralmente ecoaria pelo Salão Principal.

Piper coçou a garganta, mordendo o lábio e olhando para Nate pelos olhos caleidoscópicos e sensíveis. Estavam cheios de vergonha, o que fez uma risada seca surgir da minha garganta. Não quis escondê-la.

– Cê não tinha nem que tá aqui, linda. – Foi tudo o que conseguiu sair de mim.

Aquilo era o suficiente para exprimir todas as críticas que tornavam a borbulhar com clareza na minha mente.

Ela deu um sorriso sem graça e agarrou a ponta do casaco vermelho como se ele pudesse tirá-la dali magicamente. Fiquei encarando-a enquanto ela saía.

Sair correndo não era seu grande problema, afinal de contas. Sair correndo devia ser sua grande aptidão, devia ser corriqueiro. Ela nem sequer olhou para Nate ao fazê-lo. Ela nem sequer hesitou em ficar para segurar a barra com ela.

E Meu Deus, Meu Bom Deus, eu a odiava com forças sobrenaturais. Não por errar, mas por não saber lidar com as consequências. E sobre Nate, eu não conseguia decifrar.

Algo me fazia acreditar que seu semblante só se revelava culpado ao ter sido pego. Não era como se fosse errado, ora essa. Só era errado quando alguém via e decidia fazer algo sobre isso.

Fiquei olhando seus olhos grandes e castanhos se revirarem pelo cômodo á procura de uma resposta decente.

– Tem acontecido por cinco meses. – Respondeu, como se adivinhasse minha próxima pergunta. – Eu sei que eu sou um otário e não, você não precisa me dizer isso.

Segurei meu queixo na mão e todo o meu nojo se fez presente.

– Bem, você sabe que é um babaca, mas será que o Leo sabe disso? – Arqueei a sobrancelha. – Será que você sabe que ela aceitou sair com ele hoje de tarde, mesmo tendo um namorado e um caso com você? Será que você se lembra que ela nem ao menos agradeceu quando ela defendeu na festa e será que você sabe o quanto isso é asqueroso e injusto? – Troquei o peso de um pé para o outro, minha língua formigando para falar muito mais. – Seu melhor amigo, Nate. A porra do seu melhor amigo!

O bastardo ficou em silêncio.

Não sabia o que dizer, provavelmente. Não sabia nem o que fazer.

– Ela vai sair com ele mesmo?

Estalei a língua, passando-a pelos meus lábios rachados e secos em seguida.

– Vai sim. – Respondi. – Ele está louco para te contar. Não para de sorrir por causa disso.

Seus olhos brilharam um pouquinho. Talvez, por um contentamento cego. Ele tinha em mente – eu acho – todas as coisas ruins que estava fazendo. Entretanto, Leo ainda era seu melhor amigo.

Se sentiria feliz por ele até se estivesse de olhos fechados e ouvidos tapados.

– Eu... eu devia contar. – Deu de ombros. – Sei que sou um cuzão. De verdade. Sei o quanto eu faço merda com as pessoas constantemente, mas eu meio que não consigo parar. Sou uma pessoa ruim, não é?

Naquele momento em especial, Nate parecia genuinamente e especificamente arrependido. Não sabia o quanto aquele sentimento iria durar, mas ele não pestanejou tanto assim em demonstrá-lo, como normalmente faria.

E eu sou uma pessoa compreensiva. E eu gostava de Nate como gostava de um filhotinho que acabara de roer os sapatos caros da dona. Gostava de Nate como gostava de um irmão de outra mãe, um pouco distante, mas ainda sim um irmão.

Olhei para o chão e dei um sorrisinho. Seus punhos estavam cerrados como duas rochas.

– Você não é uma pessoa ruim, Nate. – Disse eu. – Você é uma pessoa boa que cometeu alguns erros, só isso. É totalmente diferente de uma pessoa ruim com alguns acertos em particular.

Algo no seu rosto pareceu sofrer de alívio momentâneo.

– Mas ainda acho que você precisa contar. – Continuei. – Ele merece saber.

Ele mordeu o lábio e enfiou os punhos eretos dentro dos bolsos, porque também estavam trêmulos. De frio e de nervosismo.

– Mas você não pode demorar muito. – Esclareci. – Ou terei de contar eu mesma.

Ele piscou várias e várias vezes.

Era um dia de muitas pessoas saindo de suas próprias sombras ao mesmo tempo.

– Acho que agora eu preciso realmente sair e comprar uma pizza. – Foi o que disse, rindo de lado. – Ser um babaca dá fome, de vez em quando.

Eu sorri de volta.

– Estamos te esperando lá em cima.

Passei por debaixo do portão entreaberto de novo, sentindo meus ombros pesados ao me levantar encarar a rua deserta.

Meus fantasmas. Meus fantasmas estavam dançando na luz fraca do poste, junto com o meu celular vibrando no meu bolso. Mensagens.

Nate também devia ter seus fantasmas, afinal de contas. Mas, em vez de caçá-los, escolhia descontá-los nas outras pessoas. Da mesma forma que eu fugia dos meus. Da mesma forma que Barrie colocava os dele em cima dos fardos alheios.

O grande problema não era ter fantasmas.

O grande problema era não saber lidar com eles, mesmo quando estavam dançando ao redor de você e todas as coisas que você conhecia.

“É difícil dançar com o Diabo nas suas costas”.


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Notas finais do capítulo

O QUE CÊS ACHARAM?
MAMÃE ESTÁ ABERTA A SUGESTÕES SOBRE COMO LEO VALDEZ DEVE REAGIR, PORQUE SIMPLESMENTE ADORO QUANDO VOCÊS ME DÃO IDEIAS NOS COMENTÁRIOS (mesmo que eu sabia o que ela vai fazer e GENTE
VAI SER TRETA)
Curiosidade: Charlotte foi inspirada na Allison de Teen Wolf, Rachel de Glee, Felicity de Arrow e na Milena da vida real



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