A Seleção Semideusa escrita por Liz Rider


Capítulo 38
Monstros sem SA 2: O Retorno


Notas iniciais do capítulo

Então, eu não sei o que dizer... só... aproveitem, né?



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P.O.V America

Há um ruído de grande atividade lá dentro. Algumas garotas se abraçam aos prantos, enquanto outras rezam. Perto de Annabeth e Percy, está Maxon, que segura a mão de Elayna. Ela parece bastante abalada, mas o toque dele claramente a acalma. Observo a localização do trio de comando daquela mansão, tão perto da porta... Pergunto-me se a escolha tem algo a ver com a dos capitães de navio, que afundavam com seu barco. Eles farão tudo para manter a mansão de pé, mas, se ela afundar, Percy, Annabeth e Maxon serão os primeiros a morrer.

Ao minha entrada, metade do barulho no amplo cômodo cessa, mas eu ignoro esse pequeno fato. Maxon me olha confuso, mas não desvio o olhar. Faço uma breve reverência e me dirijo até Marlee com ar altivo. Imagino que, enquanto eu parecer estar certa dos meus atos, ninguém me questionará.

Mas na verdade, eu estou enganada.

Dou mais três passos até Silvia aparecer. Ela passa a impressão de estar incrivelmente calma. Com certeza, essa situação não é novidade para ela. Ou talvez ela só seja uma atriz incrível.

– Ótimo. Temos gente para ajudar. Meninas, vão imediatamente buscar água no armazém dos fundos e comecem a servir comida para o Príncipe, o casal Jackson e para as Selecionadas. Mexam-se. – ela ordena, com um sorriso satisfeito no fim da frase.

– Não. – digo com firmeza.

Volto-me para Anne e dou a minha primeira ordem de verdade.

– Anne, por favor, sirva o príncipe, Percy e Annabeth. Depois venha ficar ao meu lado.

Então volto-me para Silvia, a encarando, antes de continuar:

– O resto pode se virar. Elas escolheram abandonar suas criadas. Podem pegar sua maldita água sozinhas. As minhas ficarão sentadas ao meu lado. Venham, moças.

Eu sei que estamos bem perto de Maxon e que ele certamente pôde me ouvir. Na minha tentativa de mostrar autoridade, acho que falei um pouco alto demais. Mas não me importa se ele me achar grossa, ele me conhece, sabe como sou, sabe que protejo aqueles que amo, e eu, apesar de tudo, realmente amava aquelas garotas, elas eram bem mais minhas amigas do que boa parte daquelas meninas, se ele acha que elas não valem a pena, ele é que não vale meu esforço permanecendo na Seleção. Além do mais, Lucy está mais assustada que a maior parte das pessoas naquele lugar. Treme dos pés à cabeça, e não há a menor chance de eu deixá-la servir gente que não tem metade de sua bondade naquele estado.

Talvez por causa de todos os meus anos como irmã mais velha de May, eu quero apenas manter aquelas três a salvo.

Encontramos um espacinho no fundo do abrigo. Quem quer que fosse o responsável pela manutenção do esconderijo não estava preparado para a chegada das Selecionadas. Quase não há cadeiras suficientes. Mas eu vejo os estoques de água e comida e suponho que poderíamos ficar aqui por meses, se fosse necessário.

Nós, de fato, somos um grupo bem peculiar, ou, sendo mais honesta comigo mesma, esquisito mesmo. É óbvio que muitos funcionários tinham trabalhado a noite toda e, por isso, ainda estão de uniforme. O próprio Maxon está nessa situação. Mas quase todas as garotas estão de camisola, um traje que só serve para dormir nos quartos aquecidos do segundo andar. Nem todas puderam pegar um roupão na pressa de fugir. E mesmo eu, com o meu delicioso e quentinho roupão felpudo, ainda sinto um pouco de frio.

Várias meninas se juntam na frente do abrigo. Aquilo é óbvio: serão as primeiras a morrer caso o abrigo seja invadido. Mas, se não houver invasão, veja bem que maravilha, quanto tempo poderão passar bem diante de Maxon! Algumas garotas estão mais próximas de onde tínhamos parado, e a maioria delas padece da mesma condição de Lucy: tremem, choram e estão paralisadas de medo.

Enquanto Anne serve a... han... família real, se é que assim podemos chamá-los, eu mantenho Lucy sobre meu braço e Mary a acaricia, tentando confortá-la. Não há nada de agradável a dizer do esconderijo ou da situação e, por isso, permanecemos um tempo em silêncio, ouvindo as vozes dos outros refugiados. Aquele ruído lembra meu primeiro dia no palácio, quando nos maquiaram. Fecho os olhos e imagino aquelas cenas com os sons do abrigo, com o intuito de ficar tão calma quanto devo aparentar estar.

– Você está bem? – uma voz estranhamente familiar pergunta.

Ergo os olhos e dou com Christian, imponente em seu uniforme. Seu tom de voz é muito formal, mas há ternura em seus olhos, o que mais me parece incrível é que ele não parece estar nem um pouco abalado com toda aquela situação.

– Sim, obrigada. – respondo, respirando fundo.

Não dissemos nada por alguns instantes, observando as pessoas se instalarem no abrigo. Mary está claramente exausta e dorme apoiada em Lucy. Lucy está até mais calma, no fim das contas. Tinha parado de chorar e permanece sentada, olhando para Christian com um olhar de doce admiração.

– Foi bondade sua trazer as criadas. Nem todo mundo é tão gentil com pessoas consideradas inferiores. – ele diz e acho estranho e leve tom de admiração e alívio em sua voz.

– “Se você quer saber como um homem é, veja como ele trata seus inferiores e não seus iguais.” – respondo, com um sorriso discreto brincando em meus lábios.

Essa não é, de fato, a citação mais adequada, mas parece servir, principalmente quando o sorriso de meus lábios é refletido nos deles, multiplicado por dez. Talvez seja porque eu e Christian costumávamos conversar sobre livros, como Harry Potter, de onde tirei essa citação. É uma das nossas preferidas. E por um momento somos só Ames e Chris, os dois de algum tempo atrás antes dele, sem explicação nenhuma, se afastar. Esse pensamento faz o sorriso de meus lábios se apagar.

Lucy toma fôlego como se fosse perguntar algo para Christian, mas um grito retumbante ecoa pelo esconderijo e a faz pensar duas vezes e se calar. Um guarda na outra ponta do lugar grita ordens para que todas nós nos calássemos.

Christian se vai, o que é bom. Temia que ele – ou alguém – pudesse detectar a minha mudança de humor.

– É o mesmo guarda de antes, não é? – ela pergunta.

– Sim.

– Eu o vi de vigia na sua porta. Ele é muito simpático. – comenta. – E é muito bonito. – acrescenta antes de corar.

Acho graça e solto uma risadinha. Penso em dizer algo, mas no exato momento em que abro a boca, o guarda nos pede para fazer silêncio novamente. Assim que alguns restos de conversa somem, uma quietude assustadora recai sobre o abrigo.

Então podemos ouvir. Pessoas lutam sobre nossas cabeças. Fico atenta ao som de tiros ou qualquer outra coisa que possa revelar como anda a batalha pela posse da mansão. Sem perceber, me agarrei às garotas próximas de mim, como se juntas pudéssemos nos defender do que viesse a acontecer.

O som continua por horas a fio. O único movimento no abrigo são as rondas de Maxon, que cumpre seu dever e verifica a situação de cada uma das meninas. Quando ele chega no canto onde estamos, apenas Lucy e eu permanecemos acordadas. Às vezes, trocávamos umas palavras rápidas aos sussurros, quase lendo os lábios uma da outra.

Maxon se aproxima e não consigo notar nenhum vestígio de raiva por causa de nossa última discussão, embora eu ainda queira esclarecer aquilo. Em vez disso, vejo um sorriso agradecido em seu rosto. Ele está simplesmente feliz por eu estar bem.

– Você está bem? – ele pergunta.

Faço que sim com a cabeça. Ele se volta para Lucy e se inclina sobre mim para falar com ela. Sento o cheiro dele e, quase involuntariamente, discretamente inspiro mais fundo. Maxon não cheira a nada que venha em frascos. Não é como canela ou baunilha ou qualquer coisa do gênero. Ele tem seu próprio cheiro, uma mistura de essências que seu corpo exala.

– E você? – ele pergunta a Lucy.

Ela também faz que sim com a cabeça.

– Surpresa de estar aqui em baixo?

Ele dirige um daqueles seus incríveis sorrisos para Lucy, deixando mais leve uma situação inimaginável.

– Não, Majestade. Não com ela. – responde Lucy, apontando com a cabeça para mim.

O príncipe vira-se para me encarar, e seu rosto está incrivelmente próximo do meu. Sinto-me levemente desconfortável. Há tanta gente deitada ao meu redor que eu não sou capaz de me mover. E podemos ser vistos por muitas outras pessoas. Mas o momento passa rapidamente e ele volta a olhar para Lucy.

– Sei o que você quer dizer.

Maxon abre outro sorriso. Ele parece prestes a dizer algo mais, mas muda de ideia e começa a se levantar.

Maxon nos deixa e passa para Fiona, que soluça baixinho, encolhida.

Tento respirar devagar enquanto imagino meios de escapar caso os monstros cheguem até nós, mas é tudo ilusão. Se eles conseguirem entrar, será o fim. Não há nada a fazer senão esperar e pedir proteção aos deuses.

Pensando nisso, eu me pergunto porque Maxon não usa algum dos seus poderes divinos para simplesmente liquidar todos os monstros. Apesar dessa pergunta ficar em minha mente, jamais a ponho em palavras.

O tempo se arrasta. Não faço ideia de que horas são, mas as pessoas que tinham apagado começam a acordar e aqueles que tinham se mantido ligados começam a desfalecer.

Os barulhos sobre nós não param de uma vez, mas diminuem com o passar das horas.

Por fim, tudo fica em silêncio e assim permanece.

A porta se abre e alguns guardas saem para investigar. Mais tempo se passa enquanto fazem uma varredura na mansão. Então eles voltam.

– Senhoras e senhores, os rebeldes foram subjugados. – um dos guardas anuncia, orgulhoso. – Pedimos a todos que retornem a seus quartos pela escada dos fundos. Há muita bagunça e vários guardas feridos. É melhor evitar os salões e corredores até que tudo esteja limpo. As Selecionadas devem ir para seus quartos e permanecer lá até segunda ordem. Já falei com os cozinheiros e alguém lhes servirá algo dentro de uma hora. Preciso que todos os membros da equipe médica me acompanhem até a ala hospitalar.

Após essas palavras, as pessoas começam a se levantar e a agir como se nada tivesse acontecido. Alguns aparentam certo tédio. Com exceção de rostos como o de Lucy, todos parecem ter mantido a calma durante o ataque, como se fosse esperado.

É engraçado como tudo são máscaras.


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