A Seleção Semideusa escrita por Liz Rider


Capítulo 35
Uma Festa.


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Então, não esperem muitas menções ao baile do capítulo passado, nem à viagem, ainda vai ter algumas coisinhas para eu deixar vocês aproveitarem-na.



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P.O.V America

No dia seguinte, as coisas parecem ter voltado ao normal. No Salão das Selecionadas tudo o que se pode ouvir são suspiros das outras selecionadas contando como Maxon fora fofo quando fez isso, como ele dançava bem, como tinham conversado apaixonadamente durante a dança, como tinham conseguido futuros encontros ou até como Maxon tinha pegada. Esse comentário foi exclusivo de Celeste, mas não é como se ela não tivesse falado isso tão alto para que todo o Salão ouvisse.

Maxon e eu não nos falamos mais desde nossa dança de abertura, e claro, não é como se eu esperasse que ele viesse correndo conversar comigo sobre Zeus sabe o que ou que ele reservasse todas as suas danças para mim, mas sério, me ignorar completamente? Suspiro, jogando-me pesadamente no sofá do Salão das Selecionadas.

Acabei voltando para aquela velha rotina de antes, esconder-me quase o dia todo no salão, mas claro que nenhum plano é infalível e algo tinha que acontecer para acabar com minha felicidade e conforto.

Mas até que funcionou perfeitamente... por três dias. Com tantas garotas no palácio, claro que era apenas questão de tempo até uma delas fazer aniversário. E o de Kriss era na quinta-feira. Ela deve ter deixado escapar “sem querer” o fato com Maxon – que nunca perderia uma oportunidade de presentear alguém –, e o resultado foi uma festa obrigatória para todas as Selecionadas. Assim, hoje, quinta-feira, está sendo mais um dia de completa correria louca tanto por parte dos funcionários da mansão que davam os últimos retoques nos detalhes da festa, quanto pelas meninas, que entravam e saíam umas dos quartos das outras, perguntando o que iam vestir e fofocando sobre quão grande deve ser a festa.

Aparentemente, não era preciso levar presente, mas mesmo assim preparei algo para a aniversariante.

Na hora da festa, ponho um dos meus vestidos favoritos e pego o violino. Caminho na ponta dos pés até o Salão de Festas, olhando para os lados em cada corredor. Assim que chego, corro os olhos pelos guardas em sentinela. Por sorte Christian não estava presente, e resta-me apenas achar graça naquela quantidade enorme de homens uniformizados. Será que eles esperavam uma rebelião ou algo do gênero?

O Salão de Festas está ricamente decorado. Vasos especiais pendurados nas paredes portam enormes arranjos com flores amarelas e brancas, que também enfeitam os vasos espalhados pelo chão. Janelas, paredes e praticamente tudo o que não era móvel está envolto em guirlandas. Há um punhado de mesas preparadas e cobertas com toalhas, nas quais cintilam pequenas contas de confete brilhante. Arcos decorativos ornamentam as costas das cadeiras.

Em um dos cantos, um bolo gigante com as cores do salão espera para ser cortado. Do lado, há uma pequena mesa com alguns presentes para a aniversariante.

Um quarteto de cordas domina uma das paredes e torva inútil minha tentativa de presente para Kriss. Havia ainda um fotógrafo que circula pelo salão captando momentos para o público.

O clima é de descontração. Tiny – que até então só havia conseguido se aproximar de Marlee – conversa animadamente com Emmica e Jenna, eu nunca a tinha visto tão animada. Marlee está parada em frente a uma das janelas, como se fosse um dos muitos guardas que pontilham as paredes. Ela não parece fazer a menor questão de sair de lá, mas para qualquer um que se aproxime para conversar. Todo mundo parece feliz e amigável.

Claro que há exceções, Bariel e Celeste, que parecem se corroer de inveja, além do fato de que, apesar de sempre tão inseparáveis, hoje estão em lugares extremamente opostos do salão. Bariel está conversando com Samantha e Celeste está sentada a uma das mesas, sozinha e agarrada a uma taça com um líquido vermelho. Eu com certeza tinha perdido alguma coisa entre o baile da noite anterior e aquela tarde.

Pego de novo o estojo do violino e me dirijo ao fundo do salão para cumprimentar Marlee.

– Oi. Que festa, não? – comento, deixando o violino no chão.

– Pois é – concorda Marlee, enquanto me abraça. – Ouvi dizer que Maxon passará aqui mais tarde para desejar pessoalmente feliz aniversário a Kriss. Não é lindo? Aposto que ele vai trazer um presente também.

Marlee age com o entusiasmo de sempre. Eu ainda me pergunto qual será seu segredo, mas confio o bastante nela para saber que tocará no assunto quando precisar desabafar e sentir confiança. Ficamos de conversa fiada por alguns minutos até ouvirmos um clamor coletivo na porta de entrada do salão.

Nós nos viramos para ver, e enquanto ela permanece calma, perco totalmente o fôlego.

Kriss tinha escolhido seu vestido de uma maneira incrivelmente estratégica. Lá estávamos nós, todas com roupas para o dia – vestidos curtos e bonitinhos –, ao passo que ela entra com um vestido longo de gala. Mas o comprimento era o de menos. O chamativo era a cor, um creme muito próximo do branco. Seu cabelo está arrumado com uma fileira de joias amarelas que ia de um lado ao outro da testa, sugerindo uma coroa. Kriss parece madura, nobre e esponsal.

Apesar de eu não saber ao certo onde meu coração estava, senti uma pontada de inveja. Nenhuma de nós teria um momento parecido. Não importa quantas festas ou recepções surgissem dali para a frente: seria ridículo tentar imitar Kriss. Reparo que a mão de Celeste – a que não está agarrada à taça – fecha-se, como se ela estivesse pronta para socar alguém.

– Ela está linda mesmo — comentou Marlee, animada.

– Mais do que linda — completei.

A festa continua, e Marlee e eu passamos a maior parte do tempo observando o movimento. Para nossa surpresa – e desconfiança – Celeste gruda em Kriss e não para de falar enquanto a aniversariante circula pelo salão para agradecer a presença de todas, embora na verdade não tenhamos escolha.

Ela cheia ao fundo do salão, onde Marlee e eu estamos, absorvendo a luz quentinha do sol que atravessa a janela. Marlee, com seu jeito de sempre, dá um abraço entusiasmado em Kriss.

– Feliz aniversário! – grita, animada

– Obrigada! – responde Kriss, com o mesmo entusiasmo e afeto que tinha recebido.

– Então, dezenove anos hoje, certo? – pergunta Marlee.

– Sim. Não consigo imaginar uma maneira melhor de comemorar. Estou tão feliz por estarem fotografando. Minha mãe vai adorar! Ainda que sejamos bem de vida, nunca tivemos dinheiro para fazer algo assim. É tudo tão lindo! – exclama Kriss.

– É impressionante mesmo – comenta Celeste. – No meu aniversário do ano passado, fiz uma festa do preto e branco. Um pouquinho só de cor e você não poderia nem passar na porta.

E ali estava a Celeste de sempre: sempre querendo que os outros se sintam menores, sempre querendo ser a superior.

– Uau – Marlee fala em voz baixa diante daquele óbvio sinal de inveja entre mundinhos fechados.

– Foi fantástico. Chefes de cozinha, iluminação teatral e música! Tessa Tamble pegou um avião só para ir à festa. Vocês já devem ter ouvido falar dela.

Era impossível não saber quem era Tessa Tamble. Ela tinha pelo menos umas dez músicas de sucesso. Às vezes assistíamos seus clipes na televisão, apesar das reclamações da minha mãe, que pensava que tínhamos muito mais talento que gente como Tessa. O fato dessa cantora ter dinheiro e fama e ela não, embora fizesse essencialmente a mesma coisa, mexe com os nervos dela.

– Ela é minha cantora preferida! – exclama Kriss.

– Bem, Tessa é uma amiga querida da minha família, por isso cantou na minha festa.

Sua voz melosa é irritante. Mais uma vez eu me sinto tentada a bater nela... É melhor nem pensar muito no assunto.

– Mas o que você faz, Celeste? Digo, no que trabalha?

– Sou modelo – ela afirma, com um tom de voz que dava a entender que eu já devia saber disso. – Você nunca me viu em um anúncio?

– Nunca tive o prazer. – menti com ironia. Volto-me para Kriss. – Trouxe meu violino para tocar para você hoje. Achei que seria um bom presente, mas já tem um quarteto, então acho que...

– Ah, toque para a gente! – implora Marlee.

– Por favor, America. É meu aniversário. – pede Kriss.

– Mas você já tem um...

Meus protestos acabaram por não importar. Kriss e Marlee já haviam pedido que o quarteto parasse e chamaram todas as garotas para o fundo do salão. Algumas levantam suas saias e se sentam no chão, ao passo que outras puxam algumas cadeiras do canto. Kriss fica em pé no meio do grupo, apertando as mãos de entusiasmo. Celeste permanece ao seu lado, com a taça de cristal na mão ainda pela metade.

Assim que todas ficam confortáveis, preparo meu violino. O quarteto de jovens que estava tocando antes se aproxima para me apoiar, e os poucos garçons que perambulavam pelo salão também param.

Respiro fundo e levo o violino ao queixo.

– Para você – falei com os olhos em Kriss, apesar de quão estranho aquilo soava.

Mantenho o arco suspenso sobre as cordas por alguns segundos, fecho os olhos e deixo a música fluir.

Por um momento, não houve Celeste perversa, nem Christian à espreita nos corredores, nem monstros tentando invadir a mansão. Houve apenas uma nota perfeita se prolongando até a seguinte, como que receosa de se perder no tempo sem a outra. Mas elas não ficavam juntas. Pairavam até as outras. E o presente que seria de Kriss tornou-se meu.

Troco a música – tão familiar quanto a voz de meu pai ou o cheiro do meu quarto – por uns breves e belos instantes, para depois deixá-la atingir seu fim inevitável. Passo o arco sobre as cordas pela última vez e o levanto.

Abro os olhos para verificar se Kriss tinha gostado do presente, mas nem ao menos vejo seu rosto. Atrás do grupo de meninas está Maxon. Ele está vestido com um terno cinza e carrega uma caixa sob o braço. As garotas aplaudem com muita gentileza, mas não posso prestar atenção no som de suas palmas. Só consigo focar Maxon, com uma expressão bela e maravilhada, que logo se converte em um sorriso. Um sorriso para mim e mais ninguém.

– Alteza. – digo, fazendo-lhe uma profunda reverência.

As outras garotas se levantam para cumprimentar Maxon. Em meio a tudo isso há um grito chocado:

– Ah, não, Kriss! Sinto Muito!


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Notas finais do capítulo

Ui, o que será? Quem já leu A Seleção sabe que cena é essa, quem não... até próxima semana...