Anjo da Água escrita por Chris Lima


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Então, pessoal, eu para compactar o tamanho da fic, eu juntei os capítulos pequenos em um só.Esse era os antigos cap 9 e 10



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Rápido, tragam-no para cá! – Gritou um dos soldados.

— A curandeira, chame-a depressa! – Falou Jordi ao ver seu amigo Mosheh extremamente machucado.

— Como isso aconteceu? – Perguntou Gale, um dos prodígios do ar.

— Agora não, Gale – Respondeu Jordi.

Poucos minutos depois a curandeira chegou e começou a analisar a situação daquele damaso. Sua face estava apreensiva, seus lábios cerrados e um olhar imensamente triste.

Terríveis horas foram aquelas que os damasos passaram sem ter qualquer resposta satisfatória daquela mulher. O império estava mais denso, irrequieto e as notícias corriam como a luz que conseguia encandear qualquer lugar com um piscar de olhos.

Seria aquele o fim de Mosheh?

Nem mesmo os damasos sabiam. Os três olhavam atentamente cada movimento, cada retrucar daquela velha. Eram muitas poções, elixires, súplicas aos deuses. Olhando de soslaio, a velha retrucou:

— Chamem minha bisneta, precisarei de sua ajuda.

Eurípedes ordenou a um guerreiro que fosse chamá-la.

Mais algumas horas voaram como o vento e o medo ficava como um inquilino no coração daqueles homens.

Melchior já não conseguia ficar parado, suas mãos formigavam, já era a quinta visita daquela mulher à Mosheh e ele não apresentou qualquer melhora, o ritual tinha que ser nos ditames dos deuses, sabia disso, mas ele acreditava que no mínimo ele teria que evoluir de alguma forma.

Talvez o fato de ele estar vivo signifique a prividencia divina.. Suas têmporas pareciam estar sendo esmagadas pelas mãos dos deuses ao pensar nisso.

O rosto daquela velha lhe era familiar.

Mas de onde?

Inquieto, dirigiu-se a janela daquele local e contemplou o choro da noite. As estrelas estavam tristes por correr o risco de perder um dos seus amantes.

Mosheh, caro Mosheh.., Quem diria que isso iria acontecer?

Poderia ser com qualquer um, mas ele era um ótimo guerreiro, nunca permitiria algo dessa forma.

— Mas o que aconteceu de fato? – Perguntou Melchior a um dos guerreiros.

— Não sabemos ao certo, estávamos em formação, iriamos ganhar. Mas por algum motivo Mosheh saiu de nossa visão. Não entendemos ao certo, ele não nos deu ordem para nada.

— Por acaso são anencefálicos? Ninguém o acompanhou? – Retrucou Jordi.

— Ora, quem iria comandá-los? – Continuou Eurípedes.

— Peço perdão, mas cabe a mim?

— Cabe a todos, quando se está em guerra, deve-se acima de tudo prezar pela vida de seu companheiro. Sua mão direita ataca, mas a sua esquerda defende. – Jordi estava nitidamente tomado pela ira, por pouco não acertou àquele homem alguns socos.

— Continue – falou Melchior.

— Nós os encontramos apenas de dia, estava muito ensanguentado. Nem acreditamos que era ele.

— Não entendo, porque permitiram que eles vivessem? Os vampiros sentem a nossa vitalidade. São capazes de ouvir o barulho de nossos sangues transitando em nossas veias. Se eles tivessem tal oportunidade de desmoronar nosso império, não titubeariam. – Disse Jordi.

— Compaixão não foi – Melchior arquejou uma de suas sobrancelhas.

O soldado que fora buscar a bisneta da curandeira acabara de chegar e ao vê-la, Melchior sentiu seu corpo se arrepiando dos pés à cabeça.

Aqueles olhos felinos.

Um nó em sua garganta se formou. Ele pensara que já estava triste o suficiente para não conseguir sentir mais nenhum sentimento, mas aquela garota provou-lhe o contrário.

— Porque demorou tanto? – Perguntou Jordi.

— A moça não estava na casa da curandeira, tivemos que procurá-la na cidade toda.

— Tempo é ouro, estamos a um dia te esperando, seja mais eficiente! – Retrucou Eurípedes.

— Entre – Disse Jordi apontando para a porta.

— Como é o seu nome, garota? – Perguntou Melchior.

Seriamente a garota virou-se e olhou para aquele enorme homem.

— Adriana.

Não demorou muito para a garota começar o ritual de súplica com sua bisavó. Ela estava concentradíssima em cada passo, cada palavra e cada gesto meticulosamente pensado que nem percebeu o olhar insistente de Melchior.

Aqueles olhos.

A persistência do damaso em olhar para aquela garota foi tanta que ele seria capaz de saber quantas vezes ela teria piscado desde o momento em que sua visão a alcançou. Será que ele deixaria ser levado novamente por aqueles pensamentos que por pouco destruiu sua vida no forte?

Mosheh com certeza não aprovaria isso.

Mas ele estava morrendo.

Não, ela era muito mais nova que ele.

De algum lugar ele já tinha visto tal olhar.

Sua visão foi impedida apenas por sua bisavó que ao terminar o serviço não demorou muito para perceber a insistência de Melchior.

— Já terminamos, está nas mãos dos Deuses agora.

— Só isso? Cinco visitas, um dia de viagem para você chegar até aqui para não falar absolutamente nada? – Perguntou Jordi.

—Sou uma curandeira e não uma vidente – respondeu a mulher e tratou de puxar o braço de sua bisneta.

Os três damasos acompanharam as duas até a saída do forte quando um dos guerreiros chegou de cavalo atordoado.

— O portão foi atacado! – Gritou desesperadamente.

— Como isso aconteceu? – Perguntou Melchior – Eurípedes permitiu isso?

Foi só então que os damasos perceberam que os quatro estavam no forte.

Isso não era bom, nada bom.

☾☾☾

Os damasos cavalgaram em direção à muralha, o tempo era crucial para determinar o destino de todo o império. Tempos difíceis... Enquanto cavalgavam pelas ruas das cidades, as pessoas saiam de suas casas e fitavam com ódio, temor, mas ao mesmo tempo com admiração àqueles homens.

Todos os cidadãos vestiam roupas rasgadas, havia muitos mendigos, mas tudo aquilo poderia piorar caso os vampiros invadissem o império. Mentalmente, Eurípedes pedia força divina e proteção aos seus irmãos. Entretanto, ao mesmo tempo, ele olhava para a pobreza daquelas pessoas e se preguntava se seria realmente uma tragédia sem precedente a invasão dos vampiros. Afinal, se todos fossem vampiros, as necessidades humanas passariam a ser supérfluas. Haveria apenas o gozo e a euforia.

— Que pensamentos são esses, Eurípedes? – ele mesmo se repreendeu em voz alta, porém, não tão alta o suficiente a ponto dos outros companheiros ouvirem.

Após um tempo de caminhada, os damasos passaram por todas as cidades possíveis que faziam parte do caminho até a muralha e única coisa que passaram a ver foi a natureza mórbida do império.

Tudo remetia a morte, fosse o silencio, a brisa fria, o barulho dos cascos das patas dos cavalos ao dar mais uma passada e até eles mesmo.

“Por que aquilo estava acontecendo?”

Eles sempre foram tão fiéis e determinados, mas o império estava em decadência. Se seus tutores vissem o estado atual de Dilecto, com certeza teriam vergonha e castigariam os atuais damasos.

Seria pura incompetência ou vontade divina?

Se nada passa aos olhos dos deuses, então por quê? Por que aquilo estava acontecendo? Por que existiam essas criaturas horrendas? Muito melhor seria se todos fossem normais e existisse apenas um rei e a sua nobreza.

Não haveria necessidade daquilo.

Será se esses deuses realmente estão do nosso lado? Será se eles realmente são os mocinhos? Ou somos apenas marionetes, brinquedo para satisfazer as peripécias divinas?”. Pensou Eurípedes.

Assim que chegaram à muralha, os damasos ouviam nitidamente o tilintar das espadas, o ranger da porta sendo violada.

Os três desceram dos seus cavalos e o exército que vinha atrás deles esperou o comando. No entanto, eles mal tiveram tempo de pensar.

A porta se rompeu e inúmeros vampiros foram de encontro a eles. O exército da muralha havia perecido. Restava a eles a missão de impedir aquela invasão.

— Atacar! – Gritou Jordi e todos os guerreiros avançaram contra aquelas abominações.

O que espantou os damasos não fora o ataque, mas sim a quantidade de vampiros. Eles seriam facilmente derrotados, mas como conseguiram chegar tão longe?

Mensuraram a quantidade que ainda estava guerreando com a quantidade que havia perdido a cabeça – literalmente e constataram que não passavam de cinquenta vampiros.

“Algo está errado” pensou Melquior.

Os vampiros tentavam furar o bloqueio que os guerreiros fizeram, mas sempre se frustravam. Os Damasos estavam sob a muralha, domando os elementos e controlando todos os pontos fracos de seu exército.

Jordi improvisou um portão de pura rocha, e Melquior lançava rajadas de fogo nos vampiros que não conseguiram ultrapassar a muralha até serem carbonizados, isso não os matava, mas ganhava tempo, pois se as cinzas continuassem juntas, certamente elas construiriam novamente o corpo do vampiro.

Ao olhar para trás, de longe, o damaso do fogo viu um desertor. Algum guerreiro estava fugindo daquela batalha. Mas qual deles seria capaz de tal covardia?

Aquela batalha estava longe de ser a mais difícil que foi enfrentada pelo império, não havia mais que trinta vampiros de pé e certamente não seria o último confronto enfrentado por eles.

Ele avisou aos seus companheiros e correu atrás daquele traidor.

Melchior desceu o mais rápido que pode as escadas da muralha enquanto acompanhava com o olhar aquela armadura dourada se locomover.

— Sua atitude não ficará em pune! – gritou o damaso do fogo ao fujão.

E o desertor correu mais rápido ao ouvir.

Então Melchior lateralizou seu corpo e fixou o seu pé direito em direção ao guerreiro. Por conta disso, iniciou-se um rastro de fogo que começou a perseguir aquele homem.

No entanto, o guerreiro perseguido conseguiu alcançar a floresta boreal daquele lugar. O damaso tinha duas alternativas: abandonar a luta a procura do guerreiro desertor ou proteger seu reino.

Ele optou por continuar no local e proteger seu império. Além disso, aquele soldado não iria muito longe, logo seria capturado e executado.

A batalha durou mais duas horas até o último vampiro ser decapitado.

Os damasos e os guerreiros fizeram questão de queimar o corpo dos vampiros enquanto fincavam a cabeça desvanecida em diversas estacas ao longo da muralha como uma espécie de aviso para as outras possíveis tentativas de invasão.

Aquilo não adiantaria muito, eles sabiam, mas o desejo de vingança pelo que aquelas criaturas fizeram a Mosheh era tão grande que qualquer atitude poderia descarregar um pouco da fúria que aqueles três homens estavam sentido.

Os damasos também estavam preocupados com Sachiel, pois caso o damaso da água falecesse, quem iria ensiná-la a domar a água? Pois, mesmo que os três pudessem ditar regras de como domar o elemento, apenas o tutor da água sabe todos os movimentos e possibilidades existentes para o seu elemento dominado.

Pobre garota.

Essa era mais uma situação que afagava o ego daqueles homens, pois eles sabiam que a garota estava sofrendo por perder a sua família, mas caso eles ignorassem a sua existência, seria o mesmo que condenar todas as famílias àquele mesmo destino de sofrimento.

Poucos deverão se sacrificar por muitos e ela era uma das pessoas que sofreria por um bem maior.

Quer ela queira ou não.

O desejo coletivo sempre supera o individual.

Importante lembrar também que ela seria considerada muito mais afortunada que todos os outros damasos e prodígios, pois ela foi a única que teve a possibilidade de conhecer e conviver com a sua verdadeira família, ela compartilha desse inferno há pouco tempo.

Seria até ingratidão da parte dela se negasse tal fato. Eles não tinham culpa do sofrimento dela.

Os vampiros eram os verdadeiros vilões.

Eles estavam nos últimos dias da lua nova.

Mesmo fracos, os guerreiros lutavam com toda determinação que tinham e a cada batalha vencida, a esperança de alguns aumentavam, mas a de outros se esvanecia como a uma poça de água em um dia bastante ensolarado.

E paulatinamente se reduzia a nada.

Eles se abrigaram junto aos guerreiros em uma taverna na muralha e decidiram criar novas estratégias para continuar essa guerra inacabável.

Com Mosheh ferido, eles precisariam traçar um novo rodízio entre os três para tentar suprir o mês de Mosheh. E certamente sabiam que um fato desse nunca mais poderia se repetir, pois aquilo custaria muito caro para toda a sociedade.

— O dia nascerá daqui a algumas horas, um de nós precisará ficar aqui. Precisamos decidir como ficará o novo rodizio sem Mosheh para nos auxiliar – disse Jordi, tentando organizar um pouco aquela interminável bagunça que estava aquela guerra.

 Como se fosse possível, sorriu para si mesmo.

Talvez organizar uma guerra fosse mais fácil que organizar a vida de uma pessoa, mas o problema é que a vida são batalhas diárias e, no final, não existe qualquer diferença de um combate armado.

Cada um sofre da sua maneira e a cada um cabe a possibilidade de lutar ou acovarda-se.

Desistir para eles não é uma opção.

— Sugiro que continue como sempre foi até o terceiro mês da fase da próxima lua, no último mês, quando chegar a vez de Mosheh, Jordi ficará os dez primeiros dias, expandindo seu mês para quarenta dias, depois virá nos dez dias seguintes Melchior, e logo em seguida eu virei dez dias antes do que é de praxe. Estendendo também o meu mês para quarenta dias. No caso, eu já terei de ficar aqui na muralha durante esse próximo mês de lua crescente. Concordam comigo? – Perguntou Eurípedes aos outros damasos.

Todos assentiram com a cabeça e uma rodada de suco de cevada foi servida àqueles controversos heróis.

  ☾☾☾

Os meses seguintes caminharam de forma tranquila, nada fora do comum aconteceu. Tirando a obsessão de Melchior por aquele guerreiro fujão que simplesmente sumiu sem deixar qualquer rastro.

A cada dia que se passava e Mosheh não apresentava qualquer evolução em seu quadro, o coração de quem convivia no reino sangrava, todos temiam o pior.

Além de todas essas desgraças, Sachiel ficava cada vez mais isolada. Comemorou seu aniversário sozinha com a presença ilustre de um bolo de lama, diversas lágrimas no rosto e a lembrança de seus pais e de seu irmão.

“Como ele foi sortudo, pensava ela”.

Ela sabia que ele tinha morrido, não era nenhum mistério, mas era isso que ela tinha inveja. Ele estava com os seus pais e ela estava no meio de estranhos que a maltratam diariamente.

Como ela sentia falta de sua família.

O seu longo cabelo ruivo ainda estava muito curto, as criadas da casa aparavam o cabelo dela de vez enquanto para que não crescesse irregular, mas ainda estava em um corte masculino, pois não cresceu mais que um palmo de sua pequenina mão. Ainda precisaria de muitos meses para que seu cabelo conseguisse atingir sua orelha e a deixar com uma aparência mais familiar para ela mesma.

Pois nem mesmo a garota se reconhecia quando olhava através do espelho. O que via, na verdade, era um garoto de vestido nas horas vagas, e quando ia treinar com o tutor que estava disponível, a túnica a deixava completamente masculina.

Os dias passavam de forma depressiva, quase se arrastando para a garota. Assim, lentamente e sofridamente, duas fases da lua emergiram e sessaram depois que ocorreu a tentativa mais concreta de invasão do império.

Nove meses se passaram.


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