Já era de manhã, Letícia socava o despertador que não parava de atormentar. Depois seguiu o seu ritual de sempre para se aprontar para ir ao colégio e como sempre, ficava sentada na cozinha, tomando o café da manhã, enquanto sua irmã demorava décadas para se arrumar.
- Mãe! – Letícia gritava, revirando os armários.
- O que foi, Le? – Clarice se aproximava da porta da cozinha.
- ACABOU OS CHICLETES?! – Letícia parecia desesperada.
- Eu joguei todos fora. – disse a mãe.
- COMO ASSIM?! – Letícia ficou boquiaberta. – MEUS CHICLETES!
- Você não vai mais comer chiclete, parece uma fumante, não para de mascar o dia inteiro, chega, você não come nada saudável, não é a toa que passa o dia inteiro irritada com a vida.
- Isso não é verdade... – Letícia tentava se defender. – Isso é mentira. – Porém a jovem não aparentava encontrar argumentos plausíveis.
- Estou pronta. – Priscila descia as escadas, vestindo um jeans do qual ela mesma havia desenhado, e uma blusinha decotada.
- Você vai para a faculdade assim? – Letícia dizia num tom grosseiro.
- Ai credo, do jeito que você fala parece até que eu estou pelada. – Resmungou.
- Quase minha irmã, quase.
- Letícia, para de ser resmungona, um dia você vai me agradecer por ter tirado seu vício de chiclete. – Dizia a mãe, se aproximando das filhas, dando-lhes um beijo de despedida.
Letícia apenas retribuiu de mal jeito, odiava ser contrariada logo de manhã, faria seu dia péssimo.
A jovem entrou no carro da irmã de cara fechada, Priscila pensou que fosse realmente melhor deixá-la como estava, sabia que não conseguiria animá-la logo de manhã, talvez mais tarde.
- Está entregue. – brincou, Priscila.
Letícia olhou, e sorri, obviamente que forçado, mas mesmo assim se despediu educadamente e entrou na escola.
- Bom dia! – Mariana se aproximava da amiga, cumprimentando-a.
- Ah, não tem nada de bom. – Letícia, resmungou.
- O que foi?
- Ah, as vezes as mães acordam implicando...
- Deixe-me adivinhar. – Mariana a interrompeu. – Sua mãe não te deixou comer chicletes.
- É! – Letícia dizia num tom incrédulo, como se sua mãe tivesse feito uma enorme injustiça. – É APENAS CHICLETE! Eles são mascados e jogados fora.
- Letícia, até eu mesma às vezes implico com você por causa disso, você é realmente e loucamente viciada em CHICLETES! – Mariana chamava a sua atenção, pousando a mão em seus ombros. – Sua mãe ia dar um basta nisso, logo, logo, era óbvio, eu bem que te avisei, o seu vicio é absurdo!
- Ninguém enchia o saco daquela menina da fantástica fábrica de chocolates por causa do chiclete...
- Amiga, aquilo é só filme. – Mariana deu uma gargalhada descontraída.
- Você me acha com cara de fumante? – Letícia fez um bico.
- Não. – Mariana respondeu diretamente. – Fique tranqüila.
- Oi, Letícia. – De repente, uma voz da qual ela não esperava ouvir justo naquela hora, a voz apesar de sutil e simpática, fez com que seus ouvidos roessem de raiva.
- O QUE É BRIAN?! – Letícia se virou, berrando com o rapaz por impulso.
Obviamente, Brian não esperava por aquilo, recuou rapidamente de olhos arregalados.
- Desculpa... se... – Brian coçou a nuca. – Se te assustei, eu acho. – O garoto olhava de modo confuso.
Letícia apenas revirou os olhos.
- Bom dia pra você também. – completou ele.
- Bom dia. – Letícia respondeu, ríspida.
- Lembra do que eu te prometi hoje, não lembra? – Brian se aproximou, com um sorriso.
- O que?
- Vou te provar que não sou nenhuma bichona eletrocutada.
Mariana deu uma risada, porém segurou o riso quando Letícia a encarou.
- Sente tanta necessidade disso assim? Otário. – Letícia o fuzilou com os olhos e saiu andando.
Brian ficou para trás boquiaberto, sentiu uma batata enorme entalada na garganta, sua vontade era de correr atrás da garota e lhe dar uma boa lição de boas maneiras.
- AI ESSA GAROTA É UMA MALA SEM ALÇA! – Berrou, irritado.
- Calma... – Disse Mariana com tranqüilidade. – Ela só não acordou muito bem.
- Ela nunca acorda bem pelo que me parece. – Brian revirou os olhos.
- Olá. - a voz angelical de Juliana ecoava em seus ouvidos.
- Oi Jú. – Mariana a cumprimentou, educadamente. – Bom, preciso ir ver se a Letícia está bem, até daqui a pouco.
- Você é amigo delas? – Perguntou Juliana, olhando para o rapaz como se ele fosse um pedaço de carne.
Brian já entendera aquele olhar, deu um leve meio sorriso, era especialista em meios sorrisos sensuais, diga-se de passagem.
- Sei lá. – respondeu confuso. – Você anda com a turminha da Letícia, não é?
Juliana revirou os olhos.
- Não costumo a me intitular da turminha da Letícia. – Logo a garota voltou a sorrir. – Mas... Pode me chamar de Juliana.
- Pode de chamar de Syn, é para os mais íntimos.
- Para os mais íntimos? Então eu deveria te chamar de Brian.
- Não por muito tempo. – Brian encarou a jovem e umedeceu os lábios.
Juliana engoliu seco, mas estava gostando de flertar com o rapaz.
O sinal finalmente tocara, interrompendo aquela amizade colorida.
- Vamos para a aula? – perguntou Juliana.
- Claro. – Brian deu um sorriso, caminhando ao lado da moça.
Durante o caminho, Brian e Juliana trocavam assuntos diversos, sobre seus gostos, e por impulso Brian aproveitava a oportunidade de perguntar algumas coisas sobre Letícia, e a única coisa que pode concluir era que a jovem seria o seu maior desafio, e ele gostava dessa simples idéia, era a oportunidade perfeita para provar a si mesmo de que ele conquistava tudo aquilo que queria.
Assim que os dois chegaram até a sala, Letícia estava virada para trás conversando com João, Mariana e Bianca.
- Oi, medrosa. – Brian sussurrou no ouvido da jovem, que deu um salto de susto.
- Você já me deu oi hoje, seu idiota. – Letícia o encarou.
- É tão engraçado te ver levando susto... Você não é tão corajosa assim como parece, não é? – Brian parecia ter necessidade de cutucar a onça com a vara curta.
- Cala essa boca, seu cretino! – Letícia ainda o encarava, sem nem ao menos hesitar.
- Letícia, não precisa ficar falando assim com as pessoas, está bem? – Juliana se posicionou em meio a confusão.
Letícia apenas revirou os olhos e voltou a conversar com seus amigos.
- Vem Jú. – Brian dizia em alto e bom tom, para que Letícia entendesse claramente suas palavras. – Vou te contar como Letícia age quando fica presa no elevador.
Letícia Edu um murro forte na mesa se virando para trás pronta para lhe dizer umas poucas e boas.
- CALMA! – João a segurou, impedindo que se levantasse. – Não vale a pena ficar se estressando com ele, Le. – ele então, lhe deu um sorriso e a abraçou.
Letícia respirou fundo, olhando apenas de relance para trás, Juliana se sentava ao lado de Brian se os dois começaram a olhar descaradamente para jovem e rir, o coração de Letícia acelerava de fúria, Juliana era sua amiga e estava rindo da sua cara, enquanto Brian se aproveitava de seu estresse diário.
- Eu odeio ele. – dizia.
- Letícia, esquece esses dois, deixa Juliana lá, ela não pode ver um homem mesmo. – Dizia Bianca, ás gargalhadas.
Letícia se virou para frente assim que ouviu o professor se manifestar para que todos se silenciassem, estava tão irritada que nem ao menos havia percebido que o professor já havia entrado.
- Ele é tão babaca. – Letícia porém, continuou reclamando.
- LETÍCIA! Quer fazer silencio, por favor? – o professor dizia irritado.
De repente, todos se viravam para trás boquiabertos.
- Des... desculpe. – Letícia queria se enterrar no concreto.
As aulas passaram-se lentamente, principalmente porque a atenção de Letícia estava ás suas costas, aquelas risadas, aqueles bilhetinhos e sorrisos de Brian e Juliana trocavam, estava tirando-a do sério.
O sinal tocou.
- LETÍCIA! – Mateus berrava, antes que Letícia se levantasse para sair da sala.
João encarou o rapaz de modo estranho, porém saiu da sala com Mariana e Bianca.
- Eu consegui... – Conforme Mateus falava, Letícia começou a se levantar e caminhar para a porta. - ... Aquele DVD do Metallica que você queria, se quiser eu te empresto.
- AI SÉRIO?! – Letícia respondeu animada, e falou claramente alto, Brian e Juliana estavam encostados na porta conversando aos cochichos.
- Sério. – Mateus sorriu. – Vou gravar para você e te dar de presente.
- Obrigada, Mateus. – Letícia estava sendo anormalmente simpática, até mesmo abraçou o rapaz, que ficou espantado com tanta doçura.
- De...de nada... – Mateus olhava confuso. – Você está bem?
- Estou ÓTIMA! – Letícia sorria, feliz.
Letícia e Mateus começaram a caminhar para o lado de fora da classe, e exatamente para provocar, Letícia trombou os ombros em Brian, que a encarou de relance.
Como Clarice não deixara a filha se apoderar de chicletes, Letícia aproveitou o intervalo para comprar alguns, clandestinamente.
- Vou contar para a sua mãe. – Zombava Mariana.
- GENTE! – Bianca chamava a atenção. – Olha lá! – dizia ela apontando para o horizonte, Brian estava saindo de trás de muro coberto por algumas árvores para enfeitar o pátio do colégio, logo atrás dele, estava Juliana, radiante, com os dedos nos lábios.
- Que trouxa. – resmungou Letícia, abrindo um chiclete e colocando na boca. – Minha vida ficou mais doce agora. – respondeu a jovem, sorridente.
- A Juliana é muito besta pra ficar com esse cara. – resmungou Bianca. – Sei lá, parece tão... metido a besta.
Letícia apenas concordou com a cabeça, se deliciando com o chiclete.
- Acho que ele está vindo para cá. – Dizia Bianca.
Brian estava caminhando na direção de Letícia e olhando-a fixamente, assim que estava perto o suficiente, pegou na mão da jovem.
- Vem aqui. – disse.
- O que? – Letícia olhava para o rapaz,confusa.
- Vem logo. – Brian começou a puxar.
- NÃO! – Disse Letícia irritada.
- VEM! – Brian continuou puxando a jovem.
- Ela disse não, então solta ela. – João deu um passo a frente.
- Escuta aqui, idiota. – Brian encarou João. – Eu não vou me arriscar a ser expulso de outra escola por brigar com você, então não se mete.
- Eu não me importo de ser expulso. – João o encarou, caminhando bruscamente na direção de Brian.
- EI! Parem! – Letícia alterou a voz. – Está tudo bem, João. – A jovem se virou para Brian. – O que foi?
- Vem comigo. – O rapaz começou a arrastar a jovem para o mesmo muro onde estava com Juliana.
Letícia caminhava lentamente, quase para irritá-lo.
- Dá pra me soltar? – resmungou. – Eu sei andar.
Brian simplesmente a soltou revirando os olhos.
- O que você quer? – perguntou, enquanto Brian a empurrava contra a parede do muro.
- Eu disse que te provaria.
Letícia engoliu seco, olhando-o, assustada.
Brian simplesmente se aproximou lentamente, barrando sua passagem com os braços, Letícia estava completamente prensada contra a parede, Brian se aproximava tanto que Letícia podia sentir sua respiração irregular.
- Eu... – Brian a olhava nos olhos, enquanto a jovem tentava manter a respiração estável. – FIQUEI COM A SUA AMIGA! – Brian começou a gargalhar e se afastou da jovem.
- E daí? – Letícia cruzou os braços não mostrando nenhuma reação e ergueu uma das sobrancelhas.
- Como e daí? Isso prova que eu não sou gay. – Brian revirou os olhos.
- Escuta aqui, o dia que você deixar de ser tão infantil me avisa, ta? – Letícia esboçou um sorriso. – Não acredito que você perdeu o seu tempo para tentar me provar uma coisa tão estúpida, se você fosse homem de verdade, seria seguro o suficiente com a sua sexualidade e não precisaria provar isso a ninguém. – Agora quem gargalhava, era Letícia.
O peito de Brian inflou.
- Sua amiga é muito gostosa, vou ficar com ela. – O jovem simplesmente tentava controlar o ódio que estava sentindo, se sentia tão estúpido e palhaço... Que garota intrigante, adversária extremamente párea para ele, ou até mesmo, para o seu maior pavor, ela o superasse.
- Posso ir agora? – Perguntou Letícia, com um sorriso esnobe.
- E o que te prende aqui? – perguntou ele. – Está emocionada por estar comigo aqui sozinha?
Letícia deu gargalhadas.
- Você é cômico. – Letícia umedeceu os lábios e se aproximou perigosamente do rapaz, mais um passo e seus lábios se selariam. – Para de sonhar, e vê se cresce, garotinho. – Letícia simplesmente deu as costas, se retirando do local.
Brian explodiu.
- ESCUTA AQUI!
- Brian? Letícia? – Juliana trombou com Letícia. – O que vocês estão fazendo aí sozinhos?