Com Amor não se Brinca escrita por Bubees


Capítulo 53
Não desista.




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Dias atuais.

Brian’s POV.

De repente, toda a minha vida com Letícia passou diante de meus olhos, e quanto eu mais me lembrava daquele fim trágico, mais lágrimas escorriam pelo meu rosto dos meus olhos incansáveis.

Ainda não entendo como viemos parar aqui. Eu geralmente só me lembrava das coisas boas, porém a minha dor me fazia ter a certeza de que coisas terríveis aconteceram com a gente.

Eu não sabia como ela estava e a espera me deixava ainda pior. Já tinha ligado para Diego, que ficou desesperado ao receber a notícia, pedi para que avisasse Clarice e então liguei para Mariana pedindo que avisassem os outros. James estava aqui comigo, mas pouco falava, não havia palavras para me dizer naquele momento. Logo todos estariam aqui exigindo explicações sobre o que poderia ter acontecido e a única coisa que eu saberia dizer era que a culpa foi minha.

Não havia perdão por aquilo que eu havia feito. Eu estava prestes a perdê-la por algo ainda pior. Iria perdê-la pela eternidade! Perdê-la para a morte era muito pior. Quisera eu que aquele carro tivesse me atropelado, que meus pais fossem separados devido uma traição cretina de meu pai, que eu tivesse medos e incertezas. Eu queria mais do que qualquer coisa roubar todos os medos e angústias da minha pequena. Queria ser o seu pilar de sustentação... Pelo menos era isso que eu deveria ter sido. E não fui. Eu era um fraco.

Minhas lágrimas ainda insistiam em cair de meus olhos. Os calmantes que me deram quando cheguei aqui já não faziam mais efeito. Meus músculos tornaram a tremer como se eu tivesse perdido a sanidade, mas eu não perdi. Sabia exatamente bem o que estava acontecendo.

Era terrível simplesmente esperar e não poder fazer nada. Principalmente esperar por boas notícias e algo dentro de mim dizia que ela improvável, havia muito sangue... Ela havia batido a cabeça no meio fio da calçada. Foi lançada tão longe, parecia até que voava, o meu anjo.

Levantei-me, indo até a janela, esperando pelo pior. Eu pularia dali de cima sem hesitar, minha vida já estava perdida e eu já estava morto a partir do momento em que eu a fiz sofrer... Quando apostei nossos sentimentos sem ter consciência dos meus. Meus sentimentos... Antigamente tão duvidosos e agora tão dependentes dela como o ar que eu preciso para respirar. Aquela aposta iniciaram as desconfianças e aumentaram o medo que ela sentia em sofrer.

Olha só onde nós estamos agora. Em um hospital, apenas esperando que Letícia não nos abandone.

- MINHA FILHA! – De repente, ouvi a voz de Clarice. Estava alterada, trêmula, ouvia que ela chorava. – ONDE ESTÁ A MINHA FILHA?! – Ela se aproximava de mim, agarrando a gola de minha camisa, sacudindo-me bruscamente. – O QUE ACONTECEU COM ELA?!

Eu não conseguia responder nenhuma de suas perguntas. Era como se meu cérebro estivesse travado e por mais que eu tentasse, não conseguia projetar nenhuma resposta.

- CALMA! – Dizia Diego, puxando-a para um abraço forte.

Clarice se entregou àquele abraço e chorava aos soluços enquanto Diego insistia em acariciá-la.

Olha só o que eu havia feito com aquela família.

Eu queria explodir. Percebi que a minha respiração estava cada vez mais ofegante e de repente senti que minhas pernas deixaram de existir. Bati as costas com força contra a parede, estava tonto, com falta de ar.

- SYN! – Ouvi a voz de Mariana se aproximando de mim. – O que aconteceu? Onde ela está?

- Eu... quero... morrer...

- Syn, para de falar isso. – Ouvia a voz firme de James. Posso jurar que nunca o vi falar tão sério da vida.

- Syn, não fala isso... – Agora eu ouvia a voz de Bianca. – Precisamos de você bem agora! Diego levou Clarice para tomar uma água, ela está arrasada... Seja forte, precisamos apoiá-la.

Senti meu corpo suspenso por dois lados. Abri os olhos e vi que João e James me erguiam do chão.

Sentei-me em uma das cadeiras de plástico da angustiante sala de espera, que deveria mais é se chamar de sala de tortura.

- Responsáveis por Letícia? – Um médico de repente se aproximou de nossos corpos tensos.

Pude perceber agora com mais clareza que todos estavam chorando. Até James... Inclusive Diego, que sempre demonstrou uma aparência forte, mas ele chorava em silêncio, não querendo chamar muita atenção.

O que eu havia feito, meu Deus?

- Como ela está? – Perguntou Clarice, ainda entregue às lágrimas. – Eu sou a mãe dela, doutor.

A feição do médico não era boa.

- O caso dela é preocupante. – Dizia. – Fizemos uma transfusão de sangue, o braço e a perna esquerda sofreram fraturas, mas o que mais me preocupa é a pancada na cabeça. Foi muito forte, precisamos ficar bem atentos a ela, a cada segundo pode sofrer complicações ou melhoras, ela ficará em observação. Por enquanto não há nada que possamos fazer. Há também ferimentos por todo o corpo como arranhões e alguns cortes, mas esses não são graves.

- Mas ela vai ficar bem? – Diego perguntou.

O médico manteve silêncio por alguns instantes. Isso me assustou.

- Ainda é muito cedo para dizer qualquer coisa. – Disse por fim. – O caso dela realmente é muito grave... Não sabemos nem se ela abrirá os olhos novamente.

- NÃÃÃO! – Clarice berrava, soluçando e abraçando Diego.

Meu Deus, era muita dor ao meu redor. Aquelas pessoas fizeram de tudo para ver a minha pequena sorrir, para vê-la feliz e eu de repente apareci e destruí com tudo aquilo. Eu precisava assumir logo a minha culpa, iria me sentir bem por sofrer mais.

- A culpa foi minha. – Disse por fim.

- Syn, a culpa não foi sua... Foi um acidente. – Diego me olhava, sério.

- Mas se eu não tivesse errado tanto... – Sussurrei para mim mesmo.

Será mesmo que só foi um acidente? Talvez eu não devesse correr tanto atrás dela para que ela não fugisse de mim daquela forma.

Eu não podia mais suportar aquilo. Letícia estaria muito melhor sem mim. Não estaria prestes a morrer se não fosse por mim. Aquele amor todo que eu sinto, não foi o suficiente. Eu destruí tudo.

O choro ao meu redor não me dava trégua. Eu precisava sair dali, eu precisava sumir de uma vez.

Sai correndo, sem avisar ninguém. As ruas me olhavam indiferentes, como se eu fosse simplesmente mais um.

Cheguei ofegante ao meu apartamento, mas nem o cansaço aliviava a minha dor. Eu não sabia mais o que fazer. Fechar os olhos e partir desse mundo seria muito mais fácil do que continuar vivendo esse momento angustiante.

Toquei o trinco da porta, imaginando quantas vezes que Letícia já deveria tê-lo tocado. Ela enchia esse lugar de alegria com aquele jeitinho brusco de ser. Ela era barulhenta, resmungona, viva! Tinha uma risada tão cativante que sempre que eu ouvia, tinha vontade de rir com ela. Ela tinha suas cores tão vivas. O vermelho forte, os olhos verdes, a pele tão branca que até mesmo cintilava.

Agora, tudo estava morto, quieto, em tons de cinza, sem perfume. Apenas uma massa sólida e nublada que afundava meu peito.

Fui para o quarto, lembrando-me instantaneamente que ainda não havia lido pequeno papel da carta que eu roubei de seu bolso um dia desses.

Será que lê-lo me faria sofrer mais ainda? Talvez fosse bom. Assim eu me livrava em migalhas da minha culpa.

“Soneto ao Vencedor.

Vejo em seus olhos o quanto o decepcionei,
Enquanto o medo perfura os meus
E seus toques exalam um perfume do qual não quero sentir
Vejo quão incansável, você.

Quantas vezes insistiu em me erguer?
Quantas vezes desdobrou meus lábios em sorrisos?
Quantas vezes roubou-me o ar para si?
Quantas vezes você me desarmou!

Agora, uma guerreira sem armas,
Luta a guerra perdida entre seus braços
Que faz meu sangue palpitar diante minha instante vida eterna

Somente seus braços me matam trazendo-me à vida...
Como foi que você fez?
Lua minha, cometi a besteira de me apaixonar.”

Era um soneto? Letícia havia escrito um soneto para mim?

Ela já me via como vencedor. Eu tinha seu amor... Então como foi que tudo isso aconteceu?! Do jeito que ela disse nesse texto parecia que eu a fazia bem... Por que seria uma besteira? Por que não estava dando certo? Por quê?!

Sentei-me a beira da cama, deixando que aquelas perguntas ecoassem na minha cabeça.

O céu estava sendo generoso demais comigo ao esboçar um céu onde a lua cheia estava pintada de forma tão cintilante. Eu sabia o quanto Letícia gostava de admirar aquele brilho.

Fechei os olhos, sentindo o vento gelado bater contra meu rosto, sentindo o perfume doce de Letícia invadir minhas narinas como se aquele cheiro estivesse impregnado em meu quarto. Eu estava rodeado em um mar de Letícia. Nada do que eu fizesse me faria esquecê-la. Nada faria com que eu esquecesse o que eu fiz.

Aquela dor continuava rasgando violentamente meu peito por dentro, era como se aos poucos o ar que atravessava meu pulmão me cortasse como se fossem pequenas lâminas afiadas, não me restava mais lágrimas, me restavam apenas o vazio e as lembranças.

Só me dei conta de quanto tempo fiquei ali, ao perceber que o céu já se misturava em um laranja intenso, com um azul calmo. Estava amanhecendo, e eu nem se quer mudei de posição.

De repente, ouvi a campainha tocando.

Não respondi.

- BRIAN! VOCÊ ESTÁ AÍ?! – Ouvi um leve ranger a porta, como se estivesse me avisando que alguém estava entrando ali. Aquilo não me importou nenhum pouco.

Respirei fundo, ainda encarando a janela entreaberta.

- BRIAN, CADÊ VOCÊ?! – Aquela voz conhecida ainda continuava a me chamar, e eu ainda não encontrava minha voz para lhe responder.

Preferia ficar em silêncio, sentindo como se eu estivesse deixado de existir.

- AH! VOCÊ ESTÁ AÍ! – Ouvi a voz de João ainda mais próxima, e seus passos cautelosos se aproximando de mim. – Cara, a gente te ligou várias vezes, por que não atendeu?

- Não ouvi o telefone tocar. – Disse apenas.

- Não? – João perguntou de uma forma como se parecesse surpreso. – Vim te avisar que... A Letícia acordou.

- O que?! – Agora eu quem estava surpreso. – Que bom! – Suspirei, aliviado. Sentindo pela primeira vez uma fração de todo aquele peso que eu carregava nas costas se dissolver.

- Por que você foi embora? – João se aproximou ainda mais me mim, tocando suas mãos em meus ombros.

Havia ficado tanto tempo naquela posição que assim que ele me tocou, senti minha coluna latejar.

- AAAH! – Gritei ao sentir minhas costas pulsarem, me erguendo da cama por impulso, sentindo uma leve tontura, e novamente caindo sobre a cama.

- BRIAN! Cara, você está bem? – João se aproximava de mim, colocando suas mãos por trás das minhas costas, ajudando-me a me sentar novamente.

- Obrigado. – Respirei fundo, tentando estabilizar minha respiração e meus movimentos. – Estou melhor... – Avisei.

João simplesmente se sentou ao meu lado, e ficou me encarando.

- Por que você foi embora? – Perguntou novamente.

- Ela vai ficar melhor sem mim. – Respondi apenas.

- O que? – João me encarou incrédulo. – Eu vim te buscar para ir vê-la...

- Eu não vou... Você não sabe como foi vê-la sofrer tantas vezes ainda mais por minha causa... Agora olha só o que eu fiz... Eu quero que ela seja feliz... Não posso continuar fazendo isso com ela.

- COMO É QUE É?! – A voz de João de repente de alterou, e ele se ergueu da cama, me encarando. – O QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO, CARA?! – Nunca tinha visto João agindo daquele jeito.

- JOÃO! – Esforcei-me novamente para me manter de pé. – EU ESTOU FAZENDO ISSO PELA FELICIDADE DELA! – Debati, irritado. Como ele não poderia me entender? Logo ele que participou de toda a história.

De repente, percebi os olhos de João me encararem com ódio. Seu punho, bruscamente acertava o centro da minha face.

Não reagi, simplesmente cai novamente contra a cama, sentindo meus lábios latejarem e o sangue quente escorrer pelo meu queixo. Ele havia me acertado com toda a raiva que ele estava sentindo de mim naquele momento. Eu não poderia culpá-lo.

- OLHA, VOCÊ SABE MUITO BEM O QUE EU SINTO PELA LETÍCIA...

- ENTÃO A FAÇA FELIZ POR MIM! – Pedi, o interrompendo.

João me olhou boquiaberto. Percebi que ele estava indignado com aquela minha atitude, mas eu acreditava que essa atitude era a melhor possível.

- CALA A BOCA, BRIAN! – João berrava. – DESDE O MOMENTO EM QUE ELA ABRIU OS OLHOS ELA SÓ CHAMAVA O SEU NOME!... Não sou eu quem a deveria fazer feliz! Por mais que eu gostaria... MAS NÃO SOU EU! Não precisa ser muito esperto pra perceber isso. – João continuava me encarando. Por um momento imaginei que ele me bateria novamente. – VOCÊS ESTÃO SOFRENDO POR QUE QUEREM!

Engoli seco, tentando entender aquelas palavras duras. Como alguém poderia sofrer por que simplesmente quer?

- Você vai abandoná-la de novo? – João me encarava com os olhos brilhantes. Parecia que estava prestes a chorar.

- Eu nunca a abandonei. – Debati.

- SIM! – João novamente gritava, me encarando com ódio. – VOCÊS DOIS! Vocês deixaram que todos os problemas fossem mais fortes do que vocês! Não lutaram o suficiente! QUANDO vocês vão entender que pertencem um ao outro?! Não se pode decidir seus sentimentos! Se juntos vocês já possuem problemas... Separados vocês MORREM! LITERALMENTE! – João se aproximava, encarando meus olhos. – Syn... Vocês são “Brian e Letícia”, são como uma única palavra. Ela precisa de você agora!

Eu simplesmente o encarava, sem saber o que dizer.

- As pessoas ao redor de vocês estão sofrendo, porra! TUDO POR CAUSA DESSA BURRICE TODA DE VOCÊS DOIS! CHEGA! NINGUÉM AGUENTA MAIS! NINGUÉM QUER PERDER A LETÍCIA, VOCÊ NÃO PODE FAZÊ-LA ESPERAR! ELA PRECISA DE VOCÊ, CARALHO! DE VOCÊ E APENAS DE VOCÊ! Se uma palavra for escrita pela metade... Ela não quer dizer nada!

Fiquei incrédulo com aquela atitude de João. Ele sempre foi apaixonado pela minha pequena e isso não era segredo para ninguém. Se eu tivesse um pouco da determinação de João já seria uma coisa e tanto.

Apesar de tudo, ele veio até mim. Apesar de tudo ele sabe que eu e Letícia somos como uma palavra. “Brian e Letícia”.

Fomos realmente tão idiotas... Deixamos que tudo fosse mais forte e de nada adiantou. Nossos sentimentos ainda insistem em palpitar alto. Tínhamos que ir na contramão! Não era esse o momento de eu fraquejar. Era o momento deu ser mais forte do que tudo, era o momento em que eu deveria declarar o amor como grande vencedor.

João estava impaciente com a minha falta de resposta. Ergui a cabeça e vi uma lágrima solitária cair pelo seu rosto.

- Eu não acredito que você vai fazer isso com ela... – Ele murmurava, dando meia volta, pronto para se retirar do meu quarto. – Você é um idiota! Um filho da puta!

- Vou lavar o rosto, me espera. – Disse, me erguendo da cama.

- O que? – João interrompeu o passo, girando o corpo para mim.

- Eu vou com você.

No exato momento, João me esboçou um largo sorriso. Percebi que ele ainda estava um pouco surpreso. Devia estar se sentindo orgulhoso de si mesmo pelo que fez pela minha pequena. Ele era realmente um grande amigo. Digno de ser rotulado melhor amigo. Letícia merecia alguém assim ao seu lado.

Retribuí o sorriso, não querendo perder mais tempo e indo direto para o banheiro.

Nunca imaginei que eu poderia ficar tão abatido. Meus olhos estavam inchados, combinando com o meu lábio inferior cortado e ensangüentado.

Lavei o rosto depressa, sentindo a água fria anunciar meus músculos rígidos. Eu estava tão dolorido, mas agora nada iria me impedir de vê-la e de lutar por ela até o último segundo da minha vida.

- Como você veio? – Perguntei, enquanto enxugava o rosto na toalha.

- Diego me trouxe. – Dizia João. – Está nos esperando...

- João, se você ama a Letícia... Por que veio?

João me encarou um tanto pensativo, e logo uma expressão alegre tomou conta de sua face.

- Minha vida é ver a Letícia feliz, e só você pode fazer isso por mim... – João respirou fundo, dando uma leve risada. – Ela é minha melhor amiga, e eu acredito que tenho outra pessoa para fazer feliz... Meu amor pela Letícia é de proteção. Eu preciso vê-la feliz, é o que eu quero e acredito que ela mereça mais do que ninguém.

- Obrigado. – Lhe disse, sentindo meu coração saltar. Nunca ouvi palavras mais sinceras. Estiquei os braços na direção de João.

- Isso não vai ser meio gay? – João me perguntava, encarando meus braços.

- Rapidinho. – Disse.

João, então, rapidamente esticou os braços, dando-me um forte abraço que não durou muito tempo, e então nos afastamos.

- Isso não aconteceu. – Disse, não podendo evitar rir.

- Não mesmo. – Concordei, também rindo.

Eu me sentia melhor. Era irônico dizer que foi graças ao João, mas de fato foi.

Agora o que eu mais queria era ver minha pequena, falar com ela e fazer com que ela saiba que eu jamais sairia do seu lado, nada mais iria nos separar.

- Espere aqui. – Dizia Diego, assim que chegamos ao hospital. – Vou falar com Clarice para que ela os deixe a sós.

- Tudo bem. – Respondi apenas, sentindo meu coração bater loucamente dentro de meu peito. Daqui a poucos instantes eu iria vê-la.

Fiquei esperando por alguns instantes e pensando no que dizer. Desculpas não eram suficientes... Não depois de toda a história que tivemos juntos. Eu era louco por ela e ponto final. Estava me sentindo mais idiota ainda por quase ter dado as honras para João, mas não... Era com ela que eu deveria ficar.

Estava inquieto, andando de um lado para o outro, não queria mais esperar, precisava vê-la logo.

Aproximei-me da porta, girando o trinco lentamente. Meu coração parecia reagir loucamente com a presença da minha pequena. Parecia que ele iria sair pela boca e minhas mãos tolas suavam e tremiam.

Abri a porta e vi Clarice com a mão sobre a barriga de Letícia e Diego com as mãos grandes sobre as de Clarice, acariciando-a.

Letícia era como o sol. Tudo girava ao seu redor. As pessoas mudavam de atitude conforme as suas. Todos eram atingidos e sensibilizados com o seu brilho natural. Quentes e com cores tão vibrantes que eu mesmo me sentia obcecado.

- Sy-syn... – Ouvi Letícia sussurrando.

Pensei que fosse enfartar naquele exato instante.

- Ele já está aqui, minha filha... – Dizia Diego, com tranqüilidade. – Vem Clarice, deixe-os a sós.

Clarice se ergueu da cama, girando seu corpo para mim. Lágrimas escorriam pelo seu rosto, e ela se aproximava de mim com um olhar triste, como se estivesse pedindo por piedade.

- Ela não para de repetir isso... – Ela sussurrava em meus ouvidos. – Ela só te chama.

- Ela está muito lenta... – Dizia Diego, abraçando Clarice. – E os reflexos estão péssimos... Por favor, não a deixe falar muito.

- Tudo bem. – Concordei também com a cabeça.

Diego fechou a porta, e agora só restava apenas eu e a minha pequena naquele quarto.

Como queria livrá-la de todos aqueles aparelhos, daquela dor toda.

Estava tão pálida quanto os lençóis que a rodeavam, parecia que algo havia ofuscado todo aquele brilho que ela tinha, mas mesmo assim, eu sabia que aquele mesmo brilho ainda estava escondido por aí.

- Sy-syn... – Ouvi mais uma vez.

- Estou aqui, minha pequena. – Me aproximei rapidamente de sua cama, apertando levemente sua mão boa.

Letícia abriu os olhos, como se estivesse se despertando, e me olhava surpresa. Um sorriso frágil de repente surgiu entre seus lábios brancos.

De repente, uma lágrima intrusa escorreu pelo meu rosto. Eu a queria bem, a queria livre de tudo isso. Doía-me e me golpeava profundamente vê-la daquela forma... Se eu pudesse salvá-la...

- Sy-yn... – Ela me chamava mais uma vez.

- Aqui. – Disse, apertando sua mão outra vez.

Percebi que um dos lados de seu rosto parecia que estava paralisado. Nunca havia visto aquela garota tão frágil, como se qualquer vento pudesse tirá-la de mim.

O silêncio era quebrado apenas pelo som dos aparelhos. Era como estar coberto por um manto negro de desespero. Eu era engolido, tragado por aquele ar sólido e pelo medo que se expandia cada vez mais dentro de meu peito.

Era hora de ela saber que eu a amava.

- Letí...

- Syn... – Ela, porém, me interrompia, respirando fundo e fazendo uma breve pausa. – Me perdoe.

- O que?! – Perguntei confuso. Eu quem deveria pedir perdão.

- Me perdoa. – Ela dizia lentamente. – Eu... Pre-ciso... que você me perdoe.

- Mas meu amor... – Lhe respondi com tranqüilidade, sentindo uma leve pressão de suas mãos, tentando fazer mais força sobre as minhas. – Eu quem tinha que pedir perdão...

- Não! – Ela me interrompia mais uma vez, tossindo e respirando ofegante.

- Tudo bem. – Disse rapidamente. Não queria contrariá-la, não queria que se esforçasse demais. Faria qualquer coisa desde que ela se sentisse bem.

- Syn... – Letícia virava lentamente seu olhar para mim. De repente seus olhos se transformaram em uma poça de tristeza, que escorria vagarosamente pelos seus ferimentos. – Eu mal consigo falar... E te ver... – Dizia ela com a voz trêmula, se entregando ao choro silencioso, que com certeza gritava dentro dela. – Essas dores estão me matando e eu me sinto tão cansada...

- Então, por favor, descanse... – Pedi.

- Ainda não, meu... meu amor... – Ela dizia, enquanto as lágrimas lavavam livremente seu rosto. – Eu vejo coisas agora que antes eu não via... E preciso dizer isso a você agora...

- Como assim?

- Eu também errei muito, Syn... – Seus olhos esverdeados fitavam os meus. – Foi culpa minha você ter se rendido à Pamela...

- Não, pequena! Não! – Garanti bravamente. – Eu nunca vou sentir por ninguém o que eu sinto por você e é por isso que eu estou aqui... Eu quero te fazer feliz e vou fazer isso muito bem feito! Não vou sair do seu lado por nada! Eu quero viver a minha vida ao seu lado e somente ao seu lado... – Aquelas palavras saíam do fundo do meu coração, indo direto para meus lábios. – Eu te amo, entendeu?! Ela ficava falando coisas quando eu estava frá...

- Sh... – Letícia dizia ofegante, me encarando com um sorriso. – Isso agora não importa mais... A melhor coisa que você poderia ter falado, você já falou... Você está aqui, e não vai sair... – Ela falava baixinho. Tinha que ficar bem próximo para ouvir exatamente o que ela dizia.

- Minha pequena... – Disse, acariciando seu rosto.

- Syn... Se eu pudesse voltar atrás, eu voltaria e faria tudo diferente... Não deixaria minhas angústias e meus medos intervirem, eu lutaria por você, seria mais forte, viveria intensamente... Por que agora eu vejo que valeria a pena e que eu teria lutado pela minha próxima felicidade... E pela sua! Eu deixei nossos obstáculos nos derrubarem e acabei me tornando um...

- Minha pequena... Você não precisa fazer isso agora. – Não pude evitar que as lágrimas caíssem de meus olhos. O que ela estava me dizendo era incrível demais. Como ela poderia pensar tanto assim em nós dois mesmo depois desse acidente tão terrível?

- Eu preciso. – Ela insistia. – Antes que seja tarde...

- O que? – Percebi que a minha voz de desequilibrava, ficando trêmula. – Não se despeça de mim, você não pode fazer isso comigo... O que vai ser de mim sem você?

- Mas eu me sinto tão cansada...

- Então por favor pare de falar e descanse, minha pequena...

- Me perdoa... – Letícia me pedia mais uma vez, sussurrando.

- É claro que eu te perdôo. – Disse, aproximando minhas mãos de seu rosto, acariciando levemente com as pontas dos dedos. – Depois que isso tudo acabar, nada vai me separar de você.

Letícia me estendeu um sorriso, deixando que uma lágrima caísse de um de seus olhos, que de repente foram se fechando e abrindo lentamente, como se ela estivesse relutando um simples sono.

- Eu te amo... – Completei.

Letícia respirava ofegante e me olhava de forma intensa, como se quisesse me falar algo importante, porém lentamente seus olhos iam se fechando e ela os tentava abrir, parecendo estar realmente com sono.

Seus lábios se moviam, como se ela ainda insistisse em conversar comigo, mas som algum emitia. E então a força de suas mãos frágeis sobre a minha desapareceu e seus olhos se fecharam completamente.

- Letícia?! – Perguntei, sentindo meu coração saltar de desespero. Acho que nunca senti tanto medo da minha vida. – LETÍCIA?!

De repente, sua pulsação caiu... AQUILO NÃO PODIA ESTAR ACONTECENDO!

- LETÍCIA! – berrei assustado, porém ela não tinha reação. – LETÍCIA, POR FAVOR!

Eu tinha que ser forte para ajudá-la. Não podia desanimar logo àquela hora. Ela não iria me abandonar, não podia.

Sai do quarto, gritando pelos enfermeiros. Eu estava fora de mim... Eu gritava e chorava, mas não sentia dor. A idéia de perder a MINHA Letícia é a pior coisa que já me poderia acontecer, não existiria dor maior.

Estávamos todos tensos, esperando para saber o que iria acontecer. Clarice e Diego se abraçavam, enquanto a mulher descontrolada gritava chamando pela filha. Só nos restava esperar.

- Sinto informar que... – Disse um dos médicos, se aproximando de nossos corpos aflitos. – Letícia...

- O QUE TEM ELA?! – Clarice berrava.

- Entrou em coma. – Dizia o médico, abaixando a cabeça.

- NÃO! NÃO! NÃÃÃÃO! – Clarice berrava, freneticamente, trêmula, às lágrimas, afagando seu rosto no peito de Diego.

Minhas lágrimas escorriam, e me faltava ar, mas eu não podia desmoronar, tinha que ser forte perante a dor de Clarice. Meu amor salvaria Letícia... Meu amor...

- Ficaremos observando-a o tempo todo... Cada minuto agora é extremamente importante... Como eu disse, a pancada foi muito forte. – O médico tornava a dizer. – Faremos todo o possível para salvá-la, dou minha palavra... Mas vocês merecem saber que...

- QUE O QUE?! – Perguntei aflito. Minha voz mal saía.

- Letícia está entre a vida e a morte.


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Notas finais do capítulo

Pessoal! Espero que gostem do novo capítulo. =D

Acho que eu não vou conseguir postar mais nenhum capítulo agora antes do natal e nem no ano novo, acho que agora vai ser só ano que vem mesmo. HISAHISHAISHAIHSIAHISA

Então um feliz nata e ano novo pra todo mundo. =D

Aguardo os reviews.

Beeeejões. s2