Com Amor não se Brinca escrita por Bubees


Capítulo 44
A dura filosofia do odio.




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- NÃO! – Letícia deixava com que sua voz saísse de sua garganta com todas as forças que lhe restava.

- MEU DEUS! – A jovem ouvia alguém exclamar.

Abriu os olhos, assustada, deixando as lágrimas quentes escorrerem pelo seu rosto. Brian não havia sido baleado, pois Juliana pulou á sua frente.

- JULIANA! – Berrava a jovem, tentando se libertar de Mateus.

O rapaz estava fora de si, e quando pode notar o que havia feito, já era tarde demais.

Juliana os olhava de olhos bem arregalados, apertando o ferimento um pouco abaixo do ombro, próximo ao coração. A jovem estava pálida, e os olhos iam se fechando lentamente e Brian a segurava, fazendo-a deitar.

- Juliana... – O rapaz chorava, tentando reanimá-la.

Mateus estava boquiaberto olhando para o estrago que havia feito.

Todas as pessoas no local choravam igualmente abalados, e os pais de Juliana se aproximavam junto de seus familiares, ao desespero de ver a filha gravemente ferida.

- MATEUS SEU FILHO DA PUTA! – Letícia berrava às lágrimas, acertando o rapaz com uma cotovelada no queixo e correndo aos tropeços até o corpo de Juliana.

- Ju, fala comigo! – Pedia. – Você vai conseguir sair dessa...

De repente, Juliana pegava bruscamente a mão de Letícia, apertando-a com todas as forças.

- Letí... – Juliana, pálida, com os lábios muito trêmulos, fazia completo esforço para manter os olhos abertos e focalizar Letícia.

- Não, não diga nada, descanse, já foram chamar uma ambulância, simplesmente fique comigo, Ju... – Letícia pedia, acariciando o rosto da amiga, que suava frio.

De repente, os seguranças corriam em direção de Mateus que ficava paralisado com a arma rente as coxas, de repente ele soltava a mesma, e saía correndo.

Brian olhava para aquela cena covarde boquiaberto.

- VOLTA AQUI, SEU CRETINO! – Berrou o rapaz, erguendo-se rapidamente do chão.

Brian havia ficado furioso, ninguém se quer se movia. Obviamente estavam muito abalados e não esperavam uma cena de assassinato em plena formatura. O rapaz queria vingança! Mateus estava estragado a vida de muitos ali. Por impulso, Brian apanhava a arma que estava largada pelo chão, e corria feito um alucinado atrás de Mateus.

- VOLTE AQUI SEU FILHO DA PUTA! – O rapaz berrava.

Mateus continuava correr, espionando freneticamente por trás dos ombros, corria ainda mais rápido, desesperado ao fitar a arma que Brian carregava consigo.

- VAI FUGIR AGORA, COVARDE?! – Brian continuava berrando e passando por cima das mesas, quebrando todos os enfeites que se espalhavam pelo chão.

Mateus, desesperado, saltava a janela, porém enroscando os pés na cortina, caindo com a face diretamente virada para o gramado úmido.

Brian correu, não querendo perder a oportunidade de se vingar, estava tão nervoso e com as pernas tão tremulas e carregadas por uma adrenalina que ele nunca havia sentido antes, que tropeçou igualmente Mateus, entre o vão da janela.

Mateus se rastejava pelo gramado, disposto a fugir dali, enquanto Brian se erguia disposto, pisando nas mãos de Mateus.

- Seu filho da puta! – O rapaz dizia entre dentes.

Mateus, trêmulo, erguia a cabeça, encarando o rosto irado de Brian.

Brian sem hesitar, metia a ponta de seu tênis no rosto de Mateus.

- COMO VOCÊ PODE TER FEITO ISSO COM A JULIANA, SEU MERDA?! – Brian continuava berrando, vendo Mateus levemente desacordado, deitado aos seus pés, de barriga para cima. – ELA NÃO ERA PERFEITA, MAS NINGUÉM MERECIA ISSO QUE VOCÊ FEZ COM ELA!

- Você fez pior com nós dois. – Mateus resmungava, às lágrimas, respirando ofegante. – Você tirou a única garota que eu amei...

- CALA A BOCA! – Brian acertava um chute no estômago de Mateus. – Você é um lixo! Como pode dizer que ama a Letícia se estava disposto a matá-la?! – Brian então apontava a arma no centro da testa de Mateus. – Uma pessoa como você não merece ficar viva.

- EU NÃO QUIS ATIRAR NA JULIANA! EU IRIA MATAR VOCÊ! – Mateus de repente começou a chorar, com toda sua feição abatida, a terra negra do gramado cobria seu rosto e amarrotava suas roupas, o rapaz estava perdido na própria ira.

- FODA-SE! SEU MERDA! – Brian apertava ainda mais o tubo da pistola, contra a testa de Mateus.

- Vai me matar então, Brian? – As lágrimas de dentro dos olhos negros de Mateus de repente paravam de cair. O garoto encarava Brian com um olhar fosco, coberto por ódio.

- Pode apostar que sim. – Brian de repente empurrava o cão da pistola para trás, deixando as mãos extremamente firmes.

Brian mal respirava. Estava disposto a arrancar a vida de Mateus naquele exato instante. O coração do rapaz estava acelerado, mas ele mantinha-se firma naquela decisão.

De repente, a sirene da polícia se aproximava, fazendo com que Brian perdesse a concentração.

- RAPAZ! AFASTE-SE! – Berrava o policial.

Brian imediatamente soltava a arma pelo gramado, colocando os braços para o alto.

Os policiais imediatamente se aproximavam de Brian, jogando-o no chão.

- NÃO! NÃO É ELE! – Berrava Brian, o pai. – É O OUTRO!

- MATEUS! – Berrou Diego, correndo próximo aos garotos.

- Mas ele quem estava com a arma nas mãos! – Dizia um dos policiais.

- Não faça isso filho... Mateus terá o que merece. – Dizia Brian, o pai, ajudando o filho a se levantar. – Se questionam tanto, a festa inteira está de testemunha.

Brian ajeitava as vestes, tentando recompor a respiração, porém cóleras de iras insistiam em atravessar suas veias rapidamente.

- ESSE DESGRAÇADO ATIROU NA JULIANA! – O rapaz berrava, apontando para Mateus que continuava deitado no chão, intacto, como se sua mente tivesse travado.

- Venham todos comigo prestar depoimento. – Dizia o policial, erguendo Mateus do chão, prendendo suas mãos com as algemas, fazendo Diego, Brian pai e Brian Júnior, entrarem na viatura.

A ambulância também havia chego, levaram Juliana desacordada o mais rápido possível para o hospital mais próximo.

Todos os familiares de Juliana a acompanharam na ambulância, enquanto Clarice se apoderou do carro de Brian para tirar Letícia, Bianca, Mariana e João dali.

Não demorou muito para que finalmente chegassem ao hospital e recebessem a notícia de Juliana havia perdido muito sangue e que seu caso era crítico.

- O Syn não atende o celular! – Letícia resmungava, andando freneticamente de um lado para o outro.

- Calma, vai dar tudo certo... – Mariana tentava tranqüilizar a amiga, mas mal podia consigo mesma.

Todos estavam muito aflitos na sala de espera. O que era mais triste era ver a forma de como Clarice fazia todo o possível para manter a mãe de Juliana tranqüila, e era vão.

Letícia já havia soltados os cabelos, e ia até o banheiro lavar o rosto e limpar a maquiagem borrada.

Tentava se acalmar o máximo, tinha que apoiar a mãe de Juliana que se encontrava em prantos perante as más notícias que recebiam sobre seu estado.

- Ela estava louca para se formar... – Mãe de Juliana soluçava. – Por que aquele garoto fez isso com a minha filha?

- Não fique pensando nessas coisas agora, querida. –Dizia Clarice, abraçando-a. – Vamos nos concentrar para que Juliana melhore.

- Esse médico que não vem logo nos falar alguma coisa! – Letícia resmungava andando de um lado para o outro, aflita, segurando o celular com todas as formas, discando o número de Brian diversas vezes. – ELE NÃO ATENDE!

- Calma! – Bianca se levantava do banco, se aproximando da amiga, retirando o celular de sua mão. – Deixe de pensar no Syn agora, não aconteceu nada com ele.

- MEU PAI TAMBÉM NÃO ATENDE! – Letícia tornava a chorar. – O médico não dá notícias... AI ESTÁ TUDO ERRADO!

- Letícia, calma, calma, calma... – João se aproximava da amiga lhe dando um abraço forte. – Não vai acontecer nada com eles está bem?

Letícia fazia que sim com a cabeça, sem notar que seu lábio inferior tremia contra sua vontade.

- Se acalme... A Juliana precisa da gente agora...

- Se eu pudesse fazer alguma coisa para que ela não tivesse que passar por isso... – Letícia tornava a chorar como uma criança, afagando o rosto no peito do João.

O rapaz, amolecido com o estado da jovem, simplesmente colocou as mãos por entre seus cabelos avermelhados, acariciando-os levemente, dando-lhe um beijo no topo da cabeça.

- Fique calma, minha linda... – Ele dizia. – Vai dar tudo certo...

Letícia, porém, não lhe respondeu, simplesmente o apertava ainda mais entre seus braços finos.

João balançava levemente o rosto, consolando Letícia ao máximo que podia, acariciava seus cabelos, beijava-os, apertava a jovem entre seus braços de modo a deixá-la confortável para que ele soubesse que ele estaria sempre ali ao seu lado.

- LETÍCIA! – Bianca berrava de repente.

Letícia rapidamente se soltava de João, olhando em direção ao corredor.

Brian pai, Synyster e Diego estavam de volta.

- PAI! – Letícia berrava, correndo em direção ao homem, lhe dando um abraço forte. – Eu estava morta de preocupação!

- Estou aqui agora, minha filha... – Dizia o homem, abraçando a filha, e lhe dando um beijo no rosto. – Como Juliana está?

- Não sabemos ainda. – A jovem choramingava. – O médico apenas disse que ela perdeu muito sangue, ele não entrou muito em detalhes.

- O que aconteceu com vocês, Diego? – Clarice cruzava os braços.

Diego encarava Clarice, soltando-se da filha, e imediatamente se aproximando da mulher, lhe dando um beijo no rosto.

- Venha comigo. – Dizia ele, se afastando.

- Vou deixá-los a sós, e vou tentar arrumar alguma informação. – Dizia Brian, se afastando do filho.

Letícia simplesmente se mantinha de cabeça baixa, encarando seus próprios dedos, tentando estabilizar a respiração, já que estava vendo que Brian estava completamente a salvo.

Brian não sentiu necessidade de lhe dizer muitas coisas. Simplesmente se aproximou da jovem, segurando seus braços, e fazendo com que eles se envolvessem ao redor de sua cintura.

Letícia simplesmente deixou-se ser entregue naquele abraço, apertando-o com força, queria senti-lo por alguns instantes em silencio.

Ficaram ali por alguns minutos aninhados um ao outro, até que Brian finalmente decidiu se afastar da jovem, olhando para seus olhos esverdeados.

- Não vai me dizer nada? – O rapaz perguntava.

- Eu só estou tentando me acalmar... – Letícia o olhava com os olhos brilhantes, como se fosse voltar a chorar. – Estou temendo muito pela Ju, quero que ela melhore...

- Fica calma minha pequena... – Dizia o rapaz, acariciando levemente o rosto fino de Letícia com a ponta dos dedos.

- O que aconteceu? – A jovem finalmente desembestou a questionar. – Por que não atendeu minhas ligações? Por que você sumiu de repente? Por que você me deixou sozinha? Por que...

Brian simplesmente se aproximou da jovem, tocando seus lábios aos dela, brevemente.

- Calma, sua tagarela. – Dizia ele, esboçando um leve sorriso. – Eu estava muito irado naquele momento... Eu juro que não me reconheci naquela hora...

- Eu tive tanto medo quando te vi pegando aquela arma do chão... Pensei que você iria fazer uma besteira.

- Quase minha pequena, quase. – Dizia o rapaz, respirando fundo. – A polícia chegou um pouco antes que eu fizesse.

- Você ia mesmo...

- Prefiro não pensar mais nisso. – O rapaz interrompia a jovem, se encostando á parede. – Acharam que eu tinha atirado na Juliana, e fomos Mateus, eu, meu pai e Diego para a delegacia, e Mateus confessou ter atirado em Juliana sem muito esforço, ainda mais com meu pai e o seu sendo testemunhas.

- Mateus foi preso? – Letícia perguntava surpresa.

- Mas é claro. – Dizia Brian num tom óbvio. – Ele estava estranho, os olhos esbugalhados, os músculos rígidos, ele chorava e logo parava... Mateus não sabia o que estava fazendo, o ciúmes, o ódio, acabaram o derrotando facilmente.

- Que horror. – Dizia Letícia, abalada.

- Acabou que ele confessou tudo sem nem ao menos nos esforçarmos... Acho que depois de ter atirado, ele se sentiu culpado, digamos que voltou para a realidade.

- Pelo menos ele vai pagar pelo que fez...

- Pena que não conseguimos incriminá-lo por ter agredido a Juliana daquela vez... – Brian suspirava, parecendo irritado. – Como ela não deu queixa...

- Mas o que aconteceu exatamente com o Mateus? – Letícia se aproximava do rapaz com um olhar de preocupação. – Ele vai ficar por muito tempo lá?

- Isso ainda não foi decidido, vão examiná-lo para se certificar sobre os problemas psicológicos dele, os pais dele chegaram logo que estávamos indo embora, e boa parte do que vai acontecer com ele, vai depender de como a Juliana vai ficar no fim de toda essa história... Queria muito que o Mateus apodrecesse na cadeia, mas quero ainda mais que Juliana melhore, apesar de tudo.

- Com certeza. – Dizia Letícia de cabeça baixa.

- E você? Como está? – Brian pousava as mãos nos ombros da jovem, fixando seus olhos esverdeados.

- Eu não sei. – Letícia sussurrava, mais para si mesma do que para Brian. – Não quero pensar em mim agora.

- Quer que eu faça isso por você? – O rapaz perguntava de modo sutil.

- Não. – Letícia o olhava dentro dos olhos, deixando uma lágrima escapar, transcorrendo seu rosto.

- Pequena... Se acalme. – Brian segurava a mão da moça.

Letícia rapidamente se soltava, respirando fundo e recuando alguns passos.

- Vou me unir ao pessoal.

Brian baixou a cabeça, engolindo seco, sentindo-se se perder por alguns instantes.

- Letí...

- Não diga nada agora, por favor. – Pedia a jovem, se afastando do rapaz.

Todo que Brian passou a sentir naquele momento, era medo.

Letícia se aproximava dos amigos, aflita, encolhida em seu próprio pensamento, quando de repente um dos médicos apareceu, acompanhado pelo pai de Brian.

- COMO MINHA FILHA ESTÁ DOUTOR?! – Mãe de Juliana levantava rapidamente, se aproximando do médico.

- Você é a mãe? – Perguntava.

- Sim...

- Ela acordou, mas ainda está muito fraca e pouco fala... Disse que queria falar com tal de Letícia.

- COMIGO?! – Letícia protestou. – Como assim? – A jovem indagava confusa.

- Pode me acompanhar? – O médico se direcionava á jovem.

- NÃO! EU QUERO VER MINHA FILHA! – A mãe de Juliana protestava.

- Senhora, eu preciso cumprir com todo que a sua filha pedir... Ela quer ver Letícia... Por favor, jovem, me acompanhe.

Letícia, confusa, hesitou por alguns instantes ao ver a reação da mulher, porém caminhou, seguindo o médico até o quarto de Juliana.

Assim que pode ver a amiga, sentiu-se desesperada, e novamente chorava.

Juliana tremula, suava frio, e utilizava aparelhos para respirar.

- Ju... – Letícia se aproximava com cautela, em passos pequenos, se sentando á uma cadeira ao lado da cama.

Juliana estava pálida, como se a vida estivesse a abandonando.

- Letí...cia.- Juliana esboçava um leve sorriso ao sentir a presença da amiga. – Que bom que você está aqui... – A jovem tossia secamente.

- Ju, não fale nada... Você precisa melhorar logo. – Letícia apertava firme a mão da amiga, e acariciava seus cabelos.

- Não tenha esperanças... – A jovem dizia ofegante, quase que sem ar. – Eu só queria dizer que não me arrependo de ter salvado a vida do Syn...

- Ju, por favor... Descanse. – Letícia pedia mais uma vez.

Juliana simplesmente insistia em falar, apertando com força a mão de Letícia.

- Aproveite isso. – Dizia, firme, apesar de gaguejar. – Aproveite... Ele te ama, Letícia.

- Ju...

- O amor dele nunca foi meu... – Juliana tornava a falar, só que cada vez mais rápido, como se o tempo estivesse se esgotando e a levando aos poucos. – O amor dele é seu... Por mais que me doa admitir isso logo agora... Ele foi seu desde que botou os olhos em você... – Lágrimas de repente escorriam dos olhos da jovem.

- Não, eu não quero que você fique dizendo essas coisas... – Letícia dizia, secando as lágrimas da amiga com a ponta dos dedos.

- Estou sendo... Realista. – Juliana dizia, encarando a amiga. – Já está tarde, mas ainda quero seu perdão.

- Como assim tarde? – Letícia dizia com vestígios de desespero na voz. – Ju, você vai melhorar! Eu não tenho que te perdoar de nada.

- Tem sim! – Juliana insistia, tossindo freneticamente, esmagando as mãos de Letícia, para tentar se aliviar da dor afiada que atravessava seu peito com violência. – Por tudo que eu fiz, por tudo que eu disse... Por ter jogado sua amizade fora... E agora você está aqui, torcendo por mim... – Juliana gemia de dor, porém se esforçava cada vez mais a falar. – Não seja tola... Você tem que me perdoar de tudo.

- Tudo bem, Ju. – Letícia dizia, desesperada ao ver a reação da amiga.

- Obrigada. – Juliana dizia, muito baixo. – Obrigada...

- Descanse agora, está bem? Vou chamar sua mãe.

- Não! – Juliana simplesmente não se soltava da mão de Letícia. – Ela não merece me ver assim... Ela vai sofrer muito.

- O que quer que eu faça? – Letícia se aproximava da amiga, limpando as poças de suor que cobriam sua testa.

- Quero que... AI. – Juliana de repente parecia sentir pontadas próximo ao peito, e sua respiração passou a ficar cada vez mais ofegante. – Let...í...

- Ju, para de falar... por favor! – Letícia implorava.

- Aproveite seu... Tem...po...

- O que?

Juliana de repente começou a fechar os olhos e mover os lábios sem que uma única palavra saísse dali.

- Ju? – Letícia ainda insistia por alguma reação.

- Nã...ão...

Toda a força que Juliana depositava nas mãos de Letícia, de repente desapareceu, a jovem fechava os olhos lentamente. A vida a abandonava a cada segundo.

- Não JULIANA! – Letícia berrava, balançando a amiga levemente.

A jovem, porém, não reagia, de repente, seus batimentos caíam e a máquina apitava, anunciando que a vida realmente a abandonava.

Juliana de repente ficou pálida e fria como uma pedra bruta, mas aquela pedra não teve tempo de terminar de ser lapidada, não teve tempo para terminar tudo vida. Era triste saber que ela foi interrompida daquela forma.

Juliana era uma garota que gostava de aproveitar a vida ao máximo, e se importava muito com ela, tinha seus defeitos como outra pessoa qualquer, e apesar de tudo, Letícia arrancava soluços de dor com a sua morte. Não podia acreditar que aquilo estivesse acontecendo, não com ela, não com sua amiga tão jovem que tinha muito ainda para viver.

A dor de sua mãe era incomparável com qualquer outra dor. Devia ter horrível para uma mãe perder uma filha, ainda mais daquele jeito, em plena formatura.

O ódio mostrava que de fato destruía cada luz dentro das pessoas. Mateus foi domado pelo ódio e o ciúme, Juliana foi arrastada com ele... Logo aquelas pessoas que queriam tanto destruir a felicidade alheia, acabaram se destruindo sozinhas. SOZINHAS! Perderam tudo o que havia de bom ali. Juliana perdia a vida, e Mateus a dignidade, o respeito, e passaria um bom tempo atrás das grades, em meio a angústia e a podridão humana. Não sairia de lá tão cedo.

O velório foi exatamente no dia seguinte.

Letícia sentia o peito vazio, e nem se quer tinha mais forças para chorar. Seus olhos se mantinham fixos diante o túmulo, sentindo uma sufocante culpa por ser a última pessoa que Juliana tinha dirigido á palavra, não dando oportunidade para sua própria mãe, mas por um lado, Letícia acreditava que aquilo poderia ter sido bom. O estado de Juliana não estava nada bom, a jovem não teria mais uma lembrança da amiga sorridente, cantarolando por todos os cantos e fazendo diversos comentários sobre cada garoto que achava atraente. A jovem se lembrava apenas da Juliana lápide, sólida, dura, fria, disposta a tudo, que de repente morria logo á sua frente, sendo morta pelo seu maior estorvo, seu maior medo.

Brian se mantinha ao seu lado em completo silencio, assim como João, Bianca e Mariana, estavam todos abalados. Ninguém poderia crer que uma jovem em plenos dezoito anos poderia ter sido assassinada daquela forma.

O clima era de completa angústia. O céu nem se quer se atreveu a sorrir. Muito ao contrário, rasgava-se em meio á luzes prateadas que cortavam o chão, cuspia sua ira! Quanta ira! Assoprava aos berros... Tudo encontrava-se descontente.

Ódio, um sentimento tão estranho que se confundia entre o amor. Sentimentos tão extremos, que caminhavam um ao lado do outro, fazendo com que os pobres humanos capazes de odiar e amar, caminhar exatamente no meio desse tal confronto. Amor e ódio, era uma incansável guerra, enquanto os humanos faziam parte de ser meros soldados, que era guiados de um lado para o outro sem nem ao menos perceber.

O ódio se camuflava tanto em amor, que Letícia tinha certeza em odiar Brian, e o rapaz também acreditava nessa possibilidade remota.

Que guerra! Agora uma vida havia acabado de ser perdida, e outra destruída... Ou outras...

No enterro, o céu parecia ter ficado com mais ódio ainda. Tanto, que João, Mariana, Bianca, Letícia e Brian, preferiram manter-se dentro do carro, enquanto a corrente de água lamacenta passava pelas rodas do carro, levando toda a podridão consigo.

Juliana...

Alguns dias se passaram e Brian e Letícia não se falaram desde o enterro de Juliana. A jovem estava muito abalada e passava boa parte do tempo trancada dentro do quarto, sem fome, sem vontade de fazer absolutamente nada. Até seu vídeo game ficou abandonado... E o mais assustador, é que a moça abandonava também seu telescópio.

De repente, a campainha tocava freneticamente, e Clarice, corria assustada para atender a porta.

- Syn? – Perguntava ela, surpresa. – Você está bem? Que cara é essa?

Brian simplesmente entrava na casa, olhando de forma muito séria.

- Desculpe chegar assim, Clarice. – Dizia o rapaz um tanto hiperativo. – É que eu preciso ver a Letícia, ela não atende meus telefonemas, á dias que eu não escuto a voz dela, eu preciso muito falar com ela, eu preciso muito saber como ela está! Eu estou morto de preocupação! – O rapaz exclamava, pálido, com olheiras profundas em volta dos olhos escuros.

- Calma Syn, a Letícia ainda está muito abalada pelo que aconteceu... Sabe como ela é frágil, não sabe? Aquela aparência toda de garota bruta é tudo fachada. – Dizia Clarice, baixando a cabeça, e se sentando ao sofá. – Acho que já está na hora dela ver alguém mesmo...

- Vai me deixar vê-la? – O rapaz sorria, esperançoso.

- Pode subir, ela está no quarto... Nunca mais saiu de lá, eu estou tão desesperada quanto você.

- Vou dar um jeito nisso... Obrigado, Clarice. – Dizia o rapaz, correndo rapidamente para o pé da escada.

Chegando ao corredor, caminhou então até a porta com o pôster do Resident Evil colado, batendo na mesma levemente por algumas vezes.

Não obteve resposta.

O rapaz então, sem querer insistir, abriu a porta lentamente, transmitindo um leve ruído, que nem se quer fez com que Letícia de movesse.

- Pequena? Posso entrar? – O rapaz perguntava, já entrando.

Letícia estava sentada á beira da cama, olhando fixamente para a janela. As mãos se localizavam unidas próximas as coxas, e os ombros rígidos.

Brian respirou fundo, olhando para a moça de modo tristonho, se aproximando ainda mais, sentando-se ao seu lado.

- Uma hora você vai ter que conversar com alguém. – Dizia.

A jovem, porém, apenas se virou para o rapaz com as duas esmeraldas cintilantes o fixando muito bem.

- Conversa comigo... Estão todos preocupados com você. – O rapaz ainda insistia por uma comunicação.

Letícia então, simplesmente se aproximou ainda mais do rapaz, afagando o rosto em seu peito, e a abraçando.

Brian já pode respirar aliviado, e então colocou as mãos na maça do rosto da moça, acariciando-o.

- Você acredita que quem morre se torna uma estrela? – A jovem perguntava de repente. – Será que eu ia poder vê-la ali? – Letícia fixava os olhos em seu telescópio.

- Eu não sei, meu amor. – Brian dizia apenas.

Letícia então se afastou do peito do rapaz, olhando-o nos olhos, deixando com que uma lágrima escapasse sutilmente.

- Syn...

- Oi?

- Acho que não nasci para ser feliz...

- O que?! – Brian de repente se assustava com a afirmação. – Não diga uma coisa dessas... Lógico que nasceu para ser feliz.

- Será? – A moça questionava mais para si mesma do que respondia á Brian. – Olha só o que aconteceu conosco...

- A culpa não foi nossa, Letícia. – Brian dizia sério.

Letícia então se aproximava da parede, encostando as costas, e abraçando os joelhos.

- Mas estamos envolvidos. – Dizia.

- Letícia, o que você está querendo dizer com isso?

- Olha o rumo em que a nossa história foi se enfiar... Perdemos a Juliana.

- Letícia, eu repito que a culpa não foi nossa! – Brian insistia, olhando para a jovem de forma desesperadora. – Você tem que parar com essa mania de ficar se culpando.

- Mas eu não consigo! Será que nós realmente não somos os culpados por deixá-los infelizes? Se eu não existisse...

- Mas você existe! – Brian a interrompia. – Se você não existisse, eu não seria quem eu sou agora... Eu não teria me tornado melhor... Eu não teria uma razão para viver! – O rapaz se aproximava, tocando no rosto da jovem. – Pare de dizer essas coisas, você está me deixando preocupado.

- Com o que? – Letícia perguntava séria.

- Não quero te perder. – O rapaz dizia.

- Você não pode perder o que por natureza já é seu... Eu te amo e isso é inquestionável!

- Então por que fica dizendo essas coisas?! – O rapaz apertava levemente suas bochechas, obrigando a jovem a olhá-lo dentro dos olhos.

- Que a minha decisão é tentar viver longe disso... – De repente, Letícia começou a chorar. – Eu tentei, Syn! Eu juro que eu tentei lutar por você, se feliz ao seu lado, mas não me deixam!

- Para! – Brian se erguia, encarando a jovem. – Por favor, não faz isso comigo! Eu não vou suportar ter que me separar de você de novo, Letícia! Não faz isso comigo!

- Eu não consigo, Syn... Tem algo errado comigo... Eu preciso de um tempo para mim! Eu preciso pensar, eu preciso ficar sozinha, eu preciso que tudo isso passe logo! Eu não posso mais ficar arrastando toda essa desgraça para nós!

- A culpa não é sua! – Brian dizia aborrecido, alterando o tom de voz. – NÃO É SUA!

- Syn... Eu preciso ficar um tempo vendo você apenas como um grande amigo... Preciso ver como as coisas seriam se não nos amássemos desse jeito.

- Letícia! Você não pode me obrigar a te enxergar como uma amiga! Eu sou louco por você! – O rapaz exclamava. – Eu não posso suportar isso mais uma vez! MAIS UMA VEZ!

- Por favor, Syn... – Letícia implorava, deixando que suas lágrimas caíssem.

- NÃO! – O rapaz insistia.

- Eu preciso saber se nossa amizade me permitiria respirar tranquilamente... Talvez nosso destino seria...

- VOCÊ ME FALANDO DE DESTINO? VOCÊ?! Letícia, para com isso! – O rapaz alterava cada vez mais o tom de voz. – Eu preciso de você comigo! É somente isso que eu sei!

- Syn... É melhor você ir...

- Não! Eu não vou sair daqui...

Letícia de repente estendia a mão direita, encarando a aliança prateada que reluzia foscamente, e então ela removia a mesma de seu dedo anelar, esticando para Brian.

- Não... – Brian balançava a cabeça negativamente, chorando tanto quanto Letícia. – NÃO FAÇA ISSO DE NOVO! NÃO DESISTA DE NOVO!

- Preciso de um tempo. – A jovem insistia. – Semana que vem, voltaremos a ensaiar, e vai ser tudo como deve ser...

- NÃO!

- SYN, POR FAVOR!

- Por que você faz isso comigo se você me ama, Letícia! HEIN?! – O rapaz de repente pegava a moça pelo braço, sacudindo. – A GENTE SE AMA!

Letícia simplesmente se deixava ser sacudida, e baixava a cabeça, sem coragem para encarar os olhos negros do rapaz.

- Te amar é a coisa mais difícil que eu já fiz na minha vida... – Dizia. – Mas te deixar, parece que está sendo cada vez pior...

Brian simplesmente a soltava por cima da cama, e a olhava com decepção.

- Você está desistindo de novo.

- Eu estou tentando viver, Syn, por favor, entenda.

Brian respirou fundo, aborrecido, arrancando a aliança das mãos de Letícia.

A jovem de repente começou a soluçar, e segurou as mãos de Brian antes mesmo que ele saísse, lhe dando um beijo nas mãos.

- Eu vou te dar esse tempo. – O rapaz lhe dava as costas sem nem ao menos olhá-la e se aproximava da porta. – Só para que você veja que separados, não valemos de nada.

Os ombros do rapaz de repente começaram a tremer. Ele chorava em silencio, puxando a porta, e batendo-a com força, logo por trás das costas.


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Notas finais do capítulo

Pessoal! Desculpem se nao deu pra responder todos os reviews, eh que meu tempo eh curto. HISHAISHAISHAIHSAI Mas como sempre, sem puxa saquisse, eu adoro cara review, eh oq me anima cada vez mais pra continuar escrevendo, apesar da fic estar se aproximando cada vez mais do fim. ;x
Queria agradecer tambem as recomendaçoes. Muito obrigada MESMO! De verdade. HISHAIHSIAHSIAHISA

Bom, enfim, espero que gostem do cap novo. (: E aguardo os reviews.

beeejos ;**