- Bom... – começava a diretora. – Conversei com os seus professores, e eles apontaram sobre a disciplina entre vocês durante a aula. Vocês tiram boas notas, prestam atenção durante as aulas, são participativos, principalmente você, Letícia... E isso dá pontos positivos para vocês.

Brian apertava rapidamente duas vezes os dedos de Letícia, como se aquelas palavras transmitissem esperanças.

- Disseram que a relação entre vocês dois é bem estranha e confusa. – A diretora fitava os dedos entrelaçados de Brian e Letícia. – No fundo são boas pessoas, e cumprem com suas obrigações como alunos. Creio que o problema de vocês é psicológico.

- Está me chamando de doente mental? – Resmungava Letícia, em voz alta.

- Sh! – Advertia Brian.

- Continuando... – A diretora então, tomava seu raciocínio. – Nossa instituição é feita para educar... blá blá...

Brian e Letícia reviravam os olhos, se desligando completamente de todo aquele blá blá blá sobre o objetivo da escola e toda a propaganda educacional tediosa.

- ... Por isso, vocês devem cumprir com algumas obrigações, se quiserem continuar estudando aqui.

- O que? – perguntou Brian.

- Para Brian, você não deve mais se aproximar de Mateus.

- Tudo bem. – Concordava o rapaz de imediato.

- Agora para ambos... Devem obrigatoriamente tirar notas acima de oito, ajudar na manutenção da limpeza das salas de aula depois do horário de saída, e também devem ir até a sala da psicóloga três vezes por semana ter uma conversinha com ela.

- Tudo bem. – dizia Brian com tranqüilidade, soltando as mãos de Letícia, que permaneciam rígidos.

- Essas regras valem a partir de hoje, e só terminam quando a psicóloga achar melhor... Podem assinar esses papéis para mostrar que estão cientes dos termos e voltar para a sala de aula.

Brian então, pegou uma caneta, assinando, e logo em seguida, Letícia.

- ESCAPAMOS! – comemorava Brian, de braços erguidos. – Mas parece que você nem ficou feliz com isso...

- Passar mais tempo com você do que eu já passo é motivo de alegria por um acaso? – resmungava a jovem.

- Mas é claro! – dizia Brian com uma leve risada. – Vamos nos divertir...

- Claro, limpando a porquisse dos outros...

Brian dava uma risada alta.

- Me desculpe, mas a maioria dos papéis de chicletes que tem jogados pelo chão, são seus.

- Está me chamando de porca?! – exclamou Letícia.

Brian abria a boca, mostrando a língua para a jovem.

Assim que os dois entraram na sala, todos os encaravam, principalmente Mateus, que estava com um saco de gelo nos lábios, encarando Brian com os olhos extremamente vermelhos de ódio.

Letícia nem se quer quis ver quem a encarava, simplesmente entrou na sala se sentando no primeiro lugar vago que encontrava, enquanto Brian passava pela sala, se sentando em seu lugar de sempre. A sala parou. Todos estavam em silêncio, encarando Brian, alguns admirados, outros assustados, e uma em especial suspirava, Juliana.

As aulas passavam rapidamente, pelo menos para Letícia que estava completamente fora de sincronia com a sala de aula. Não conseguia deixar de pensar em nada além da quantidade de tempo absurda que passaria com o Brian, como se estivesse presa a ele de diversas formas, passariam por todas aquelas condições juntos. A música os unia, e por mais que ela odiasse admitir, havia um sentimento que os unia de forma poderosa, como se fossem um só, como se Brian fosse uma parte essencial dela da qual ela insistia em recusar.

- Lê?! – DE repente a voz de João ficou nos pensamentos da jovem.

- Oi? – Perguntava Letícia um tanto perdida.

- Você nem me ligou...

- Desculpa, teve ensaio da banda.

- Banda? Que banda?

- Com o pessoal do prédio...

- Tradução, você estava com o Brian. – João concluía, revirando os olhos.

- Sim, eu estava. – Admitiu Letícia, impaciente.

- LETÍCIA! – Berrava Mariana, aparecendo de repente, dando um abraço na amiga. – Sua LOUCA! Por que você quis assumir a culpa pelo Brian?! Você poderia ter sido expulsa sabia?

- A resposta é óbvia. – Retrucava Bianca. – Ela é apaixonada pelo Brian.

João respirava fundo, incomodado com o rumo da conversa.

Bianca percebendo a reação do amigo, tapou os lábios com as mãos, rapidamente.

- É mesmo, Bianca? – Brian surgia no meio da conversa.

- É. – respondia Bianca com tranqüilidade.

- BIANCA! CONTROLA ESSA MATRACA! – Berrava Letícia e Mariana, em coro.

- Você sabem que eu sou muito sincera...

- GENTE! – Mariana chamava a atenção de todos, apontando o olhar para João, que estava de cabeça baixa e inquieto.

Letícia assim que percebeu a reação do amigo, ergueu sua cabeça, olhando-o nos olhos.

- Para com isso... – Dizia ela, o abraçando.

Brian dava um meio sorriso ao ver tal cena, afinal Letícia não havia negado o comentário petulante de Bianca.

- Mas então... – Dizia Mariana. – Me conta o que aconteceu com vocês no final de semana...

- Quer mesmo que eu conte? Principalmente de SEXTA-FEIRA?!

- Ai meu Deus... – murmurou Brian. – Letícia, por favor né?! Conta também do SÁBADO, depois do ensaio...

- O QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO SEU VIADO?! – Dizia Letícia, irritada.

- O que aconteceu? – Perguntou João, intrigado.

Brian dava um sorriso descarado para a jovem, seguido por uma piscadela.

- SYN! VAI TOMA NO...

- AI MEU DEEEEUS! – Berrava Mariana interrompendo a pequena discussão. – VOCÊS SÓ BRIGAAAAM! EU VOU FICAR LOUCA!

Brian arregalava os olhos para Mariana, e erguia os braços como um refém. Mariana dava uma risada alta, dando um leve soco no braço do rapaz.

- O que aconteceu? – insistia João na pergunta, ignorando o pequeno momento de descontração.

- Vocês se pegaram? – perguntava Bianca, maliciosamente.

- Com licença. – dizia Letícia ríspida, se afastando do grupo, quase que correndo.

- LETÍCIA! – Gritava João, correndo atrás da amiga.

Letícia corria ainda mais rápido, porém João conseguia alcançá-la, segurando seu braço.

- Você o beijou? – perguntou o rapaz.

Letícia apenas encarava os olhos do amigo, deixando os lábios rígidos, como se não quisesse mentir, mas também não queria admitir o que havia acontecido.

- Nega, por favor... – pedia João.

- E se fosse verdade?

- DROGA LETÍCIA!

- Quer que eu minta para você?! – Perguntava a jovem na defensiva. – Eu não consigo mentir pra você! Você é meu melhor amigo...

- Mas eu não te amo como um amigo, e você sabe disso...

- E o que você quer que eu faça?!

- Me deixa te ajudar a esquecê-lo...

- Eu não vou te usar para esquecer o Brian.

- Fala sério, Letícia! – Resmungava João. – Você quis me beijar para esquecer o Brian... Isso não é usar?!

- JOÃO! – Dizia Letícia, incrédula com as palavras do rapaz. – Você mesmo disse que eu estava vulnerável! Então não conta!

- MAS POR QUE VOCÊ O BEIJOU?!

- EU NÃO SEI! Para de me tratar como se eu devesse alguma satisfação pra você!

- Eu não quero que você sofra... – João bruscamente pegava o rosto da jovem, aproximando do seu. – Quer me beijar agora?

- NÃO! – Respondeu Letícia, tentando se soltar.

- Calma! – dizia João, soltando-a. – Se fosse o Brian você diria sim?

- Por quê? Está com ciúmes?

- Letícia, para de me provocar...

- Então por que você insiste TANTO nisso?

De repente, o sinal tocou.

- Sabe que pode contar comigo, não sabe? – Perguntava João.

- Eu sei. – Letícia lhe estendia um sorriso. – Eu só preciso de um tempo, estou confusa.

João lhe estendeu um sorriso esperançoso, caminhando de volta para a sala de aula ao lado de Letícia.

 

- Você vai mesmo me ajudar? – Perguntava Brian a Bianca.

- Vou! – Dizia ela, sorridente.

- Mas seja discreta, está bem? – Advertia o rapaz. – Você também Mariana.

- Não sei não... – Dizia Mariana com certa desconfiança.

- Para de ser chata! Vai ser MUITO legal! – Dizia Bianca.

- É... Isso é. Criativo. Bem pensado, Brian. – dizia Mariana.

Brian começou a rir alto, e parou assim que viu Letícia e João entrarem juntos na sala.

- Está tudo bem? – perguntava o rapaz. – Está com uma cara estranha...

- Estou pensando... – Respondeu Letícia, ríspida.

- Por isso é estranha. – Brian ria alto.

Letícia revirava os olhos, irritada.

- Você está tão engraçadinho, né?

- Estou feliz. Por quê?

- Só por que vai passar mais tempo comigo, garanhão? – Letícia o encarava com uma das sobrancelhas arqueadas.

- E se eu disser que sim? – Brian umedecia os lábios, se aproximando da moça, e a encarando dentro dos olhos. – Vai fazer o que? – completou ele.

Letícia engoliu seco, encarando o rapaz, e se afastando dele de imediato.

- Provoca e depois não agüenta? – Dizia Brian com um sorriso descarado.

- NOSSA COMO VOCÊ É CHATO! – exclamava Letícia.

Letícia irritada lhe dava as costas caminhando até seu lugar, esperando novamente que o próximo lote de aulas passasse.

O horário de saída havia chego, enquanto todos saíam, Brian e Letícia permaneciam intactos em seus lugares, apenas esperando que seus castigos começassem.

- Vai um chiclete? – perguntava Letícia, estendendo um pacote de chicletes quase vazio para o rapaz.

- Não, obrigado.

De repente, as funcionárias do colégio surgiam carregando baldes, panos, rodos e mais alguns produtos de limpeza.

- Que lindo. – ironizava Letícia, encarnado a montoeira de coisas.

- Vamos lá, né? – Brian se conformava, pegando um dos panos.

Letícia cruzou os braços, encarando Brian com um sorriso misterioso.

- O que foi? – perguntava Brian, intrigado.

- Acha que eu perderia essa cena? – Letícia ria.

Brian ria, revirando os olhos, colocando álcool sobre o pano e passando pelas mesas.

- Que cena escrota. – resmungava o rapaz.

- Ah, estou decepcionada. Você está fazendo tudo direitinho. – Resmungava Letícia, enquanto varria a sala.

- Eu fico praticamente o tempo todo sozinho, sou prendado. – Brian dava uma risada alta, fitando os olhos sobre a mesa que limpava.

Letícia apenas dava um sorriso leve para o rapaz, voltando a se concentrar no chão que varria.

Estava tudo muito silencioso, exceto pelo barulho da vassoura raspando pelo chão e das mesas sendo devidamente alinhadas.

De repente Brian começava a cantarolar, e aquele ritmo Letícia conhecia perfeitamente bem. O coração da jovem saltitava ao ouvir tal melodia, era uma música intensa, sendo impossível de não acompanhar.

“Dear God, the only think I ask of you...”

- Estou ouvindo. – Dizia Brian com um sorriso meigo.

Letícia rapidamente se silenciou, e timidamente olhava para o rapaz.

- Syn...

- Oi? – Perguntava o rapaz jogando os cabelos para trás, fitando-a dentro dos olhos, atenciosamente.

- Como você escreveu essa música? – perguntava Letícia, ainda tímida.

- Quer mesmo saber? – perguntou o rapaz sem olhar para a jovem.

- S-sim.

- Depois que você foi embora da minha casa... – Brian respirava fundo, diminuindo o tom de voz, como se más lembranças viessem a tona. – Senti meu chão desaparecer sobre meus pés, você chorava decepcionada comigo, e dizia aquelas palavras que martelavam na minha cabeça freneticamente, como se insistissem para que eu abandonasse a vida, parecia que era proposital, parecia que não era mais para que eu respirasse. – Brian olhava para a frente com os olhos paralisados, como se estivesse retornando ao seu maior pesadelo. – Eu QUERIA morrer... Era uma dor TÃO intensa, que eu pensei que NUNCA iria passar... Era como sentir um peso enorme nas minhas costas e não poder arrancar de forma alguma!

Letícia engolia seco, deixando uma lágrima escapar de seus olhos avermelhados.

- Depois seu pai apareceu, desesperado,dizendo que você sumiu... Pensei que iria te perder de verdade! Era tarde, e ninguém tinha notícias suas... E era tudo por MINHA culpa! Eu precisava arrumar algum jeito para me aliviar, precisava desabafar... Comecei a rezar e pensar comigo mesmo, pedindo por você, querendo te ver de novo... Foi quando a música batucava em minha cabeça, eu precisava daquilo! Até que finalmente você apareceu pra mim de novo.

Letícia continuava a encarar o rapaz com os olhos tristes e molhados.

- Mas... – Brian de repente estendia um sorriso, olhando finalmente para a jovem. – Eu não te perdi, mesmo que eu merecesse isso...

Letícia secava as lágrimas, olhando para o rapaz atenciosamente.

- Depois daquele beijo... – Brian de repente olhava para os olhos da jovem, se aproximando, lentamente. – Eu SEI que você me ama.

- Eu nao...

- Para de negar! – Brian a interrompia, se aproximando ainda mais, e segurando a moça pela cintura, colocando seus corpos grudados um com o outro. – Você não consegue resistir. – Brian aproximava seus lábios nos de Letícia, quase que tocando-os.

Letícia fitava os lábios do rapaz na defensiva.

- E-estou resistindo agora. – Respondeu a jovem, olhando-o nos olhos.

- Vamos ver até quando. – Brian dava um sorriso de canto, segurando o rosto da jovem, e lhe dando um beijo sutil no centro da testa.

Letícia ficava parada, sem reação. Brian não podia estar certo! É claro que ela resistia! Ele estava louco, isso sim!

- Metido. – resmungava.

- Como você é cabeça dura, ein? – Debatia o rapaz. – Relaxa, eu tenho todo o tempo do mundo para esperar você se decidir.

- Espere sentado. – Letícia ainda insistia em não se dar por vencida.

- Esperarei. – Brian dava um sorriso sínico, como se quisesse irritá-la.

Rapidamente os dois já haviam terminado todo o trabalho, e só lhes restava voltar para a casa.

Antes mesmo que Letícia e Brian pudessem sair da sala, Mateus apareceu na porta, encarando ambos.

Letícia ao ver Mateus, engolia seco, com medo do que poderia acontecer.

- O que você está fazendo aqui? – murmurou Letícia.

- E AÍ, BRIAN?! – Gritava Mateus, a fim de chamar atenção.

Brian encarava Mateus com cinismo.

- Olha só, sua mandíbula ainda está ai? – Perguntou, seguido por uma risada.

- Pode rir... – Resmungava Mateus. – Você não passa de um lixo filho da puta mesmo...

- PARA MATEUS! – Ordenou Letícia.

- Quer apanhar de novo? – perguntava Brian, sutil, porém com os olhos cobertos por ódio.

- De quem? – Mateus o desafiava. – Do novo empregadinho do colégio?

Letícia revirava os olhos, irritada com a tal discussão. Encarou Brian com um olhar estranho, como se quisesse lhe avisar algo.

- Com licença. – Dizia a jovem num tom de irritação, se retirando da sala.

- Adoro saber que a Letícia está brava com você.

- Pois é, não? – Brian encarava Mateus como se fosse se explodir novamente.

- Você já era... – Mateus ainda continuava tagarelando, como se sentisse necessidade disso, necessidade de tirar Brian do sério, para que ele finalmente saísse do seu caminho.

Brian de repente espancou um vaso cheio de terra, fazendo com que o mesmo se espatifasse pelo chão, sujando-o de barro, e deixando os cacos espalhados por toda a sala.

- ... Organizamos todas as cadeiras, deixamos tudo impecável... – A voz alta de Letícia se aproximava cada vez mais.

Mateus então, começou a gargalhar e apontar para o chão imundo.

Brian então, já entendia o que tinha que fazer.

- POR QUE VOCE FEZ ISSO?! – Berrava Brian, vendo os olhos arregalados da diretora para o chão.

A diretora estava logo atrás de Mateus, acompanhada por Letícia, que segurava o riso.

- AH NÃO MATEUS! – Dizia Letícia em um falso drama. – Eu deixei de almoçar para limpar isso aqui... ESTÁ TUDO PERDIDO!

- POIS É! – Concordava Brian, dramatizando.

- MATEUS! Você também está proibido de se aproximar do Brian! – Dizia a diretora num tom alto e autoritário. – Você já devia ter voltado e não ficar aqui para atormentar os seus colegas... PODE LIMPAR ISSO, A-G-O-R-A!

- Mas... – Mateus tentava se defender.

- SEM ‘MAS’... COMECE A LIMPAR! Vou ligar para seus pais! – A diretora se virava para Brian e Letícia. – Por hoje vocês estão dispensados, vão logo para a casa antes que eu me arrependa e peça pra vocês ajudarem Mateus.

Letícia e Brian saíam rapidamente do colégio, gargalhando sem parar, com lágrimas nos olhos.

- Se tivéssemos combinado, não daria tão certo! – Brian comemorava, tentando recuperar o fôlego.

- Você viu a cara dele?! – Letícia ainda gargalhava, se apoiando ao muro do colégio. – MUITO IDIOTA!... Como você sabia que eu ia levar a diretora para a sala?

- Foi tudo improviso. – Dizia Brian. – Mas eu sabia que você iria tomar alguma providencia, eu te conheço... Você não daria as costas assim tão fácil, e tive mais certeza ainda depois daquele olhar que você me deu...

- Foi perfeito! – Letícia se vangloriava. – Formamos uma bela dupla!

- Melhor impossível. – Dizia Brian, já sério.

Letícia também parou de rir, desviando-se do rapaz, já percebendo o rumo da conversa.

- Preciso ir. – disse.

- Quer que eu te acompanhe?

- Não é necessário. – Dizia a jovem com um sorriso meigo estampado nos lábios. – Obrigada. – Letícia se aproximava do rapaz, lhe dando um beijo no rosto.

Antes mesmo que ela se afastasse, Brian a abraçou fortemente, fechando os olhos.

- Até amanhã. – Sussurrava o rapaz.

Letícia fechava os olhos, retribuindo o abraço, sentindo seu coração saltar... Brian... Brian...