Charlie e Lola escrita por Júlia Conto, Ana C Pory


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Heeyz! Ana falando aqui! Eu e a Giu queremos homenagear esse captulo para algumas pessoas que fizeram esse capítulo surgir mais rápido que nossa mente pensava. Foram mais de 150 pessoas que pediram o link da fanfic, e isso nos motivou tanto que estamos postando agora que abriu a categoria de Charlie e Lola! O POV da Lola foi arquitetado por mim e escrito pela Giu, e o POV do Charlie foi arquitetado pela Giu e escrito por mim. Essa foi a forma que conseguimos de compartilhar. Vai ser assim a cada captulo *--*



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Lola

— Filha, acorde... — chamou mamãe. Eu estava tão envolvida em tudo. Nos sonhos e expectativas que eu criei para aquele dia. Na saudade que eu sentia do meu irmão, mas como ao mesmo tempo eu tinha medo de vê-lo. E, principalmente, meus pensamentos rodopiavam em torno da ideia que agora tudo voltaria a ser como antes. Naquele momento eu puxei o cobertor para cima de minha cabeça, bloqueando os sons. — Lola Sonner! Acorde garota! —disse mamãe, sem esperança que eu acordaria. — Tem alguém querendo ver você — falou minha mãe.

— Deixe isso comigo, mãe. — Aquela voz. Era a voz dele, eu tenho certeza. Estava mais grossa, mais imponente. Mas era ele. Escutei também mamãe, frustrada, sair do quarto bufando. — Lola, sou eu — ele disse, tirando o edredom que cobria minha cabeça. Então pude ver quanto ele havia mudado. O seu cabelo loiro estava bem mais escuro que o meu agora, e ele estava deixando crescer uma barba rala. Tinha olhos iguais aos meus, de um castanho médio. Estava da mesma altura de que quando foi embora, mas por algum motivo, parecia maior. Ele também estava mais forte, atlético. Acho que a faculdade faz isso com as pessoas. Deixa elas diferentes, de um jeito ou de outro, muda as pessoas.

— Char-liee... — eu disse, sonolenta. Ele sorriu. Eu fiquei quatro anos sem ver esse sorriso. Meu Deus, como eu senti falta disso. Ele continuava com o mesmo sorriso. O mesmo garotinho que me fez comer cenoura, ervilha, purê de batata, tomate, peixe... Eu pude ver que em algum lugar, dentro daquele homem sentado do meu lado, ele ainda estava lá. O meu irmão ainda estava lá. — Pode saindo do meu quarto! — eu esbravejei, de repente de pé. — Preciso me arrumar, e não seria nada legal você ver minha cara inchada às 7 da manhã. Aliás, você será bem vindo no sofá, isso se for continuar a morar aqui — pausa. — Tchau. Daqui a cinco minutos te encontro na sala. — E finalizei me levantando da cama e o empurrando para fora do quarto. Tranquei a porta.

Então abri as cortinas. As mesmas de sempre. E deixei a luz invadir meu quarto. Sentei-me na penteadeira, e me olhei no espelho por um segundo. Me pentei, fiz chapinha. Me maquiei do jeito mais leve que consegui, mas usei um batom vermelho arrasador.

Vesti um vestido preto, colado no corpo, mas não muito. Coloquei sandálias, e estava pronta.

Desci as escadas, tentando parecer o mais normal possível. Mas é claro que eu sou normal. Sou tão normal que só falta estar escrito normal na minha testa. Aliás, gente, que fome é essa? Nunca quis tanto comer na minha vida... Em falar em vida, o que será que vai acontecer na novela de hoje... A voz melosa de uma mulher interrompeu meus pensamentos.

— Own, ele é meu amorzinho, docinho de coco, coração de abóbora... — E então ela pareceu me encarar por um segundo. Me fuminou com o olhar, nem sei o porquê. — Você deve ser a irmã do Charlie... Lolita? — ela perguntou, com um tom debochado.

— Lola — corrigi. — Quem é você mesmo? — perguntei. A mulher tinha cabelos castanhos e uma pele parda. Mas olhos incrivelmente verdes. Eu nunca tinha visto olhos dessa cor.

— Sarah. Sarah Smith, namorada do Charlie — ela disse, como se fosse óbvio. Eu ia pensando na minha resposta, quando Charlie entrou na conversa.

— Vocês vão se dar muito bem — ele concluiu. — Aliás, ela vem morar aqui — ele falou. Senti asco, de repente.

— Como assim ''aqui''? — eu disse. — A mamãe não deixava nem eu trazer meu ex namorado aqui para uma visita, mas sua namorada ela deixa morar?! — eu perguntei, indignada.

— Não seja chata, Lolita... — disse Sarah, abraçando Charlie.

— Lola — corrigi de novo. Eu sabia que ela só estava fazendo aquilo para me provocar. Mas sabem como é, rainha não abaixa, se não a coroa cai. — Mas está tudo bem — menti. — Gosto de Lolita. — Pausa.

— Onde essa coisa — me corrigi — namorada vai dormir mesmo? — perguntei.

— Eu pensei no seu quarto... — falou mamãe, se metendo na conversa.

— Não, não! — eu disse. — Ele é meu. Charlie, lembra? Lembra das noites e dias que passamos brincando lá? — Senti meus olhos marejarem ao perceber que minha mãe estava mesmo decidida a deixar que Sarah se mudasse pra cá, ainda mais no meu quarto. Charlie parecia confuso com a atitude de mamãe, mas não disse nada. — Aquele quarto me lembra coisas boas — eu falei. — Você... Não, não... — pausa. E então mandei uma mensagem rápida para o celular de Soren: “Parque? Tipo, agora?”. — Eu nunca faria isso com você, Charlie — eu conclui, batendo a porta.

Me sentei no mesmo banco que sempre sento. Comprei um sorvete, e enquanto tomava, fiquei observando as folhas caírem. E então me lembrei de uma apresentação na escola, há anos atrás, quando eu queria muito ser o sol, mas Charlie me convenceu a ser uma folha. Disse que as folhas eram tão importantes quanto o sol. Só não sei se ele acha a mesma coisa agora, anos depois.

Avistei Soren, de longe. Ele acenou para mim. E então se sentou do meu lado.

Soren é um garoto alto, mas nem tanto. Bonito seria um exagero, então eu digo “atraente”. Olhos e cabelos castanhos. Ele morou comigo e com o Charlie por três anos, que foi o tempo que sua mãe esteve como voluntária no Haiti. Pense em uma pessoa tímida. E triplique, quadriplique, e agora faça vezes mil. Prazer, Soren Lorence.

Agora eu e ele somos melhores amigos. Na verdade, eu gosto dele daquele jeito. Eu nem sei como, só sei que gosto. E pode parecer estanho, mas não é. Ele me vê como uma irmã, e isso é frustrante. Não se importa com minhas tentativas de ser mais que uma amiga, pois sempre serei a melhor amiga. E talvez, só talvez, eu esteja desistindo.

Charlie

No aeroporto, eu não entendia porque havia tantas etapas para finalmente sair dali. Eu já havia feito faculdade de Artes Plásticas, tinha vontade de dizer. Isso já não fora exaustivo o suficiente?

Na realidade, não fora tão exaustivo. Desde pequeno eu gostava de esculturas, pinturas e museus. Tudo haver com Artes eu gostava. Expressar-me, seja de qual forma, sempre me foi muito agradável.
Além do mais, com Sarah a faculdade fora fácil. Todo tempo que eu passava estudando mostrava-se útil quando eu terminava algumas de minhas esculturas ou pinturas e ela abria aquele sorriso magnífico no rosto. Mesmo sorriso que fez-me querer saber qual seria o gosto seus lábios.

Eu falava muito de casa para Sarah, é claro. Minha irmã Lola, por exemplo. Desde que a vi pela primeira vez, aos três anos de idade, soube que ela seria minha irmãzinha. A protegeria de tudo. E Sarah, por algum motivo, sempre fechava a cara quando eu falava de Lola. Nunca veio à minha mente lhe questionar a respeito.

Minha ansiedade para chegar em casa fora tanta que, por ironia ou não do destino, cheguei mais cedo do que o previsto em casa. Isso seria, de certa forma, curioso. Como será que estaria minha irmã?

Ao chegar em casa, minha mãe me abraçou apertado. Distribui-me vários sorrisos e chamou meu pai para me ver enquanto acordava Lola.

Meu pai começou com aquela conversa fiada com Sarah, fazendo eventuais perguntas de nosso relacionamento. Quando ele começou a falar sobre nossa intimidade, eu desisti, revirei os olhos e fui para o quarto onde Lola ainda dormia.

O quarto era difícil de descrever. Metade dele estava meio bagunçado, com desenhos e frases na parede inteira. Rabiscos contornavam a cama de Lola, e eu sorri ao ver a mesma por baixo das cobertas.

Meu sorriso amarelou um pouco ao eu ver o outro lado do quarto, onde antes eu dormia. Ele estava intacto. Com exatamente o mesmo lençol que eu arrumara antes de ir à faculdade. Eu sabia disso porque tive que o trocar três vezes naquele dia, há quatro anos, pois Lola sempre os manchava de leite rosa para me fazer ficar mais tempo em casa. Atitude boba, eu sei. Mas se não fosse, não seria minha irmã.

Fui até onde ela dormia. Disse para minha mãe que eu mesmo acordava Lola. Minha irmã não era a mesma garota de catorze anos quando fui para a faculdade. Seu rosto era mais oval, os traços mais delicados. Continuava com a raposa Foxie debaixo do travesseiro, segurando-a inconscientemente junto ao corpo.

— Lola, sou eu — disse, tirando o edredom que cobria seu rosto.

Ela disse meu nome de um jeito engraçado. Voltei a sorrir com a mesma intensidade de antes. Nem quando ela me expulsou do quarto esbravejando fui capaz de conter o riso, o que não agradou muito Sarah, pois ela fechou a cara. Mas logo ao me ver ela me abraçou apertado, como se não quisesse que eu fugisse, e começou a me chamar dos mais diversos apelidos. Docinho de coco, coração de abóbora.

Logo Lola saiu do quarto, agora com um vestido preto ao invés do pijama.

Sarah fulminou-a com o olhar. Franzi a sobrancelha com tal atitude, até que Sarah começou a chamá-la de Lolita. De início não me importei, até que percebi que só o fazia para irritá-la. Isso não era certo, meu lado justo gritou. Por que Sarah estava agindo assim?

— Vocês vão se dar muito bem — disse, tentando relevar a situação. — Aliás, Sarah vai morar aqui.

Percebi que foi o momento errado para dizer isso quando mamãe se aproveitou da situação e disse que pensou que Sarah podia morar em meu quarto. Lola logo começou a discutir com minha namorada. Percebi que seus olhos estavam marejados, e me levantei um pouco antes de minha irmã sair correndo. Se eu não a conhecia não me chamava Charlie Sonner.

Ela foi no lugar de sempre, é claro. O parque. Lola gostava de ir para lá quando se sentia solitária. E senti um gosto ruim quando percebi que ela estava se sentindo sozinha.

Lola corria entre as árvores da praça, deixando algumas das folhas enroscarem em seus cabelos loiros feito os meus.

De repente, meu rosto foi ao chão. Tropecei e caí feio, arranhando meu braço.

— Droga — praguejei alto.

— Eu ouvi Charlie dizendo alguma coisa? — ouvi uma voz dizer. Vi uma mão estendida para mim e a segurei. Quando me virei para a pessoa, tomei um susto.

— Marv, há quanto tempo! — falei, sorrindo-lhe. Meu melhor amigo, hoje e sempre, sorriu também.

— Desastrado, Charlie? Você sempre foi concentrado — brincou ele. — Exceto quando é Artes, é claro.

— Acabei de voltar de Paris, cara. Soube que mudou-se para a rua acima à nossa. — falei.

— Ah, sim — ele coçou a cabeça. — Faz pouco tempo que voltei do Canadá.

— Eu sei. Você ficou me avisando de cinco em cinco minutos que estava voltando de Toronto por mensagens e ligações.

— Como foi voltar pra casa? — perguntou Marv. — E a Lola? Como ela reagiu ao te ver de novo?

— Eu não tenho uma opinião formada sobre como foi voltar pra casa. Bom, eu acho. Agora sobre a Lola... — me interrompi. — Por que quer saber disso, Marv?

— Lola Sonner é inesquecível — ele concluiu, como se explicasse tudo. — O jeito como ela reage às situações é completamente diferente do que uma pessoa normal agiria.

— Mas ela é normal — falei, sem muita convicção.

— Não, não é — ele disse. — Isso é bom — Marv tornou a dizer. — Ela é interessante. Fácil de manter uma conversa. Diferente da maioria das garotas, que só falam delas, ela prefere saber de você. Acho isso legal nela — ele disse, com um ar apaixonado que poderia ter sido visto de longe.

— Você por acaso não está nem um pouco afim da minha irmã mais nova, está? — Ele enrubesceu após a pergunta. — Eu devia ter notado, pelo jeito que você falava dela! — eu disse, não sabendo se ficava feliz ou bravo com Marv.

— Não... Não estou... — ele mentiu. — O que há demais em achar ela diferente? — quando Marv disse sobre a Lola, pude ver seus olhos brilharem.

— Você nunca disse nada de bom de nenhuma garota. Não vai começar agora, a essa altura do campeonato — disse.

— Só um pouco, talvez — ele disse. Então me dei conta que talvez o próprio Marv não tivesse percebido isso até agora. Ele ficou claramente envergonhado. Então tomei minha decisão. Lola com Marv seria infinitas vezes melhor que Lola com qualquer outro cara, afinal, Marv era praticamente da família. — Onde eu estou com a cabeça? Ela é sua irmã. Esqueça que eu te disse isso.

— Não, não, não. Não estou bravo. Para provar isso, eu... eu te ajudo a conquistá-la — eu falei, me arrependendo das palavras após tê-las dito.

— Mesmo?! — Marv perguntou.

— Mesmo — conclui, desanimado. — Mas é claro, nunca se esqueça que ela é minha irmã. Se você magoá-la não vou hesitar em te dar uma surra — eu disse.

— Ooooow, Charlie — disse Marv, animado. — Aliás, eu devia ter te contado... É que...

— Agora eu já sei — disse fugindo do assunto. — E Lotta? Ela... voltou?

— Sossega ai, Charlie. Você tem namorada. E pelo que vi nas fotos ela é algum tipo de supermodelo ou algo parecido — Marv falou.

— Era modelo de pinturas na faculdade — eu disse. — Mas, eu só estou perguntando para saber mesmo. Estou feliz com Sarah.

— Charlie! — ele disse. Eu murmurei um '' O quê?''. — Ela era tipo aqueles modelos nus? — perguntou Marv, mudando o rumo da conversa.

— Não, outro tipo de modelo. — eu respondi, impaciente. — E Lotta? — perguntei.

— Mas por que quer saber? Você foi afim dela ou que? Dez anos atrás? Que eu saiba, ela que te deu o pé na bunda — disse Marv.

— Ninguém precisa saber disso, Marv — eu falei. — Mas, então, tem noticias dela?

— Quer saber a verdade? — Fiz que sim com a cabeça. — Eu ouvi a mãe dela, enquanto eu levava Cesous pra passear um dia. Estava ao telefone, com uma amiga, acho. E ela disse algo como “logo, logo a Lotta está de volta.”

— Ela vai voltar?

— Sim, ela vai voltar.


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Notas finais do capítulo

Então, tanto eu quanto a Giu sabemos como algumas pessoas acham chato escrever comentários ~leia-se eu. Mas também sabemos como é chato não receber seu feedback.Adoramos comentários, sejam eles um "amei", "odiei" (ok, talvez esse possa ser mais específico, tipo o que você odiou) ou um "posta mais bj". Também gostamos muito de críticas construtivas (afinal, eu, Ana, sou beta-reader, se eu não gostasse... u.u). Responderemos todos os reviews com todo carinho do nosso coração, independente do tamanho dele! E, por favor, se você é um fantasminha... pensa em como você pode decepcionar um autor, seja ele nós ou não, se você não deixar um review na história dele. Vai que ele desiste de escrever? Reviews nos trazem muita inspiração, e consequentemente capítulos mais rápidos.Isso é tudo, pessoal.