O céu estava completamente estrelado, a areia estava morna sob a toalha em que estávamos deitados e o cheiro de maresia invadia minhas narinas. Depois que saímos da minha casa, fomos para a praia e não paramos de conversar o tempo inteiro. Mais cedo, eu havia verificado meus irmãos e me tranquilizei ao saber que haviam ido ao cinema.

Bella estava com a cabeça em meu peito e eu acariciava seus cabelos que cheiravam a baunilha,ela praticamente ronronava me fazendo sorrir. Queria que aquele momento durasse para sempre, mas a ligação da minha mãe estragou tudo.

Ramones soava do meu celular, acabando com todo aquele clima ,quando vi que era uma chamada de Esme, praguejei em voz baixa. Bella rapidamente se sentou e senti falta de seu pouco peso em cima de mim.

— Não vai atender? Deve ser algo importante.

Neguei com a cabeça e desliguei o celular, já sabia que não era nada importante, Esme sempre tentava me chamar a atenção a cada vez que eu ignorava Carlisle. O que acontecia todas as vezes.

— Não vou. Esqueça isso. Agora só quero estar com você,nada mais importa nesse mundo.

Ela sorriu para mim ,me deixando mais feliz do que era possível.

— Sabe,se Charlie e Reneé ainda estivessem aqui, tenho certeza que estariam muito felizes por nós estarmos juntos.

Seus olhos estavam brilhantes pelas lágrimas, mas seu sorriso me deixava mais tranquilo. Bella ainda sentia falta dos pais biológicos que morreram uma semana depois de se mudarem para Santa Mônica.

O acidente de carro aconteceu exatamente no dia em que a vi pela primeira vez, lembrava que assim que ela e Alice estavam a caminho da cozinha para tomar sorvete, Jessica Stanley, sua prima que estava visitando os Swan na cidade, chegou em nossa casa ,com a notícia horrível de que Charlie e Reneé haviam falecido numa batida em um caminhão que estava no sentido errado da pista.

Todas as providências de funeral e outras coisas foram tomadas por Jessica, e logo após os serviços, uma Bella ainda chorosa e sofrendo pela morte pais ,recebeu a notícia de que iria para um abrigo do Estado por não haver parentes próximos para deter sua Guarda.

Jessica apenas a acalmou , enxugou suas lágrimas e disse num tom que não admitia contestação:

— Já pedi demissão da escola em Forks, começo na St. Vincent na segunda-feira e você estará comigo. Espero que não se importe, querida, mas estou te adotando.

Bella a olhava de olhos arregalados, não conseguia formar uma palavra. St. Vincent era considerada a maior escola especializada em educação infantil da Califórnia. Saber que sua prima havia conseguido um emprego ali a alegrou, ela não iria embora. O sonho de sua mãe era que morassem ali,onde ela nasceu ,ainda poderia ser realizado . Bella faria aquilo.

Desde então, Isabella Swan era também Isabella Swan Stanley. Sua prima era como uma irmã mais velha para ela e a amava muito. Bella sempre lhe agradecia pela coragem da loira,afinal, Jessica largou sua vida em Forks,para cuidar de sua prima distante. Ela se despediu do noivo, fechou o apartamento em que vivia e nunca falou em voltar atrás.

— Tenho certeza que sim,meu amor. Tenho certeza que sim. Mas o que a Jessica disse sobre o nosso namoro?

Ela revirou os olhos e disse em tom de escárnio:

— Depois que eu contei, minha segunda mãe pirada apenas riu de mim e me mandou deixar de ser lenta, porque segundo ela,todos sabiam, menos eu. Ela quase quebrava o pote das conversas de tanto rir da minha cara.

Eu gargalhava da sua cara emburrada. Jessica era a mulher mais liberal e de bem com a vida que eu já tinha visto. Na sua casa haviam algumas regras:

Ter sempre boas notas

Não usar drogas

Não engravidar e usar sempre camisinha

E a melhor de todas:

Contribuir sempre para o pote das conversas.

O pote das conversas, era um pote colorido que ficava sempre em cima da banca da cozinha. Se uma das duas quisesse conversar sobre algo importante, sempre havia ali um dólar.

Depois que o assunto fosse resolvido e as dúvidas tiradas,elas usariam o dinheiro em algum programa para apenas as duas.

Ela logo me acompanhou nas risadas, mas ficou vermelha depois de ouvir sua barriga roncar. Ri ainda mais alto e ela apenas escondeu o rosto entre as mãos se escondendo de mim.

Levantamos e após guardar a toalha no porta-malas, fomos ao restaurante mais próximo, jantar. Não percebi onde realmente estávamos até que Paul Lahote, ainda com medo de mim, veio anotar nossos pedidos. Meu hambúrguer e batata frita, acompanhados de refrigerante de laranja ,não poderia ser mais diferente do que o sanduíche natural de Bella.

Olhando em volta, percebi o quanto o local era aconchegante. Mesas quadradas cobertas por toalhas claras todas adornadas com pequenos arranjos de flores. O local era bem iluminado, a sensação era de que a qualquer momento, famílias entrariam por ali com várias crianças. O lugar era administrado pelos Black há muitos anos, era ponto certo para todos da região.

Quando nos serviu, Paul fez questão de sempre olhar nos meus olhos e não dar atenção nenhuma a minha garota. Fiquei satisfeito, detestaria ter que renovar certas... ameaças.

— Sabe, Emm, andei pensando e...talvez seja melhor que eu não more com você, quando for para a faculdade.

Aquilo me pegou de surpresa. Já havia sido combinado entre nós que ela moraria comigo no meu apartamento. O lugar fora presente de meus avós e serviria para que eu não tivesse que morar nos dormitórios.

— Não me olhe assim, grandão. Mas acho que é muito cedo para morarmos juntos.

— Bella, aquele apartamento é o grande o suficiente para nós dois e para quem mais for morar lá!É capaz de nós nem nos encontrarmos por conta do tamanho. E se acha que uma vez que estivermos lá, irei te cobrar alguma coisa, sabe que as coisas não são assim entre nós. Lá você terá seu próprio quarto e sua privacidade, sabe disso.

Ela apenas assentiu e continuou a comer em silêncio. Eu a observava e via o quanto ela estava pensativa. Seriam 6 meses longos longe dela. Eu previa isso.

Voltamos para casa e o semblante pensativo nela deu lugar ao divertido. Logo que entramos no carro, liguei o rádio e as vozes dos cantores de One Direction soaram por todo o carro. Ela me olhou achando que eu iria mudar de estação, mas se surpreendeu quando comecei a cantar junto.

Aquele tipo de música era algo que ela gostava, mas ouvir suas risadas enquanto eu lentamente dirigia e cantava ao mesmo tempo era apaixonante. Quando estava em frente a minha casa,ela não me pediu para que eu a levasse para a dela.

Mais cedo Jessica havia a avisado que passaria o fim de semana fora com o noivo e havia entregado para uma Bella quase roxa de vergonha, três pacotes de camisinhas com sabores variados.Alice e Edward iriam chegar no dia seguinte, por conta de um suposto grupo de estudos na casa de Tânia Denali.

Fomos direto para a cozinha , onde Esme e Carlisle estavam discutindo algo em voz baixa. Carlisle olhou para Bella e a cumprimentou com um aceno educado, enquanto eu o olhava ameaçadoramente. Sua expressão era de arrependimento quando me olhou de volta, mas eu o conhecia bem. Nada naquela expressão era verdade.

Esme abraçou Bella e a convidou para desfrutar de uma sobremesa ,após Bella educadamente declinar do convite para jantar. Minha mãe já servia o doce num prato quando interrompi numa voz fria:

— Ela estará no quarto, comigo. Eu mesmo a sirvo,não se preocupe.

Esme estremeceu com meu tom de voz, mas não lhe dei atenção enquanto servia uma grande quantidade de torta de baunilha e coco num mesmo prato para mim e para Bella.

Fomos para meu quarto em silêncio e logo que entramos, Bella me repreendeu pelo meu comportamento, como eu imaginei que ela faria.

— Porque você trata seus pais assim,Emm? Não deveria fazer isso! Eles são maravilhosos! Eu realmente não compreendo sua hostilidade em relação a eles.

Ela me olhava com o cenho franzido ,a voz cheia de dúvida e irritação. Decidi que um dia contaria a ela,mas não naquele momento. Não deixaria Carlisle atrapalhar a minha relação com Bella.

— Um dia,te conto o motivo disso tudo, mas por favor,não fique brava comigo. Temos tão pouco tempo juntos e não quero passar meus últimos dias aqui, brigando com você.

Ela assentiu, o arrependimento estava estampado em sua face. A puxei para meus braços e me deixei estar ali com ela,apenas em silêncio, apreciando sua presença.

— Eu te amo, Bella. Te amo desde sempre e sempre vou te amar. Vamos passar por isso juntos, eu garanto! Mas tudo vai melhorar depois que você também for para a faculdade.

Ela estava séria e me encarava agora com aqueles olhos maravilhosamente verdes.

— Também te amo muito, grandão. Mas nada garante que eu vá ser mesmo aceita. Agora preciso mesmo daquela sobremesa,o cheiro está maravilhoso.

Ri com a sua ultima frase e logo estávamos no tapete do meu quarto,dividindo o que continha no prato entre colheradas intercaladas de beijos. Iria guardar esse momento para sempre.

Minutos depois, quando fui à cozinha, deixar a louça suja, encontrei Carlisle sozinho, olhando para o arranjo em cima da mesa,com uma expressão concentrada. Como sempre o ignorei e fui direto a pia,lavar a pouca louça suja que havia ali.

Tínhamos uma empregada, mas fazia questão de sempre facilitar seu trabalho. Quando estava secando a última xícara, a voz de Carlisle soou por trás de mim,fazendo os pelos da minha nuca se eriçarem.

— Filho.

Sua voz era baixa e arrependida. Ele estava tenso também,sua voz trêmula entregava esse fato. Não me importei com nada disso.

Com a voz mais fria e repleta de desprezo que eu consegui reunir, ainda de costas para ele que continuava sentado, respondi a seu ridículo chamado.

— Eu não sou seu filho. Nunca mais me chame assim. Nem a mim e nem a meus irmãos. Nunca mais dirija a palavra a mim, e principalmente, nunca mais olhe nem na direção de Bella, me ouviu bem? .

Fui em direção à saída da cozinha e estanquei ao ouvir sua voz novamente:

— Filho, você tem que me ouvir, já se passaram quatro anos ,quatro anos, Emmett! Você logo vai para a faculdade e depois seus irmãos, será que esse seu ódio por mim,durará a sua vida inteira?

Tornei a me virar,ficando agora de frente para ele. Carlisle era um homem bonito e ainda jovem. Graças a Deus, nenhum de nós havíamos nascido e ficado parecidos com ele. Poucos tinham conhecimento de quanto nojo ele causava.

— Meu ódio durará até a hora de Ben voltar para sua casa.

Ele me encarou absolutamente chocado e pálido. Não deixei que dissesse uma palavra e voltei para meu quarto, onde encontrei uma Bella extremamente linda que usava uma de minhas camisas para dormir.

Ela sorriu para mim e logo foi para debaixo do cobertor. Ela bocejava ,agarrada a meu travesseiro. A beijei lentamente e a cobri com outro cobertor.Depois fui para o banheiro e tomei um banho rápido. Ao voltar, uma Bella que já dormia, chamava por mim,em seu sono.