Sasuke:

Resolvo fazer uma retrospectiva da minha vida nestes últimos 30 dias...

Azarei umas meninas, virei pai, comecei a namorar, comecei a estressar, pensei em me casar, me afastei da Sakura, me arrependi, me reaproximei dela, fiquei confuso, a afastei de mim, descobri que estou apaixonado por ela, me perdi, fiquei emotivo, fiquei decidido e agora a vejo beijando outro....

Quando acordei aquela manhã decidi que ia fazer tudo diferente. Iria parar de ficar com tantas garotas, me esforçar mais nos estudos, fazer amigos e trazer ela de volta. Esse pensamento me empolga, sinto que hoje coisas grande podem acontecer.

Minha mãe percebe o meu estado de espírito e vem me abraçando e beijando a minha cabeça... Odeio isso. E sei que nem adianta eu pedir pra dona Mikoto se afastar. Mas ela ‘tá feliz, então deixa ela...

Quando fui sair olhei para a casa ao lado e vi que estava tudo apagado, ela já tinha saído. Olho para meu Porsche por um tempo decidindo se iria devolver ou não para Karin... Vou nada, cavalo dado não se olha os dentes de quem deu, não é?!

Tenho que confessar que foi muito estranho esses dias sem a Sakura. Sem as brincadeiras idiotas dela, a voz desafinada tentando alcançar o cantor, os sermões por eu estar de ressaca ou qualquer outra coisa que só existia entre nós...

Legal, né? De pegador virei um apaixonado irritante que só sabe pensar e falar dela.

Quando eu estaciono o carro, sinto um frio no estômago. Ansiedade? Nervosismo? Sei lá, só sei que tem a ver em saber que vou vê-la e colocar meus planos em ação.

Cumprimento, com a cabeça, algumas pessoas que passam por mim, mas meu corpo trava quando eu a vejo tão perto de Sasori no portão de entrada. Eles estão conversando, mas eu sei o que vai acontecer, estão perto demais...

Quando minha raiva me faz reagir já é tarde demais e ele a beija.

Minha visão fica nublada e eu não sei se eu quero ir lá e quebrar a cara dele ou se eu corro pra o mais longe daquilo tudo.

Vejo então Sakura olhando espantada pra mim.

Eu saio dali.

A dor no meu peito é demais, não estou com cabeça pra nada. Tudo o que quero é extravasar toda essa coisa que me aperta por dentro.

– SASUKEE! - escuto a voz dela próxima a mim e parece que era tudo o que precisava pra conseguir reagir.

Eu paro e a olho. Ela está correndo de patins na minha direção, o rosto está vermelho e afobado, mas ela continua encantadora...

Essa é a hora, ela veio falar comigo.

Quando abro a boca pra jogar tudo pra fora, pra gritar tudo o que eu tô sentindo, escuto o som de um carro cantando pneu. Nós dois olhamos na direção do barulho e, com desespero, percebi que iria acertar a Sakura.

O que acontece depois é meio borrado, só o que sei é que meu coração dispara só de pensar que ela pode morrer ali e a adrenalina toma conta de mim. Minhas pernas se movem tão rápido que consigo chegar a tempo.

Ela está paralisada olhando para o carro e nem vê quando a empurro para longe.

O carro me acerta em cheio.

Sinto um impacto forte na lateral do meu corpo. Caio no asfalto, ainda consciente. Não sinto dor... Mas meu corpo todo treme.

Escuto gritos e passos vindos em nossa direção. Viro um pouco a cabeça com as forças que ainda tenho. Não ligo pra ninguém ali, só quero saber se ela está bem.

Minha cabeça lateja e minha visão começa a escurecer, mas eu vejo. Eu acho que ela estava desmaiada, mas está recobrando os sentidos. A vejo olhando para todos os lados confusa e Hinata a acalma.

Seu olhos verdes estão esbugalhados olhando em minha direção. Dou um sorriso vendo que ela está bem. Acho que só esperava esse momento pra me entregar de vez a escuridão...

Escuridão, é só isso que vejo. Então é assim a morte? Droga! Eu não posso morrer agora! Tenho tanta coisa pra fazer...

– Oh meu filhinho... - escuto a voz da minha mãe ao longe. Ela está chorando. Deve ser o meu velório, né? Mas, por quê eu não consigo ver nada? Eu não deveria ser um tipo de fantasma com assuntos inacabados na Terra?

– Calma, mãe. Ele vai ficar bem. - agora é Itachi quem fala. Ele deve achar que ‘tô no céu pra falar uma baboseira dessa...

– Tem alguma estimativa de quando ele pode acordar? - a voz do meu pai ressoa mais alto e claro dessa vez... espera! acordar? Eu tô vivo? Ufa!

– Eu sinto muito, mas quando se entra em estado de coma, não temos como saber quando irá acordar... - diz uma voz que eu não conheço.

Hmmm então eu estou em coma... Mas que merda! Como é que faz pra acordar???!!!

Agora os sons começam a fazer mais sentido. Tem um bipe irritante, os soluços da minha mãe, a voz inalterada do meu pai e aquele barulho chato que o Itachi faz com a boca quando ‘tá nervoso... Mereço, viu!

– Meu amor, mamãe vai ficar aqui cuidando de você. - dona Mikoto diz entre soluços. Acho que ela está passando a mão no meu rosto, só sinto formigando um pouco... - Você foi tão corajoso, meu bem.

Se fosse em outra situação já teria afastado a mão dela e ficado irritado, mas eu acho que sei o desespero que ela ‘tá sentindo. Em pensar que poderia ter perdido “meu filho” e ao ver o carro indo na direção da Sakura...

Sakura... como será que ela ‘tá?

Meu dia passou assim: chato, monótono, enfadonho.

Médicos e enfermeiros entravam toda hora pra me dar medicamentos e fofocar. Argh!

Numa dessas descobri que fraturei a bacia, o fêmur esquerdo, tive uma contusão na cabeça, que a Mei ‘tá traindo o marido com o enfermeiro da noite e a Carminha não conseguiu matar a Nina.... SOCORRO!!

– Pode entrar, querida. - diz uma enfermeira que finalmente calou a boca.

– Com licença. - Eu conheço essa voz.

A porta se fecha e escuto um suspiro falho ao meu lado. Meu rosto formiga, ela deve estar passando suas mãos.

– Seu panaca! - é ela mesmo. Sakura. - Por que você fez isso? Por quê?

Ela ‘tá soluçando e fala umas coisas desconexas entre o choro. Isso me desarma totalmente.

Queria abraçar ela ou pelo menos apertar sua mão pra mostrar que eu estou aqui e estou bem, mas não consigo me mexer. E o som de seu choro me tortura.

– Era pra ter sido eu... Droga, Sasuke!

Agora é minha mão que formiga. Queria apertar de volta, mas não consigo...

– Abre os olhos, por favor! - ela implora, mas não sabe o esforço que eu faço pra obedece-la.

– Já deu hora. - uma voz fala me deixando louco.

– Já vou, então. - ela funga e sinto que ela toca meu rosto de novo. - Amanhã eu volto, tá?

Não! Fica aqui! Sakura...

– Teme, seu maldito! - agora é o Naruto quem entrou... chorando... Aff, não acredito que ela teve que sair pro dobe entrar... - Paspalho de uma figa! Levanta essa bunda da cama! - é assim que ele quer me motivar? Traz a Sakura...

Os medicamentos estavam fazendo efeito e eu apaguei aos sons dos soluços estridentes do maluco do Naruto. Graças a Kami!!

Acordei, e vi que não era sonho, afinal de contas... Meus olhos não abrem, meu corpo não mexe e não consigo fazer aquelas malditas pararem de fofocar no meu quarto.

***

Passaram-se 4 dias desde o acidente, sei porque Sakura está aqui me contando sobre como foi seu dia.

Nunca pensei que teria paciência pra escutar esse tipo de coisa, mas eu não quero que ela vá embora. Então, eu presto atenção em cada detalhe da sua voz...

Ela me diz que o pessoal do colégio pararam de implicar com ela e alguns até pediram desculpas, que Naruto fica gritado que eu sou um herói e ele devem fazer uma estátua em meu nome... Argh Baka! Hoje foi a final do torneio e elas perderam, mas ela fez um gol pra mim...

Ela sempre chegava alegre e empolgada, mas quando falavam que tinha acabado o tempo ela murchava e apertava a minha mão.

Eu sentia que ela não queria largar, eu não queria a largar.

Quando ela estava lá, eu sentia que tudo estava normal de novo, só que com ela mais tagarela... Mas eu não me importava.

Porém aquele dia, ela não estava normal...

– Sabe, foi a Karin que tentou me atropelar... Aquela maluca. - Karin???? Eu mato ela quando sair daqui. - Ela teve alta hoje, hehehe - ela dá um risadinha nervosa e sinto minhas mão formigarem novamente. - Sabe, quando ela viu que acertou você ao invés de mim, ela entrou em estado de choque, dai a Ino apareceu igual a um furacão e quebrou a Karin no meio. Foi uma carnificina! Você devia ter visto! A melhor parte foi ver a sua mãe fazendo algo que jamais pensei que viria um dia... um barraco! Sério! Ela quase deu na cara da Kendra Uzumaki quando ela culpou você por tudo... aiaiai o tio Fugaku teve que arrastar a tia pra fora do hospital. Agora a sua ex ‘tá indo pra uma pousada de relaxamento, mas prefiro chamar de hospício. Tomara que não saia de lá, já trouxe problema suficiente pra nós... - sua voz foi morrendo enquanto eu digeria tudo aquilo. Pelo menos a Karin não saiu impune. Minha mãe perdendo a classe? Essa eu não posso esquecer!

Ela ficou em silêncio novamente só mexendo em meus dedos. Parece que a cada dia eu sinto melhor o seu contato, devo estar evoluindo não?

Escuto um suspiro pesado dela e um frio na barriga me deixa meio nervoso para o que vem por aí.

– Eu nem sei se você ‘tá me ouvindo - Eu tô! - Eu acho que não, por isso eu devo ‘tá com essa coragem toda. - Ela ‘tá nervosa - Sabe, ás vezes acontecem tantas coisas na nossa vida que passam despercebidas, né? E quando a gente sente que vai perder algo é quando se dá conta de quanto aquilo é importante. - E como eu sei Sakura! Sua voz está baixa e ela dá outro suspiro antes de continuar. - Eu sinto tanto, tanto a sua falta, Sasuke. Fiquei tão mal com tudo o que aconteceu, mas eu vi o seu lado e eu queria que tudo voltasse a ser como antes. Recomeçar do zero, sabe? - Ela me perdoa? - Mas eu sei que nunca mais poderemos ser como antes. - Como assim? O que ela ‘tá falando? - Eu não sei o que ‘tá acontecendo comigo, mas eu não consigo... Droga. - O que Sakura? O que? - Eu acho que eu tô a... Ah, eu devo ‘tá maluca mesmo. - Sinto ela soltar a minha mão e o silêncio que se segue me deixa nervoso. Por que ela não termina de falar? - Acorda logo ‘tá bom? - Sinto uma sensação estranha na testa. Ela me deu um beijo?

Meus olhos tremem e meus dedos começam a ter pequenos espasmos. Consigo abrir lentamento um olho, o outro parece grudado, a luz é cegante, mas o que importa? Eu acordei!
Olho por todo o lado e quando a vejo já está saindo pela porta. Minha boca se abre pra gritar por ela. Mas nenhum som sai. Me sinto cansado, atordoado, pesado.

Aos poucos consigo abrir o outro olho e mexer os meus braços. Minhas pernas estão imobilizadas. Ótimo! Mas pelo menos estou vivo e acordado. Sakura me acordou.

– Kami-sama! - olho para a porta e vejo a minha mãe com as mãos trêmulas na boca enquanto as lágrimas encharcam ainda mais o rosto dela. - Você acordou... Você...

Dou um sorriso fraco enquanto ela corre me abraçar. Ela chora em cima de mim e me aperta sem dó.

– Mãe... - murmuro com um fio de voz. Ela me olha com com os olhos saltados esperando que eu termine a frase. - Dói.

– Ah, desculpa! - diz saindo de cima e chorando mais ainda.

– Sakura? - aproveito a voz que me resta.

– Ela já foi querido, descanse, tudo bem? - Duas enfermeiras e um médico entram e começam a me examinar. Aparentemente estou bem. Olho para a minha mãe e ela parece saber o que se passa na minha cabeça. Ela dá um sorriso e passa as mãos em meu cabelo. - Eu vou avisar ela. Amanhã ela estará aqui pra te ver e você conversa com ela, tudo bem?

Eu balanço a cabeça concordando, mas quanto tempo ainda falta pra amanhã?

Naquele dia eu sonhei com os olhos verdes me encarando enquanto ela dançava ao som de batuques. Ela estava linda e seu sorriso conseguia iluminar tudo a nossa volta. Mas daí ele aparecia e a tirava de mim...

Acordo de mal humor aquele dia. Sasori maldito! Com tantas garotas por aí, por que justo a Sakura? Pergunta idiota, é claro que eu entendo... Mas isso não vai ficar assim...

– Kami! É verdade! - meu coração dispara quando escuto a sua voz. Ela corre como uma criança e me abraça. É uma sensação tão boa tê-la perto de mim assim. Passo um braço por seu ombro e coloco a minha outra mão em seu cabelo. Sinto aquele cheiro gostoso que me anima, que me envolve... - Você acordou! - Ela se separa para olhar em meus olhos, os seus estão marejados, mas não é mágoa, é alegria. Eu passo minhas mãos pelo seu rosto e ela fecha os olhos. Nunca me senti tão bem.

– Eu acordei, bonequinha.